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LOUCURA, MADE IN SISTEMA, MADE IN BRAZIL
Taylorismo e as raízes da loucura - a essência da diferença
As regras que nortearam nosso desenvolvimento econômico, notadamente após o Golpe Militar de 1964,
produziram um modelo altamente concentrador, acirrando as desigualdades sociais e acirrando as contradições do capitalismo. Seu resultado foi uma
organização social profundamente recheada de conflitos, onde apenas uma restrita minoria manteve as rédeas do país, associada ao capitalismo
internacional.
O empobrecimento decorrente, somando ao acirramento das disputas nos centros urbanos, super-povoados
pelas crescentes migrações do campo dominado pelo latifúndio, é produto do exército de mão-de-obra de reserva que se forma. Farta, a mão-de-obra
fica barata (lei da oferta e da procura) e sobe assim o lucro da classe dominante, a mais-valia – que termina por destruir a sociedade pelos
conflitos resultantes da precarização e ausência de meios de subsistência, em confronto com os possuidores.
Estes fatores, aliados às causas de raiz do trabalho alienado da vida, traçam um caminho delineado
para a loucura, para a dissociação do homem em relação ao trabalho que ocupa suas horas e, conseqüentemente, aos seus valores. Sabia Taylor, o
criador de uma nova concepção produtivista, o taylorismo (Frederick W. Taylor, 1856-1915), um engenheiro de formação puritana e reacionária,
de princípios rígidos. O taylorismo era a veneração ao trabalho, organizando-o sistematicamente em seus mínimos detalhes,
anteriormente negligenciados, um método científico – que escondia uma concepção do sistema capitalista que o embutia.
Essa técnica se disseminou pelas fábricas e escritórios e até mesmo o trabalho intelectual, que em
função dessa técnica restringiu sua abrangência a setores isolados e sem interdisciplinaridade, sem ver o todo. A meta era a produtividade através
da racionalização, com maior aproveitamento dos recursos. Era o tempo útil maxivalorizado. Era tempo transformado em mercadoria.
Dizia Taylor que o homem é compelido ao trabalho não porque goste, mas por ser um recurso para sua
sobrevivência, não como um ato existencial, como o que explica Engels surgido juntamente com o homem e parte de sua vida. Taylor sintetiza a visão
antagônica, do trabalho em que se separa a atividade intelectual da manual, cronometrado.
Esse processo de redução da complexidade do saber operário introduz o desinteresse pela atividade, a
monotonia, o tédio, a idiotização do trabalhador – o passo para a loucura. Antes, os ofícios qualificados eram passados, na prática e oralmente, do
operário para o aprendiz, o que requeria destreza, tempo e habilidade. Em se retirando-lhe o saber, se retira seu poder na força da luta por
melhores condições de trabalho.
Assim, o taylorismo foi e é o instrumento vital para a derrota das lutas sindicais, dissociando
o trabalhador qualificado do não-qualificado, submetido à redução salarial, já que não controla a produção e tornando o trabalho um instrumento de
opressão e loucura, o trabalhador uma massa bruta sempre sujeito à demissão e substituição, o turn-over.
A utopia patronal da fábrica sem operários, como no dizer do filósofo Michel Foucault, está em vias de
se realizar, no interior desse processo em que, com a revolução microeletrônica nas mãos de poucos, a especificação das tarefas fará com que
qualquer braço mecânico a realize.
Seria o sonho patronal livrar-se desses trabalhadores que provocam conflitos sociais
e fazem greves, insistindo em viver ao invés de apenas produzir como os obedientes robôs. É simples concluir onde leva esse processo, senão à
loucura, na alienação do trabalho dissociado do homem e voltado para a acumulação irracional, quando o homem perde sua condição humana para
transformar-se em mero produtor de mercadorias. |