HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
AUTONOMIA
Autonomia e imprensa (7)
Historicamente uma cidade guerreira, que sempre lutou por seus
direitos, ao ponto de ser marcada com epítetos como Moscou Brasileira e Cidade Vermelha, Santos foi duramente castigada pela Ditadura
Militar, com a perda de sua autonomia política e administrativa, em função de seu enquadramento como Área de Segurança Nacional.
Essa história pode ser contada através das capas e principais páginas dos jornais locais. Uma
seleção dessas páginas consta na obra Sombras Sobre Santos - O Longo Caminho de Volta, de Ricardo Marques da Silva e Carlos Mauri Alexandrino
(ed. da Secretaria Municipal de Cultura, Santos/SP, 1988). Entre elas, a edição de segunda-feira, 4 de junho de 1984, do extinto jornal Cidade de
Santos:
O santista foi às urnas, votou conscientemente e reafirmou o resultado de 15
anos atrás:
Justo na cabeça
Depois de 15 anos de nomeações e arbítrio, em
decorrência de uma eleição histórica e de interesse nacional, Santos tem um novo prefeito: Oswaldo Justo, que concorreu pela legenda 2 do PMDB,
partido que preside no município. Ele foi o vice-prefeito eleito em 1968 na chapa liderada por Esmeraldo Tarquínio Filho. Com a cassação deste,
Justo, em solidariedade, renunciou ao cargo. Hoje, com 78.413 votos, retorna à Prefeitura, levando como vice Esmeraldo Tarquínio Neto, filho de seu
companheiro de chapa em 1968.
Sua vitória foi consagradora e inquestionável desde a primeira urna aberta na noite de
ontem em Santos, após um dia de eleição tranqüilos e calmo na cidade, revelando mais uma vez o alto grau de interesse e participação da população
santista que, desta forma, demonstrou a verdadeira aberração que foi a cassação de sua autonomia.
Oswaldo Justo recebeu uma votação maciça em todos os bairros da cidade, superando
Rubens Lara, também do PMDB (legenda 1) por 24.374 votos. Esta diferença foi o fato mais surpreendente de toda a eleição, pois era tido como certo
que um equilíbrio considerável nortearia a disputa entre os dois, desde o início os favoritos para o pleito, fato que acabou se confirmando com Lara
e seu vice, Nélson Fabiano Sobrinho, obtendo 54.49 votos. Como terceira colocada apareceu Telma de Souza, do PT, com 34.252 votos.
Resultado final - Estes são os números finais do pleito: PDS: Fernando
Oliva, 4.725 votos; Ângelo Ramos, 1.894; PDT: Danilo Fernandes, 2.545; Martinho Ribeiro, 4.886; Jamil Issa, 1.877; PT: Telma de Souza,
34.252; Jessé Rebello, 3.456; Nobel Soares, 6.631; PMDB: Rubens Lara, 54.049; Oswaldo Justo, 78.413; Eduardo Castilho, 9.351; Em branco:
10.694; Nulos: 8.810. O índice de abstenções foi de 13 por cento, aproximadamente.
Foto: Wilson Mello
Foto: Itamar Miranda
Foto: Eunísio Goulart
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Na mesma edição, um caderno especial sobre as eleições de 1984:
A data cívica foi vivida a cada minuto, até com emoção.
A cidade mudou seu visual, vestiu-se de alegria e esse clima de festa durou todo o dia. O povo foi cedo para as ruas. Afinal, era preciso compensar
15 anos de jejum político. E o momento da votação, a colocação do voto na urna, a permanência na fila, o assédio dos cabos eleitorais foram
literalmente saboreados. E esses momentos, certamente, ficarão gravados na memória de cada um. O sagrado direito do voto foi exercido pela população
e transformou o 3 de junho em um dia histórico. Os incidentes foram mínimos e facilmente contornados. A confraternização registrada em cada canto da
cidade pode dar uma idéia - se não a certeza - da necessidade que o santista tem de participar e de ser sujeito de sua História. Agora, ao futuro.
Foto: Luiz C. Fernandes
E Santos recuperou seu direito de cidadania
Apesar da crise, muito dinheiro foi gasto pelos
candidatos em propaganda. Os panfletos cobriram as calçadas, as ruas - em muitos bairros, até os locais de votação. Esses papéis distribuídos pelos
cabos eleitorais foram importantíssimos para a conquista dos eleitores indecisos - grande parte ainda nas filas para a votação. Nas páginas
seguintes [...]
Lara foi quem mais demorou para votar, depois de distribuir abraços, beijos e
conversar com antigos amigos, sempre com o mesmo sorriso
Foto: Luiz C. Fernandes
Justo evitou fazer qualquer prévia, mas adiantou que não tem intenção alguma de
promover uma "devassa", se eleito. "Mas um levantamento será feito"
Foto: Luiz C. Fernandes
Telma votou cedo e foi continuar seu trabalho junto aos cabos eleitorais,
principalmente na Zona Noroeste, na tentativa de ganhar o voto dos indecisos
Foto: Eunísio Goulart
Foi um dia de festa para o santista. A alegria da democracia estava solta nas ruas e a
tranqüilidade em que transcorreu o pleito embelezou ainda mais a festa. E as crianças também marcaram presença, pois a emoção da data de ontem era
de todos
Foto: Luiz C. Fernandes
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