HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
1932
Imprensa e a Revolução de 1932 (7)
Principal meio de informação, ao lado das
emissoras de rádio, a imprensa paulista teve papel ativo e importante na mobilização popular. No dia 26 de julho de 1932, uma terça-feira, o jornal
paulistano Folha da Manhã registrou assim na página 5 a situação em Santos (ortografia atualizada nesta transcrição):
Reprodução parcial da página 5 da edição de 26/7/1932 do jornal Folha da Manhã
DE SANTOS (Serviço especial da Folha da Manhã)
Grande passeata cívica - Partida de tropas - O uso de automóveis
particulares - Circular do governo mineiro
SANTOS, 25 (Da sucursal da Folha da Manhã) - Realizou-se ontem, às 20 horas,
imponente passeata cívica pelas ruas centrais da cidade. A compacta molhe humana parou à Praça Mauá, onde, d uma das sacadas do Palacete Mauá,
fizeram-se ouvir os drs. José Amazonas, Oliverio Amaral e Antonio Feliciano, tendo as palavras sido irradiadas pelo Rádio
Clube de Santos. A seguir, o imponente cortejo seguiu para a delegacia regional de polícia, tendo falado, da sacada do Fórum, o dr. Pedro
Rodovalho Marcondes Chaves, juiz criminal, também calorosamente aplaudido.
Deixando a delegacia regional, os manifestantes foram à
Cruz Vermelha Brasileira, onde falou o sr.
Flor Horacio Cyrillo, presidente daquela agremiação, enaltecndo o valor da cruzada por que se batem S. Paulo e Mato Grosso, agora já auxiliados
por elementos de vários outros Estados.
Na Praça Rui Barbosa fez-se ouvir o voluntário Reginaldo de Carvalho, que mereceu calorosos aplausos.
- Seguiu hoje para essa capital mais um contingente de tropa da Legião Negra, que vai se incorporar à sua congênere de S.
Paulo, aquartelada na Chácara Carvalho.
- Até ontem achavam-se inscritos na Milícia Cívica de Santos 1.030 voluntários.
PARTIDA DE TROPAS - Pelo trem das 9,30 horas de hoje, da Sorocabana, via Juquiá, seguiu um contingente de tropas que vai
guarnecer o nosso litoral.
O USO DE AUTOMÓVEIS PARTICULARES - Foi publicado pela imprensa o seguinte comunicado: "O major Elias Machado de Almeida,
delegado técnico da Prefeitura de Santos, usando das atribuições que lhe confere o decreto 5.580, de 14 de julho de 1932, e de acordo com as
instruções recebidas do comando da praça militar, desta cidade, proíbe o uso de automóveis particulares, quando a serviço. - Santos, 24 de julho
de 1932".
CIRCULAR DO GOVERNO MINEIRO - Um cavalheiro chegado de Minas trouxe um boletim enviado ao prefeito de S. Sebastião do Paraíso,
redigido nos seguintes termos publicado na Folha do Norte:
"B. Horizonte (223) 10-7-932. - Sr. prefeito municipal - S. Sebastião do Paraíso. - Tendo o sr. presidente do Estado recebido
do sr. chefe do governo provisório comunicação haver se verificado na capital paulista movimento subversivo caráter reacionário, para repressão do
qual já tomou necessárias providências, manda recolher destacamentos municipais força pública para manutenção ordem.
"Nestas condições, deveis organizar grupo três a quinze homens, encarregando policiamento cidade.
"Nesta capital, como em todo o Estado, reina absoluta tranqüilidade. Saudações - Gustavo Capanema, secretário do Interior". |
No mesmo dia 27, esse jornal paulistano registrou na página 5 (ortografia atualizada
nesta transcrição):
Reprodução parcial da página 5 da edição de 27/7/1932 do jornal Folha da Manhã
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DE SANTOS
Embarque de tropas
SANTOS, 26 (Da sucursal da Folha da Manhã) - Em trem que deixou a
gare da Ingleza às 19 horas, seguiu hoje para essa capital uma força pertencente à Milícia Cívica de Santos,
Batalhão Operário, Falange Acadêmica, Tiro 11 e Tiro 598.
