Enchente no Amazonas
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O Rio Amazonas
Amazonas e seus tributários
oferecem a grande via – aliás quase que a única via – aberta ao comércio na imensa região ao Norte do Brasil que compreende os estados de Amazonas e
do Pará e as zonas setentrionais de Mato Grosso e de Goiás. A sua bacia colossal compreende, segundo Bludau, uma área de 2.722.000 milhas quadradas,
constituídas por terras ricas tanto por sua flora como por sua fauna. Os norte-americanos gostam de designar o Mississipi como "o pai das águas" (the
father of waters), mas ele fica muito atrás do Amazonas, não compreendendo sua bacia mais de 984.000 milhas quadradas, quase um terço da do
Amazonas.
Pela foz do Amazonas, que mede 158 milhas (254 km), são despejados no Atlântico 500.000 pés
cúbicos de água por segundo. O Brasil é um país em cuja formação a natureza realizou grandes coisas, mas nenhuma maior do que o Amazonas. O rio tem
suas nascentes nas sombrias alturas dos Andes Peruanos, no lago Lauri-Cocha, um lago que, durante séculos, foi considerado sagrado pelos índios.
A princípio um simples riacho, a corrente desce por encostas pitorescas e declives violentos, por
entre montanhas grandiosas na sua terrível solenidade, crescendo em volume e em força. Já soberbo, impetuoso, irrefreável, ele se arremessa por
florestas desconhecidas e formosas terras, até que afinal, depois de ter percorrido 3.604 milhas (5.800 km) – das quais 2.500 (4.022 km) em
território brasileiro – ele se lança nas águas do Atlântico. Mas, ainda então, não perde logo a sua individualidade, visto como, até uma distância
de 180 milhas (290 km) para o mar, suas tenebrosas águas formam no oceano uma esteira revolta e ainda se conservam doces.
Não é de admirar que o descobridor Pinzon, o qual, em 1500, explorou o vasto estuário, tenha
anunciado aos seus patrícios ter descoberto um Mar Dulce. Um mundo de romance e de aventura está envolto na história da exploração da bacia
amazônica, e ainda hoje não se acha encerrado esse capítulo, visto como existem ali vastas zonas ainda não abertas ao conhecimento dos homens.
Durante o curso do rio em território peruano, ele é conhecido como o Rio Marañon, e à sua entrada
no Brasil este nome é mudado pelo de Rio Solimões; só depois de sua junção com o Rio Negro é que ele recebe o nome de Amazonas. Os principais
tributários do Amazonas são:
|
Extensão |
Bacia |
Distância
navegável por |
|
|
|
grandes
vapores |
pequenas embarcações |
Na margem esquerda |
km |
km² |
km |
km |
Içá |
1.645 |
112.400 |
1.480 |
1.600 |
Japurá |
2.800 |
310.000 |
1.560 |
2.500 |
Negro |
1.700 |
715.000 |
726 |
1.100 |
Trombetas |
870 |
123.500 |
450 |
500 |
Na margem direita |
|
|
|
|
Javari |
945 |
91.000 |
800 |
90 |
Jutaí |
650 |
38.000 |
500 |
600 |
Juruá |
2.000 |
240.000 |
1.500 |
1.825 |
Purus |
3.650 |
387.000 |
1.800 |
2.500 |
Madeira |
5.000 |
1.244.000 |
1.060 |
1.700 |
Tapajós |
1.930 |
430.000 |
350 |
1.400 |
Xingu |
2.100 |
395.000 |
120 |
1.500 |
A partir da embocadura, o primeiro grande tributário à esquerda (isto é, na margem direita do rio)
é o Xingu, que tem sua nascente no planalto central de Mato Grosso, perto de Cuiabá. Antes de juntar-se ao Amazonas perto de seu delta, ele percorre
uma distância de 2.100 km com muitas cachoeiras.
As primeiras providências para a exploração de sua bacia foram tomadas pelo príncipe Adelbert da
Prússia em 1842, sendo os trabalhos continuados em 1884 por Von Stein, embora até hoje não se conheça todo o curso do rio. Ele representa uma das
principais vias fluviais para o estado do Pará e para a parte setentrional de Mato Grosso.
