O GRANDE INCENTIVADOR - D. Pedro II foi o responsável pela vinda do telefone ao Brasil. Nosso país tornou-se um dos primeiros a receber a novidade, graças à iniciativa e à visão de futuro do
imperador. Apesar dos problemas enfrentados pela Corte em setores fundamentais, como abastecimento e educação, ele soube dar importância ao aparelho e tratou logo de procurar pessoas capazes de torná-lo uma realidade por aqui
Imagem: coleção particular do deputado Antonio Henrique da Cunha Bueno
1884: São Paulo ganha o telefone
Em 1884 o telefone chegava a São Paulo, mas sua caminhada até aqui começou oito anos antes, na Filadélfia. No dia 25 de junho
de 1876, d. Pedro II e outras autoridades internacionais da época elegiam o invento de Graham Bell como o principal da Grande Exposição Científica em comemoração ao primeiro centenário da Independência dos Estados Unidos. Com isso, nosso imperador
torna-se um dos primeiros grandes incentivadores do aparelho e resolve trazê-lo logo para o Brasil. Havia, porém, problemas mais urgentes a serem resolvidos na Corte, como instrução, transporte e abastecimento. O espírito inovador e a grande visão
futurista de d. Pedro II, no entanto, não deixariam o sonho esmorecer.
Foi justamente por isso que já em 1877 acontecia a primeira experiência telefônica em solo brasileiro, por conta do comerciante Leon Rodde. Ele instalou um telefone na O Grande
Mágico, loja de sua propriedade na Província do Rio de Janeiro. Na ocasião, o resto do mundo contava com nada menos que 3 mil aparelhos funcionando, enquanto surgiam entre os norte-americanos propagandas sobre a última novidade tecnológica.
O aparelho utilizado era uma verdadeira engenhoca pesada e incômoda, que não tardou a ser substituída por uma versão mais prática: o telephono, desenvolvido em 1877 pela Western
& Brazilian Telegraph Company. A imprensa recebeu a inovação como "o instrumento transmissor e ao mesmo tempo receptor de sons, tendo meio palmo de comprimento e constando de um pequeno cubo de
madeira de cerca de uma polegada de diâmetro e três de extensão, com uma rodela de duas a três polegadas de diâmetro" (A Província de São Paulo, de 1º de dezembro de 1877).
Com esse equipamento mais leve e fácil de manejar, o invento de Bell começa sua convivência entre os paulistanos, trazido para cá pelo engenheiro norte-americano Morris Kohn - figura
conhecida no Rio de Janeiro pela instalação de uma linha de "bonds" e por ser sócio de Leon Rodde. "Hoje às 10 horas da manhã, no Grande Hotel, o sr. Morris Kohn propõe-se a fazer uma
experiência pública. Diz ele que pretende fazer com o seu telephone uma experiência maior e mais notável entre esta capital e algumas cidades a que estejamos ligados por um fio telegraphico, sendo talvez Sorocaba a cidade escolhida", publicava A Província de São Paulo, do dia 28 de julho.
Uma semana depois, o mesmo jornal anunciava, entusiasmado, o sucesso do teste, presenciado por muitos estudantes e engenheiros, no qual o telefone do sr. Kohn havia ligado a estação
ferroviária do Brás com as da Luz e de São Bernardo do Campo.
Animados com os resultados positivos, Morris admite levar sua máquina falante para Santos e Rio Claro, enquanto já se dizia que o invento tornaria fácil uma conversa com o outro lado do
mundo. "Nesse andar o sr. Morris é capaz de atravessar o continente, sulcar o Pacífico e pôr esta capital em communicação telephonica com Melborne, na Austrália, por exemplo...", afirmava o jornal A Província, de 4 de agosto de 1878.
Ao mesmo tempo, Leon Rodde fazia outras demonstrações em São Paulo, com o "Telephono e Tympanos Eléctricos", como ficou conhecido o aparelho instalado antes na sua loja do RIo de
Janeiro. "Hoje, às 7 da tarde, no salão da propagadora, o Sr. Rodde fará exposição e experiências públicas d'aquelles curiosos instrumentos, fazendo a respeito d'elles minuciosa explicação
verbal. Será uma verdadeira conferencia scientifica, que pela sua importância merece sem dúvida a attenção pública", lembrava A Província de São Paulo daquele 18 de agosto.
Pouco tempo depois, uma fazenda de Limeira recebia a visita do sr. Rodde. O dono das terras, Bento da Silveira Franco, agradece publicamente a instalação dos primeiros aparelhos em sua
propriedade, por meio de uma carta divulgada no dia 5 de setembro de 78. "Communico-lhe que estou satisfeito com os aparelhos telephonicos que assentou em minha Fazenda do Barreiro, por quanto
funcionam perfeitamente e nada deixam a desejar, tanto pela sua perfeição artística como pela claresa com que transmitem a voz", diz um trecho da carta.
EXPOSIÇÃO DECISIVA - No dia da inauguração da Exposição Universal de Filadélfia, em 1876, o imperador d. Pedro II foi visto à frente do cortejo oficial conduzindo pelo braço a mulher do presidente
Grant, dos Estados Unidos, o qual o acompanhava, ao lado, dando, por sua vez, o braço à imperatriz Tereza Cristina. Para melhor conhecer a Exposição, voltou ali mais tarde, já desembaraçado dos programas oficiais.
Nessa ocasião, assistiu às primeiras experiências do telefone, feitas por Alexandre Graham Bell, e foi - graças à sua incansável curiosidade
científica - o revelador do invento que iria revolucionar, dentro em pouco, o sistema de transmissão da palavra. Chamou para ele, calorosamente, a atenção dos jurados da Exposição, arvorando-se no maior propagandista do novo aparelho.
Entusiasmado, d. Pedro II diz a célebre frase: "Meu Deus, isto fala!". Imediatamente ele resolve que aquela seria a principal novidade da
mostra comemorativa dos 100 anos de independência dos Estados Unidos. As outras autoridades presentes acompanharam seu voto e o telefone conhecia sua primeira grande vitória.
Conseguiu, assim, tirar da obscuridade o jovem Bell que ele conhecera pouco tempo antes, modesto e desconhecido professor numa escola de
surdos-mudos de Boston, e torná-lo quase uma celebridade nos Estados Unidos.
"O telefone ficou sendo uma das sensações da Exposição, e quando ele se tornou um objeto de comércio, o imperador foi dos primeiros a
utilizá-lo na prática", escrevia Mary W. Williams
Imagem: ilustração do jornal World da Filadélfia, 1876 |