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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (Q)
Em direção ao continente (5)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas. Enquanto isso, a área continental de Santos continuou existindo como um universo à parte, alheia às mudanças na área insular, mas não livre de mudanças também, como o surgimento de atividades agropecuárias e turísticas, como registrou o jornal santista A Tribuna, em 10 de abril de 2005:
 


PALMEIRAS, búfalos, húmus de minhoca e flores ornamentais são encontrados hoje
na área continental de Santos, que nas primeiras décadas do século passado
era grande produtora de bananas
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

AGROPECUÁRIA
Área pouco explorada

Somente palmeiras, plantas e búfalos resultam em atividades economicamente ativas na área continental de Santos. Em outros sítios da localidade, o cultivo é de subsistência

Valéria Malzone
Da Reportagem

Palmeiras de um lado, búfalos e húmus de minhocas do outro. Estas são duas das três únicas realidades economicamente produtivas de hoje em toda a área continental de Santos, que entre os anos de 1905 e 1940 teve um auge comercial principalmente com a plantação de bananas.

Separadas somente por cercas, as culturas de palmeiras e de búfalos pertencem a uma mesma fazenda - a Estância Diana, localizada em Guarapá - e a uma mesma família, a Vazquez. Uma das irmãs, a engenheira agrônoma Marisa, cultiva plantas ornamentais e um dos irmãos, o médico Marcelo, cria os búfalos.

A família Vazquez é uma das três mais influentes do início do século na produção e exportação da fruta tropical (as outras famílias eram a dos Alonso e a de Áurea Conde).

Flores - Também a produção comercial de flores de alpínias e principalmente de helicônias, para um mercado atacadista da Capital, movimenta produtivamente uma propriedade do Bairro de Caruara.

Trata-se do Sítio Caruara, comprado em meados dos anos 80 pelo empresário santista Rui Nakaoshi, que há cinco anos resolveu investir em flores ornamentais, incrementando o escritório de paisagismo que possui em sociedade com a engenheira agrônoma Cláudia Soukup.

"Com exceção desses três produtores - a Marisa, o Marcelo e o Rui - acreditamos que os outros sítios e fazendas da área continental de Santos (extra-oficialmente contabilizados em mais 30 terrenos) só contem com cultivos e culturas de subsistência (provavelmente de banana e até de palmitos pupunhas)", argumenta o engenheiro agrônomo Ricardo José Gonçalves de Rezende, chefe da Casa da Agricultura de Santos (órgão ligado à Secretaria de Estado da Agricultura).

Ou seja, para Rezende, essas outras chácaras e sítios não possuem o nível de desenvolvimento comercial que os três produtores citados alcançaram nestes anos.

Preservação - Para ele, essa limitação se explica pela existência, na área continental de Santos, de uma grande zona de preservação ambiental permanente.

A constatação dessa pequena movimentação de agricultura e de pecuária, na área continental de Santos, já faz parte dos dados preliminares do Levantamento de Unidades de Produção Agrícola (Lupa), da Secretaria de Estado da Agricultura.

O Lupa é uma espécie de Censo Rural de São Paulo, que concentra dados e informações de todas as áreas rurais do Estado desde meados dos anos 90.


Criação de búfalos, em Guarapá, pertence a um médico
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Criar búfalos também faz parte da rotina de médico

O médico Marcelo Spoto Vazquez, que é dono das cerca de 200 cabeças de búfalos da Estância Diana, iniciou seu investimento rural na década de 80.

"Em 1981, comecei a criação de búfalos procedentes do Vale do Ribeira e da região de Sarapuí (área de Sorocaba)".

Hoje, seu gado ocupa até um sítio vizinho, onde o médico produz também húmus de minhoca. Dividindo seu tempo entre a Medicina e os búfalos, Vazquez explica que atualmente vende bezerros machos para açougues.

"No final do ano, época em que eles desmamam, dá para fazer negócio. Também já teve época em que vendíamos queijo", emendou o médico e fazendeiro. Ele conta que o clima e o terreno onde ficam os animais são bastante adequados para a criação.

"Chove na maior parte do tempo e o solo fica alagado e pesado, exatamente como os búfalos gostam".

Palmeiras - Não são somente os búfalos que apreciam esse tipo de terreno e de clima. Várias espécies de plantas e flores ornamentais - como as palmeiras, as aplínias e as helicônias - se adaptam com excelência em locais com essas características.

É por isso que o viveiro de plantas ornamentais e exóticas Flora Mata Atlântica, de propriedade da engenheira agrônoma Marisa Vazquez Carlucci, tem obtido sucesso principalmente desde 2001.

"Ocupamos cerca de oito hectares (80 mil metros quadrados) com nossos plantios (a Estância tem cerca de 80 hectares)", afirma a outra produtora da família Vazquez.

Miami - As primeiras sementes - muitas importadas - começaram a ser cultivadas há oito anos, quando Marisa saiu do jardim botânico de Miami, nos Estados Unidos, onde trabalhava. "Vi que a fazenda possuía condições climáticas e de solo muito boas para tentar essas culturas e resolvi investir".

