Imagem: reprodução parcial da matéria original
Quando os santistas atenderam ao apelo da revolução
Formando na Milícia Cívica Santista, a juventude de Santos partiu para as
trincheiras - Destaca-se na participação de Santos o Tiro Naval - Os mortos santistas do Forte de Itaipu, na sua vigilância incessante sobre o mar
Santos, que "À Pátria ensinou a Caridade e a
Liberdade", no 9 de julho de 1932, acordou com São Paulo, respirando aquele mesmo ar de revolução em prol de um Brasil Constitucional.
Impregnada dos mesmos anseios da gente paulista, a cidade de Braz Cubas, desde os
primeiros instantes, sentiu o palpitar de seu povo, acorrendo os seus filhos para as fileiras constitucionalistas, na defesa do Direito e da
Liberdade.
Da epopéia magnífica Santos participou, intensa e patrioticamente, dando mais uma
vez uma demonstração eloqüente do civismo de sua gente, em defesa da Pátria, então sob o jugo da Ditadura. O povo santista, nessa manifestação,
escreveu também, com o sangue nobre de seus filhos, a sua página de ouro. Com todo o povo paulista, viveu os mesmos dias de glórias, de sacrifícios,
de heroísmo e, sobretudo, de dignidade. A sua mocidade, sem temor, abandonou o lar e seguiu para a linha de frente.
No glorioso dia 9 de julho de 1932, A Tribuna publicava uma manchete: "São
Paulo, numa demonstração de vibrante civismo, levanta-se coeso por um Brasil forte e livre".
Essa manchete, por si só, sintetizava todo o pensamento do povo bandeirante.
E este mesmo jornal, através dos gloriosos 82 dias de luta, iria diariamente
reproduzindo em suas colunas o que representava o épico movimento constitucionalista. Nessa data, publicávamos o seguinte:
"Manifesto ao povo paulista - Neste momento
assumimos as supremas responsabilidades do comando das forças revolucionárias empenhadas na luta pela imediata constitucionalização do país. Para
que nos seja dado desempenhar, com eficiência, a delicada missão de que nos investiu o ilustre governo paulista, lançamos um veemente apelo ao povo
de São Paulo, para que nos secunde na ação primacial de manter a mais perfeita ordem e disciplina em todo o Estado, abstendo-se e impedindo a
prática de qualquer ato atentatório dos direitos dos cidadãos, seja qual for o credo político que professem.
"No decurso dos acontecimentos que se seguirão, não encontrará a população melhor
maneira de colaborar para a grande causa que nos congrega, do que dando, na delicada hora que o país atravessa, mais um exemplo de ordem, serenidade
e disciplina, característicos fundamentais da nobre gente de São Paulo.
General Isidoro Dias Lopes
Coronel Euclides de Figueiredo".
Irmanados pelo mesmo ideal, os santistas sempre estiveram unidos durante os 82 dias da
gloriosa revolução. Aqui vemos uma parte dos rapazes do Tiro Naval, após assistir missa em intenção de um companheiro que pereceu no campo de luta
Foto publicada com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)
Santos na Revolução - Ao soar do clarim de que São Paulo estava de pé, pela
defesa da Constituição, a mocidade de Santos se apressou a cerrar fileiras, a fim de combater pela Constituição do Brasil.
E os Tiros de Guerra, onde se encontrava a mocidade santista,
abriram os seus portões para acolher os jovens que iriam defender São Paulo por um Brasil melhor.
Em sua primeira página, no dia 11 de julho de 1932, a A Tribuna, num artigo
intitulado "A Sorte Está Lançada", tendo como subtítulo "Por São Paulo e pelo Brasil", hipotecava sua solidariedade e conclamava o povo a colaborar
com o governo paulista.
Era criada então a "Milícia Cívica Santista", que, por nosso intermédio, fazia o
seguinte comunicado:
"Ao povo de Santos - Os dirigentes da Milícia
Cívica, neste momento decisivo para a vida nacional, vêm dirigir um caloroso apelo a todos os que amam verdadeiramente esta terra, conclamando-os a
formar nas fileiras sagradas, que hão de fazer, definitivamente, a libertação da nossa Pátria.
