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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MEDICINA - BIBLIOTECA NM
Santa Casa de Misericórdia (28-a)

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Na edição nº 5 (maio de 1941) do Ano VIII, a publicação Actas Ciba - editada no Rio de Janeiro por conta da empresa Productos Chímicos Ciba S.A. - publicou a história da Santa Casa de Misericórdia santista, em dois artigos escritos pelo médico Hugo Santos Silva, então chefe de clínica desse hospital.

O exemplar, com 36 páginas (numeradas dentro da série referente ao ano de sua circulação), foi cedido a Novo Milênio para digitalização pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, em maio de 2010 (ortografia atualizada nesta transcrição deste material, contido nas páginas 114 e 115):

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O mais velho hospital da América

Actas Ciba Ano VIII nº 5 - Maio de 1941

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Braz Cubas

Imagem publicada com o texto (página 114)

Santa Casa de Misericórdia de Santos

Pelo dr. Hugo Santos Silva,

Doutor em Medicina

Chefe de clínica na Santa Casa

 

"Casa de Deus para os homens

- Porta aberta ao Mar"

Braz Cubas

Em 1543, na terra lodosa, cheia de brejais e pântanos, mal habitada pelos selvagens, apenas com ilhéus e reinóis - Enguaguassu, "lagamar entresachado de mangues e de ilhotas" -, no outeiro de Santa Catarina, Braz Cubas, movido por um enternecido sentido humano, fundou a Casa de Misericórdia que denominou Hospital de Todos os Santos, árvore bondosa a cuja sombra a vila floriu, recebendo o apelido de Santos.

As torturas que assaltavam os marinheiros que ao porto chegavam doentes ou que depois, ao contato rijo do solo ingrato, aqui enfermavam, levaram o ilustre capitão-mor a pensar na ereção de um abrigo que os recolhesse, administrado por uma irmandade. Expôs seus intentos aos principais do povoado e, deles obtendo integral aprovação, plantou em glebas da América o primeiro hospital e a primeira confraria da Misericórdia, que, em Almerim, aos 2 de abril de 1554, d. João III confirmou "concedendo-lhe todos os privilégios dados por seu pai às Misericórdias do Reino".

Sensibilidade cósmica, Braz Cubas, num gesto tão do feitio dos varões que dilataram "a Fé e o Império" - ao declarar inaugurada a "Casa de Deus para os homens - Porta aberta ao Mar" -, estabeleceu na confraternização piedosa os fins desta mansão de caridade: todos, absolutamente todos, sem distinção de nacionalidade, cor, credo, classe, que careçam de bálsamo para suas dores, serão recebidos com alegria neste sítio de cura!

Com propósitos tais,para a claridade sem crepúsculo de um abençoado porvir, cândida, sóbria, desvelada - nasceu a Santa Casa.

E numa progressão contínua para o bem, ampliando cada vez mais sua copa propícia, nestes quatro séculos de vida integralmente vivida, tem cumprido fidelissimamente a sua altíssima finalidade! Precedendo a aparição e o ulterior desenvolvimento da aldeia de poucos fogos, em tal maneira influenciou o santista que o fez inconfundível nos torneios de beneficência!

Matriz de Santos - ela se confunde com esta gente boa, que à Nação ensinou o amor da liberdade e da caridade! Patriam, Libertatem et charitatem docuit!

Templo de humanidade, como a chamou o excelso Martins Fontes, a nossa Santa Casa - pouso seguro para os que sofrem - espelhou também as vibrações e anelos que, no tempo e no espaço, abalaram a alma brasílica.

Nos primórdios da nacionalidade, a idéia da independência encontrou fervoroso apoio entre os Irmãos; na espantosa tragédia da escravidão negra, eletrizada pelo frêmito abolicionista, a Irmandade recebe nas enfermarias os míseros cativos, trata-os como semelhantes, compra-os a seus senhores e lhes dá, em plena noite escravagista, carta de alforria; a semente republicana germina nos espíritos da elite, o avançado pensamento ao calor de secreto entusiasmo vai se avolumando, os confrades são vigiados e apenas se falam pelo olhar: eis senão quando, como um desafio, padre Patrício, da estirpe dos Andradas, do Consistório, dá um enorme viva à República... Isto em 1839!

Brasil-Colônia, Brasil-Império, Brasil-República tiveram sempre, dentro do Hospital, no culto da mais bela das Pátrias, o anseio de um Brasil-Maior!

