Imagem: logo da ONG Amigos da Água
Detalhes íntimos do clima santista
Rodolfo Bonafim [*]
Santos é a
capital de sua região metropolitana da Costa da Mata Atlântica, mais conhecida como Baixada Santista, situada no litoral centro-sul de São Paulo.
Das nove cidades da região, Santos é sem dúvidas uma das mais quentes, úmidas e abafadas, dado que na sua parte insular a qual abriga a quase totalidade do perímetro urbano, a área é de apenas 39,4 Km². Já a área continental conta com 271 Km², ou
seja, quase sete vez maior que a área insular. Neste ambiente apertado, a densidade demográfica (número de habitantes por quilômetro quadrado) é elevada: cerca de 10.634 habitantes por quilômetro quadrado.
Acrescente-se a este fato, a imensa frota de automóveis liberando massivos poluentes.
A brisa marinha, que já é precária ou intermitente, fica mais bloqueada: como não há forma de se expandir mais a área urbana no território da ilha, mais e mais edifícios residenciais, não raros contando com aproximadamente 40 andares, são erigidos
em Santos, piorando ainda mais a circulação de ventos, principalmente no verão...Fora o alto grau de impermeabilização do solo da cidade, que faz haver apenas resquícios de vegetação nativa - sobretudo nos morros que cortam a cidade!
Por falar em ventos, um vira na linguagem popular... o vento noroeste, que é atraído para nossa região por uma área de baixa pressão, geralmente antecedendo frentes frias. Este vento, ao transpor o desnível abrupto da Serra do Mar, se já era
aquecido, fica bem mais quente, devido a um processo físico de nome "compressão adiabática", elevando as temperaturas máximas para a casa dos 34ºC, inclusive no inverno...
A umidade do ar dita as regras do clima em Santos e região.
O clima santista pode, de acordo com as normas da Geografia Física, ser classificado como Tropical Superúmido ou de Transição, já que Santos e região se localizam praticamente sobre o Trópico de Capricórnio e abaixo deste trópico, é o Clima
Subtropical que tem seu lugar.
Entretanto, uma outra classificação poderia ser feita de acordo com o quesito umidade relativa do ar, que na média, é elevada em Santos e região. O clima santista poderia ser simplesmente definido como Clima Marítimo Superúmido.
Praticamente, quem dita as regras climáticas cotidianas em Santos, é a umidade do ar, por meio do mar...
No verão, é justamente o alto índice de umidade relativa do ar, combinado com as elevadas temperaturas, que fazem com que o clima da cidade seja de altíssima sensação térmica, podendo atingir a casa dos 46ºC, caso deste tórrido verão 2013/2014,
quando a sudorese e a irritação se tornam muito grandes para muitas pessoas, incluindo aquelas que tem alergias e desenvolvem urticárias e assaduras.
Por outro lado, a sensação térmica nos dias frios é a combinação da velocidade do vento com a temperatura real do ar, mas somente a partir de 20ºC para menos. Mas, a umidade relativa do ar alta em dias frios, mesmo sob condição de ventos fracos,
pode aumentar a sensação de frio, caso da noite de domingo, 27 de abril de 2014, quando por volta das 23:00 tínhamos em Santos temperatura de 21,4ºC, com umidade relativa de 75%. Já na segunda-feira, dia 28 de abril de 2014, no mesmo horário (23
horas), a temperatura foi de 20,3ºC, com umidade relativa de 44% apenas...
Em qual das situações se teve maior sensação de frio? Resposta: no domingo, pois embora a temperatura fosse de um grau
praticamente mais alta em relação à da segunda-feira, a umidade relativa foi consideravelmente maior. Conclusão: suporta-se com mais conforto climatológico dias com ar seco, tanto no verão quanto no inverno, do que com ar úmido!!
Mas, Santos tem suas compensações climatológicas. Em contrapartida, no inverno principalmente, em fins de julho e meados de agosto - quando o ar fica muito mais ressecado, dando início à estação seca na capital paulista e no interior, e as pessoas
nessas regiões se queixam dos males respiratórios do ar seco e da poluição incrementada -, em Santos as temperaturas, nessa época, são amenas e o ar... úmido, o que nesse caso é muito bem-vindo.
Em Santos e região não se define estação seca e sim uma estação onde chove menos e só... O Entrechoque (encontro de uma massa de
ar úmida e fria do mar com uma massa de ar continental seca e aquecida), fenômeno típico da metade final do inverno na Baixada Santista, causa densos nevoeiros e até, por vezes, garoa, enquanto, no alto da Serra do Mar, na capital e arredores, o
tempo é ensolarado, muito seco e quente!
As poucas regiões da Região Metropolitana da capital paulista que se assemelham ao clima ameno litorâneo, dessa época do ano, são aquelas do extremo Sul da zona Sul da capital paulista, longe das ilhas de calor dos bairros centrais, como o Distrito
de Parelheiros, encravado na Mata Atlântica, e como regiões da cidade de São Bernardo do Campo como o Riacho Grande.
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Rodolfo Bonafim é diretor científico da ONG Amigos da Água (especialista em Climatologia, Geologia ambiental e Astronomia) |