Trecho da matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)
A instrução em Santos
(Da Delegacia do Ensino)
Quando se considerar que em setembro de 1938
freqüentavam escolas em Santos alunos representando cerca de um sexto de sua população, é que bem se avaliará do esforço que a cidade desenvolve em
prol da educação. E - isso precisa ficar bem notado - a maioria dos alunos estava matriculada em estabelecimentos de ensino fundados e
mantidos pela iniciativa particular. Daí se pode dizer que, ainda sob o ponto de vista estritamente escolar, Santos é uma cidade que se educa.
Nos seus 161 estabelecimentos de ensino estavam matriculados, naquele mês, 23.560
alunos.
Antes de prosseguirmos na notícia, convém esclarecer que foi adotado o critério do
Convênio Estatístico para definir estabelecimento, tanto a escola singular, isolada, como a que agrupa muitas classes.
Assim é que os 161 estabelecimentos se distribuíam, pela entidade mantenedora, com o
número de classes:
Estaduais - 26 com 257 classes
Municipais - 20 com 65 classes
Particulares - 115 com 479 classes.
Nas 801 classes lecionavam 876 professores, distribuídos por cursos, como adiante se
verá; o número de professores do município é menor, pois é sabido que muitos lecionam em várias casas de ensino e, na mesma casa, em várias classes;
excede, entretanto, de meio milhar.
Onde se nota bem o vultoso contingente do ensino particular é na distribuição da
matrícula, pois a de classes, a respeito, é pouco elucidativa, uma vez que há nas escolas de música classes de 3 e 4 alunos e há em noturnas para
operários unidades com cerca de 60.
Pela matrícula, estavam assim classificados os 23.560 alunos:
em escolas estaduais : 8.597 ou 36,49%
em escolas municipais: 2.378 ou 10,09%
em particulares : 12.585 ou 53,42%.
Tem crescido muito promissoramente o número de alunos nestes últimos anos. Em 1933, a
delegacia publicou uma estatística referente a 1932, abrangendo a matrícula de todos os alunos que passaram pelos estabelecimentos no ano letivo e
apurou o total de 19.066, aí incluídos também os de Guarujá, que ao tempo ainda não era circunscrição administrativa autônoma.
E como agora se joga com a matrícula atual, isto é, com os alunos que estão nas
escolas, deve-se procurar igual dado na mesma época de 1932 e se deve também excluir os alunos de Guarujá, para que os cotejos possam ter
significação. Em fins de 1932, o número de escolares de Santos era de 15.187, donde se vê o aumento, em seis anos, de 8.373 ou cerca de 55%.
São interessantes os números abaixo, relativos a este aumento. Inscrevem-se os números
absolutos e a proporção da matrícula:
Em 1932:
nas estaduais 6.729 - 44,30%
nas municipais 1.528 - 10,06%
nas particulares 6.930 - 45.64%
Em 1938:
nas estaduais 8.597 - 36,49%
nas municipais 2.378 - 10,09%
nas particulares 12.585 - 53.42%
Daí já se vê que enquanto o poder municipal manteve a posição em que se encontrava, a
iniciativa particular fez largos progressos e o Estado, a despeito da instalação do ginásio, da criação de classes primárias e da decuplicação da
capacidade do Instituto Da. Escolástica Rosa, perdeu, evidentemente, terreno, na contribuição para que se resolva o problema de ensino, no
município.
Não pôde acompanhar o esforço da iniciativa particular, ressalta desde logo, porque
ainda não foi resolvido o problema dos problemas da instrução pública: o da casa de escola.
Em Santos, de 1932 para cá, pouquíssimas escolas primárias têm sido criadas, pela
razão bastante de que não há uma sala de aula disponível nas suas escolas estaduais e que não há sala de aluguel servível para instalação de escola
isolada estadual.
Fica aqui - como em tanta parte - o problema da difusão do ensino primário
condicionado exclusivamente a isso: à existência do prédio escolar. E esse estacionamento, o da criação de escolas primárias estaduais, é o
responsável único pelo retrocesso que se observa na posição do ensino estadual no município, de 44,30% para 36,49%, o que parece inexato quando se
considera que no período citado o Estado instalou aqui escolas secundária e profissional, mas o que resulta exato quando atentarmos para o fato de
que a iniciativa particular não estacionou, antes acelerou as suas atividades no mencionado período.