O seguinte, dos tributários da margem direita, é o Tapajós, conhecido na sua origem pelo nome de
Arinos, e cuja bacia também abrange o Pará e Mato Grosso. Sua nascente fica no flanco setentrional da Serra dos Parecis, no planalto de Mato Grosso,
em cujo flanco setentrional nasce também o Madeira. A navegação é interrompida na parte superior do Tapajós por extensas cachoeiras, mas ele é
navegável por grandes navios desde sua junção com o Rio Manoel. Duzentas milhas mais para baixo, onde se forma sua confluência com o Amazonas, ele
se espraia num grande estuário, de 9 a 12 milhas.
O Madeira é um rio gigantesco, navegável por navios que vão do Oceano até mais de 1.000 km. Sua
bacia abrange a maior parte da Bolívia, uma considerável porção de Mato Grosso e uma grande área no Amazonas. Ele é formado pela junção do Beni com
o Mamoré, e na sua confluência com o Amazonas tem uma largura de 2 km e uma profundidade de pouco menos de 75 pés.
O Mamoré é talvez um dos mais pitorescos tributários do Amazonas. Antes de reunir-se ao Beni, ele
abre passagem para seu curso por entre as elevações do planalto central, vencendo mesmo rijas formações geológicas. Formou-se assim uma longa série
de cachoeiras que vão das quedas de Guajará a Santo Antonio, numa extensão de quase quinhentos quilômetros, as quais, embora tornando impossível a
navegação aí, formam uma das mais belas vistas entre as muitas belezas naturais do Brasil central.
Passadas as cachoeiras, o rio prossegue seu curso por entre planícies cobertas de florestas
espessas. Grossas e altas, as árvores projetam seus galhos para o céu formando um imenso e quase impenetrável dossel, através do qual os raios
solares se coam dificilmente. Em baixo, a terra está perpetuamente envolta num sombrio crepúsculo. A vegetação é uma verdadeira orgia da natureza, e
o valor das suas madeiras deve ser enorme.
Até aqui, a natureza tem sido deixada ao seu tranqüilo abandono; mas não passará muito tempo antes
que as tranqüilas florestas sejam agitadas pelos sons da indústria; antes que o canto dos pássaros seja abafado pelo silvo da locomotiva e os sons
da vida animal substituídos pelo cair do machado dos lenhadores, o ruir das árvores derrubadas e o monótono chiar das serrarias; antes que à terra
fecunda seja roubada a fortuna vegetal que, há séculos, ela vem nutrindo e desenvolvendo. As árvores da borracha crescem aí em abundância e, dentro
em breve, a impressionante solidão será coisa do passado.
Antes de sua junção com o Amazonas, o Madeira espraia suas águas formando um imenso delta, um de
cujos braços, o Canuman, forma com o Amazonas a ilha de Tupinambaranas, que tem quase 300 km de extensão. O outro importante tributário da margem
direita é o Purus, que, com o nome de Acre, nasce na banda oriental dos Andes Peruanos e passa por ser o famoso Amarimayu, ou "Rio da Serpente", dos
Incas. Ele é navegável em todas as estações apenas em metade do seu curso total, e na sua confluência com o Amazonas mede 6.600 pés de largura.
Unido ao Amazonas por nada menos de seis canais, ele forma no seu curso centenas de ilhas.
A história da conquista do Amazonas é um testemunho do espírito de aventura e empreendimento dos
brasileiros do Norte. Os portugueses tiveram conhecimento da sua existência e exploraram parte de seu curso. Mais tarde, os ingleses penetraram até
mais adiante, e os descendentes dos velhos colonizadores espanhóis das vizinhanças também navegaram em suas águas. Todas essas, porém, foram simples
visitas de exploração e pouco contribuíram para chamar a atenção do mundo civilizado para a enorme riqueza armazenada pela natureza na bacia do
Purus.
Só algum tempo mais tarde é que Manoel Urbano, um dos veteranos do desenvolvimento amazônico,
começou a fazer freqüentes excursões pelo Purus e empreendeu a extração da borracha. Afinal, ele introduziu colonos do Pará e fez incursões pelas
terras ribeirinhas em diferentes direções. Em breve, numerosos barracões foram estabelecidos e lançados os fundamentos de várias aldeias, das quais
procedem cidades como Boa Vista, Arimari, Canutama, Beruri, Lábrea e outras. Mais de três milhões de toneladas de produtos descem agora pelo rio
para Manaus, todos os anos.
