Tâmara disse que no barco é mais fácil levar o carrinho de bebê
Foto: João Vieira, publicada com a matéria
TRANSPORTE
Terça-feira, 8 de
Agosto de 2006, 07:51
Idosa atravessa passageiros em barco a remo pelo dique
Da Sucursal
Aos 62 anos, os braços de Júlia Maria dos Santos não têm
a mesma força dos 30, quando começou a fazer a travessia do Canal do Sambaiatuba, com um barco, entre São Vicente e o
Jardim Rádio Clube, em Santos. Com a criação de outras linhas de ônibus e a entrada das lotações no mercado, reduziu o
número de pessoas que utilizam a embarcação da aposentada, que chegou a sobreviver, durante anos, com o dinheiro obtido na travessia.
Atualmente, segundo Júlia, ela atravessa cerca de 20 passageiros por dia, a R$ 1,50
por pessoa. Nos bons e velhos tempos, esse número chegava a 200. No barco de quatro metros e meio cabem seis, fora ela. "Caiu muito, por causa das
peruas", lamenta a aposentada. "Ficou mais fácil (para quem quer ir de um lado a outro), tem muita condução".
O passar dos anos, porém, não pesou na disposição da barqueira, que apesar de já fazer
parte do grupo da terceira idade e da prótese na perna esquerda - resultado de um acidente de carro, em 1961, que vitimou fatalmente sua mãe -,
continua fazendo o percurso de quase 50 metros em pouco mais de três minutos.
A mulher que passa a maior parte do dia sobre as águas do dique, desde 1974, conta que
nunca sofreu qualquer tipo de incidente, como o barco virar. O que, talvez, tenha garantido sua sobrevivência, tanto no aspecto econômico quanto
físico, já que não sabe nadar.
Passageira - A facilidade oferecida pela travessia de barco de uma margem à
outra do canal é atestada pela santista Tâmara de Souza Tavares do Nascimento. Ela conta que sempre utiliza a embarcação de Júlia. "Moro em Santos e
venho sexta-feira para a casa da minha sogra, em São Vicente. Fica mais fácil vir de barco do que pegar ônibus", afirma Tâmara, que leva na
travessia a filha de cinco meses, Cauane, em um carrinho de bebê.
Conforme a aposentada, até a polícia chegou a utilizar seu barco, para fazer
perseguições. "Eles me carregavam para a margem, pegavam o barco e saíam atrás dos ladrões. Depois traziam o barco de volta".
Embora não falte disposição à aposentada para prosseguir com o trabalho de três
décadas, o corpo já começa a dar sinais de cansaço. "Minha mão dói e já não obedece mais como antes", lamenta Júlia, que não pensa em parar por
enquanto. "Vou trabalhar até quando puder".
Júlia disse que o corpo dá sinais de cansaço, mas não vai parar
Foto: João Vieira, publicada com a matéria
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