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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL
Tempo de Carnaval (12)

Dos bailes no Largo da Coroação aos patuscos da Dorotéia. E depois?...
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Em sua História do Carnaval Santista (edição do autor, junho de 1974, Santos/SP), conta o pesquisador Bandeira Júnior:
 
O sucesso continua

Sofrendo crescente concorrência da folha rival (N.E.: O Comercial, dos irmãos Azevedo Marques), a revista do dr. Delius (N.E. jornal Revista Comercial, de Guilherme Delius) viu-se coagida a interessar-se também pelos assuntos carnavalescos e, no número de 11 de fevereiro de 1859, insere, na "Seção Livre", censura de um membro do diretório, que inquiria:

"Por quê a Carnavalesca Santista ainda não havia tratado do programa para o carnaval que estava próximo (6 de março)? Ou seria a Carnavalesca mais um fogo-de-palha, como tantos que costuma ter esta cidade de Santos? Espera-se que pelo menos no próximo domingo, dia 13, haja reunião para deliberar assunto tão importante".

A crítica, assim de público, deu resultado, porque já na semana seguinte era conhecido o novo diretório da Sociedade Carnavalesca Santista: diretor, sr. José Teixeira da Silva Braga; secretário, sr. dr. Antônio Ferreira dos Santos, e tesoureiro, sr. Manoel Pinho Soares.

O Comercial, sempre incentivador, fazia este apelo: "Habitantes de Santos, alerta! É chegado o reinado do deus Momo, que grita pelos seus adoradores, fazendo retinir os seus guizos de arlequim e soltando estrepitosas gargalhadas! O carnaval que bate à porta vos acena com os seus delirantes passeios pelas ruas, os seus bailes no teatro, os seus disfarces, as suas loucuras, os seus interessantes e variados folguedos. É tempo de vos preparardes; rapazes de bom gosto, mandai aprontar os vossos trajes; vós, costureiras e alfaiates, tende afiadas e lestas a agulha e a tesoura, e vós, finalmente, fabricantes de ramalhetes e confeitos, mãos à obra. Não há um só minuto a perder. Os dias voam, e no seu rápido curso nos aproximam cada vez mais da época da grande festança pública. Alerta, rapazes, vos repetimos, alerta, pois! Velhos, moços e crianças, nada de arrefecer! Entusiasmo... alegria.. e toca a divertir!!!"

A seguir, noticiava o programa do próximo congresso da Carnavalesca, enquanto na Revista Comercial o diretor, sr. José Teixeira da Silva Braga, fez pessoalmente este aviso: "Na loja do sr. Joaquim Benedito, à Rua Direita (15 de novembro), 57, estavam, à disposição de quem os quisessem consultar, figurinos vindos do Rio de Janeiro. Outrossim, desejando dar este ano maior brilho possível a este gênero de divertimento (congresso), pede aos sócios em geral que tomem um costume (fantasia), nos dias 6 e 8 de março p.f., a fim de apresentar-se grande número de máscaras, e continuar por esta forma um divertimento tão útil e agradável. Espera, pois, o abaixo assinado toda a coadjuvação não só da Sociedade Carnavalesca Santista como daqueles que dela não fazem parte".

A referida loja também fazia o seu anúncio: "Masquè - Alugam-se costumes (fantasias), pelo acomodado preço de 5$000 e 20$000, e vendem-se máscaras a 1$500."

Finalmente, no sábado gordo tiveram início os festejos da Sociedade Carnavalesca Santista. Começou por um bando noturno de máscaras a cavalo, que percorreu a maior parte das ruas da Cidade, sem embargo da chuva que caía e da lama que já se formara. No domingo, à tarde, fez o seu primeiro passeio o congresso da Sociedade Carnavalesca. Em conseqüência do péssimo tempo, que reinara nos dias antecedentes e no mesmo dia de domingo gordo, a concorrência dos máscaras (foliões) foi diminuta, e o divertimento correu frio e desanimado.

Segunda-feira, nada houve além do baile mascarado público, à noite, no teatro, organizado pelo diretor da companhia dramática, ora existente na Cidade, ao qual pouca gente afluiu. Toda a febre, alegria e agitação próprias do carnaval pareciam haver-se reservado para o último dos três dias destinados ao regozijo do povo. Com efeito, o passeio (desfile) de terça-feira foi o mais brilhante, animado, entusiástico possível e, ao mesmo tempo, presidido e realçado pela mais louvável harmonia e apreciável ordem. Os máscaras, bastante numerosos, apresentaram-se em geral vestidos com o mais apurado bom gosto, e entre eles distinguiram-se alguns notáveis pela finura e engraçada crítica de trajes grotescos e alusivos.

À noite teve lugar, no teatro, um baile mascarado particular da mesma sociedade. Foi sobremaneira concorrido, tanto de máscaras como de espectadores. Das 11 à meia-noite, percorria as ruas da cidade o enterro do carnaval. Foi o seu último e delirante momento de existência passado entre lastimosos gritos de despedida e o vivo clarão de fúnebres tocheiros.

Mas, um poeta em disponibilidade, que não gostou do último ato carnavalesco (o enterro), pespegou na Revista Comercial o soneto

Vivo Clarão de Fúnebres Tocheiros:

Com grande entusiasmo, gosto e ordem
O carnaval deste ano lugar teve
Os máscaras a cavalo e a pé leve
Percorreram as ruas sem desordem.

O baile do teatro, sim, concordem
Esteve frio, mesmo, como a neve
Portanto o empresário, jamais teve
Buscar empresas que na bolsa mordem!

Toda febre, alegria, agitação...
Dos sérios e grotescos galhofeiros
Foi no último dia de função.

Ao copo d'água (com vinho verdadeiro)
Seguiu-se o enterro - ao vivo clarão
Vivo clarão de fúnebres tocheiros!

Ainda no mês de março - conforme determinava o estatuto (... N.E.: da Sociedade Carnavalesca Santista, que o autor transcreve no final do seu livro) - procedeu-se à eleição do novo diretório (para 1860): presidente, João Manoel Alfaya Rodrigues; secretário, sr. João Manoel de Azevedo Marques; tesoureiro, José Joaquim Ayram Martins; e consultores, Antônio Marques Saes, Justino Martins e José Teixeira Cavalleiros.

Tendo à frente o ilustrado e alegre Alfaya Rodrigues, a terceira função da Sociedade Carnavalesca Santista prometia ser de truz! O programa aprovado pelo digno diretório era o mesmo de 1858, alterado apenas no que dizia respeito ao baile mascarado, que dessa vez não seria no teatro, mas sim no palacete do próprio presidente, na Rua Antonina (atual Rua 15 de Novembro).

Alguns foliões da Carnavalesca, considerando serem poucos dois congressos, organizaram mais um, e à guisa de anunciarem o próximo carnaval, saíram na sexta-feira magra em bando, a cavalo, grotescamente vestidos, tendo à frente um ensurdecedor zé-pereira.

A essa folia antecipada davam o nome de encamisado.

Lembrando: congresso carnavalesco é a forma como eram então chamados os desfiles de Carnaval...Leva para a página seguinte da série