Antes da instalação em 26/1/1956 do mausuléu em homenagem ao Soldado Constitucionalista de 1932, o centro da Praça José Bonifácio era ocupado por uma fonte, vista em raros registros fotográficos da cidade. Nesta imagem, a fonte da ninfa náiade tem como fundo o prédio da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio (inaugurado em 1931)
Imagem: anúncio publicado na revista paulistana Acropole de março de 1943
ACONTECIMENTOS COMUNS
Anos 1950 -
Contava o senhor Clóvis F.B. de Almeida (falecido em 2015), que um amigo dele, mantendo uma aventura na rua e estando ao amanhecer fora de casa, foi perseguido por sua esposa, pois alguém a avisou e ela foi ao seu encalço; sem ter para onde correr ou desculpa, ao ver que a procissão da Aurora estava vindo, ele correu do Café do Oeste e ficou do lado de uma senhora da Irmandade do Santíssimo com seu veleiro como quem acompanha e a esposa aceitou isso como uma injustiça com seu esposo e um remorso de sua parte, isso rendeu o fim de uma grande amizade entre ele e um amigo seu que levou a culpa do que não fez, mas trouxe paz ao seu casamento. Vemos assim como os eventos da nossa Catedral eram bem conhecidos e faziam parte da vida das pessoas.
Kyrié Eleison - Duas orações muito antigas, uma delas ainda falada em grego de onde procede o Kyriaqui ou Dominique que vem de Dominos Die ou ainda que se traduza em Dia do Senhor ou Domingo. Também temos o Sanctus cantado na eucaristia, que aprendemos como partes fixas da liturgia da missa.
Aprendi a cantar essa música em latim, curiosamente quando ocorreu a aplicação do Concílio no culto, passamos a cantar a mesma na melodia igual, mas em português, foi estranho para uns, um choque para outros, uma novidade para tantos, mas sinal de modernidade.
Festa de carnaval na frente da catedral - Não tinha nenhuma ligação com a religião ou a Catedral, por ser festa profana ou popular.
Havia uma festa de Carnaval com quermesse na Praça José Bonifácio, ao que parece por todos os dias da festa. Aproveitavam assim os foliões do Baile da Humanitária cujo som invadia toda região começando com a marcha do Zé-Pereira e assim ia noite adentro tocando marchinhas; o povo que não entrava podia na praça comprar comidas e brincar.
Ocorre que um padre nos anos 1960 não achou muito bom para a Catedral essa festividade tão próxima e assim pediu à Prefeitura que com os devidos movimentos e auxílios retirasse de lá; assim acabaram as barraquinhas de bebidas, comidas, jogos etc. Os nossos vizinhos, por vingança, decidiram e o com o resto povo contrariado, alcunharam esse padre de “boca torta”, nunca o soube por quê.
Festa junina no terreno do fundo ou na Casa João Paulo II - Nos anos 70 ainda havia um grande terreno nos fundos da Praça Dom Idílio José Soares que era um estacionamento com mato e carros, ali se jogava futebol aos domingos, se brincava de tudo o que era brincadeira e com a autorização do proprietário, passaram a fazer a festa junina da Catedral depois de alguns anos ser feita na atual Casa João Paulo II, como passaram a chamar o local.
Treinamos a quadrilha na sala superior do último andar da Catedral onde se fazia o catecismo em algumas vezes e se reuniam as crianças depois da missa dominical. Tive por par uma menina de cabelos claros e ensaiamos, mas em dado momento ela preferiu o menino que achou mais bonito e me largou - até ai tudo bem, me arranjaram um par por ser eu um bom dançarino, sendo uma menina mais humilde e para os gostos da época fora chamada de cafona pelos menos compromissados com a fraternidade. Eis que veio a festa em junho de 1972 e na hora da apresentação o par da primeira menina faltou e ela pediu à freira que queria dançar comigo, a menina pobre com seu vestido feito de cortina azul olhou para o chão e a outra com seu vestido quase de gaúcha, muito rico, ficou sorridente, foi ai que eu apontei para a menina de azul e dançamos para raiva da outra que me olhava com desejos inquisitórios com direito a fogueira. Fiz o que eu aprendi que era certo e pronto.
