HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
EMISSÁRIO
Geisel inaugura emissário de esgoto (1)
Foi em 21 de julho de 1978
Origem de uma polêmica que atravessou as décadas seguintes - o
que fazer com a plataforma resultante do enrocamento protetor das tubulações - o emissário submarino de esgotos na praia do José Menino foi inaugurado
solenemente em 1978 com a presença do presidente da República, Ernesto Geisel. Na época, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(Sabesp), distribuiu informações à imprensa sobre a obra:
Anexo PR. 037/78
Emissário: começa a despoluição das águas da Baixada Santista
As obras do emissário, agora concluídas, exigiram
investimentos que totalizam 700 milhões de cruzeiros e estão contribuindo para que o esgotamento sanitário de Santos e São Vicente tenha um sistema
adequado, iniciando-se assim a recuperação das praias locais. Recentemente, ao presenciar os testes, o engenheiro Reinaldo de barros,
diretor-presidente da Sabesp, observou que "foi conseguida a primeira grande vitória contra a poluição das águas da Baixada".
Luta que vem de longe - A velha rede de esgotos de
Santos, ainda importante, faz parte da história da cidade, sendo um marco do desenvolvimento de uma comunidade que lutava, no final do século
passado (N.E.: século XIX), contra a febre amarela. A falta de saneamento básico havia
dado ao município o estigma de "porto maldito", tal a gravidade da doença que prejudicou em muito o crescimento da cidade. A febre amarela matou,
entre 1890 e 1895, cerca de 6.500 pessoas.
Projetado e construído por Saturnino de Brito, esse antigo sistema de esgotos criou as
condições necessárias para a implantação definitiva do porto e o fortalecimento econômico do município. O projeto, concluído em 1909, suportou bem o
progresso da Baixada até haver a explosão turística no litoral, que aumentou em muitas vezes a população local.
O antigo sistema de esgotos não atendia às necessidades da população, mostrando-se
ainda mais deficitário nas temporadas e nos fins-de-semana. Sabe-se que, nessas ocasiões, aproximadamente 1 milhão de pessoas procuram as praias
locais. Todo esgotamento sanitário era feito através do emissário Rebouças, que levava todo esgoto à estação elevatória do José Menino, de onde era
bombeado através de outro emissário até a Ponta de Itaipu e, finalmente, lançado ao mar. Entretanto, a capacidade do emissário Itaipu (0,8 m³/s) não
atendia à vazão atual de 1,3 m³/s, o que ocasionava extravasamentos de esgoto em vias públicas e principalmente nos canais.
Com o funcionamento do emissário, essa sobrecarga já está sendo eliminada. A situação
deverá ser melhorada ainda mais com a conclusão das 12 estações elevatórias que estão sendo construídas e que entrarão em funcionamento no início do
próximo ano. Ainda assim restam outros problemas: os esgotos de Cubatão e Vicente de Carvalho. Para o segundo, a Sabesp já dispõe da solução,
devendo ser implantado um sistema que atenderá também o Guarujá. Em Cubatão, embora a empresa reconheça a importância da implantação da rede de
esgotos, inclusive dispondo de recursos para tanto, a Câmara Municipal ainda não decidiu sobre a transferência dos serviços para a Sabesp.
O projeto concretizado - O emissário submarino de Santos, com capacidade final
de 7 m³/s, tem diâmetro interno de 1,75 m e 4.000 m de extensão. Ele se inicia na praia do José Menino ao lado da ilha de Urubuqueçaba e penetra mar
adentro cerca de 3.900 metros na direção norte-sul. Sua função é conduzir os esgotos a um ponto escolhido na baía de Santos, de onde são afastados
por correntes marítimas até alto mar. Porém, antes do lançamento, o esgoto passa por um pré-condicionamento, onde é retirado o material sólido e
flutuante e feita a cloração.
