Imagem: reprodução parcial da página 6 do jornal A Tribuna de 28/3/1956
Homenagem da Câmara de São Paulo à memória das vítimas da catástrofe
Pensões e hotéis fornecem refeições às famílias desabrigadas - Donativo de cem
mil cruzeiros do Moinho Santista - Manifestações de pesar
Comunicando a homenagem tributada à memória das vítimas da catástrofe de domingo, a
Câmara Municipal de S. Paulo enviou ao prefeito Antônio Feliciano o seguinte ofício:
"Cumpre-me comunicar a Vossa Excelência que, em atenção
aos termos do Requerimento nº 446/56, de autoria do vereador Antonio Prestes Franco e outros, aprovado na sessão de hoje, em regime de urgência, foi
observado nesta Casa um minuto de silêncio em virtude dos infaustos acontecimentos que, na madrugada de domingo, enlutaram a digna família santista.
Outrossim, com a aprovação de emenda de autoria do vereador Nicolau Tuma e outros, foram designados os vereadores Umberto Fanganiello, Nicolau Tuma
e Antonio Prestes Franco para transmitir a Vossa Excelência as condolências da população de São Paulo, bem como a nossa irrestrita solidariedade às
autoridades e ao povo de Santos, nesse momento de luto e dor. Valho-me da oportunidade para apresentar a Vossa Excelência os meus protestos de
elevado apreço e distinta consideração. (a) Elias Shammas, presidente".
Pensões e hotéis fornecem refeições aos desabrigados - Recebeu o prefeito
municipal o seguinte ofício do Sindicato de Hotéis e Similares de Santos:
"A Diretoria deste sindicato, no intuito de trazer sua
colaboração e de seus associados para o fornecimento de alimentação às famílias que ficaram desabrigadas em virtude do temporal da noite de sábado
para domingo, vem comunicar a Vossa Excelência que formulou, através da imprensa e estações de rádio locais, um apelo que encontrou imediata
receptividade por parte do seu quadro associativo.
"Assim é que os estabelecimentos abaixo relacionados se encontram à inteira disposição
de Vossa Excelência para o fornecimento, durante alguns dias, de refeições (almoço e jantar) desde que sejam solicitadas com antecedência mínima de
8 horas para o seu preparo e a certeza também que sejam retiradas as mencionadas refeições no horário combinado entre o Departamento de Assistência
Social e os hoteleiros.
"Ainda a diretoria do Sindicato de Hotéis e Similares de Santos deseja cientificar
Vossa Excelência que continuará sua campanha de fornecimento de alimentação junto aos seus associados e à classe em geral, enviando a essa
Prefeitura, diariamente, uma relação de novas contribuições, para que o Departamento de Assistência Social possa orientar sua distribuição nos
locais determinados.
"Os caminhões dessa Prefeitura devem se encontrar preparados com panelões para o
recebimento dos alimentos, facilitando assim o serviço dessa repartição e dos hoteleiros.
"Portanto, fica perfeitamente esclarecido que os hoteleiros colocam à disposição da
Prefeitura desde já o número de refeições acima declarado e, diariamente, informará das novas adesões, ficando a inteiro cargo do Departamento de
Assistência Social o seu recolhimento e conseqüente distribuição aos respectivos postos.
"Sem outro assunto, continuando à inteira disposição de Vossa Excelência no que se
tornar necessário, aproveita-se do ensejo para renovar os protestos da mais alta estima e distinta consideração. (a) Alfredo Rayel - Presidente".
Relação dos hotéis e pensões que se dispõem a dar sua contribuição em refeições:
Pensão Pompéia, Av. Pres. Wilson, 74, 20 refeições; Parque Balneário, Av. Ana Costa,
555, 60; Atlântico Hotel, Av. Pres. Wilson, 1, 50; Avenida Palace, Av. Pres. Wilson, 10, 40; Hotel Belvedere, Av. Pres. Wilson, 7, 20; Hotel
Bandeirantes, Av. Pres. Wilson, 5, 20; Hotel Bongiovani, Av. Pres. Wilson, 58, 20; Pensão Pacaembu, Av. Pres. Wilson, 103, 20; Pensão Cliper, Av.