"Não há, nesta hora, mais que irmãos. Todos por um e um por todos. Pela liberdade
dentro da lei, pela lei com garantia suprema dos nossos destinos.
"Fraternizemos todos em volta do pendão das nossas reivindicações cívicas. Todos
acorram ao nosso quartel de concentração, no edifício da Imigração, à Rua Silva Jardim, formando no batalhão de honra.
"A postos, patriotas!
Pela diretoria. H. Roberto Caiuby - Secretário".
Nas gloriosas jornadas de 1932, era prefeito de Santos o sr. Aristides Bastos Machado. E o
chefe do Executivo, a fim de assegurar o abastecimento da população santista, entrevistava-se, às primeiras horas, com o delegado regional de
polícia, fazendo pouco depois o mesmo com o gerente da Cia. Frigorífica, com relação ao abastecimento de carne e preços.
Moços pertencentes ao Tiro Naval de Santos, quando se encontravam na cidade de Taubaté
Foto publicada com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)
Barricadas nas praias - O comando militar da praça de Santos, sob a orientação
do major Loretti, tomava as primeiras providências para a defesa da cidade.
O Forte de Itaipu, cuja oficialidade aderiu à
Revolução, estava em constante prontidão. Nas praias, sacos de areia e trincheiras haviam sido providenciadas. Um avião da Força Pública de São
Paulo deveria, a partir de 11 de julho, fazer vôos de reconhecimento.
Enquanto isso, o Tiro Naval, o Tiro 11, o Tiro 598, a Milícia Cívica e outros
batalhões de Santos se arregimentavam para seguir para a linha de frente. Tudo estava sendo organizado. A mulher santista iria também colaborar para
o grande movimento, nas oficinas de costura, nas cozinhas improvisadas, na confecção de fardas, nos hospitais de sangue.
E os nomes dos moços santistas iam se avolumando, nas listas de adesão. As inscrições
se sucediam.
O major Carlos Reis Júnior assumiu o comando militar de Santos dia 13, nomeado pelo
general Isidoro Dias Lopes.
Santos já então vibrava com todo o povo paulista. Com o slogan "Tudo por São
Paulo, pelo Brasil", o povo santista contribuiu de maneira que foi possível para o grande movimento revolucionário.
Saíam a essa altura os primeiros reservistas de Santos para as linhas de frente.
Outros iam se sucedendo.
Forte Itaipu - O Forte de Itaipu guarnecia a entrada da barra. Um possante
canhão, de boca para o mar, estava pronto para entrar em ação. Acontece, porém, que num dos setores da linha de frente, do interior, fazia-se
necessária aquela peça. E os moços que se encontravam no Forte Itaipu, durante uma longa noite, retiraram o canhão, enviando-o para a linha de
frente. Em substituição, fizeram outro, perfeitamente igual, porém de papelão... Foi assim que se conseguiu ludibriar a marinha.
O mesmo os paulistas faziam no front. Com muita imaginação, levavam
motocicletas para as trincheiras. Na calada da noite, ou durante o sol, ouvia-se o pipoquear da metralhadora paulista, que não era
mais do que motores de motocicletas em funcionamento. Sozinho, São Paulo soube aproveitar-se de todos os recursos para ludibriar as tropas inimigas.
E até matraca fez às vezes de metralhadoras, e chaminés, "camufladas, muito mal, para que o inimigo gastasse bombas, faziam às vezes de canhões..."
"Batalhões-mirins" - A cidade presenciava, diariamente, o desfilar dos
"batalhões-mirins". Com a bandeira paulista, os menores, sentindo também a grandiosidade dos dias que estavam vivendo, os menores desfilavam,
angariando donativos para a grande cruzada constitucionalista. Até jóias eram jogadas à Bandeira. Damas e cavalheiros, em plena rua, se despojavam
de anéis e alianças, contribuindo para o "Ouro da Vitória".
Os mortos de Santos - Numerosos moços santistas perderam a vida nos campos de
batalha. Outros receberam ferimentos, cicatrizes que conservam como um símbolo da grande causa que defenderam.