As épocas se encadearam na ronda irrequieta do tempo, as instituições se transformaram no ritmo acelerador do progresso, os usos, os costumes, as conquistas do conhecimento, evoluíram para novos aspectos, novas fases, novos surtos - mas aquele impulso inicial de generosidade e agasalho, de benevolência e ternura, nunca perdeu a sua força primitiva, jamais deixou de manifestar sua presença benfazeja, representada pelo pio instituto de Braz Cubas que, isocronicamente, acompanhou a transformação do burgo humilde na grande colméia de trabalho, de energia, de ordem, que é a cidade atual, símbolo da pujança paulista!

A figura do cavaleiro fidalgo da Casa de El-Rei de Portugal, quarenta e nove anos protetor da nossa Misericórdia, à medida que os séculos desfilam, mais cresce na admiração e no louvor do santista pela magnitude incomparável de seu gênio.

Trecho de uma carta de Braz Cubas, provedor da Capitania de São Vicente, à Sua Alteza Regente, na qual dá notícias da descoberta de pedras preciosas e pede providências para a defesa do porto de Santos. Escrita em Santos a 25 de abril de 1562

Imagem publicada com o texto (página 115)

A sua memória, neste rincão glorioso, é carinhosamente venerada.

Conserva-se como relíquia dele, nos arquivos da Santa Casa de Santos, uma carta da qual transcrevemos um trecho respeitando o original:

... Bahia para que vá por duas vias a V. A..... he vindo o Governador loguo a quy como... vira dando boa embarcação para ho Reyno mã darei a V. A. as amiores de mays preço -

+ Mandai V. A. olhar por esta Capit.na hua esquadra prover de polvora de bombarda e espingarda:

Epelouros e chumbo. Ebõ bardeiros porque te m.ta necessidade digo E com brevidade porque he m.to amiude cobitida dos contraryos he tenho grande arreçeo q se perqua se V. A. não prover loguo e não mã da pavoar o Rio de Janeiro porque nã aja françezos q favorecão estes contraryos q são m.to nossos inimigos P q os françezes lhes dão m.tas armas de foguo E m.ta polvora e que lhes dão m.to animo pa cometere oq quiserem como faze...

noso Sr. Perãt abida de Real Estado de V. A. por m.tos annos... ao Santo... amo-beyjo as Reays mãos de V.A. desta vila do porto de Santos ... oje 25 dabryl 1562- do provedor dacap.ta do Sao V.te

Bras Cubas.

O autor também publicou este artigo na revista paulistana de arquitetura, urbanismo e decoração Acropole nº 65/Ano VI, de setembro de 1943, nas páginas 129-130 (exemplar no acervo da Hemeroteca Municipal de Santos), mudando a parte final, a partir de "...magnitude incomparável de seu gênio". Em lugar de finalizar com a carta de Braz Cubas, o texto desta revista trata da construção do novo hospital, sendo ilustrado com foto desse prédio e plantas arquitetônicas:

Imagem publicada com o texto (página 129)

 "Já anteriormente à catástrofe de 10 de março de 1928, cogitava a Mesa Administrativa da construção de um novo hospital, convencida da precariedade do edifício e de suas instalações, já naquela época insuficientes para as mínimas necessidades do município.

"Agravou-se a situação com o desmoronamento do Monte Serrat, de tal modo, que logo a seguir se iniciaram os estudos preliminares visando tornar realidade a mudança do hospital para maiores e melhores instalações.

"Sob a sábia orientação do prof. Rezende Puech, então diretor da Assistência Hospitalar do Estado de São Paulo, nome destacado da Medicina brasileira, cujo valor tornou-o conhecido e valorizado além de nossas fronteiras, projetou-se o novo hospital, de maior capacidade e riqueza de instalações do que o que se está concluindo, porque o preciso conhecimento do problema tinha mostrado tal necessidade, diante não só da evolução havida na técnica hospitalar, mas também do aumento progressivo da população da cidade fundada por Braz Cubas.

"Iniciaram-se as obras em 1929 e, desde então, vêm se arrastando com longos períodos de paralisação, até que, dez anos após, de 1939 para cá, com maior ou menor intensidade, vêm seguindo um ritmo lento, mas contínuo".

Nesta fase, desde 1939, as obras estão a cargo da firma construtora Francisco Azevedo & Palma Travassos.

Imagem publicada com o texto (página 130)