Pres. Wilson, 93, 15; Praia Hotel, Av. Pres. Wilson, 29, 40; Pensão Paulista, Av. Pres. Wilson, 134, 50; e Pensão Beira Mar, Av. Pres. Wilson, 47,
20 refeições.
Donativo de Cr$ 100.000,00 do Moinho Santista - O prefeito Antonio Feliciano
recebeu da direção do Moinho Santista S. A., Indústrias Gerais, a apreciável importância de Cr$ 100.000,00 (cem mil cruzeiros) como donativo às
vítimas da última catástrofe.
Recebeu mais o chefe do Executivo, para o mesmo fim, a quantia de Cr$ 5.000,00 do sr.
Sinibaldo Quilici, de S. Paulo, e 200 dúzias de ataduras e 20 rolos de gaze da Cia. Johnson e Johnson do Brasil, em S. Paulo.
Telegrama do prefeito de Santos ao deputado Luciano Nogueira Filho - O prefeito
municipal transmitiu ontem o seguinte telegrama ao deputado Luciano Nogueira Filho:
"Deputado Luciano Nogueira Filho. Palácio 9 de Julho. -
Câmara dos Deputados, São Paulo. - Agradeço nobre amigo palavras confortadoras pronunciadas Assembléia Legislativa sessão ontem, revidando acusações
que só posso compreender como arma política. Fenômeno verificado em Santos não atingiu somente morros mas toda a cidade, solapando inclusive obras
concreto asfáltico recente construção nas praias. O que desabou sobre Santos não foi simples chuva, mas verdadeiro dilúvio. Transmito-lhe depoimento
do eminente engenheiro José Menezes Berenguer, inspetor geral da Companhia Docas Santos, afirmando que na Ilha Barnabé, em morros cuidados com
canaletas de concreto para escoamento de águas, com bases revestidas, tendo vegetação e trabalhos de impermeabilidade, ocorreram no dia da
catástrofe santista 15 desmoronamentos. Receba ilustre deputado cordial abraço do (a) Antonio Feliciano, prefeito de Santos".
Manifestações de pesar - Por motivo da catástrofe de domingo, o dr. Antonio
Feliciano recebeu ofícios e telegramas de pesar assinados pelas seguintes pessoas:
Rio de Janeiro - Artur Porto, também oferecendo serviço gratuito de socorro às
vítimas.
De Santos - Manuel Emygdio da Silva, cônsul de Portugal; Giovanni P.
vice-cônsul da Itália; Gilberto Carvalho Pimentel, chefe da Inspetoria Estadual de Imigração.
De S. Paulo - Narciso Gurgel, p/União dos Estudantes Secundários Paulistanos;
G. R. Hamber, pela Shell Brazil Limited; deputado Gabriel Quadros; Carlos Luiz Afonseca Neto.
De Socorro - da Câmara Municipal, por seu presidente dr. Mário de Oliveira
Araújo.
De São Sebastião - de Silvestre Neves, pelo PSD; Zino M. dos Santos, pelo PTB.
- Também foi recebido este expressivo telegrama do secretário da Agricultura:
"De ordem do senhor governador comunico vossenhoria que o
prédio desta Secretaria, em que funcionam serviços Imigração, fica à disposição dessa Prefeitura, para os fins julgados convenientes. Lamentando o
lutuoso acontecimento verificado nessa cidade, apresento vossenhoria meus protestos de solidariedade ante a dor que aflige toda a população.
Atenciosas saudações. Paulo de Castro Viana, secretário Agricultura".
Vereadores de São Paulo e Cubatão visitam a Câmara de Santos - A nossa
Edilidade recebeu a visita de uma Comissão de Vereadores da Câmara Municipal de Cubatão, composta dos srs. Aires do Amaral, presidente; Francisco
Eleutério Pinheiro; Armando Cunha e dr. Osvaldo Martins, que colocou à disposição da autoridades municipais desta cidade, na atual emergência, os
préstimos do Legislativo cubatense, tendo-se prontificado, desde já, a proporcionar uma colaboração através do fornecimento de caminhões, para o
transporte de mudanças das famílias que estão sendo desalojadas dos morros.