Entre os mortos nos recordamos de Ivampa Lisboa, Alfredo Schammas, João Pinho, Alfredo
Albertini, Januário dos Santos, Tiago Ferreira, Pérsio de Sousa Queiroz e Carolino Rodrigues. Tantos outros deram também suas vidas pela nobre
causa.
Os rapazes do Tiro Naval foram espalhados para vários setores. No cliché acima
vemos o capitão Armando Erbisti, recentemente falecido, com alguns moços de Santos, no Setor Norte
Foto publicada com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)
O Tiro Naval - Os moços de Santos acorreram aos seus Tiros. Sobre o Naval, que
partiu de Santos, debaixo da aclamação pública, escreveram em Silveiras:
"Organizações existem que valem por si mesmas. E, nessas
condições, está o brioso batalhão cujo nome serve de epigrafe a estas linhas.
"Nos dias que correm, de sobranceria, de sacrifício e de renúncia, todas essas
qualidades são demonstradas patrioticamente pelos valentes rapazes da notável corporação militar.
"Alto e bom som, assim é mister reconhecer e proclamar.
"Quem souber auscultar o bravo e generoso coração dos guerreiros bandeirantes -
paulistas de nascimento ou de coração e brasileiros todos eles - há de convir em que os distintos componentes do Tiro Naval de Santos fazem
merecidamente jus aos elogios, que devem ser tecidos em circunstâncias tais.
"Afáveis e distintos, entre os que mais o sejam, esses denodados pioneiros da lei vêm
cativando a todos, já pela lhaneza do trato, já pelo ardor entusiástico e espírito de sacrifício que têm demonstrado em todas as refregas em que se
empenham.
"Destarte, vêm eles empolgando a admiração altaneira dos seus superiores, entre outros
o coronel Andrade e o capitão Borges. O cel. Palimércio fez empenho em que um pequeno contingente desse numeroso batalhão ficasse em Cachoeira,
servindo sob suas ordens diretas.
"Ainda que ferindo a delicada suscetibilidade desses ardorosos combatentes - porque a
verdadeira modéstia é apanágio de heróis autênticos - queremos, todavia, consignar nestas linhas, destinadas à publicidade, o nosso preito de
admiração pelo conceito invulgar de que gozam eles, entre os seus companheiros de armas.
"Mais tarde, ao narrar a história desta arrancada gloriosa, eficazmente amparada pela
grande elite de São Paulo, o escritor imparcial fará refulgir, em caracteres de ouro, a galhardia singular e a bravura nobilitante de tão distintos
companheiros.
"Porque também a eles se aplica, com acerto, o verso inspirado do vate imortal:
Mais vale a morte, que um viver de escravos.
"Silveiras, 2 de setembro de 1932.
"(a) Pd. Antonio P. Andrade, capelão militar; pe. João José de Azevedo, capelão
militar; Jaime Cintra, diretor da Cia. Paulista; Aida Pompeu, Olga de Sousa Queiroz, Marieta de Sales Romeiro, Alberto Prado Guimarães, delegado
técnico de Silveiras; Arlindo R. Horta, delegado de Polícia de Silveiras; Sebastião de Vasconcelos Leme, Juiz de Direito de São José dos Barreiros;
Troylus Guimarães, Paulo Carneiro Maia, João Cardoso Terra e Geraldo Prado Guimarães, auxiliares da Delegacia Técnica de Silveiras; João Guilherme
de Oliveira Costa, H. Hércules, eng. da Cia. Paulista; Paulo Queiroz, Leandro Dupré, delegado técnico de Cachoeira; Francisco Longo e Álvaro
Vidigal, da Delegacia Técnica da Cachoeira; J. Paula Sousa, Inácio Bastos, representante da S.A.T.O.; Gastão Fogaça, Jaime da Cunha Freire e Pedro
de Carvalho, eng. da Cia. Paulista".
