Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
Francisco Carballa
Campanário e seus sinos - Sino vem do Latim, da palavra Signum (Sinal), e sua menção mais antiga é do século VI. Mais tarde, os sinos
serviriam a todas as igrejas cristãs do mundo, inclusive como única forma de anunciar as horas para a população. Em terras brasileiras, dos séculos XVI a XVIII, serviram também para avisar dos ataques de índios e posteriormente dos piratas, e devem
ter tocado durante a invasão que culminou com o milagre do Monte Serrat.
Existe uma diferença quanto ao lugar onde estão os sinos de uma igreja.
Sineira é a parede sem guarnição de um telhado, onde os sinos ficam expostos às intempéries, sendo também o nome do nicho onde estão os mesmos, quase sempre repicados.
Campanário é uma palavra de origem castelhana (campana ou sino), sendo um local alto guarnecido de telhado e que não expõe os sinos às intempéries, sendo estes quase sempre bimbalhados e
em alguns casos repicados como na igreja do Rosário, que para afastar os pombos e suas pestilências colocou grades nas sineiras.
Encimando todas essas estruturas existe sempre uma cruz ricamente adornada, pois está mais alta que as cabeças humanas que a contemplam, por ser digna e importante para o cristão,
recordando uma profecia do Antigo Testamento que afirma que o Messias "Levantará o seu estandarte sobre as nações" (cf. Isaías cap. 11 vers. 12). Assim, a cruz é o símbolo do cristão e se ergue em todas as nações, mas em alguns casos exibe também a
figura de um galo, cujo significado catequético é o seguinte:
Obediência - Lembrando que, assim como o galo serve ao homem que irá matá-lo, igualmente o homem serve a Deus que um dia lhe tirará a vida terrena.
Fraqueza – O galo é um animal fraco que qualquer golpe mata, e assim é o ser humano igualmente fraco.
Sinceridade – Obediente e sincero, o galo é pontual para anunciar as horas, lembrando as obrigações aos demais galináceos; igualmente o homem deve ser sincero com o seu próximo por
toda sua vida.
Outro significado importante é a recordação de que assim como o galo cantou três vezes anunciando o cumprimento da profecia de Jesus, negado por São Pedro quando lhe faltavam a fé e o
entendimento (cf. Ev. São Mateus cap. 26 vers. 69/75), nós devemos estar prontos para confessar nosso Salvador e nunca negá-lo diante dos homens e mulheres deste mundo.
Existem soluções como na Basílica de São Pedro em Roma (Vaticano), onde a torre não foi construída, mas aproveitada uma das extremidades do prédio para a instalação dos sinos, o que pode
ser visto também em algumas igrejas coloniais em Minas Gerais.
O sino tem uma grande importância para os cristãos, e faz parte da cultura de muitos povos, havendo até concertos tocados por sinos em vez de outros instrumentos musicais. Segundo os
mais antigos, quando se faz um sino soar, Deus nos observa e escuta com mais atenção nossas preces sinceras.
Quando um sino era levado para uma torre, passava por uma cerimônia semelhante (nunca igual) a um batismo, recebendo um nome e a bênção de um bispo, que lhe fazia a unção com o óleo do
Santo Crisma, na presença de seus doadores, como se fossem padrinhos.
Os sinos possuem as sete notas musicais, sendo o toque mais comum, quando são tangidos, conhecido como "Toque de Jerusalém", em alusão à onomatopéia "Je-ru-sa-lém, Je-ru-sa-lém,
Je-ru-sa-lém" (ou "dó-ré-mi-fá"), e também o toque típico de defuntos, sendo um grave e dois agudos de forma espaçada, como ocorre no Vaticano quando são sepultados os papas.
Melodias não faltam para os mesmos, às vezes guardadas em segredo por gerações de sineiros, que têm Santa Bárbara como sua padroeira (festejada em 4 de dezembro), motivo pelo qual possui
a irmandade uma imagem dessa Mártir.