Recebeu, igualmente, a visita de uma Comissão de Vereadores da Câmara Municipal de São
Paulo, constituída dos edis srs. Nicolau Tuma, Alberto Fanganielo e Antenor Prestes Franco, que veio, em nome da Edilidade paulistana, oferecer
também a sua cooperação no presente momento. Prontificaram-se, os membros da referida Comissão, a conseguir a remessa de micro-ônibus da Prefeitura
de São Paulo, para a condução dos desocupantes dos morros aos abrigos que lhes são destinados, bem como a votarem um auxílio de Cr$ 5.000.000,00.
Gesto raro de um motorista de praça - O presidente da Câmara Municipal de
Santos torna público a louvável atitude do motorista de praça Mário Gomes Silveira, proprietário do carro 33-49-29, com ponto de estacionamento na
agência Afonso Pena, o qual trabalhou, no dia 25, graciosamente, das 6 às 23 horas, prestando inestimáveis serviços com o seu veículo, nos
diferentes pontos onde se verificaram desabamentos.
Enaltece, também, o presidente da Câmara de Santos, o gesto do
Oficial de Dia, do 6º G. A. Cos. M. (N.E.: 6º Grupo de Artilharia de Costa Motorizada, do Exército),
que, solicitado a fornecer um "jeep" para condução dos médicos legistas, por ocasião da retirada dos corpos sob os escombros dos
desabamentos, aos locais onde os mesmos se verificaram, atendeu prontamente ao pedido formulado, pessoalmente, pelo presidente da nossa Edilidade.
MORRO DA CANELEIRA, ANTES E DEPOIS DO DESMORONAMENTO PARCIAL - Não existe morro da
Caneleira. O povo deu essa denominação à aba do morro da Penha que confina com o bairro da Caneleira. Quando demos essa explicação a um morador
desse bairro, ele repontou imediatamente e com energia, dizendo que lá reside há 30 anos e aquele morro sempre se chamara Caneleira. Aliás, a
geografia popular dá as denominações de Marapé, Ingleses, Jabaquara, Saboó, Pacheco e Itararé aos morros de Santa Terezinha, Embaré, Nova Cintra,
Penha, São Bento e Voturuá, respectivamente, porque as suas confrontações se confundem com aqueles bairros.
Não escapou, como noticiamos, à fúria dos elementos o morro da Penha, na parte confinada com
a Caneleira. Houve dois desmoronamentos, um durante a madrugada de domingo e outro na tarde desse dia. Teve sérias conseqüências o segundo acidente.
A avalancha de terra e pedra precipitou-se pela encosta e foi projetar-se em plena avenida Nossa Senhora de Fátima, obstruindo-a num espaço de cerca
de 300 metros.
Em conseqüência, o tráfego de bondes, ônibus e de pedestres está interrompido, mas, aos
moradores dos bairros de Areia Branca, Vila Melo e outros, há o recurso do transporte em canoas e botes, através do Rio São Jorge, para alcançarem a
outra margem da Avenida N. S. de Fátima.
Quando ocorreu o segundo desmoronamento, havia muitos curiosos no local, recebendo alguns
deles ferimentos. Teme-se também que haja outras vítimas entre os escombros. Os trabalhos de desentulho foram ativados durante o dia de ontem,
operando possantes tratores do Departamento de Estradas de Rodagem, além de elementos do Corpo de Bombeiros, Prefeitura, Cia. Docas e Base Aérea.
As fotografias aéreas que ilustram este texto foram tiradas pelo fotógrafo Renê Ferreira,
que no-las cedeu, mostrando dois aspectos do morro do Fontana: antes e depois do desabamento. Por aí se confrontam os estragos produzidos na Fábrica
de Adubos Buenos e a volumosa carga de terra e pedra acumulada sobre o leito da Av. N. S. de Fátima, formando outro morro, por assim dizer
Fotos e legenda publicadas com a matéria
Uma perna de mulher foi encontrada nos escombros
Presume-se que aquele membro pertença ao corpo de Hermelinda Peralis, desaparecida nas
ruínas do Marapé - Providências a tomar - Ônibus para São Vicente
Quando prosseguiam na remoção dos escombros no local em que desabou uma barreira, no
Morro do Marapé, e onde, segundo se afirma, foram soterradas oito casas, os bombeiros encontraram ontem, às 10 horas, a perna esquerda de uma
mulher.