Tendo já Santos o seu Ginásio do Estado, tendo a sua Escola Profissional, não convindo
ao Estado, como parece claro, instalar aqui alguma escola normal que venha, primeiro, concorrer com as existentes, depois agravar o já sensível
problema do excesso de normalistas, considerada a proximidade de São Paulo, onde há abundância e variedade de institutos de ensino superior, parece
provado que o Estado, o que tem a fazer em Santos é edificar escolas primárias para instalar e localizar convenientemente as classes existentes,
promover o seu aumento, restituir-lhes o período normal de funcionamento em quatro horas e - em dias que se avizinham - pensar num curso primário
maior que o atual, maior porque mais extenso e maior porque comporte já alguma diversificação, um curso a um tempo complementar e pré-vocacional.
Isso nos parece uma necessidade social, afigurando-se-nos que o grupo, como está, é
pouco para muita gente, a gente para a qual o atual ginásio é muito.
Em todo o caso, constate-se que o curso primário também aumentou sua matrícula em
qualquer das três categorias de escolas, estaduais, municipais e particulares, assim:
Nas estaduais, de 6.729 para 7.515 ou 11,60%.
Nas municipais, de 1.528 para 3.378 ou 55,60%.
Nas particulares, de 4.694 para 7.470 ou 59,10%.
Como se deixou dito, não foi apenas nos outros graus do ensino que a iniciativa
particular caminhou, mas também no primário: é o que os algarismos deixam claro.
O confronto das proporções, tiradas em 1932 e em 1938, da distribuição dos alunos
pelos vários graus e espécies de ensino, demonstra que a escolaridade das crianças e dos adolescentes de Santos é hoje maior. Ou porque aumentaram
as facilidades, ou porque aumentaram as exigências sociais, maior número de alunos prossegue o estudo:
Gráfico publicado com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)
Cursos |
Em 1932
|
Em 1938
|
Pré-primário |
460
|
3,0%
|
777
|
3,2%
|
Primário (comum) |
12.951
|
85,2%
|
17.362
|
73,9%
|
Complementar |
178
|
1,1%
|
329
|
1,3%
|
Ginasial |
452
|
2,7%
|
1.833
|
7,8%
|
Comercial |
579
|
3,8%
|
1.419
|
6,1%
|
De professor |
332
|
2,1%
|
109
|
0,4%
|
Artístico |
70
|
0,4%
|
345
|
1,4%
|
Profissional |
165
|
1,7%
|
1.367
|
5,9%
|
Total |
15.187
|
|
23.560
|
|
A diminuição de alunos do curso de formação de professores pode ser explicada também
porque o curso é hoje de apenas dois anos, quando em 1932 era de quatro; porque o Liceu Feminino Santista tinha quatro classes e está agora só com
duas; mas o curso tende a ser menos procurado.
Observe-se como a instalação do Ginásio do Estado e da Escola Profissional estadual
fez crescer o número de alunos de ginásio e do curso profissional, não apenas pelo seu contingente de alunos, que é, respectivamente, de 367 no
Ginásio e 749 no Instituto D. Escolástica Rosa, mas pelo desenvolvimento de institutos congêneres, particulares. Merece também reparo o aumento do
curso de comércio.
Quanto ao sexo dos estudantes, observa-se ligeiro aumento no número dos do sexo
masculino. Em 1932 eram 8.101 do sexo masculino e 7.086 do feminino, na proporção, portanto, de 53,3% e 46,7%. Em setembro de 1938, respectivamente
12.758 e 10.802, ou 54,1% e 45,9%.