Para o puxamento do emissário foi utilizado o processo pulling, que consiste em
arrastar pelo fundo do mar segmentos da tubulação (strings) que formam o emissário, fazendo a junção deles em terra, evitando-se emendas
subaquáticas. Esse processo é vantajoso no sentido de se executar o puxamento independentemente das condições do mar. Devido às condições do local,
foi necessária a construção de uma plataforma artificial com 400 m de comprimento mar adentro por 100 m de largura, constituída por um enrocamento
de pedras preenchido com areia compactada. Blocos de concreto armado foram construídos sobre a plataforma para o estoque dos strings após seu
preparo.
Na construção dos strings foram utilizados tubos de aço, com espessura de 3/4
de polegada, de 12 m de comprimento, jateados e revestidos, internamente com Coaltar Epoxi e externamente com 3 camadas sucessivas de lã de vidro e
asfalto. A seguir os tubos eram levados à linha de solda onde eram acoplados e soldados sobre roletes de borracha que permitiam seu transporte
longitudinal. O transporte lateral dos strings era efetuado através de carrinhos (bogies) com 2 macacos hidráulicos, montados sobre
trilhos e puxados por 3 guinchos.
Na concretagem de revestimento da tubulação foram utilizadas formas metálicas. Esse
concreto teve duas finalidades: 1 - proteção da tubulação durante o puxamento; 2 - garantir à tubulação, quando submersa no mar, um peso de
aproximadamente 150 kg/m, impedindo que ela flutuasse.
O processo construtivo, aliado às dimensões da plataforma, impôs a construção de 19
strings, o primeiro com 144 m, 17 com 216 m e um último com 120 m. No primeiro e segundo strings foram colocados os difusores (40 tubos
de 300 m de diâmetro, distantes cada 5 m), que permitem a dispersão do efluente na água.
Para a introdução da tubulação no mar pelo processo pulling foi construída uma
rampa de 125 m de comprimento, sendo 80 m internos à plataforma e 45 m mar afora. A rampa interna foi conseguida pela escavação entre 2 cortinas de
estacas-pranchas metálicas, tipo caixão atirantadas, construídas longitudinalmente à plataforma. O lançamento e compactação de pedras de mão
garantiu a estabilidade da rampa, onde foram instalados os roletes da linha de lançamento.
Uma parede transversal de estacas-pranchas, construída junto ao mar, no fim da rampa
interna, possibilitou a remoção das pedras do enrocamento frontal e a construção de rampa externa, sem que o mar danificasse a plataforma,
protegendo a rampa interna. O piso através de gabiões e lançamento controlado de pedras de mão, garantindo o raio mínimo de curvatura da tubulação:
2.000 m, conforme projeto.
O primeiro string foi transportado e assentado sobre os roletes de borracha da
linha de lançamento. Um guincho de 100 toneladas puxou-o até a rampa interna de deslizamento onde foi flangeada, em sua extremidade, uma peça
especial denominada cabeça e patim de puxamento. A seguir foram removidas 3 estacas da parede transversal para permitir o acoplamento da peça de
articulação composta de 2 roldanas por onde se passaram os cabos de aço do puxamento. Com o transporte do segundo string para a linha de
lançamento efetuou-se a solda entre 2 strings (tie-in) completando-se o serviço com os revestimentos e concretagem da junta.
A realização do pulling do emissário de Santos dependeu da vinda ao Brasil do
batelão L. M. Odin, equipado com guinchos para o puxamento, pertencente à empresa inglesa Land & Marine Engineering Limited. Para seu
posicionamento, o L. M. Odin executou os seguintes serviços marítimos:
a - Lançamento de 4 conjuntos de 3 âncoras cada um a 6 km da costa, funcionando como
força de reação do batelão ao puxamento (sistema de ancoragem);
b - Passagem dos cabos de aço de duas polegadas e um quarto de diâmetro, do sistema de
ancoragem pelos 2 flutuantes. A função dos 2 flutuantes é aliviar o atrito entre os cabos e a areia do fundo do mar e possibilitar a emenda dos
cabos;
c - Posicionamento do batelão Odin a 500 m da cabeça de puxamento, distância
essa constante durante o processamento pulling;
d - Passagem dos cabos do Odin até as roldanas e tensionamento final do
conjunto.
