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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Cidade já teve terminal flutuante de cimento

No Brasil, a produção de cimento ficou por muito tempo concentrada nas mãos de reduzido grupo de grandes empresas, que por diversas vezes foram inclusive acusadas de formação de cartéis para elevação dos preços do produto, ao arrepio das diretrizes governamentais - já que o cimento é matéria-prima da construção civil e esta é uma atividade altamente geradora de empregos, especialmente para os trabalhadores com baixo nível cultural e de especialização profissional.

Devido aos custos elevados do produto, foram feitas diversas tentativas de enfrentar a política de preços das fábricas de cimento, como a importação do produto de origem turca - que, apesar do custo de transporte marítimo, ainda chegava aos portos brasileiros por valor bem menor que o cimento nacional.

Outra tentativa de enfrentar o cartel da indústria cimenteira foi a instalação de um complexo flutuante para cimento, com base em um navio-silo atracado de forma permanente no porto santista, com capacidade para 50 mil toneladas, e um navio de apoio para 25 mil toneladas que atracaria a contrabordo, para a entrega da matéria-prima (o produto final seria desembarcado no cais, para caminhões e vagões). Mas, em pouco tempo, também essa solução foi derrotada...

Ficou o registro da tentativa, feito pelo editor de Novo Milênio, então responsável pelo caderno semanal Marinha Mercante do jornal O Estado de São Paulo, em 20 de abril de 1993, junto com o jornalista Luiz Carlos Ferraz:


Plantas do projeto, da firma grega Ebiesk A.E. em 25/2/1993
Imagem publicada com a matéria

Cimento: contrato garante 600 mil t/ano no porto

A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) e a Yesa do Brasil Ltda. celebraram dia 5, em Santos, contrato operacional para movimentação de cimento a granel e em sacos no cais comercial da estatal, com meta anual de 600 mil toneladas. As operações serão feitas através de um sistema de estocagem e embalagem flutuante, que é inédito no país.

O contrato entra em vigor na data de chegada do navio de apoio, ainda não confirmada pela Yesa, e conseqüente início de operações. A vigência é de cinco anos. A Yesa, com sede na capital paulista, representa os interesses comerciais da Heracles General Cement Company, sediada na Grécia, que é grande produtora de cimento e uma das maiores exportadoras européias do produto.

A Yesa trará para Santos um navio-silo, ou de apoio, com capacidade de estocagem de 50 mil toneladas métricas, que ficará estacionado na Ilha do Barnabé. Ele será abastecido por navios que atracarão a seu lado, transferindo cimento fresco a granel. O navio-silo é dotado de um conjunto de máquinas ensacadeiras e um sistema para recarga do cimento que vem do navio de transporte. Além disso, o navio-silo possui um sistema de descarga do produto, a granel ou ensacado, para um armazém do porto ou diretamente para caminhões ou vagões.

"A Yesa está trazendo esse sistema de terminal flutuante para Santos, por considerar este porto o mais apto para este fim no país", explicou um representante da Yesa. "A intenção é importar cimento de alta qualidade, utilizando o navio-silo para a estocagem a granel. Desenvolve-se, assim, um sistema mais rápido para suprir a demanda de cimento importado, a exemplo do que fazem nos EUA, e países do Oriente Médio, Ásia e Europa".

De acordo com o contrato, as operações de descarga dos produtos dos navios até sua entrega final a caminhões ou vagões serão executadas pelo pessoal da Codesp.

Enquanto tal contrato era celebrado, continuavam as importações de cimento, como registrou o mesmo caderno semanal Marinha Mercante na edição seguinte, em 27 de abril de 1993:


Navio desembarcou 233 mil sacos de cimento, importados pela Ezaa Marine
Foto publicada com a matéria

Outro navio com cimento de Cuba

O navio Bahia de Manzanillo, de bandeira cubana, operou de 13 a 25 de abril no cais do armazém 16, do porto de Santos, descarregando 233 mil sacos de cimento, totalizando 11.650 toneladas. O Bahia de Manzanillo, agenciado pela Sulnave, embarcou o produto no porto cubano de Mariel. A carga foi importada pela Ezaa Marine, com sede na capital paulista.

Segundo o diretor da empresa, Eduardo Schultz, essa foi a segunda importação de cimento feita este ano. A primeira veio no navio Manatee, e a descarga aconteceu no porto de São Sebastião, com a movimentação de 4 mil toneladas. "São Sebastão oferece taxas mais baixas, mas não possui armazéns de retaguarda", comparou Schultz. "Em Santos, além de dispormos de depósitos suficientes, os índices de avarias são baixos em relação ao porto do litoral Norte".

Das 11.560 toneladas, 9 mil toneladas do produto ficaram depositadas em armazéns da Codesp, e o restante foi descarregado para caminhões. Conforme o diretor da Ezaa Marine, está prevista a vinda de dois navios por mês, sendo que o próximo escalará Santos no início de maio, descarregando 10 mil toneladas.


O Bahia de Manzanillo numa de suas escalas em Santos, em foto de 1993
Foto: Arquivo Novo Milênio

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