A matrícula assim se classifica pela dependência dos cursos:
Ensino municipal: |
Primário |
2.378
|
Ensino estadual: |
Primário |
7.514
|
Secundário |
367
|
Profissional e artístico |
716
|
Ensino particular: |
Pré-primário |
777
|
Primário |
7.470
|
Complementar |
329
|
Ginasial |
1.466
|
Comercial |
1.419
|
De professor |
109
|
Artístico |
320
|
Profissional |
649
|
|
23.650
|
Quanto às zonas, pode-se afirmar que o ensino em Santos é caracteristicamente urbano,
pois que nas suas escolas rurais só havia 392 alunos, estando os demais ou na sede do município, ou na do distrito do Cubatão. O número de alunos da
zona rural representa 1,6% da matrícula do município, o que nada tem de estranhável, pois, como se sabe, é Santos município de zona rural
praticamente desabitada, eis que ali só moram 5% de sua população; e tem a zona rural a população de tal sorte esparsa, que se não reúnem as
crianças, senão excepcionalmente, em número suficiente para instalação de escola.
E quanto ao número de classes destinados a cada espécie de ensino? Como é freqüente
que a mesma escola mantenha vários cursos, não se deve somar as escolas que têm determinado curso, pois teríamos número maior que o de
estabelecimentos. Assim, podemos informar: o curso Pré-primário é dado em 27 classes de 24 escolas; o Primário Comum, em 522 classes de 139 escolas
(estadual, 25 escolas, com 198 classes; municipal, 20 escolas, com 65 classes; particular, 94 escolas com 259 classes); o Complementar em 17 classes
de 13 estabelecimentos; o Ginasial, em 53 classes de 9 estabelecimentos; o de Professor, em 6 classes de 3 escolas; o Comercial, em 58 classes de 12
estabelecimentos; o Artístico, em 48 classes de 5 escolas; o Profissional, em 70 classes de 16 escolas.
A necessidade de sistematizar a notícia agrupou nas oito categorias acima todas as
espécies do difundido e profuso aparelho de ensino da cidade, que alcança desde o pequenito da escola maternal até adultos entrados em anos, de
ambos os sexos, principalmente nas escolas noturnas de alfabetização, masculinas, e, interessante, femininas; abrange um sem-número de atividades; e
é por vezes até original, como o caso da Escola de Saúde, uma escola ao ar livre que cabe bem, numa classificação, como escola de educação física,
como jardim de infância, como escola de débeis; como o curso de mecânica naval feito de colaboração entre o Instituto Da. Escolástica Rosa e a
Companhia Docas, um curso que ainda é escola e já é oficina.
A relação do que se ensina nas escolas de Santos ilustra bem isso: há, nelas, cursos:
maternal, jardim de infância, primário fundamental comum, de alfabetização para menores e para adultos, de preparatórios, de línguas, secundário
fundamental seriado, de madureza, propedêutico comercial, de perito contador, de secretário, superior de administração e finanças, de formação de
professores, de datilografia, de taquigrafia, de enfermagem, de corte, costura, confecções, bordado, flores, chapéus, artes domésticas, carpintaria
comum e naval, marcenaria, mecânica comum e naval, desenho profissional e artístico, plástica, modelagem, escultura, pintura, música (com diversas
especializações). No final estão relacionadas todas as escolas do município.
Como última informação, o montante das despesas do Estado com o ensino em Santos, em
1938, não se comutando, quanto ao Estado, as despesas de construção, de conservação de prédios.
DELEGACIA DO ENSINO
Ensino primário |
147:160$000
|
Grupos e escolas isoladas |
1.519:412$000
|
Inst. de Pesca (cº. primº.) |
51:600$000
|
Aluguel de escolas |
36:000$000
|
Material de consumo |
30:000$000
|
|
1.637:012$000
|
Ensino secundário |
Pessoal e material |
284:050$000
|
Ensino profissional |
Pessoal e material |
642:740$000
|
Total
|
2.710:962$000
|
MUNICÍPIO
No ano de 1938 a despesa do Município com a instrução pública foi a seguinte:
Pessoal da Inspetoria |
57.360$000
|
Professorado |
308:400$000
|
Exp. e outras despesas |
100:000$000
|
Auxílio a instituições de instrução |
83:400$000
|
Substituições e eventuais |
100:000$000
|
Para reorganização do ensino (construção de novos grupos) |
645:000$000
|
Total
|
1.294:160$000
|
|