A viagem de Manaus ao alto Purus leva 60 dias e cresce constantemente o número de portos em que
tocam os vapores. O Acre, o importante afluente do Purus, muito tem feito para aumentar a importância do rio como meio de navegação, visto como o
Território do Acre é uma das regiões mais ricas de todo o rico Brasil.
O Juruá tem ultimamente atraído grande atenção pelo fato de sua bacia partilhar com a do Acre a
importância de ser uma das mais ricas zonas de borracha do país. Este rio foi conhecido pelos exploradores desde os começos do século XVI, tendo-o
Pedro de Ursua, em 1560, percorrido desde suas cabeceiras no Peru. A região do Jutaí é também rica de borracha.
O Javari, que serve de fronteira entre o Peru e o Brasil, é o último dos grandes tributários do
Amazonas pela margem meridional ou direita; e sua bacia, embora pouco desenvolvida, é também um grande fator na produção da borracha brasileira.
Estes três últimos rios descem todos vagarosamente por terras alagadiças, que se julga terem sido o leito dum oceano medieval.
Os afluentes do Amazonas pela margem esquerda não são tão importantes como os da direita, visto
como a área a que eles servem como meio de comunicação é menor. O primeiro desses tributários, o Içá (também denominado Putumayo), que tem mais de
1.500 km de curso, é quase todo navegável por vapores que oferecem meio de comunicação com o Equador. Sua utilidade é acrescida pelo fato de ser ele
ligado ao Japurá, o seguinte grande tributário da margem setentrional, por dois canais naturais.
O mais importante dos afluentes da margem esquerda é o Rio Negro, com seu sub-afluente o Rio
Branco. Ele tem 1.700 km de extensão e a sua confluência com o Amazonas, perto de Manaus, mede mais de dois quilômetros. Como o nome o indica, suas
águas são de aparência negra.
O Rio Negro – diz um escritor no Brazilian Year Book – foi conhecido pelos Jesuítas desde
1668; em 1744 já eles conheciam e navegavam o Cassaquiare, o canal que une o Negro e o Amazonas com o Orinoco e converte numa vasta ilha todo o
território a Oeste do Orinoco e do Rio Negro e ao Norte do Amazonas, abrangendo mais da metade da Venezuela, todas as Guianas e largas extensões dos
estados de Amazonas e Pará. Esse canal foi novamente descoberto por Humboldt, que fez em torno disso grande rumor.
Supõe-se que nalgum ponto das margens do Parimé, afluente do Rio Branco, tenha existido a lendária
Manoa del Dorado, capital das Minas de Ouro, à cuja procura viveu debalde metade da Europa, durante meio século. Entre o Rio Negro e o mar, grande
número de rios menores nascem nas serras que separam as Guianas do Brasil, mas nenhum de grande importância.
A região amazônica é uma região de várias distâncias, dificilmente concebíveis pelos europeus que medem suas distâncias por milhas e quilômetros. No
Amazonas, elas precisam ser medidas por centenas de milhas e centenas de quilômetros.
A seguinte lista, organizada pelo srs. Sant'Anna Nery, dá uma idéia das distâncias de viagem dum
ponto a outro:
Rio Amazonas – De Belém, capital do Pará, a: Breves, 146 milhas; Santa Maria 226, Gurupá
267, Porto de Moz 315, Prainha 411, Monte Alegre 454, Santarém 513, Óbidos 581; Parintins (estado do Amazonas) 676, Fortaleza 692, Itacoatiara 814,
Manaus 924.
Solimões (alto Amazonas) e Marañon – De Manaus, capital do estado do Amazonas, a: Codajaz
155 milhas, Coari 239, Baliero 325, Teffé 347, Caicára 362, Jauatá 407, Araras 470, Fonte Boa 486, Tocantins 626, S. Paulo d'Olivença 721, Caldeirão
782, Tabatinga 826, Loreto (República do Peru) 889, Caballo Cocha 924, Piruaté 984, Cochiquina 1.002, Pebas 1.040, Iquitos 1.152.
Rio Negro – De Manaus a: Tauapessaçu 65 milhas, Airão 135, Moura 174, Carvoeiro 201,
Barcelos 268, Moreira 314, Tomar 358, Santa Isabel 423.
Rio Juruá – De Manaus a: Manacapuru 55 milhas, Anamá 106, Anori 122, Codajaz 166, Badajós
234, Coari 326, Teffé 435, Fonte Boa 568, Coapiranga 594, Juruapuca 838, Gavião 894, Popunhas 959, Chué 1.057, Marari 1.093.