Presume-se que o referido membro pertence à doméstica Hermelinda Peralis, cujo corpo
ainda não foi encontrado, esposa de José Peralis, que se acha internado na Santa Casa e que, na trágica ocorrência, perdeu seus filhos Valdemar, de
17 anos; Durvalino, de 13; Aparecida, de 11, e Maud, de 8.
Segundo ainda informações obtidas, falta ser encontrado o corpo do menino Omar, de 6
anos de idade, irmão gêmeo de Osmar Peralis, que também pereceu no desmoronamento do Morro do Marapé, juntamente com seus pais, Júlio Peralis e
Cezira Estefano Peralis, e seus irmãos, Odete, de 11 anos; Odilo, de 3, e Odivaldo, de 2 anos.
Acidentados ontem cinco bombeiros - Ontem, pela manhã, um grupo de bombeiros,
quando trabalhava na remoção dos escombros no Morro do Marapé, foi vítima de acidente quando rolou a pedra em que se achavam.
Em virtude da ocorrência, o bombeiro Wilson Aliender, brasileiro, de 24 anos de idade,
casado, residente à Rua Itaparica, 5, em São Paulo, fraturou o dedo médio da mão esquerda, pelo que foi internado na Santa Casa.
Os outros bombeiros feridos levemente no acidente e medicados no Pronto Socorro foram:
Lourenço Gomes de Sousa, brasileiro, de 22 anos de idade, casado, morador à Rua Antônio de Barros, 2.607, em São Paulo; João Rostand dos Reis,
brasileiro, de 23 anos de idade, solteiro; Aníbal Alves Coelho, brasileiro, de 25 anos de idade, solteiro, e Pedro Vicente, brasileiro, de 25 anos
de idade, solteiro, todos residindo no quartel da Praça Clóvis Bevilácqua, 421, na capital.
Todos devem cooperar para a limpeza da cidade - Em conseqüência da violenta
enxurrada que desceu dos morros, quase todas as ruas da cidade ficaram cobertas por espessa camada de lama. A limpeza das vias e logradouros
públicos, como é sabido, cabe aos poderes públicos municipais. No momento, porém, Santos atravessa uma situação de emergência, estando todas as
atenções das autoridades voltadas para o socorro aos desabrigados e para as providências que devem ser tomadas no sentido de evitar novos desastres.
Em tais condições, a população, também no seu interesse, poderia colaborar para a
remoção da lama, principalmente das calçadas. Se cada morador ou firma se encarregar da limpeza do seu próprio passeio, a cidade logo ficará nas
condições normais.
Esse o apelo que A Tribuna dirige à população, certa de que cooperará com as
autoridades, em benefício das condições sanitária e da limpeza da cidade.
Linha provisória de ônibus do SMTC para S. Vicente, via praia - O Serviço
Municipal de Transportes Coletivos havia criado recentemente, com grande aceitação, a linha de ônibus de n. 21, para São Vicente, partindo da Praça
dos Andradas e findando na Vila Melo. A linha 21 foi suspensa em virtude da interrupção do tráfego via Matadouro, em conseqüência do desabamento da
Caneleira.
Resolveu ontem, porém, a direção do SMTC, restabelecer a linha 21, embora com
itinerário diferente, enquanto perdurar a impossibilidade de ser feito o antigo percurso. Em caráter de emergência, para atender à população de São
Vicente, os carros da linha 21 farão o seguinte itinerário: praça dos Andradas, túnel, Avenida Cláudio Luiz da Costa, Avenida Pinheiro Machado,
Avenida Presidente Wilson, Avenida Manoel da Nóbrega e Vila Melo.
Será cobrada a passagem única de Cr$
3,50.
ESTRAGOS E DESTRUIÇÕES POR TODAS AS PARTES, EIS A MARCA DEIXADA PELA VIOLÊNCIA DAS CHUVAS -
Chega a ser incrível a exploração que o partidarismo politico faz em torno da catástrofe sofrida pela cidade. Alguns políticos e órgãos da
imprensa partidária, não respeitando o sofrimento de que a população ainda não se refez, tentam apontar culpados pelas hecatombes que sacudiram o
município. Não pretendemos discutir a pressa dos que, tripudiando sobre o desespero coletivo, lançam ardis políticos, que apenas nos chamam a
atenção pelo que têm de grotesco e de desumano.
