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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Igrejas - ROSÁRIO
As muitas histórias da Igreja do Rosário (09)

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Este material - fruto de pesquisas e entrevistas feitas pelo autor - já esteve publicado em páginas na Internet mantidas pelo professor de História e pesquisador santista Francisco Carballa, sendo por ele cedido em 2007 para divulgação em Novo Milênio, quando da extinção do site da igreja:
 
Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Francisco Carballa


Vitrais - São os vitrais, os adornos preferidos das janelas de uma igreja, usados para trazer ao seu interior a atmosfera dos bosques europeus que convida à oração, à meditação e ao recolhimento espiritual. Sempre cumprindo seu papel de instrução aos leigos, surgiram no período da arte conhecido como gótico e, como tudo dentro de uma igreja, procuravam ensinar aos mais humildes e analfabetos, através de desenhos muitos bem elaborados para passar mensagens simples.

Essa arte foi muito difundida na Idade Média, mas demorou a chegar ao Brasil, que se limitava a usar pouco vidro trazido do Reino, muito caro, preferindo assim usar o muxarabim (madeira entrelaçada, conhecida também por rótulas no Brasil e tabuinhas em Portugal), que deu origem às antigas rótulas de madeira, solução árabe para evitar que o sol intenso entrasse nas casas e demais construções, enquanto estivessem as janelas abertas, inclusive como segurança durante as noites de verão e posteriormente - segundo muitas crônicas - permitindo o pecado da bisbilhotice de muita gente desocupada.

Foram os vitrais da Igreja do Rosário encomendados à Casa Conrado, da capital paulista, e colocados na igreja entre 1930 e 1935, quando sofreu a primeira grande reforma e também seu recuo. Surgiu então um interior decorado, com vitrais em todas as janelas, devido à influência da arte eclética então em voga.

Embora o ecletismo misturasse todos os estilos, a Art’deco era a principal tendência, com seus vidros brancos e lapidados tipo Lalique. Note-se que - do começo da colônia até o início do século XIX - vidros coloridos eram colocados apenas no óculo ("olho de boi" ou pequena janela) dos frontões, sendo o normal para uma igreja barroca apenas os vidros brancos, que haviam substituído os antigos muxarabis coloniais.

Nessa época, não existindo energia elétrica, a luz solar era aproveitada ao máximo possível pelos mestres ou arquitetos que, como solução simples e prática, colocavam muitas janelas nas construções civis ou públicas, sempre direcionadas para o local onde a maior parte do ano fosse de iluminação intensa, motivo pelo qual antigas fotos mostram um certo excesso de janelas nas edificações, salvo as alcovas das moças (sem iluminação e pouco saudáveis).

Começando pela porta principal, vemos o enorme para-vento da igreja, que mostra a cena da Virgem Santíssima cedente, entregando um rosário (ou terço) a São Domingos de Gusmão. Ao seu lado, um cão, com as patas dianteiras esticadas e um archote na boca, causa muita curiosidade.

Seu significado é simples, medieval e antigo na iconografia religiosa: representa um grupo de palavras em latim, "domini canes" ou em português "cães do Senhor", em alusão ao santo fundador da ordem dominicana, indicando também (quando é representado com as patas cruzadas, a oração e a tocha acesa) a vigilância, ou seja "vigiai e orai para que não entreis em tentação" (cf. Ev. S. Mateus cap. 26 vers. 41), palavras do próprio Jesus Cristo; anjos seguram um listel com a seguinte inscrição: "Vai e prega meu rosário", palavras dirigidas a São Domingos pela própria Virgem Maria.

Podemos também ver um anjo em cada porta lateral, representado em seu postigo com um listel na mão com a palavra oração e o outro em silêncio, em um convite claro, ou até ordem, para os fiéis que entrarem no templo.

No lugar abaixo do grande monograma existia o óculo da igreja, em forma cruciforme com suas pontas arredondadas. Na fachada atual, há um grande vitral no lugar do óculo, representando o Espírito Santo conforme descrição bíblica quando apareceu sobre Jesus no momento de seu batismo pelo seu primo-irmão da casa de Davi, São João o Batista (cf. Ev. S. Lucas cap. 3 vers. 21/22).

Já em todas as janelas da igreja estão símbolos bíblicos ou eucarísticos, e na sacristia, podendo ser vistos da rua, estão mais dois vitrais, sendo um com a representação de São Miguel o Arcanjo vencendo o anjo caído (cf. Epístola de São Judas vers. 9), e São José, o pai adotivo de Jesus, em momento familiar (cf. Ev. S. Mateus cap. 2 vers. 19/23).

Infelizmente, os anos castigaram muito essas obras de arte produzidas no século passado, que necessitam restauração.

Existem, acima da porta principal, três janelas que - vistas da esquerda para a direita - apresentam os seguintes motivos:

. Duas cruzes sumérias do século VIII a.C. - era o símbolo da autoridade máxima do grão-vizir, que só ficava abaixo da do rei. Evidentemente sem o mesmo significado profundo e importante do significado cristão, hoje esse desenho de cruz é usado em Pádua e pela Pia União de Santo António. Logo acima na bandeira está um "M", em alusão ao nome Maria, encimado por uma coroa real.

. Nessa janela central estão representados os dois corações de Jesus Salvador e de Maria Santíssima, sua mãe. Sua bandeira mostra novamente a coroa real.

. As chaves cruzadas do primado de Pedro, sendo uma a que abre o portal do céu e a outra a que abre o portal do inferno. Logo acima, na bandeira, mostra o símbolo eucarístico usado numa tabuleta por São Bernardino de Sena, JHS ou, traduzindo, Jesus Salvador (dos) Homens, igualmente encimado por uma coroa real.


A igreja reconstruída, com iluminação natalina, possivelmente em dezembro de 1930.
À esquerda, o Cine Politheama em pleno funcionamento, vendo-se os carros estacionados e, bem à esquerda, o bonde 3 (visível o número da linha, no alto do veículo) passando pelo local
Foto cedida a Novo Milênio pelo professor e pesquisador Francisco Carballa

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