Gota de Leite, monumento de assistência social na terra santista

Apreciando dados de um relatório - A atuação proveitosa do dr. Othon Feliciano - Palavras que enaltecem a benemérita instituição

A Assistência à Infância de Santos (Gota de Leite), instituição fundada em 11 de junho de 1914, pelo sempre lembrado dr. Alcides Lobo Viana, distribui os seus abnegados serviços em quatro seções distintas: Ambulatório, Creche, Lactário e Hospital.

Segundo o último relatório do benemérito instituto, honra e orgulho desta cidade, o entrelaçamento que se verifica nos serviços atinentes àquelas seções levava a direção geral a uma reorganização do corpo clínico, o que se verificava precisamente quando da passagem do 27º aniversário da instalação da Gota de Leite.

Daí em diante, o corpo clínico assim ficava constituído:

Ambulatório-chefe: dr. Ciro Wernek; assistentes: drs. Oliva Neto, Grimaldo Dutra, Ubaldo Barbosa e Manoel Figueiredo.

Creche: dr. Danton Leite, exercendo também as funções de médico interno;

Lactário: dr. Oliva Neto;

Hospital: chefe da clínica, dr. Lauro Nunes Pimenta; da enfermaria "D. Olívia Fernandes", e dr. Alberto Aulicino, da enfermaria "Benedito Gonçalves", todos sob a direção única do dr. Othon Feliciano, ocupando esse cargo, desvelada e incansavelmente, desde o prematuro falecimento do inesquecível fundador da instituição, dr. Alcides Lobo Viana.

O relatório que orienta o ligeiro registro que aqui fazemos das grandes realizações da Gota de Leite é exaustivo em minúcias e afirmativas.

Foi apresentado pelo dr. Manoel Hipólito do Rego, presidente do Conselho Administrativo no biênio 1940-1942, lido e aprovado em assembléia geral realizada a 12 de janeiro de 1943, e compreende também os relatórios dos srs. 1º secretário, 1º tesoureiro e do diretor geral. O aludido conselho era integrado pelos srs. dr. Manoel Hipólito do Rego, presidente; Benedito Gonçalves, vice-presidente; Vítor Fernandes de Pontes, 1º secretário; Reinaldo Negrão, 2º secretário; Getúlio da Cunha Garcia, 1º tesoureiro; Frederico Basseto, 2º tesoureiro, e dr. Othon Feliciano, diretor geral.

A sede social e o hospital infantil da Assistência à Infância de Santos encontram-se situados à Av. Conselheiro Nébias, no ângulo com as ruas Luís de Camões e Xavier Pinheiro. Ali estão instalados todos os serviços da instituição, ocupando os dois prédios. No primeiro, funcionam: o Ambulatório, com o seu movimento matinal; a Creche, ocupando todo o pavimento superior do edifício, e o Lactário, abrangendo suas três grandes salas do andar térreo, ocupadas pelo seu valioso e interessante aparelhamento.

Nos fundos, encontra-se em função permanente a lavanderia, aparelhada com maquinários movendo, no sentido de atender plenamente às múltiplas necessidades do serviço.

No segundo prédio, funciona o hospital infantil, uma das grandes aspirações da instituição, dotado de todos os requisitos hodiernos da arte construtiva e da ciência médica, um dos mais modernos do Brasil. Funciona desde fins de 1939, de forma irrepreensível, atestando a competência dos médicos especializados em clínica infantil, a boa vontade da população de Santos e a assistência indispensável dos poderes públicos.

O livro de visitantes da Assistência à Infância de Santos é um repertório eloqüente das impressões aí estereotipadas por personalidades inúmeras de destaque, quer na administração pública, quer nos meios científicos. Não é uma simples formalidade o que nesse livro se anuncia. É, simplesmente, uma afirmação concreta do alto valor da benemérita instituição que colocou esta terra em privilegiado destaque no terreno das realizações fecundas e proveitosas.

Dentre tantos e tantos conceitos lisonjeiros aí externados, o eminente e venerando dr. Clemente Ferreira, uma das maiores glórias da ciência brasileira, subscreveu o que abaixo transcrevemos:

"Coube-nos o privilégio de visitar o Hospital Infantil da Assistência à Infância de Santos, e só tenho aplausos e felicitações a dirigir aos campeões denodados desta meritória campanha em prol da infância doente e pobre que aqui encontra acolhida mais profícua, a assistência técnica mais completa e a mais solícita dedicação e cuidados de todo o gênero.