Entretanto, bastaria uma rápida inspeção pelas zonas melhor urbanizadas da cidade para
verificar-se que ninguém poderia prever chuvas de tamanha violência. Lajes inteiras de concreto foram reduzidas a milhares de pedaços. Fortes e
pesados muros de pedra ruíram, como se fossem apenas de areia. Fendeu-se o asfalto em brechas tão profundas quanto as abertas nas encostas dos
morros.
O clichê fixa algumas dessas destruições violentas. Nas fotos de cima, alguns trechos dos
passeios da praia, em pleno Gonzaga, completamente destruídos. Na foto do centro, à direita, o canal 5, em ruína total. Nas demais fotos, alguns
trechos da avenida da praia, no Boqueirão, inclusive o muro de arrimo para o novo jardim (foto da esquerda, em baixo), que ruiu aos ímpetos das
furiosas ondas do mar. Nunca a história de Santos registrou chuvas tão violentas e tão prolongadas. O fato foi inédito e tamanha fúria dos elementos
jamais podia ser prevista
Fotos e legenda publicadas com a matéria
Crédito de doze milhões para atender às vítimas das catástrofes de Santos
Aprovado ontem na Assembléia Legislativa, em regime de urgência, o projeto dos
srs. Athié Jorge Coury e Carlos Kherlakian - Ainda em foco os desabamentos
S. PAULO, 27 (Asapress) - Na sessão de hoje da Assembléia Legislativa, o sr.
Franco Montoro denunciou ter sido rescindido, por determinação do governador, o seu contrato de professor da Faculdade de Ciências Econômicas, cargo
que exercia desde 1947, em vista de concurso de títulos realizado perante o Conselho Universitário. Declarou que no dia 11 de março do ano passado,
antes de assumir seu mandato de deputado, solicitou afastamento do seu cargo, em cumprimento a dispositivo constitucional, e agora, decorrendo mais
de um ano, foi surpreendido com essa rescisão. Asseverou ainda que não lhe parece correto o fundamento jurídico do despacho governamental e por isso
irá estudá-lo e providenciará defesa de seus direitos.
Sobre o mesmo assunto, falou o sr. Hilário Torloni, que disse que está clara a coação
que o Executivo procura exercer contra o Legislativo, e sugeriu à Mesa a realização de uma reunião dos líderes, para examinar essa denúncia do sr.
Franco Montoro, assim como a resposta do governador ao ofício que lhe enviou a Assembléia e referente ao deputado Figueiredo Ferraz.
O sr. Martinho Di Ciero disse estar havendo desorientação por parte do sr. Jânio
Quadros; o sr. Araripe Serpa informou que a rescisão do contrato com o sr. Franco Montoro não tem motivos políticos, mas decorreu de processo normal
e em vista de razões jurídicas e não subalternas; o sr. Camilo Ascar, que, ultimando o assunto, disse ser difícil separar o aspecto jurídico do
político, no caso da rescisão do contrato do sr. Franco Montoro, e que sugeriu à Mesa seja ouvida a Comissão de Constituição e Justiça, para que
esta examine a matéria e conclua se ela é de natureza jurídica ou política.
O sr. Hilário Torloni, tendo feito ponderações ao presidente, este convocou uma
reunião dos líderes para as 16,30 horas de hoje, para o exame da questão em foco.
Estudos nos morros de Santos - O sr. Pinheiro Júnior sugeriu à Mesa que, a par
da comissão de deputados que vai ser constituída para apurar as causas dos desabamentos de morros em Santos, fosse também organizada uma comissão de
técnicos para realizarem estudos sobre as condições dos morros da vizinha cidade praiana. Acrescentou que os poderes públicos competentes devem
providenciar a deslocação dos habitantes dos morros, que se acham na iminência de desabar, transferindo-os para lugares seguros.
Sobre as catástrofes ocorridas em Santos, falou o sr. Juvenal Rodrigues de Morais, que
asseverou a conveniência de ser enfrentado com energia o problema das favelas que se formam de preferência nas encostas dos morros, resolvendo-o de
maneira justa e humana. Lembrou o que ocorre no Rio, onde um sacerdote católico, dom Helder Câmara, já pode apresentar frutos magníficos de sua
grandiosa obra social. Idêntica medida poderia ser tomada em Santos, com um plano metódico e racional de construção de casas populares, para onde
seriam transferidas todas as famílias que moram em favelas.
