DECRETOS MARCANTES - Muitas concessões imperiais foram dadas por d. Pedro II até que alguma empresa ou pessoa independente instalasse o primeiro telefone no Brasil. Entre as autorizações mais
importantes, estão as da foto. ...
Imagem: Coleção das Leis do Império do Brasil, 1884. Acervo da Biblioteca Municipal de São Paulo
A vez de São Paulo
Embora as atenções estivessem voltadas para a sede da Corte e a disputa entre as pessoas que lá pretendiam instalar o
telefone, São Paulo também reclamava o melhoramento urbano. As experiências realizadas a partir de 1878 por Morris Kohn e Leon Rodde não caíram no esquecimento dos paulistanos. Era necessário fazer do telefone uma realidade na província, a exemplo
do que já ocorrera no Rio de Janeiro.
Finalmente, em 1884 São Paulo acaba recebendo seus primeiros telefones. Antes, porém, houve muita polêmica entre duas empresas que pretendiam instalá-los - Companhia Telégraphos Urbanos
e Álvares Pereira & Cia. Por outro lado, uma série de concessões nem chegaram a ser transformadas em firmas. Foi o caso, por exemplo, de Arthur Teixeira Macedo, que no dia 18 de março de 1882 se transforma na primeira pessoa a receber permissão
para instalar telefones em São Paulo e Campinas, através do decreto imperial nº 8.458. Além dele, houve Antônio Pinto da Silva, autorizado a implantar sistema telefônicos em São Paulo e Campinas, pelo decreto nº 9.115. Outro concessionário foi
Eugênio da Silva Ruella, licenciado pelo imperador com o decreto nº 9.116. Nenhum deles deu início a qualquer obra concreta.
As primeiras providências objetivas para a instalação de telefones na província só aconteceram mesmo com Ferdinand Rodde & Companhia, que constitui a "Empreza Telephonica Campineira",
reconhecida a 5 de janeiro de 1884 pela Corte, através do decreto nº 9.114, e homologada pela Câmara de Campinas no dia 31 de março do mesmo ano. Seu trabalho começou com a instalação de postes e fios nas ruas campineiras, o que chegou a assustar a
população. O medo geral era de que a novidade desse origem a terríveis choques elétricos. Foi preciso uma matéria na Gazeta de Campinas, muito comentada na época, para tranqüilizar a cidade. Nela, o jornal tentava mostrar que não havia
qualquer perigo no trabalho da empresa.
O clima na Capital era diferente, havendo várias pessoas e empresas interessadas em explorar o telefone, mas sem qualquer atitude prática. Um dos interessados era Morris Kohn, que desde
82 possuía a concessão imperial para assentamento de linhas em Santos, Ouro Preto e Curitiba, conforme o decreto nº 8.460. Ele acaba criando a Companhia Telephonica do Estado de São Paulo, baseado justamente nessa autorização.
Na disputa também estava a Álvares Pereira & Companhia, com escritórios à Rua São Bento, 69. A firma chega a conseguir assinaturas antes mesmo de instalar qualquer equipamento. Esse
quadro de indefinição sofre uma grande mudança quando A Província de São Paulo, de 6 de janeiro, publica o seguinte anúncio: "Companhia Telégraphos Urbanos - Esta Companhia, a ÚNICA
COMPETENTEMENTE AUTORISADA pelo governo geral, e com respectiva concessão da Ilma. câmara municipal para assentamento de linhas e centros de ligação telephonica n'esta cidade, pretende introduzir aqui esse importante melhoramento, hoje tão bem
aceito em toda a parte, e julga-se nas condições de bem servir o público, colocando os mais modernos e mais aperfeiçoados apparelhos, para o que está habilitada por contratos especiaes que tem para o seu fornecimento com todos os fabricantes dos
Estados Unidos e da Europa. O assentamento de linhas deve começar immediatamente. Para mais minuciosas informações, ou qualquer negócio com a Companhia o público pode dirigir-se à casa dos srs. Guye Mattos e Cª., travessa do Collégio, onde se
recebem assignaturas". A mesma edição apresentava um artigo no qual a Companhia Telégraphos Urbanos se prontifica a instalar "o serviço
gratuito a todos os jornaes, à presidência da Província, Assembléia Provincial e Santa Casa de Misericórdia".
