HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
1932
Mausoléu para o soldado santista de 32 (B)
Foram muitos os santistas que perderam a vida nos campos de batalha
durante a revolução de 1932, sendo altamente elogiada a bravura dos civis e militares desta cidade demonstrada nesse movimento constitucionalista. Para
homenageá-los, foi construído um monumento-mausoléu, na Praça José Bonifácio, incluindo uma cripta para ossuário dos combatentes santistas falecidos
posteriormente.
Em 26 de janeiro de 1956, ao ser inaugurado o monumento, o jornal santista A Tribuna
registrou, em sua última página (ortografia atualizada nesta transcrição):
INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO AO SOLDADO CONSTITUCIONALISTA DE 1932 - Em solenidade a realizar-se hoje,
às 10 horas, será inaugurado, na Praça José Bonifácio, o Monumento do Soldado de 19332, com que Santos homenageará, perpetuando-a em bronze, a
memória de seus filhos que participaram da Revolução Constitucionalista.
Antes dessa solenidade, será celebrada missa, às 8,30
horas, na Catedral, pelo padre soldado monsenhor Lino dos Passos. Especialmente convidados, virão a Santos, a fim de assistir à inauguração do belo
monumento, os srs. José Rodrigues Alves Filho, prof. Fonseca Teles, prof. Valdemar Ferreira, Paulo Duarte, Herbert Levy, Ibraim Nobre, Uriel de
Carvalho, Haroldo Levy e Lúcio Prudente Corrêa, representando os veteranos do M.M.D.C. A Marinha brasileira, com algumas unidades presentemente em
nosso porto, participará das cerimônias de hoje, com a presença de sua oficialidade.
No ato da inauguração do monumento, falarão os srs. dr.
Lincoln Feliciano, secretário da Justiça; prof. André Freire e o prefeito municipal, dr. Antônio Feliciano.
A Comissão Pró-Monumento do Soldado de 1932 não expediu
convites especiais, avisando, entretanto, que estão convidadas todas as autoridades civis, militares e eclesiásticas, bem como a população santista,
solicitando a presença do maior número possível dos que desejarem abrilhantar as festividades, prestando, assim, com o seu comparecimento, merecida
homenagem aos que participaram da epopéia constitucionalista, que marcou novo e brilhante capítulo na história política do nosso Estado e do Brasil.
Embora estejamos em plena vigência do estado de sítio,
novamente prorrogado, deve merecer o maior destaque a homenagem que hoje se prestará aos jovens que lutaram e morreram acreditando na liberdade, em
defesa da Democracia e da Constituição. No regime de exceção em que nos encontramos, cresce precisamente de vulto o sentido dessa homenagem, quando
a cidade de Santos entregará ao seu povo, nesta data histórica, o monumento ao soldado de 32, como testemunho de que continuará fiel aos ideais de
democracia e de liberdade, que imortalizaram a juventude paulista, naquele empolgante movimento de civismo.
Foto e legenda publicadas com a matéria
Santos comemora sua data máxima
Solenidades que assinalarão o acontecimento histórico - A Marinha participará das
comemorações, homenageando o soldado de 1932
Santos chega, hoje, ao 117º aniversário de sua elevação a município, como uma das mais completas,
mais lindas e mais produtivas cidades do país. Com o privilégio de ser o porto do Estado mais rico da federação brasileira, havendo conquistado, com
isto, o mais alto ponto dos índices de estatística econômica, em exportação e importação, da América do Sul, a cidade, que há quatro séculos Braz
Cubas fundou, e que há cento e dezessete anos conquistou sua autonomia política entre os municípios brasileiros, é, hoje, alvo obrigatório das
atenções comerciais de todos os países do mundo e um dos pontos de maior importância do turismo nacional.
Chega ao seu 117º aniversário desfrutando as regalias e os benefícios da grandeza que, para ela,
construíram os homens do comércio cafeeiro, as grandes indústrias, os operários, os doqueiros, os estivadores, seus homens públicos, todos quantos
acreditaram e amaram seu destino, e a ela dedicaram, ininterruptamente, suas iniciativas e seus trabalhos, fazendo desse pedaço do litoral paulista
uma das maiores oficinas humanas dentre as que fazem o país crescer e se emancipar.
Mas não cessa aí, entretanto, a predestinação histórica do grande porto paulista. Além da
espantosa riqueza que lhe deu o café, além do privilégio das belezas naturais que lhe deram suas praias, Santos inaugura, agora, uma era de novas e
imensas perspectivas, transformando-se na órbita de gravitação das mais importantes forças produtivas do país, que já se concentram em seu derredor,
no petróleo do Cubatão e na siderúrgica de Piaçagüera.
O incalculável surto de progresso que decorrerá, dentro de alguns anos, dessas duas imensas forças
econômicas, com milhares de indústrias que delas derivarão, com o grande aglomerado humano que aqui se concentrará para acioná-las, Santos se
transformará no principal celeiro da economia nacional e será a responsável pela posição privilegiada que o Brasil, nessa segunda metade do século,
ocupará entre as mais ricas nações do mundo.