A operação puxamento iniciou-se no batelão com o acionamento dos 2 guinchos de 150 t
cada, que atingem até 300 t cada, devido aos cabos paralelos dobrados. Vencido o atrito da cabeça de puxamento com o piso da rampa externa, a
tubulação deslizou no fundo do mar com uma velocidade média de 4,0 m/min.
Terminado um puxamento, imediatamente iniciava-se o transporte e acoplamento de outro
string para realização do tie-in, revestindo-se e concretando-se a junta (operação em terra). O ciclo dos serviços entre 2 puxamentos
foi em média 21 horas. Quando o L. M. Odin aproximava-se dos flutuantes, estes eram retirados, assumindo o batelão a posição dos mesmos.
Desta forma todos os strings foram puxados, sendo que a força máxima de
puxamento, cerca de 500 t, ocorreu no início do último pulling.
Imagem divulgada com o texto
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Outro material de informação à imprensa, distribuído pela Sabesp no mesmo dia
21/7/1978:
Sabesp aplicará Cr$ 11,2 bilhões em obras de saneamento na Grande São Paulo, Litoral
e Interior Os contratos assinados
pelo presidente Geisel, em sua visita a Santos para presenciar o início de operação do emissário submarino de esgotos, dizem respeito de 11,2
bilhões de cruzeiros a serem aplicados em obras de água e esgotos para cidades do Litoral, Interior e Grande São Paulo. Desse total, 7,4 bilhões
serão destinados ao Plano Diretor Sanegran como primeira parte dos convênios no valor de Cr$ 17 bilhões assinados em agosto do ano passado para o
Programa até 1983.
Ainda para a Grande São Paulo será destinado 1,3 bilhão para o Sistema Adutor
Metropolitano e a implantação de novas etapas do Sistema de Controle Operacional do Abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo. Os 2,5
bilhões restantes serão para obras no Litoral (1 bilhão e 973 milhões) e Interior (590 milhões). As obras serão executadas pela Sabesp, órgão ligado
à Secretaria de Obras e do Meio-Ambiente do Estado. Todos esses financiamentos serão provenientes, em partes iguais, do BNH e do Fundo de Água e
Esgotos do Estado de São Paulo.
[...]
Emissário exigiu 700 milhões - O emissário submarino de Santos, cujo início de
operação será presenciado pelo presidente da República, mereceu prioridade no Governo Paulo Egydio Martins e é considerado passo decisivo para o
saneamento da região e despoluição das praias de Santos e São Vicente. A obra exigiu investimentos que totalizam 700 milhões de cruzeiros e está
contribuindo para o adequado esgotamento sanitário da ilha de São Vicente. O emissário é resultado dos maciços investimentos que estão sendo feitos
pelo Governo do Estado, por intermédio da Sabesp, na Baixada Santista, para mudar o quadro do saneamento da região.
O antigo sistema de esgotos de Santos e São Vicente não atendia às necessidades da
população, mostrando-se ainda mais deficitário durante as temporadas e fins-de-semana. Nessas ocasiões, cerca de 1 milhão de pessoas procuram as
praias locais. Todo o esgotamento sanitário era feito através do emissário Rebouças, que levava o esgoto até a estação elevatória do José Menino, de
onde era bombeado através de outro emissário até a Ponta de Itaipu e, finalmente, lançado ao mar. Entretanto, a capacidade do emissário Itaipu (0,8
m³/s) não atendia à vazão atual de 1,3 m³/s, o que ocasionava extravasamentos de esgoto em vias públicas e principalmente nos canais.
Com o funcionamento do emissário, essa sobrecarga já está sendo eliminada. A situação
deverá ser melhorada ainda mais com a conclusão das 12 estações elevatórias que estão sendo construídas e que entrarão em funcionamento no início do
próximo ano. Ainda assim restam outros problemas: os esgotos de Cubatão e Vicente de Carvalho. Para o segundo, a Sabesp já dispõe da solução,
devendo ser implantado um sistema que atenderá também o Guarujá. Em Cubatão, embora a empresa reconheça a importância da implantação da rede de
esgotos, inclusive dispondo de recursos para tanto, a Câmara Municipal ainda não decidiu sobre a transferência dos serviços para a Sabesp.