Dançamos, tiraram fotos que podem existir por ai, nossas mães foram e muitas pessoas, tudo seguiu a tradição junina e finalmente a festa acabou, não nos deram nenhum lanche e todos os bolos que sobraram os levaram, fazer o que?
Depois de um tempo a festa foi para o endereço próximo da Catedral e depois acabou, recordando que o local não é muito seguro atualmente por ser um bairro sem moradores e cheio de comércio.
Abelhas na Praça Dom Idílio José Soares - Era o ano de 1972 e um enxame de abelhas apareceu em uma das arvores novas (ingazeiros). O padre Zé Cardoso, com medo do ataque às crianças que ali brincavam ou jogavam bola, chamou os bombeiros e o fim do enxame não sei até hoje, pois dali saímos todos em obediência aos conselhos do sacerdote.
Abelhas sempre foram comuns na Catedral: uma vez, o cônego padre Julio tentou manter um abelheiro a partir de uma colmeia que se instalara perto do vitral fronteiro da Catedral, colocou até uma caixa com o objetivo de levar se conseguisse as abelhas para os terrenos do seminário, mas infelizmente não conseguiu.
Outro caso foram abelhas instaladas na torre e retiradas pela ação de quem entendia como fazer isso, pois o açúcar dos armazéns ao lado da Catedral na Rua Amador Bueno garantia sempre um monte delas voando por ali e porque não a fundação de uma nova colônia perto?
Lendas da cripta - Na época se descia para a o porão da Catedral justamente por onde está à sala do sacerdote e a imagem de Santo Agostinho e Santa Monica; eu quis ir até o lugar por curiosidade, mas logo desisti devido às histórias que meninos mais criativos falavam para os menos informados. Assustavam a gente dizendo que ali havia um bispo sentado em uma cadeira e já morto há muitos anos, ou que se ouviam passos sem ninguém por ali, que havia um caixão com um defunto debaixo da Catedral e tudo o que se poderia afirmar para crianças assustadas.
Para mim era mais estranho ainda, pois cheguei a ver de longe o corpo do bispo na Catedral com seu chapéu cheio de pingentes no dia do velório, havia um costume de crianças não chegarem perto de caixões por causa do “ar de defunto” que faria muito mal, assim ficávamos longe enquanto os adultos passavam por ali com toda aquela antiga cerimônia que hoje desapareceu, como uma folha da porta aberta e outra fechada anunciando que era uma cerimônia fúnebre.
Macumba nos fundos e altares da Catedral e a bagunça causada - Era comum aparecerem coisas estranhas dentro da Catedral, pois ali era um bairro populoso como em todos os lugares com seus vários terreiros - como o que existia no número 256 da Rua São Francisco (que ficava do lado das beatas, o que causava certos bate-bocas a não ser no dia de São Cosme e São Damião quando se compartilhavam os doces).
Uma vez o sacristão Silas tirou uma garrafa com coisas e nomes dentro, chamada de famaliá pelos mais entendidos, detrás do altar de Nossa Senhora de Fátima; outra vez colocaram biscoitos do tipo champanha com cruzes de confeitos na porta da Catedral, recordando caixões de defunto, e para tirar não apareceram muitos voluntários, sobrando para o corajoso sacristão.
O ganhador com esses despachos era o jardim do fundo da Catedral na Praça Dom Idílio José Soares onde de tudo era depositado.