É, pois, com justo orgulho que, no limiar dessa era nova, A Tribuna saúda, na máxima data
histórica de Santos, sua grande e obreira população, seus homens de negócios e seus operários, todos que aqui vivem, trabalham, acreditam e amam
essas praias, esse porto, esta cidade, concorrendo para a notável maravilha de seu destino e suas grandezas.
Programa comemorativo do Dia da Cidade
Várias solenidades assinalarão o Dia da Cidade, destacando-se o grande almoço que a sociedade
santense oferecerá ao prefeito Antônio Feliciano, como expressão de reconhecimento e solidariedade à sua obra administrativa, consagrada aos mais
elevados interesses do município.
Está assim organizado o programa comemorativo do 117º aniversário da elevação de Santos à
categoria de cidade:
9 horas - Missa festiva, rezada pelo sr. bispo diocesano de Santos, na catedral.
10 horas - Inauguração do Monumento ao Soldado Constitucionalista de 1932, na Praça José
Bonifácio.
11 horas - Inauguração de uma das pistas da Avenida Almirante Saldanha da Gama, até o
Ferry-Boat.
12 horas - Grande almoço em homenagem ao prefeito, dr. Antônio Feliciano, no Parque Balneário
Hotel.
16 horas - Sessão solene na Câmara Municipal.
17 horas - No salão nobre da Prefeitura Municipal, entrega de medalhas de ouro aos jogadores do
Santos Futebol Clube, campeões paulistas de 1955; Lúcio Grotone, campeão de box; Franco Bezzi, campeão de motociclismo.
17,30 horas - Inauguração das obras de restauração da fachada e adro da Igreja de Santo Antônio do
Valongo e inauguração do Monumento de São Francisco de Assis.
18 horas - Inauguração da Exposição Internacional de Arte Fotográfica, nos altos do Cine Iporanga.
20 horas - Corrida de "Garçons", no Gonzaga.
21 horas - Desfile popular, no Gonzaga, das sociedades vencedoras do Carnaval de 1955.
A Marinha nas solenidades de hoje
Participando das comemorações do Dia da Cidade, o comandante da esquadra ora em nosso porto
determinou que 50 aspirantes da Escola Naval façam guarda, hoje, pela manhã, junto ao monumento ao Soldado Constitucionalista de 32.
Esses aspirantes deverão comparecer acompanhados da banda de fuzileiros do cruzador Barroso,
capitânia da esquadra.
Às cerimônias religiosas na Catedral, às 9 horas, bem como à inauguração do monumento da Praça
José Bonifácio, às 10 horas, estarão presentes as mais altas patentes dessa esquadra, com o seu comandante-em-chefe, vice-almirante Carlos da
Silveira Carneiro, e os comandantes dos cruzadores Barroso e Tamandaré. |
No dia seguinte, 27 de janeiro de 1956, o mesmo jornal A Tribuna voltava ao tema,
na última página, continuando na página 6 (ortografia atualizada nesta transcrição):
Imagem: reprodução parcial da matéria original
Com grande demonstração de civismo, Santos comemorou, ontem, sua data máxima
Enorme multidão se comprimiu na Praça José Bonifácio para assistir à inauguração do
Monumento ao Soldado da Revolução Constitucionalista
Uma grande multidão se concentrou na Praça José Bonifácio, para assistir às comemorações do dia
26, que ali se iniciaram com a inauguração do monumento ao soldado de 1932. Sob o sol intenso da manhã de quinta-feira amalgamaram-se, no espírito
do povo santista, o culto aos jovens heróis que tombaram em defesa da Constituição e o justo orgulho com que a cidade comemorou seu 117º
aniversário, na oportunidade histórica de invocar todas as suas tradições nessas vinte e quatro horas de festividades consagradas à celebração da
obra que, há mais de um século, vem sendo construída pelas gerações de santistas, desde quando o grande porto paulista foi elevado à categoria de
cidade.
Às 8,30 horas foi celebrada, pelo padre soldado Monsenhor Lino dos Passos, missa em memória dos
mortos constitucionalistas. Às 9 horas, houve missa festiva, pelo aniversário da cidade, celebrada pelo bispo diocesano, d. Idílio José Soares.
Ambas as missas foram celebradas na Catedral, que esteve completamente tomada. Estiveram presentes pessoas de todas as camadas sociais, famílias e
veteranos da revolução de 1932, todas as destacadas autoridades municipais, eclesiásticas, militares, deputados, representantes dos poderes públicos
e corpos consulares de diversos países amigos.
Monumento ao soldado constitucionalista - Foi verdadeiramente tocante a inauguração do
monumento ao soldado de 1932. Uma grande multidão, não obstante o forte calor que fazia, comprimiu-se na Praça José Bonifácio, a fim de participar
do ato cívico em homenagem aos mortos santistas sacrificados pelo bravo movimento constitucionalista bandeirante.
