Prefeitura de Santos
Cassado José Gomes
Empossado Ridel
Em sessão extraordinária, com a presença de todos os
vereadores, a Câmara, por unanimidade de votos (31), elegeu ontem, pela manhã, o novo prefeito, Capitão-de-Fragata Fernando Horta Ridel e o vice,
Major do Exército, José Amaral Garboggine.
O ex-prefeito José Gomes, que teve o seu mandato cassado domingo último, não assistiu
nenhuma das solenidades realizadas no dia de ontem, tanto na Sala "Princesa Isabel", como no Salão Nobre do Paço.
PODER MILITAR E CIVIL - O primeiro, da esquerda para a direita, representa o poder
militar na foto: comandante Júlio de Sá Bierrenbach, Capitão dos Portos. Os segundo e quarto do flagrante, no mesmo sentido, são militares que
galgam o poder civil: Capitão-de-Fragata Fernando Ridel e major José Amaral Garbogine, eleitos prefeito e vice de Santos. O último, à direita, é
outro representante do poder civil, o Delegado Auxiliar, da 7ª Divisão Policial, sr. Bolivar Barbanti. Ao centro o radialista Carlos Baccarat.
RIDEL ASSINA POSSE - O novo Prefeito de Santos,
Capitão de Fragata Fernando H. Ridel (clichê) quando assinava o termo de posse, em solenidade realizada no Plenário da Câmara Municipal, na manhã de
ontem. Santos viveu ontem sob intensa expectativa, surgindo algumas tristezas (por parte dos correligionários do ex-chefe do Executivo) e alegrias
estampadas na fisionomia dos opositores do sr. José Gomes.
JOSÉ GOMES: "AGUARDO A JUSTIÇA DE DEUS - A DOS HOMENS FALHOU" - Com exclusividade, o
ex-prefeito José Gomes concedeu entrevista a O Diário, abordando os lances dramáticos da cassação do seu mandato, frisando em determinada
oportunidade que "espera agora somente a Justiça de Deus, pois a dos homens falhou completamente". Não pretende se ausentar da cidade, cogitando
apenas repousar uns dias para recuperar as energias perdidas nos últimos dias. Outros importantes pormenores foram abordados pelo ex-chefe do
Executivo santista que, estimulado pela cassação do seu mandato, pretende voltar para sentir nas urnas o julgamento do povo de sua terra.
No clichê, o sr. José Gomes recebe de sua esposa e do júnior (alheio ao que se passa)
o estímulo tão necessário nessa hora de amargura vivida intensamente pelo ex-prefeito.
AO POVO DE SANTOS
Ao deixar a Prefeitura, por determinação de ato do Exmo. Sr. Presidente Humberto
Alencar de Castelo Branco, que me cassou o mandato de Prefeito Municipal e os meus direitos políticos pelo prazo de dez anos, dirijo-me ao povo
de Santos para afirmar publicamente:
1 - Acusado por notórios inimigos políticos, desde o dia em que fui investido no
cargo, não me desviei da preocupação de administrar retamente o Município, que procurei servir no limite extremo de minhas forças.
2 - De origem muito humilde, trabalhei árdua e lealmente para merecer o respeito
de meus concidadãos. Honrado, extremamente honrado, pela investidura do cargo de Prefeito Municipal desta nobre cidade, cumpri o dever,
governando numa quadra extremamente difícil, mas em que não me deixei perturbar pela agitação dos grupos políticos radicais que sempre se
arremeteram contra o meu governo, menos por divergência política do que por capricho e obstinação de afastar-me do cargo, levado por interesses
subalternos.
3 - Houvesse transigido com a fraqueza ou me acumpliciado com os grupos passionais
que tomaram a empreitada de atacar-me leviana e injustamente, hoje teria motivos para arrepender-me, ainda que a transigência significasse minha
permanência no cargo.
4 - Saio tranqüilo, sem mágoa, com minha consciência cívica íntegra e em condições
de pedir a meu sucessor que devasse os atos de minha administração e a minha vida privada antes, durante e depois de ter sido Prefeito.
5 - Às autoridades civis, militares e eclesiásticas de Santos e ao meu
secretariado agradeço o respeito com que sempre me honraram.
Aos leais senhores vereadores que prestigiaram o meu governo confesso a minha
gratidão.
À imprensa de Santos reitero o respeito que sempre lhe prestei.
Às entidades representativas da cultura, do comércio e da indústria, e aos clubes
de servir, testemunho os meus agradecimentos pelas constantes manifestações de confiança com que prestigiaram a minha administração.
Aos leais funcionários e servidores da Prefeitura, agradeço a lealdade de sua
colaboração.
Aos trabalhadores de Santos proclamo a certeza de que as conquistas sociais são
irreversíveis.
6 - Tudo fiz para administrar com eficiência. Prestigiei o quadro funcional da
Prefeitura, liberando-o, com justiça e na medida das possibilidades financeiras do Município, de situação de quase penúria em que o encontrei.
Obras de reconhecida expressão foram realizadas em meu governo, com guarda dos princípios da mais severa probidade administrativa.
O que mais me conforta, porém, é deixar o cargo podendo assegurar ao altivo e
nobre povo de Santos a certeza de que o Prefeito que sai está em condições de responder por todos os seus atos perante a autoridade constituída.