Novos contratos para o Litoral - Dos novos contratos a serem assinados pelo
presidente Geisel, durante sua visita ao emissário, cerca de 1,35 bilhão de cruzeiros serão destinados a obras de esgotos em Santos, São Vicente,
Praia Grande, Peruíbe e São Sebastião. Além disso, 625 milhões de cruzeiros serão destinados a obras de água em Peruíbe, Itanhaém, Caraguatatuba,
Ubatuba e São Sebastião.
Será ampliado o sistema de coleta e afastamento de estotos de Santos (Noroeste) e São
Vicente, com a implantação também de sistema de coleta e afastamento de esgotos em Praia Grande. As obras a serem realizadas nas três cidades
custarão 1 bilhão e 97 milhões de cruzeiros, incluindo 126 quilômetros de redes coletoras, 32 mil ligações domiciliares, 7 quilômetros de
interceptores, 8 estações elevatórias e 5 quilômetros de linhas de recalque.
Em Praia Grande, até 1981, serão beneficiados 260 mil habitantes permanentes e
flutuantes, dos bairros de Boqueirão e Vila Guilhermina, através da implantação, respectivamente, de 34 e 32 quilômetros de rede coletora, 3
elevatórias com 1,6 quilômetro de emissário e interceptor litorâneo de 3 quilômetros. A entrada em operação desse complexo permitirá o lançamento
dos esgotos a dois e meio quilômetros da praia do Boqueirão, eliminando definitivamente os despejos diretos que hoje chegam às praias através dos
canais de drenagem das águas das chuvas.
Em São Vicente e na Zona Noroeste de Santos, a ampliação do sistema coletor permitirá
o aumento da descarga do novo emissário submarino de Santos, contribuindo ainda para o alívio de parte do sistema de esgotos existente. O sistema
coletor a ser implantado beneficiará as populações de Bom Retiro, São Jorge, Caneleira, Santa Maria, Areia Branca e Catiapoã.
Paralelamente, Peruíbe terá mais 14 quilômetros de adutoras, 63 quilômetros de redes
de água, 1 reservatório de 5 milhões de litros e 2.200 ligações domiciliares, obras que demandarão 101,2 milhões de cruzeiros, devendo beneficiar 30
mil habitantes. Ainda em Peruíbe a Sabesp implantará um sistema de coleta e tratamento de esgotos a um custo de 88 milhões de cruzeiros e incluindo
10 quilômetros de rede coletora, 1.632 ligações domiciliares, 3,7 quilômetros de interceptores, 0,7 quilômetro de linha de recalque e lagoa de
tratamento. A rede coletora a ser implantada em Peruíbe beneficiará, em 1981, 13 mil habitantes.
Cerca de 220 milhões de cruzeiros serão aplicados em Itanhaém, na construção de 25
quilômetros de adutora de água, 55 quilômetros de redes, 3 reservatórios de 15 milhões de litros e 2.700 ligações domiciliares. No total, essas
obras beneficiarão 50 mil pessoas com a solução do problema de falta de água nas temporadas.
No Litoral Norte estão previstas várias obras, que beneficiarão 120 mil habitantes. Em
Ubatuba, onde serão aplicados 183,5 milhões de cruzeiros, serão construídos 30 quilômetros de adutoras, 125 quilômetros de redes, 1 reservatório de
5 milhões de litros, 5.300 ligações domiciliares.
Caraguatatuba terá sua rede de água aumentada em 89 quilômetros, paralelamente à
construção de 9 quilômetros de adutoras, dois reservatórios de 1,85 milhão de litros e 4 mil ligações domiciliares, totalizando investimentos no
valor de 93,6 milhões de cruzeiros. Mais 26 milhões de cruzeiros serão empregados em São Sebastião para construção de 3,6 quilômetros de adutoras,
6,4 quilômetros de redes, 1 reservatório de 1,75 milhões de litros e 600 ligações domiciliares. Ainda em São Sebastião, 163 milhões de cruzeiros
serão aplicados em 21 quilômetros de redes de esgoto, 2.250 ligações domiciliares, 3 quilômetros de interceptores, 4 estações elevatórias, 3
quilômetros de linha de recalque e unidade de tratamento.
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