Hoje, Marisa tem mais de 200 espécies na Flora Mata Atlântica e comercializa muito bem cerca de 50, entre palmeiras-azuis, arecas-douradas, washingtonias, ravênias e bambuzinhos. A maioria absoluta de sua carteira de clientes é da Capital e do interior do Estado.

Suas plantas ornamentais ficam ao ar livre, sob telas e em estufas. "Os primeiros contatos foram acontecendo por meio de feiras e exposições (das quais participa até hoje)", lembra Marisa.

Os benefícios da produção se estenderam também para a mão-de-obra local. No início, Marisa tinha três funcionários. Atualmente há 15 e todos residentes na região. "Para manter isso tudo gasto cerca de R$ 20 mil por mês". Comercializando suas plantas por valores entre R$ 50,00 e R$ 1.800,00 a unidade, o faturamento mensal oscila entre R$ 25 mil e R$ 30 mil.

"Mas não é sempre assim. Tem mês que a gente fecha no negativo", garante a engenheira agrônoma.


Palmeiras e outras plantas merecem toda dedicação de Marisa
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Flores ornamentais do Caruara abastecem atacadistas

Flores ornamentais para corte. Esse é o principal negócio dos sócios Rui Nakaoshi e Cláudia Soukup, no Sítio Caruara. "Vendemos cerca de 500 maços de flores por semana para mercados atacadistas (como o Ceagesp)", garante o produtor. Desde 2000 começou a plantar suas sementes na área continental para incrementar seu escritório de paisagismo localizado em Guarujá.

O forte da produção são as helicônias e alpínias, que garantem flores coloridas e de formatos interessantess. "Hoje estamos conseguindo pagar todas as nossas despesas", observa Nakaoshi, que preferiu não revelar valores. Concentrada em duas pequenas chácaras, a plantação de flores do santista ocupa uma área aproximada de um hectare.

"Testamos vários tipos de mudas para concretizar a produção de cinco espécies de helicônias (bico-de-papagaio, por exemplo)", explica Cláudia. Trabalhando com mais dois funcionários, os sócios também souberam aproveitar o clima quente e úmido do lugar para crescer.

 

Venda chega a 500 maços por dia

 

Bananeira - "Estamos sempre pesquisando e buscando novas plantas tropicais para serem usadas como ornamento", emenda a engenheira agrônoma, que acabou de acrescentar uma espécie de bananeira (ravenala) na produção.

Os sócios lembram que levaram cerca de três anos para começar a equilibrar as contas. "Quando compramos esse sítio, em 1986, só havia palmeiras. Depois, em 1999, anexamos outro terreno e resolvemos investir", comenta Nakaoshi.

Ambos garantem que esse mercado - de flores e plantas ornamentais - está em plena expansão no País e conseqüentemente na região. "Antes, os paisagistas usavam mais modelos de plantas européias. Agora, o investimento é feito para as espécies exóticas e tropicais. É por isso que esse negócio tende a crescer ainda mais", assegura Cláudia.


Rui e Cláudia levaram cerca de 3 anos para equilibrar as contas
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria

Zonas são de expansão urbana

As fazendas economicamente produtivas da área continental - a Estância Diana e o Sítio Caruara - estão inseridas em zonas consideradas de expansão urbana pela Prefeitura.

Outras propriedades, como a Fazenda Cabuçu (que já concentrou búfalos), estão sendo visitadas em roteiros ecológicos por conta das suas belezas naturais, com trilhas, manguezais e cachoeiras.

Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Turismo (Setur), a Fazenda Cabuçu, inclusive, ficou um bom tempo desativada até para esse turismo. O seu roteiro foi retomado recentemente e hoje é promovido por agências credenciadas.

APA - As zonas de expansão urbana podem estar contidas nas chamadas Áreas de Proteção Ambiental (APA). As APAs são setores submetidos ao planejamento e à gestão ambiental, destinando-se a compatibilizar atividades humanas com a preservação do meio.

Ou seja, essas áreas permitem a experimentação de novas técnicas, conciliando o uso da terra com o desenvolvimento. De acordo com dados da Casa da Agricultura de Santos, a maior parte da área continental do Município pertence a Área de Proteção Ambiental Permanente de Zona de Uso Especial (ZUE); de Zona de Preservação (ZP) e Zona de Conservação (ZC) (ver mapa).

"Grande parte dessas áreas é de preservação permanente e não pode ser explorada nem para fins científicos", explica o chefe da Casa da Agricultura, Ricardo José Gonçalves de Menezes.

Ainda segundo ele, a área continental de Santos possui 240,9 quilômetros quadrados (24,090 hectares) e, desse total, no máximo 25 quilômetros quadrados são utilizáveis de alguma maneira, tanto para critérios urbanos, agropecuários e até retroportuários.

"Só para se ter uma idéia, a área do Parque Estadual da Serra do Mar é de 135,18 quilômetros quadrados". A parte urbana da ilha (onde ficam a Cidade e a Zona Noroeste) corresponde a uma área de 39,4 quilômetros quadrados.


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