Ninfa Náyades - Foi colocada uma estátua na Praça José Bonifácio uma estátua de uma entidade mítica conhecida por Ninfa Náyades em 1943 e assim o objetivo era embelezar o local, mas a reação foi contrária pela sociedade católica dos anos 40 e logo ocorreram reclamações e o pedido de retirada da estátua, que acabou indo para o orquidário de Santos onde está até hoje. Assim diziam os mais antigos, rindo do assunto, mas sem dar datas que hoje são mais conhecidas através de reportagens, pois seriam jovens na época da polêmica que envolveu os mais velhos com costumes rigorosos. Atualmente podemos ver muitos escritos e até o nome do autor da estátua e temos noção de como as coisas mudam, são mais compreendidas ou perdem seu valor.
Lendas de túneis - Havia nos anos 60 e 70 pessoas que se empenhavam em fazer verdadeiras investigações arqueológicas nos locais mais estranhos que se possam imaginar e uma delas era o cabo Cursino do 6º B.P.M.I., dos bombeiros do cais, contando histórias como suas investigações eram feitas na Ilha das Neves nos restos do engenho, no Peabirú, nos restos do quilombo lá pros lados dos Morrinhos do Guarujá ou em tuneis que haveria em nossa cidade.
Ele afirmava que em uma dessas incursões estaria debaixo da Catedral de Santos, mas sendo nosso solo de areia, lama e tendo rocha cerca de 20/50 metros abaixo, fica estranho achar que existam esses túneis; assim acredito que se entrou nos tuneis do “Buraco do Mestre Bartolomeu” ou “do Desterro” que afirmavam outras pessoas que ainda existia outra entrada nos morros, ele foi por locais mais baixo desses morros e acredito que houve uma confusão entre o mais certo que é o Mosteiro de São Bento e não na Catedral.
Esse militar foi envolvido em uma curiosa história no incêndio do navio Agios Giórgios no nosso porto, sendo Bombeiro do Grupamento do Cais, naquele dia ele ajudou a combater as chamas; ao levarem o navio para o outro lado do porto, o esqueceram no convés do mesmo e assim o foram resgatar, segundo seus amigos ali estava ele pacientemente conforme era seu jeito de ser, calmamente esperando os companheiros de combate ao fogo.
Crucifixo do Paquetá na Catedral - Em 1997 - durante a Hora Santa no dia 31 de dezembro no Convento do Carmo, onde dom David Picão participava como o celebrante principal -, após a missa na sacristia, ao colocar seus paramentos nas arcas, o bispo observou o mesmo e achou que seria ideal para o presbitério da nossa Catedral, então pediu a frei Rafael o crucifixo de cerca de metro e meio de altura e que está em uma cruz grego-ortodoxa na sacristia do Convento, mas logo veio o falecimento do frade e essa doação não foi continuada.
No cemitério do Paquetá existe a antiga capela com seu grande crucifixo. Após o incêndio criminoso provocado por menores infratores em 10 de novembro de 1993, quando se perderam arquivos de enterramentos que não foram levados para o Arquivo e Memória de Santos, por serem ainda úteis em identificações, perdeu-se o madeiramento do teto que poderia ter pinturas antigas, conforme se percebia quando soltava um pouco de massa e tinta em alguma parte e aparecia o mínimo de algo colorido embaixo. Quase perdemos a antiga eça funerária que vem do século XIX, e quase perdemos o crucifixo que dá o nome à Capela do Santo Cristo.
Falando na época, eu e o Waldemar S.T.J. com o bBispo Dom David Picão, pedimos que levasse o crucifixo do Paquetá para a Catedral, pois a capela do cemitério sem teto e o mesmo colocado sobre os bancos não seria muito seguro; assim, foi retirado e ficou no presbitério da Catedral por um bom tempo. Ocorre que a família que o trouxera da Europa para a capela da necrópole o reclamou com dom David Picão, o bispo diocesano, pois foram seus antepassados que para lá o trouxeram no século XIX e assim a peça foi substituída por uma de gesso e voltou ao Paquetá, solene e sobrehumano, para onde está em sua capela. |