Essa tranqüila e confortadora certeza é a maior homenagem que, nesta hora, posso
oferecer ao povo de Santos.
Santos, 15 de junho de 1964.
(a) JOSÉ GOMES
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Ex-Prefeito José Gomes, com exclusividade
"Espero a justiça de Deus porque a dos homens falhou"
Após distribuir um manifesto ao povo santista, a reportagem de O Diário
manteve contato reservado com o ex-prefeito José Gomes, em sua residência, onde repousava dos desgastes físicos provocados pelas constantes viagens
dos últimos dias e em vista da intensa expectativa que viveu desde a deposição do sr. João Goulart, da chefia da Nação.
Com semblante abatido e em trajes esportes, ao lado de
sua esposa, sra. Lidy Gomes e do filho caçula, o sr. José Gomes declarou: "Nada me pesa na consciência. Não traí meus amigos. Não persegui meus
inimigos políticos e soube honrar a minha descendência humilde, mas de tradição de trabalho e honradez".
Justiça de Deus - "Espero a justiça de Deus porque a dos homens falhou
profundamente. Acredito ter cumprido fielmente o meu dever e servido a criança da minha terra.
"Os moradores dos bairros e morros - prosseguiu o chefe do Executivo - são testemunhas
dos meus esforços que visaram tão somente o bem estar da coletividade. Se o meu sacrifício representa o bem estar da cidade, abençoado sacrifício.
Pretendo agora descansar ao lado de minha família, para voltar mais tarde à vida normal, dirigindo as emissoras Clube e Cacique.
"Fui surpreendido com a notícia da cassação do meu mandato, e falo isso porque há dias
conversei com o Marechal Taurino Rezende, pedindo inclusive ao presidente Castelo Branco uma devassa total na minha vida pública e particular".
Respondendo a uma pergunta, o sr. José Gomes esclareceu que "não pretende abandonar a
cidade, não tendo também pensado em pedir exílio político. Os Fuzileiros Navais que estão à minha porta, foram por mim solicitados ao Capitão dos
Portos, visando proteger meus entes queridos. Tenho plena liberdade de locomoção".
Voltará à política - "Se apenas cassaram o meu mandato, e não os meus direitos
políticos (essa parte ainda não foi suficientemente esclarecida), eu serei candidato a deputado estadual, pois tenho imenso desejo de sentir o
julgamento do povo da minha terra, através das urnas.
"Todos sabem que criei dentro de Santos um governo de equipe, não olhando cores
partidárias. Se terminasse normalmente o meu mandato, não iria jamais concorrer a futuros pleitos eleitorais. Entretanto, essa cassação me serviu de
estímulos para retornar brevemente às lides políticas, quebrando um juramento que fiz perante minha esposa e meus filhos.
"Nas greves eclodidas durante a nossa gestão, jamais entrei para agitar e sim para
mediar nas démarches e esse fato ninguém poderá contestar.
"Por essa razão é que, enquanto em cidades tranqüilas do Brasil houve quebra-quebra,
na chamada agitada cidade de Santos, não houve sequer um distúrbio de ordem material" - frisou o sr. José Gomes.
Comunistas no Gabinete - "Diziam que eu recebia no meu Gabinete de trabalho,
dirigentes sindicais comunistas. Mas, para esclarecer melhor a situação de um administrador público, ressaltarei um trecho do discurso pronunciado
no Salão Nobre pelo Governador Carlos Lacerda quando aqui esteve.
"Naquela ocasião, eu disse publicamente: - 'Sou um homem
identificado com o PTB, mas presto-lhe neste instante as homenagens que merece o representante do povo da Guanabara, com todas as honras'.
Em resposta, o governador Carlos Lacerda salientou:
"'Quando levamos escolas aos diferentes bairros do meu
Estado, não examino se as crianças aí residentes são filhos de comunistas, de trabalhistas ou de udenistas'
"Recorda-se ainda - disse o sr. José Gomes - o vibrante discurso de posse do Marechal
Castelo Branco, na Presidência da República: - 'Serei Presidente de todos os brasileiros e não de uma facção'.
"Como então eu, como prefeito de uma cidade tipicamente sindicalista e no seu auge,
poderia deixar de receber pessoas de tendências de direita ou de esquerda?", concluiu.
MADRUGADA HISTÓRICA - Militares, representando a
Marinha e o Exército, reunidos com vereadores, escolheram na madrugada de ontem, após reunião que durou sete horas, os novos prefeito e
vice-prefeito de Santos, Capitão-deFragata Fernando Ridel e major José Amaral Garbogine. Foi também escolhido para presidir a Câmara, em
substituição ao sr. João Inácio de Sousa, que teve seu mandato cassado, o sr. Júlio Moreno, do PSD. Nenhum nome civil foi cogitado no encontro. Os
elementos indicados pelo Exército e Marinha foram aprovados sem maiores problemas pelos vereadores.
MAJOR VICE-PREFEITO - Momento em que o Major do
Exército, José Amaral Garboggine (clichê), assinava o termo de posse. Segundo ficou acertado, tanto o prefeito como o Vice, poderão se revezar nos
postos máximos do Executivo santista.
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