Uma compacta multidão afluiu à estação da Ingleza, tendo se dado a partida debaixo de entusiásticas aclamações.
VAPOR IMPEDIDO DE ENTRAR NO PORTO - O vapor nacional Maria M, que há dias era esperado no nosso porto, com
carregamento de trigo, foi obrigado a seguir para o Rio. Como, porém, não estivesse provido de combustível, foi forçado a parar em São
Sebastião, onde está a base da divisão naval.
Dali, depois de rigorosa revista, foi o Maria M mandado para o Rio, sob a alegação de que o navio carregava munição de
guerra, escondida sob o porão.
APRISIONAMENTO DE UMA LANCHA - A lancha Julio Prestes, da Polícia Marítima, saiu há dias deste porto com destino a São
Sebastião, a fim de cumprir uma missão. Ali chegada a embarcação, foi aprisionada pelo pessoal da Marinha que ali tem a sua base, sendo os seus
tripulantes levados para bordo do transporte Belmonte.
O patrão da lancha, sr. Francelizo Pinheiro, foi então interrogado sobre o que havia em Santos e quais os seus preparativos.
Este bravo marujo fez ver à oficialidade daquele vaso de guerra a atitude do povo paulista. |
O mestre Francelizio, bem como os seus
companheiros, ficaram detidos durante 4 dias, tendo, porém, recebido o melhor tratamento por parte da oficialidade. Só hoje tiveram eles ordem
de desembarcar, tendo regressado a Santos no Alfredo Freire. A lancha Julio Prestes, depois de
aprisionada, começou a ser empregada em serviço da divisão naval, mas, em virtude do seu motor ter sido forçado demasiadamente, houve ruptura
num tubo de gasolina, dando-se uma explosão, incendiando-se. Os seus tripulantes, para não perecer no incêndio, lançaram-se ao mar, tendo sido
salvos por outras embarcações. |
No dia 29 de julho de 1932, uma sexta-feira, o jornal paulistano Folha da Manhã registrou assim na primeira
página os acontecimentos em situação em Santos (ortografia atualizada nesta transcrição):
Reprodução parcial da primeira página da edição de 29/7/1932 do jornal Folha da Manhã
Os aviões navais voam sobre Santos
SANTOS, 28 (Da nossa sucursal - Pelo telefone) - Hoje, às 12 horas, apareceram voando sobre a cidade, m
grande altura, dois aparelhos inimigos. O povo, em massa, das ruas acompanhava todas as evoluções dos hidros da ditadura, na certeza, porém, de
que eles não baixariam porque os nossos pilotos aéreos se achavam prontos para qualquer eventualidade. Parece que o fito dos aviadores inimigos
é fazer reconhecimentos. |
No sábado, 30 de julho de 1932, a Folha da Manhã registrou, na primeira página (ortografia atualizada nesta
transcrição):
Reprodução parcial da primeira página da edição de 22/7/1932 do jornal Folha da Manhã
Incursões aéreas da ditadura na vizinha cidade de Santos
SANTOS, 29 (Da nossa sucursal) - Repetindo a façanha de anteontem, os aviões da ditadura
fizeram ontem uma nova incursão nesta cidade.
Eram em número de quatro: dois hidroaviões e dois biplanos.
Depois de rondar por algum tempo a uma grande altura, os aparelhos ditatoriais rumaram em direção à serra, parecendo
dirigir-se para a capital do Estado.
Voando sobre Cubatão, lançaram duas bombas, uma das quais não chegou a explodir. Uma
dessas bombas caiu num lugar deserto, a um quilômetro duma fábrica ali existente, explodindo sem causar dano algum.
Mudando bruscamente de rumo, os aparelhos retrocederam, de Cubatão para esta cidade, voando sempre a uma considerável
altura.