Rio Purus – De Manaus a: Manaquiri 42 milhas, Boa Vista 47, Manacapuru 57, Paratari 93,
Anauna 117, Beruri 133, Perseverança 135, Paricatuba 178, Aiapuá 198, Arumá 233, Campinhas 318, Guajaratuba 338, Boa Vista 357, Abufari 387, Paraná
Pixuna 405, Piranhas 411, Andaraí 415, Itatuba 423, Jatuarana 438, Arumá 468, Secutiri 475, Bom Princípio 495, Tauariá 498, Bacuri Pari 513, S.
Sebastão 519, Jaturu 542, Nova Olinda 566, Floresta 569, Paripi 683 (N.E.: SIC: notado o valor
fora da ordem crescente observada na série), Tapana 594, Caridade 600, Porto Alegre 618,
Conceição 642, Cavatiá 645, Salvação 671, Jadibaru 687, Repouso 690, Atalaia 694, Canutama 696, Aliança 699, Boa Esperança 703, Bela Vista 707,
Calazans 720, Santo Antonio 723, Jardim das Damas 729, Urucuri 736, Vista Alegre 742, S. Sabastião 752, S. Braz 760, Carmo 763, Assaituba 772, Santa
Eugenia 778, Pasiá 801, Teuini 810, Lábrea 818, Ituxi 826, S. Luiz 841, Mabederi 871, Providência 913, Memoriazinha 918, Sepatini 945, Santa Helena
952, Hiutanaha 1.027, Espirito Santo 1.049, Scarihan 1.067, Memória 1.110, Terruha 1.185, Pouso Alegre 1.227, Pauini 1.239, Quiciha 1.354, Sinimbu
1.379, Anajaz 1.437.
Rio Madeira – De Manaus a: Canuman 80 milhas, Borba 116, Retiro 148, Sapucaia 163, Vista
Alegre 172, Marajó 191, Tabocal 194, Boa Vista 204, Ilha de Araras (Aras) 214, Santa Rosa 222, Cachoeirinha 247, Manicoré 293, Capaná 324, Onças
334, Marmelo 361, Tirol 369, Uruapiara 374, Baetas 394, Bom Futuro 400, Meditação 407, Porto Alegre 429, Castanhal 436, Tapuru 438, Jurará 439,
Carapanatuba 466, Sitio Rafael 471, Pariri 476, Jumas 487, Três Casas 496, Piraíba 515, Missão de S. Pedro 524, Popunhas 540, Crato 544, Humaitá
551, Paraíso 560, Missão de S. Francisco 594, Papagaio 619, Abelhas 631, Boa Hora 643, Cavalcante 653, Mutuns 693, Santo Antonio 711.
De um modo geral, pode-se dizer que a bacia do Amazonas é uma imensa planície rasa entrecortada
por canais que se ramificam dos rios e unem uns a outros ou voltam a ligar-se ao rio de que se ramificam. Esta é uma das feições do Amazonas e seus
tributários que os tornam por tal forma úteis como meio de transporte, e essas comunicações ainda mais se generalizarão num próximo futuro.
Aqui e ali, montes de pedra arenosa e de ardósia se erguem da planície, tirando-lhe a monotonia. "Dir-se-ia
– sugere um escritor – que estas vastas
planícies formavam o fundo de um mar cretáceo em que se despejassem as águas de três continentes; um, o mais velho, a Leste, compreendendo o que é
agora a cordilheira marítima e central do Brasil; um continente setentrional, compreendendo as montanhas que agora separam o Brasil da Venezuela e
das Guianas e se ramificam por esses países; e finalmente, o grande continente ocidental, atualmente as Montanhas Rochosas e os Andes, que se
estendiam, com talvez uma interrupção em Darien, quase de pólo a pólo".
O processo de formação está agora, ao que parece, interrompido, e é um fato que o delta do
Amazonas está sendo rapidamente tomado pelo mar e convertido em um verdadeiro delta. "O rio
– observa o sr. A. H. Keane – perdeu já
mais de 400 milhas do seu curso inferior e as antigas margens vivem agora permanentemente inundadas até cem braças. Por isso é que diversos rios que
outrora se ligavam ao Amazonas pela margem meridional vão ter agora ao litoral por cursos independentes. O próprio Tocantins já quase deixou de ser
um afluente do Amazonas, com o qual só está agora ligado por um intrincado sistema de braços laterais instáveis".