O sr. Homero Silva, falando sobre os bairros da Capital, tratou especialmente de
localidades na periferia da cidade que se encontram praticamente abandonados, sugerindo providências para que seja organizado um serviço de
policiamento para a zona periférica, de modo a dar tranqüilidade aos seus moradores.
O presidente Rui de Almeida Barbosa leu, para conhecimento da Casa, a resposta do
governador a um ofício da Mesa referente à questão criada com o deputado Figueiredo Ferraz, que se sentiu ameaçado pela diretoria do Banco do Estado
no livre exercício do seu mandato.
Diz o sr. Jânio Quadros nesse ofício que muito embora seja o Estado o maior acionista
daquele estabelecimento de crédito, não lhe dá o direito de intervir em atos da Administração interna, que se regula pelos respectivos estatutos.
Declarou também o chefe do Executivo não poder deixar de manifestar sua inteira confiança na diretoria do banco, que lhe vem prestando grande
cooperação na obra comum de recuperação das finanças e da propulsão da economia do Estado.
Falando pela ordem, o sr. Cid Franco disse que o governo é o maior acionista e tanto
assim que elege a diretoria daquele estabelecimento de crédito, não lhe parecendo muito acertada a evasiva do governador.
Aumento do salário mínimo - O sr. Fioravante Sampol justificou um requerimento
pelo qual se congratula com o deputado federal Lauro Gomes pela apresentação do projeto de lei que eleva de 50 por cento o atual salário mínimo
vigente no país, ao mesmo tempo que faz um apelo à Câmara dos Deputados para que aprove com a urgência que se faz necessária aquela propositura.
O sr. Cid Franco reiterou o pedido para rápido andamento da proposta de reforma
constitucional, no sentido de tornar público o sistema de votação na Assembléia.
A seguir o sr. Ralph Zumbano manifestou-se contrário ao veto aposto pelo governador ao
projeto que eleva para 30 dias o período de férias anuais dos componentes da Guarda Civil.
Congratulou-se o sr. Leoncio Ferraz Júnior com o Instituto Histórico e Geográfico por
motivo da passagem de mais um aniversário de sua criação.
O sr. Francisco Franco sugeriu ao governo federal o estabelecimento de novo sistema
para a venda de algodão para beneficiar os cotonicultores.
Crédito para socorrer as vítimas de Santos - Na Ordem do Dia foi aprovado, em
vista de entendimentos realizados na sessão da véspera, o projeto de lei apresentado pelos srs. Athié Jorge Coury e Carlos Kerlakian, dispondo sobre
a abertura de crédito extraordinário de 12 milhões de cruzeiros para socorrer as vítimas das catástrofes ocorridas na cidade de Santos. Esse projeto
foi baseado em duas outras proposituras apresentadas anteriormente por aqueles deputados, sobre o mesmo assunto.
Em sua justificativa, declarou o sr. Athié Jorge Coury que "há,
como todos sabem, um caso de calamidade pública. O Estado cada vez mais vem ampliando sua assistência social, cada vez mais caminhando para um
estado assistencial e deixando de ser unicamente um Estado prestador de serviços públicos normais, não pode ficar alheio a tamanho infortúnio
público, sendo mesmo do seu dever socorrer as vítimas de tais acontecimentos".
Além do projeto referente à concessão de auxílios às vítimas das catástrofes de
Santos, foi aprovado o veto total aposto pelo governador ao projeto de lei que eleva para 30 dias o período de férias dos componentes da Guarda
Civil.
Também foi aprovado um requerimento de pesar pelo falecimento da sra. Nessel Lafer,
progenitora do sr. Horácio Lafer, ex-ministro da Fazenda.
Por falta de número não foi votado o veto total aposto ao projeto de lei que estende
aos atuais servidores contratados e interinos o direito de estabilidade após 5 anos de exercício. Os demais itens da pauta não chegaram a ser
apreciados.
A seguir, foram encerrados os trabalhos. |