Daqui regressaram à sua base.
Novas informações - SANTOS, 29 (Da sucursal da Folha da Manhã) - Hoje, cerca das 11 horas, um
Savoia-Marchetti, seguido de dois aviões de caça, passou por sobre a cidade, a grande altura, tomando rumo do Cubatão. Logo depois
ouviam-se dois estampidos, correndo o boato de que os aparelhos da ditadura haviam lançado duas bombas nas proximidades da serra, as quais, no
entanto, não produziram feito, pois caíram em lugar baldio. |
Na segunda-feira, 1º de agosto de 1932, a Folha da Manhã registrou, na primeira página (ortografia
atualizada nesta transcrição):
Reprodução parcial da primeira página da edição de 1/8/1932 do jornal Folha da Manhã
O Com. Alcidio não atracou em Santos
A absoluta necessidade de serem preenchidas as formalidades regulamentares - Santos é nosso e não da
ditadura!
SANTOS, 31 (Da nossa sucursal - pelo telefone) - Com relação ao vapor
Commandante Alcidio, esperado hoje neste porto e conduzindo famílias paulistas do Rio de Janeiro, a polícia marítima não teve
conhecimento nem aviso algum sobre a sua chegada.
O Commandante Alcidio chegou atrasado ao largo do Guarujá para levantar
ferros pouco depois rumo ao Norte.
Não se realizou o desembarque dos passageiros. Sobre esse desembarque, não houve um acordo
entre as autoridades portuárias e as do navio. As autoridades do porto quiseram que os passageiros desembarcassem no cais, depois de
atracado o vapor. As de bordo não concordaram com isso.
Assim, o navio levantou ferros e rumou para o
Norte, com destino ignorado.
***
A notícia acima foi publicada pela Folha da Noite, de
ontem. Mais tarde, a nossa sucursal telefonou-nos que a situação não se havia alterado.
Como é natural, as nossas autoridades julgam de absoluta necessidade que o Commandante Alcidio
preencha as formalidades regulamentares. Isto feito, atracando nas Docas, desembarcará os passageiros.
Será possível fazer-se isto hoje?
Seja como for, não é justo que as formalidades regulamentares fiquem abolidas. Se voltar ao Rio com os
passageiros, estes podem dar como bem pago o contratempo que sofreram. São paulistas e constituirão, na capital da República, o testemunho
vivo de que Santos é nosso e não da ditadura, como esta, na sua febre de inventar, assoalha. |
Na terça-feira, 2 de agosto de 1932, o mesmo jornal noticiou (ortografia atualizada nesta transcrição):
Reprodução parcial da página 3 da edição de 24/7/1932 do jornal Folha da Manhã
A viagem do Commandante Alcidio
O navio não entrou mesmo em Santos
SANTOS, 1 - As autoridades marítimas, até à hora m que estivemos na repartição da Polícia Marítima, não tinham
informações de espécie alguma sobre o destino do vapor Commandante Alcidio que vinha do Rio, conduzindo famílias paulistas que
desejavam regressar a São Paulo.
O navio trazia instruções para não atracar no porto. Por sua vez não seria justo e lógico que, sobretudo em momentos
como o que atravessamos, as nossas autoridades abrissem mão das formalidades regulamentares.
Se regressou ao Rio, permitirá o Commandante Alcidio que os seus passageiros ali revelem a verdade sobre Santos,
que a ditadura assoalha dominar.
O couraçado S. Paulo e a causa constitucional
Às 14 horas de ontem a Rádio Sociedade Record irradiou a seguinte notícia:
"Vindos do Rio de Janeiro a fim de abraçar a causa constitucionalista, chegaram hoje a Taubaté três oficiais superiores
do Exército.
"Em declarações feitas às autoridades daquela cidade, afirmaram ter o ditador ordenado ao comandante do couraçado
São Paulo a preparação daquele vaso de guerra para o transporte de tropas para Santos.