Existiu no Monte Serrat, até os anos 1960, um senhor conhecido pelo apelido de "Piru", pois tinha o rosto típico de caiçara, tez avermelhada e um grande gogó saliente no pescoço;
conhecido também pelo nome de "Seu Amary", era do litoral e sua forma única de tocar sinos atraía a atenção de todos, especialmente das crianças, pois ele se deitava ao chão da torre do santuário e, com cordas atadas aos pés e mãos, tangia
os quatro sinos de uma só vez, nas festas da padroeira. Vivia "seu Piru" cortando cana doce no morro e moendo garapa, principalmente nas festas, e recebia uma pequena ajuda da igrejinha, conforme informação dada por Clóvis Benedicto Almeida
(santista , com 70 anos de idade).
Voltando para a o campanário da igreja de N.S. do Rosário foi a última parte da construção a ser erguida em 1822, finalizando assim suas obras e sendo a igreja considerada acabada.
Sabemos que os sinos eram colocados muitas vezes em armações de madeira na frente das igrejas, como ainda hoje existem exemplos em Minas Gerais; essa solução era usada enquanto não era construída a torre para poder fazer uso dos mesmos, mas não
temos registros sobre isso relacionados com a Igreja do Rosário de Santos.
Por vários motivos, depois de erguida, durou a torre apenas 59 anos, ocorrendo seu desmoronamento em 30 de março de 1881, sendo reiniciada sua reconstrução que terminaria em 1889, mas
não se sabe por quê um sino (provavelmente do século XVIII) foi roubado em 1893, justamente quatro anos depois da construção da torre; talvez estivesse aguardando a hora de ser levado para a sineira, ficando então em local acessível a vândalos.
Esse mesmo campanário foi demolido em 1935 por ocasião do alinhamento da rua fronteira a ele, restando apenas fotos da antiga estrutura.
A atual tem em seu interior quatro sinos, com nome e nota musical:
Jesus Eucarístico, com 65 cm de altura, possuindo em alto relevo o brasão do Império em um lado e a custódia do Santíssimo Sacramento no outro com a inscrição: "Câmara Municipal
da Cidade de Santos, 1862".
Nossa Senhora da Conceição, com 59 cm de altura, possui em alto relevo a Virgem Imaculada de um lado e uma cruz adornada do outro, com a seguinte inscrição "Fundição de A. Sydow,
1886".
Santíssimo Sacramento, com 65 cm de altura, possui em alto relevo Nossa Senhora do Rosário de um lado e a custódia do Santíssimo do outro, com a inscrição "Fundição de A. Sydow,
1886".
Nossa Senhora do Rosário, com 86 cm de altura, possui em alto relevo Nossa Senhora do Rosário de um lado e um crucifixo do outro, com a inscrição "F. Amaro S. Paulo, 1903".
Estes sinos são tocados durante a passagem da procissão que conduz Nossa Senhora do Monte Serrat para seu santuário e passa em frente ao templo, são repicados durante as missas festivas
de Santo Expedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Luzia, ou em datas especiais como a eleição de um papa (19 de abril de 2005, Papa Bento XVI), ou acontecimentos ligados à Diocese de Santos, a exemplo do Sábado de Aleluia.
Por regra, são os sinos da Matriz sempre os primeiros a anunciarem a ressurreição de Jesus Cristo, depois seguidos pelos sinos das demais igrejas, em uma ordem de hierarquia, pois é a
Matriz (onde está à autoridade sobre as demais igrejas) o centro de toda a vida religiosa do lugar; no caso, a igreja do Rosário é uma igreja particular, pertencente a uma irmandade, que está na área da Catedral de Santos.
Vista da igreja em 1928, com o Monte Serrate ao fundo (após o desabamento daquele ano).
Na lateral da Rua Vasconcelos Tavares, funcionava no primeiro andar uma escola.
Essa parte seria demolida na década de 1940 para a ampliação das instalações da igreja
Foto cedida a Novo Milênio pelo professor e pesquisador Francisco Carballa
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