O Forte Itaipu exerceu, durante a revolução, constante vigilância sobre a barra de
Santos. Com metralhadoras antiaéreas ou simples fuzis, os seus soldados combatiam os aviões. No cliché aparecem alguns soldados
constitucionalistas em plena ação, vendo-se, ao canto, o esportista Catitú, que ali servira
Foto publicada com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)
"Pacto de Honra" - O capitão Armando Erbisti, que tanto se distinguiu na grande
epopéia bandeirante, no dia 13 de julho de 1932, portanto quatro dias depois de eclodir o movimento revolucionário, redigiu o seguinte documento,
assinado pelos reservistas do Tiro Naval:
"Pacto de Honra entre os atiradores, reservistas e
inscritos do Tiro Naval do Estado de São Paulo - Quartel de Santos.
"Os atiradores abaixo-assinados declaram por palavra de honra que se comprometem a
cerrar fileiras com a máxima disciplina e defenderão até a morte a atitude do glorioso Estado de São Paulo, que ou vencerá ou lutará até ver tombado
o seu último soldado. Santos, 13 de julho de 1932".
A primeira assinatura do documento consta: 1º sargento, Armando Erbisti, incorporador.
O povo santista, que acompanhou com fibra todo o desenrolar da Revolução
Constitucionalista, soube prestar homenagem aos que pereceram na luta sagrada. No cliché acima, o povo santista acompanha o enterro de Ivampa
Lisboa, vendo-se à frente o padre João Batista de Carvalho
Foto publicada com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)
A Revolução não era separatista - Como a Ditadura espalhava pelo Brasil que a
Revolução de São Paulo era separatista, o comando bandeirante publicava em A Tribuna, no dia 16, e em todos os jornais de São Paulo, a
seguinte notícia:
"É proibida a inscrição de cidadãos estrangeiros -
Declara, para conhecimento geral e especialmente das comissões e encarregados da organização de batalhões civis, que é expressamente proibida a
inscrição de cidadãos estrangeiros, excetuados aqueles que forem naturalizados, nos corpos em organização nesta cidade".
Em Cachoeira, em frente ao Teatro que se prestou a quartel do Tiro Naval, foi batida a
foto que o cliché estampa, vendo-se, entre outros, comendador Manoel Fins Freixo (em visita), já falecido; Costilas Filho, dr. Nério
Battendieri, Moura (flautista), falecido; Armando Rosas, Silésio Lima (futebolista do Clube Atlético Santistas, falecido); Djalma Freixo, Nelson
Serra e Laureano Rodrigues Lamas
Foto publicada com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)
Os menores - A Revolução Constitucionalista empolgou São Paulo inteiro. Os
menores, sentindo o mesmo anseio dos adultos, procuravam inscrever-se para seguir para o front.
Em vista desse entusiasmo, o comando das tropas paulistas tomou as providências
necessárias.
No dia 20 de julho, a A Tribuna publicava o seguinte telegrama, vindo da nossa
Sucursal:
"São Paulo - O chefe de polícia recomenda a todas as
pessoas encarregadas do serviço de alistamento que recusem sistematicamente a inscrição a menores de 17 anos. Constantemente verifica-se o fato de
menores fugirem das casas dos pais para se alistarem.
"Conquanto esse fato seja muito expressivo do entusiasmo que se apoderou do povo pela
causa constitucionalista, o governo não pode admitir nas fileiras combatentes de tão extrema juventude".
Desse relato sucinto, verifica-se o quanto Santos, pelos seus filhos, participou da
grande epopéia bandeirante, que marca uma das páginas mais belas da História pátria.
No cliché acima, entre outros soldados de 32, aparecem Júlio de Almeida,
Sebastião Menezes, Djalma Freixo, Alberico Marques da Silva, Arirá Lisboa, Miguel Pasquarelli Primo, Aldo Ramos (falecido), Romualdo Sandenberg, Max
Ewald, Angerami, sargento Alberto Muniz, Antônio Rodrigues Y Rodrigues, comendador Manoel Fins Freixo (em visita), já falecido; Laureano Rodrigues
Lamas, Humberto Evaristo, Rosenberg, Spinelli, Américo Ramos, Modesto Roma, Danton Pinto da Rocha (já falecido) e Francisco Damazio. Esta foto foi
batida em Queluz
Foto publicada com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)
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