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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - HOSPITAIS - BIBLIOTECA
Hospital Anchieta (4-f45)

 

Clique na imagem para voltar ao índice do livroEste hospital santista foi o centro de um importante debate psiquiátrico, entre os que defendem a internação dos doentes mentais e os favoráveis à ressocialização dos mesmos, que travaram a chamada luta antimanicomial. Desse debate resultou uma intervenção pioneira no setor, acompanhada por especialistas de todo o mundo.

Um livro de 175 páginas contando essa história (com arte-final de Nicholas Vannuchi, e impresso na Cegraf Gráfica e Editora Ltda.-ME) foi lançado em 2004 pelo jornalista e historiador Paulo Matos, que em 13 de outubro de 2009 autorizou Novo Milênio a transcrevê-lo integralmente, a partir de seus originais digitados:

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Na Santos de Telma, a vitória dos mentaleiros

ANCHIETA, 15 ANOS (1989-2004)

A quarta revolução mundial da Psiquiatria

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LOUCURA, MADE IN SISTEMA, MADE IN BRAZIL

Taylorismo e as raízes da loucura - a essência da diferença

 

As regras que nortearam nosso desenvolvimento econômico, notadamente após o Golpe Militar de 1964, produziram um modelo altamente concentrador, acirrando as desigualdades sociais e acirrando as contradições do capitalismo. Seu resultado foi uma organização social profundamente recheada de conflitos, onde apenas uma restrita minoria manteve as rédeas do país, associada ao capitalismo internacional.

 

O empobrecimento decorrente, somando ao acirramento das disputas nos centros urbanos, super-povoados pelas crescentes migrações do campo dominado pelo latifúndio, é produto do exército de mão-de-obra de reserva que se forma. Farta, a mão-de-obra fica barata (lei da oferta e da procura) e sobe assim o lucro da classe dominante, a mais-valia – que termina por destruir a sociedade pelos conflitos resultantes da precarização e ausência de meios de subsistência, em confronto com os possuidores.

 

Estes fatores, aliados às causas de raiz do trabalho alienado da vida, traçam um caminho delineado para a loucura, para a dissociação do homem em relação ao trabalho que ocupa suas horas e, conseqüentemente, aos seus valores. Sabia Taylor, o criador de uma nova concepção produtivista, o taylorismo (Frederick W. Taylor, 1856-1915), um engenheiro de formação puritana e reacionária, de princípios rígidos. O taylorismo era a veneração ao trabalho, organizando-o sistematicamente em seus mínimos detalhes, anteriormente negligenciados, um método científico – que escondia uma concepção do sistema capitalista que o embutia.

 

Essa técnica se disseminou pelas fábricas e escritórios e até mesmo o trabalho intelectual, que em função dessa técnica restringiu sua abrangência a setores isolados e sem interdisciplinaridade, sem ver o todo. A meta era a produtividade através da racionalização, com maior aproveitamento dos recursos. Era o tempo útil maxivalorizado. Era tempo transformado em mercadoria.

 

Dizia Taylor que o homem é compelido ao trabalho não porque goste, mas por ser um recurso para sua sobrevivência, não como um ato existencial, como o que explica Engels surgido juntamente com o homem e parte de sua vida. Taylor sintetiza a visão antagônica, do trabalho em que se separa a atividade intelectual da manual, cronometrado.

 

Esse processo de redução da complexidade do saber operário introduz o desinteresse pela atividade, a monotonia, o tédio, a idiotização do trabalhador – o passo para a loucura. Antes, os ofícios qualificados eram passados, na prática e oralmente, do operário para o aprendiz, o que requeria destreza, tempo e habilidade. Em se retirando-lhe o saber, se retira seu poder na força da luta por melhores condições de trabalho.

 

Assim, o taylorismo foi e é o instrumento vital para a derrota das lutas sindicais, dissociando o trabalhador qualificado do não-qualificado, submetido à redução salarial, já que não controla a produção e tornando o trabalho um instrumento de opressão e loucura, o trabalhador uma massa bruta sempre sujeito à demissão e substituição, o turn-over.

 

A utopia patronal da fábrica sem operários, como no dizer do filósofo Michel Foucault, está em vias de se realizar, no interior desse processo em que, com a revolução microeletrônica nas mãos de poucos, a especificação das tarefas fará com que qualquer braço mecânico a realize.

 

Seria o sonho patronal livrar-se desses trabalhadores que provocam conflitos sociais e fazem greves, insistindo em viver ao invés de apenas produzir como os obedientes robôs. É simples concluir onde leva esse processo, senão à loucura, na alienação do trabalho dissociado do homem e voltado para a acumulação irracional, quando o homem perde sua condição humana para transformar-se em mero produtor de mercadorias.