"O diretor da grande obra, dr. Othon Feliciano, com uma competência e devotamento apreciáveis, de tudo cogitou e cogita no tocante ao utensiliamento e instalações dos serviços verdadeiramente modelares. Com poucos recursos, fez grandes cousas e sabe socorrer-se de todos os fatores de êxito para o leal desempenho das funções do magnífico estabelecimento hospitalar.

"O grande número de crianças socorridas, cientificamente alimentadas, evidencia a magnitude da obra de que Santos pode e deve orgulhar-se, e que merece o apoio da iniciativa privada e dos poderes públicos na mais alta escala. Assim, é com efusivo júbilo e a máxima satisfação que cumpro o dever de deixar consignados os mais expressivos encômios pelo notável empreendimento, salvaguarda da infância proletária.

"Santos, 11-1-1942".

Os números falam com eloqüência superior.

Ambulatório - No biênio em apreço, o Ambulatório teve o seguinte movimento, segundo a exposição do diretor geral:

Das crianças matriculadas (2.477), faleciam 84, sendo 47 do sexo masculino e 37 do feminino, o que representavam uma porcentagem de 3,4% em um ambulatório movimentado. A atrepsia ou modernamente a decomposição, doença em outros anos muito freqüente, vem desaparecendo em face da propaganda e do trabalho dos médicos puericultores santistas em favor de uma salutar alimentação.

Creche - A Creche agasalhou 132 internados no biênio, passando a receber tratamento no hospital de pequeninos que aí adoeceram, sendo o seguinte o movimento no período:

Hospital - O Hospital teve movimento sempre crescente, sendo o seguinte o movimento geral do biênio:

Lactário - Eis o setor do trabalho maior. Seu movimento no biênio foi o seguinte:

O relatório do diretor geral, a propósito do estábulo, diz textualmente:

"Felizmente, conseguimos meios e construímos o estábulo-modelo, que nos tem dado apreciável rendimento. Em um terreno cedido pela Estrada de Ferro Sorocabana, à Av. Bandeirantes n. 415, o gado goza boa saúde e tem melhorado a sua produção. O leite produzido foi de 191.259 litros, neste biênio".

Não nos furtamos ao dever de inserir nestas ligeiras anotações dados do último relatório da Gota de Leite, os nomes das damas protetoras da beneficiadora instituição, na ordem que vêm colocados:

 1º D. Alzira Martins Lichti
 2º D. Ana Uebele
 3º D. Berta Pachur
 4º D. Maria Carmelina Leite Ribeiro de Lamare
 5º D. Carmem Bellot
 6º D. Dulcinéa Gonçalves
 7º D. Elza Garcia
 8º D. Francisca C. Carneiro
 9º D. Giomar Fagundes
10º D. Iraydes Lobo Viana do Rego
11º D. Luci Passarelli
12º D. Maria Penteado
13º D. Maria Angelina Castilho de Freitas
14º D. Maria Francisca Forjaz Lobo Viana
15º D. Maria do Carmo Araújo Cesta
16º D. Maria Luíza da Rocha e Silva
17º D. Marieta Negrão
18º D. Nair La Terza
19º D. Margarida Nunes Pimenta
20º D. Nair Lobo Viana Gonçalves
21º D. Nair Coelho de Sousa
22º D. Nair Veiga Lacerda
23º D. Olga Cabrera Corrêa da Cunha
24º D. Olga Lobo Viana
25º D. Rosinha Coelho e Melo
26º D. Rosinha Werner
27º Senhora dr. Paulo Martins
26º Senhora Henry T. W. Pilbeam
29º D. Zenith Suplici
30º Zeni Goulart

Possível seria repisar diversas outras informações preciosas da vida da utilíssima instituição. Claro que ingressaríamos no terreno árido das cifras. Estas, no relatório, se alinham na sua matemática expressão, evidenciando o cuidado existente na defesa dos interesses da Gota de Leite, o que faz prova o relatório do 1º tesoureiro, cujas contas foram mandadas aprovar pela comissão de exame respectiva.

E aqui terminamos estas rápidas anotações, feitas exclusivamente como um preito também devido pela A Tribuna no cinqüentenário da sua fundação, ao belo, ao suntuoso monumento de assistência social de que tanto se ufana a terra santista.