A natureza plana da bacia amazônica e as chuvas quase contínuas, combinadas com a temperatura
geralmente alta e constante (a temperatura anual média em Manaus é 27,37º C ou 81.26º F) determinam uma umidade nas condições atmosféricas que tem
valido à região uma pouco invejável reputação do ponto de vista da salubridade. A verdade, porém, é que o calor não é ali tão grande como na Índia.
O solo é de excepcional riqueza, porque a produção e decomposição de matérias vegetais durante
milhares de anos tem acumulado ali espessas camadas de húmus. Não é, pois, de admirar que a região seja uma das mais ricamente dotadas de vegetação
do mundo. Dir-se-ia que tendo a natureza atirado suas sementes por todo o mundo, voltou novamente ao Amazonas para semear as restantes.
Quando se navega por esses rios vê-se uma quase impenetrável rampa de folhagens que lhes cobrem
ambas as margens, e as frondes mais longas parecem brotar da água à busca do ar livre. Ao fundo, grossos troncos verdes e prateados se erguem sobre
a vegetação em redor, lançando para o sol um dossel vegetal, vermelho e verde, como se sobre a região passassem ao mesmo tempo duas estações. As
palmeiras ora isoladas, ora em grupos, erguem majestosamente seus penachos sobre a folhagem em redor.
Aí, vêem-se lado a lado o assabi, longo, esguio e delicado, balançando-se ao sopro de cada
zéfiro, e o vigoroso, sólido tucuman. Nessas florestas, dia a dia, ano por ano, século após século, vem sendo travada uma silenciosa peleja,
um struggle for life, em que as árvores mais fortes tiram sua seiva da morte das que caem. Em cada canto, os fetos e orquídeas encontram um
ponto de apoio. Em cada fenda, pode-se ouvir o zumbir dos insetos. É certamente ali a morada da Natureza que, não perturbada, livre das devastações
da Humanidade a que ela deu o ser, pode ali realizar a obra da sua vontade.
As águas do Amazonas são riquíssimas de peixes e as florestas em redor abundam em animais. Segundo
Agassiz, o Amazonas alimenta duas vezes mais espécies de peixes do que o Mediterrâneo e muito mais do que o Atlântico de pólo a pólo. Enquanto os
rios da Europa reunidos contam pouco mais de 150 espécies de peixes d'água doce, só num lago perto de Manaus, com uma área de 500 jardas (457
metros), foram encontradas mais de 1.200 espécies diferentes, muitas das quais não observadas noutra parte. Está averiguado que, se toda a população
do mundo tivesse de adotar uma dieta exclusivamente de peixe, o Amazonas só por si poderia fornecer todo o peixe necessário para isso.
Entre os animais que vivem na bacia do Amazonas, figuram o tapir, o jaguar, o alligator
sclerops, medindo 12 a 15 pés de comprimento em média, e várias espécies de cobras, inclusive a boa scytade (jibóia), que chega a medir
60 pés de comprimento.
Mais de 22.000 espécies de plantas da flora amazonense já têm sido catalogadas; o que pode ser o
seu total é impossível conjeturar. O Amazonas é o grande reservatório de madeiras do mundo, e com o declínio do fornecimento da América do Norte e
outras partes, ele deve brevemente salientar-se como uma região produtora de madeira.
Até agora, a extração da borracha tem sido quase que a sua única indústria florestal; mas o
monopólio do Amazonas neste sentido está passando rapidamente. Bastava procurar a árvore da borracha para tirar dela fortunas, mas agora que vastas
áreas têm sido cultivadas com borracha em Malaia, Ceilão e outras partes, o aumento de competência oferecerá oportunidade para o desenvolvimento da
agricultura e indústrias florestais na bacia do Amazonas.
A árvore do cacau, por exemplo, é indígena da América e, nas proximidades do Amazonas, ela atinge
o seu maior desenvolvimento. Já uma área regularmente considerável está plantada de cacau, mas é uma das indústrias que devem se desenvolver
extraordinariamente no futuro. Também o algodão dá admiravelmente em certos pontos da região amazônica e conquistará um dia ali o lugar que lhe é
devido nas atividades agrícolas.
Picada na floresta
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