HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Desrespeitou o grilo, perdeu o carro
Uma
cena digna das comédias policiais do cinema mudo aconteceu em Santos, num tempo em que havia leis proibindo que um veículo entrasse numa rua com
velocidade maior que 5 km/hora (embora já tivesse sido abolida a necessidade de batedores com bandeiras andando à frente do veículo para sinalizar sua
proximidade...).
A história foi contada na seção policial do jornal A Tribuna, em 9 de março de
1928, não dispensando a observação de como eram então apelidados os vigilantes municipais do trânsito, com seus perturbadores apitos...
Mantida a grafia original, para que o leitor saboreie melhor o relato:
Chauffeur desobediente
Desrespeitou o "grillo" e ocasionou um desastre
Pela manhã de hontem, mais ou menos ás 8 horas, occoreu um
desastre automobilístico na rua Braz Cubas, o qual não foi senão a consequencia do desrespeito que um chauffeur teve para com um inspector municipal
de vehiculos, que por querer manter a sua autoridade, teve de usar de certa energia.
Guiando a machina P-43, que rodava pela rua Lucas Fortunato em direcção á cidade, José
Leite Carrijo, ao chegar á esquina da rua Senador Feijó, foi intimado a parar pelo inspector municipal de vehiculos, Antonio José Fernandes, chapa
nº 8, e depois de troca de palavras azedas, o inspector prendeu o auto, mandando que o chauffeur rodasse para o depósito. Durante a viagem, que foi
feita pela rua Braz Cubas, o inspector veiu no estribo do carro e, antes de chegar ao cruzamento da rua Sete de Setembro, recommendou ao chauffeur
que seguisse por esta última artéria, ao que elle observou que não, que continuaria pela rua Braz Cubas.
O inspector municipal deitou mãos à roda de direcção, para que o carro tomasse o
itinerário que desejava e, assim, cada um puxava para seu lado, resultando o vehiculo ir espatifar-se de encontro uma esquina daquella rua com a
Sete de Setembro, tendo ficado o inspector municipal gravemente ferido pela compressão que soffrera entre o carro e a parede.
Levado o caso ao conhecimento da polícia, foi o inspector municipal internado na Santa
Casa de Misericórdia, tendo José Leite Carrijo prestado declarações à delegacia da 2ª circumscripção, onde o dr. Manoel Vieira de Campos abriu o
necessario inquerito.
A velocidade do carro, ao investir com a parede, era grande, motivo porque as avarias
são, por assim dizer, totaes.
José Leite Carrijo sahiu incolume, não tendo soffrido o menor arranhão. |
Já na edição de 7 de março de 1926, o jornal A Tribuna noticiava, em sua primeira
página (ortografia atualizada nesta transcrição:
Foto publicada com a matéria original
O
trânsito de veículos
Vamos ter os grilos motociclistas
A
Prefeitura Municipal, no intuito de manter um serviço perfeito da fiscalização do trânsito de veículos, como o público sabe, criou a útil corporação
dos fiscais, cognominados muito pitorescamente de grilos.
Conquanto ainda não se possa
manter um serviço perfeito, já se tem, entretanto, observado os excelentes resultados alcançados com o serviço dos grilos.
Depois que eles apareceram
em seus postos, indicando a passagem aos veículos, os desastres, que a cada passo se registravam, têm diminuído grandemente.
Até então, porém, o serviço
de fiscalização de veículos era feito pelos grilos, em seus postos permanentes. Mas não ficou aí a medida adotada em boa hora pela Prefeitura
Municipal.
Vamos ter, doravante, os
grilos motociclistas, cuja incumbência é acompanhar, com interesse, a velocidade com que os choferes conduzem os seus veículos pelas ruas da
cidade.
Ontem, já apareceu o
primeiro grilo motorista, que é o sr. Waldemar Wagner.
Montava ele uma motocicleta
marca Harley Davidson, tipo moderno, de 110 HP, munida do competente klaxon
(N.E.: marca de buzina elétrica veicular, famosa na época),
farol de grande alcance e velocímetro, com o qual o grilo poderá verificar a velocidade com que viajam os automóveis, que será de 15
quilômetros, no máximo.
Dessa forma, logo que entrem
em função todas as motocicletas adquiridas para os grilos, se poderá manter um serviço perfeito de fiscalização dos veículos, terminando,
assim, o abuso dos choferes que, com a sua mania de velocidade, traziam os transeuntes em constantes sobressaltos.
Imagem: reprodução da
matéria original |
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