Um grande número de veteranos da revolução esteve presente. Alguns traziam seus antigos capacetes,
as cores de São Paulo e condecorações. Uma das maiores emoções, vividas pelos que participaram daquela festa cívica, foi provocada pela presença de
um mutilado paulista, o capitão Daiton Rezende, que, tendo que se locomover carregado pelos braços de outros, veio de São Paulo especialmente para
assistir à missa e presenciar a inauguração do monumento.
Vultos da revolução - Diversos vultos que se notabilizaram no movimento constitucionalista
de 1932 estiveram em Santos no dia 26. Entre eles destacaram-se o deputado Herbert Levy, presidente da Federação dos Voluntários Paulistas; os
professores Valdemar Ferreira e Fonseca Teles, secretários de Estado no governo do dr. Pedro de Toledo, durante a revolução. Diretores e
representantes do Clube Piratininga e do M.M.D.C também se fizeram representar.
Oradores - A fita inaugural do monumento foi cortada pelo prefeito Antonio Feliciano, ao
som de ritmos marciais executados pela banda do 6º B.C., e sob a salva de vinte e um tiros em homenagem aos soldados mortos. A Marinha, que se
encontrava em nosso porto desde as primeiras horas daquele dia, com um contingente de cinqüenta aspirantes, manteve guarda ao monumento e, no
momento da inauguração, compareceu, nas pessoas do vice-almirante Carlos Silveira Carneiro, comandante das Forças de Alto Mar, e dos comandantes dos
cruzadores Barroso e Tamandaré.
Em nome da comissão, que entregou ao município o monumento, falou o professor André Freire,
reportando-se ao feito dos soldados mortos e do orgulho com que a cidade os homenageava, perpetuando suas memórias no bronze em uma das praças
centrais de Santos. Em seguida falou o secretário da Justiça, dr. Lincoln Feliciano, que, na solenidade, representava o governador Jânio Quadros.
Começou nomeando, um a um, os soldados santistas desaparecidos na revolução. Fortemente emocionado, com a voz embargada, o sr. Lincoln Feliciano
invocou a memória daqueles moços e o ideal em que acreditaram, e seu trágico desaparecimento na luta pela lei e pela liberdade.
O orador seguinte foi o deputado federal Herbert Levy, que pronunciou um belíssimo improviso sobre
o movimento constitucionalista, aproveitando-se do ensejo para comparar o feito dos revolucionários de 1932 ao patriótico comportamento da Marinha,
ali presente, nos últimos acontecimentos. A multidão recebeu com aplausos vibrantes a lembrança do deputado Herbert Levy.
Falou, ainda, o prefeito Antonio Feliciano. Foram breves suas palavras, mas profundamente
tocantes, pela homenagem que teceu aos jovens santistas de 1932. Ao final, falou o ex-combatente Márcio Prudente Corrêa, presidente da caravana dos
revolucionários do M.M.D.C., lendo, ao encerrar o discurso, o poema de Guilherme de Almeida dedicado aos mortos de São Paulo.
Pessoas presentes - Entre as incontáveis
autoridades presentes, foi-nos possível anotar os nomes do prefeito Antonio Feliciano, Aristóteles Ferreira, presidente da Câmara Municipal; d.
Idílio José Soares, bispo diocesano; coronel Hugo Alvim, comandante da Guarnição Militar; major Paulo Salema Garção Ribeiro, comandante da Base
Aérea de Santos; capitão-de-mar-e-guerra Bulcão Viana, comandante dos portos de Santos; tenente-coronel Luiz de Cicco, comandante do 6º B.C.; dr.
Carlos Eugênio Bittencourt da Fonseca, delegado auxiliar; dr. José Manoel Arruda, diretor do Fórum; dr. Aldo de Assis Dias, juiz de Menores; general
Paulo Rosas Pinto Pessoa, deputado Athié Jorge Coury, Lincoln Feliciano, secretário da Justiça; deputado Herbert Levy, prof. Valdemar Ferreira e
Fonseca Teles, membros do governo revolucionário de 1932; dr. Joaquim Pacheco Cirilo, representando o secretário do Governo, Dervile Alegreti; o sr.
Renato Campelo, representando o secretário da Agricultura; M. Nascimento Júnior e o sr. Giusfredo Santini, diretor de A Tribuna e presidente
da Comissão "Pró-Monumento ao Soldado de 1932".
Aspectos da inauguração do monumento aos soldados santistas da revolução constitucionalista,
vendo-se os guardas-marinhas presentes ao ato, a inauguração, pelo prefeito, sr. Antônio Feliciano; o capitão Daiton, a colocação de uma coroa ao pé
do monumento; dois flagrantes do povo reunido; e de alto a baixo, o secretário da Justiça, sr. Lincoln Feliciano, pronunciando seu discurso; o
deputado federal Herbert Levy ao exaltar a revolução de 32, e em companhia do mesmo parlamentar, os srs. Valdemar Ferreira e Fonseca Teles, que
foram secretários do governo revolucionário do embaixador Pedro de Toledo
Fotos e legenda publicadas com a matéria
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