Formada por capital norte-americano, encabeçada pela Tropical American Telephone Company, a empresa causa outra surpresa, apenas dois dias depois. A 8 de janeiro de 1884 saía sua
primeira lista, composta por 22 "assignantes":
1 - Santa Casa de Misericórdia
2 - Assembléia Provincial
3 - Câmara municipal
4 - Presidência da Província
5 - Província de São Paulo
6 - Correio Paulistano
7 - Diario de São Paulo
8 - Jornal do Commercio
9 - Gazeta do Povo
10 - Gazeta Liberal
11 - New London & Brasilian Bank
12 - Banco Mercantil de Santos
13 - Lebre, Irmão & Sampaio
14 - Guye Mattos & Comp.
15 - Moreira & Abílio Soares
16 - Fenilli & Comp.
17 - J. Aguiar & Comp.
18 - Luiz Manoel da Silva
19 - José Paulo
20 - Carvalho Costa & Pires
21 - Azevedo & Comp. - Ao Globo
22 - Hotel de França
A reação de Álvares Pereira não demorou a aparecer. No dia seguinte, a Cia. faz um protesto público contra a Telégraphos Urbanos, dizendo-se lesada no seu direito exclusivo de assentar
linhas telefônicas na Capital.
Um acordo, entretanto, acaba sendo feito entre dois diretores da empresa, os senhores Donshea e Lacerda, com a administração da concorrente. Por isso mesmo, no dia 10 de janeiro o
jornal Correio Paulistano publica uma segunda lista, acrescida dos "assignantes" da Álvares Pereira & Cia.
A partir daí, o crescimento foi rápido. A clientela do novo serviço aumenta mês a mês, passando de 70 o número de assinantes em fevereiro.
A compra da linha e as despesas de instalação saíam a 120 mil-réis, quantia elevada para a época e que tornava o telefone um privilégio das classes mais elevadas. Dentre os primeiros
assinantes estavam famílias tradicionais como a dos Queiróz, Prates & Martinho Prado, além de conhecidas casas comerciais como a Lebre Irmão & Sampaio, Hotel de França, Moreira & Abílio Soares, Banco Mercantil, Clube dos Girondinos e Correio
Paulistano.
A princípio, só eram possíveis as ligações durante o dia, fato que mudou logo, conforme atesta a matéria de março de 1884 do jornal A Província de São Paulo: "A Companhia telephonica d'esta capital inaugura hoje o serviço nocturno, tornando-se assim o telephone um auxiliar notabilíssimo de todos aqueles que o tem em casa. É justamente à noute que mais preciosos
podem ser os serviços prestados por aquela famula feiticeira que por 333 réis diários temos às nossas ordens, levando-nos recados instantâneos ao médico, à botica, à parteira, à polícia, aos bombeiros, aos compadres, amigos e até ao padre
confessor. É simplesmente o mundo dentro de nossa alcova e às nossas ordens. Jà estão ligados ao escritório central mais de 80 assignantes".
O salto dado pelo telefone desde sua chegada a São Paulo foi gigantesco. De artigo de luxo ele se transformou numa das primeiras necessidades de quem pretendia fazer qualquer coisa sem
gastar muito tempo ou combustível.
O aparelho que encantou o paulista do século passado (N.E.: séc. XIX) foi se
multiplicando à medida que chaminés, carros e homens ocupavam pacificamente o maior estado brasileiro, chegando hoje à cifra de 4 milhões de unidades mantidas pela Telesp. Seu espaço nesse cenário não só foi preservado como também aumentou, devido
à quantidade crescente de serviços por ele prestados à população.
... O decreto nº 9.114, por exemplo, permitia a Ferdinand Rodde explorar os serviços telefônicos em São Paulo e Campinas. O de nº 9.115, presente na mesma Collecção das Leis de 1884, dava
semelhante concessão a Antônio Pinto da Silva. Finalmente, pode-se ver o decreto nº 9.116, licenciando João Carlos Eugênio da Silva Ruella. Dos três, apenas o sr. Rodde deu início a algum trabalho concreto, através da Companhia Campineira
Imagem: Coleção das Leis do Império do Brasil, 1884. Acervo da Biblioteca Municipal de São Paulo
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