"Em resposta, aquele oficial declarou que essa ordem somente poderia ser cumprida depois de demitida toda a
oficialidade daquele vaso de guerra". |
No dia seguinte, 3 de agosto, a Folha da Manhã registrou (ortografia atualizada nesta transcrição), nas
páginas 1 e 5:
Reprodução parcial da primeira página da edição de 3/8/1932 do jornal Folha da
Manhã
A viagem do Commandante Alcidio - Notícias da chegada de dois navios no porto
santista
Foi grande o movimento verificado em Santos, de procura de lugares no paquete Commandante Alcidio, que ali
deveria aportar, com passageiros paulistas provenientes do Rio. Calcula-se mesmo em mais de setecentos o número de pessoas que se
inscreveram na agência do Lloyd Brasileiro, para obter passagem para a capital do país.
Todos, entretanto, tiveram que voltar insatisfeitos no seu desejo, pois aquele navio não entrou no porto da vizinha
cidade. Até o momento, ignora-se ali o seu destino, pois ele rumou para o Norte, não se sabendo se diretamente para o Rio ou para o
porto de S. Sebastião.
NAVIOS ESPERADOS NO PORTO - Informações recebidas de Santos davam conta de que corria ali, com insistência, notícia
da chegada, aguardada a todo o momento, do paquete nacional Santos, do Lloyd Brasileiro. Este vapor traria passageiros do Rio,
que não puderam desembarcar do Commandante Alcidio.
A propósito da chegada de um vapor estrangeiro, a Tribuna, de Santos, publica em sua edição de hoje:
"Comunica-nos o sr. Anuplio de Lemos, cônsul de Portugal nesta cidade, que chegará hoje à nossa barra um vapor estrangeiro, conduzindo
passageiros do Rio de Janeiro para a nossa cidade".
Reprodução parcial da página 5 da edição de 3/8/1932 do jornal Folha da Manhã
DE SANTOS (Serviço especial da Folha da Manhã)
Prisão de quatro espiões da ditadura - Organização da polícia civil da cidade - Não houve
entrada de vapores no porto - Outras notas
SANTOS, 2 (Da sucursal da Folha da Manhã) - PRISÃO DE DERROTISTAS - A
polícia desta cidade está movendo séria campanha contra os boateiros espiões. Ainda ontem, foram presos 4 indivíduos que faziam
espionagem a favor da ditadura.
O cavalariano Valdovino Neves, praça nº 87 do 2º esquadrão de cavalaria, m serviço na Rua Xavier da Silveira, foi
procurado ontem, por um indivíduo que, depois de sondar a atitude do militar, fez vantajosas propostas que o cavalariano fingiu aceder,
declarando-lhe que iria consultar os seus companheiros.
Enquanto o malandro esperava pela resposta, Valdevino relatou aos seus superiores o fato ocorrido, sendo os espiões
presos e levados para essa capital.
São os seguintes os nomes dos inimigos de S. Paulo: Carlos Magalhães e Silva, autor de um homicídio em S. Paulo,
durante os dias da revolução de 1930; Felix Zacca, que se diz aluno da Escola de Odontologia de S. Paulo; Milton Tavares do Canto, que
se diz aluno do Curso Especial da Força Pública, e Ladislau Camargo, empregado da Estrada de Ferro Sorocabana.
O dr. Raymundo Alvaro de Menezes, comissário de polícia, em ofício dirigido ao comando da Força Pública, solicitou
fosse Valdivino promovido, pela nobreza e correção com que agiu.
POLÍCIA CÍVICA DE SANTOS - Vai ser organizada a polícia cívica de Santos. Por portaria de ontem, o sr. coronel
Christovam Colombo de Mello Mattos, comandante da praça militar de Santos, designou o dr. Antonio Teixeira de Assumpção Netto,
presidente da Associação Comercial de Santos, para organizar a Polícia Civil desta cidade.
O dr. Assumpção Netto nomeou, ontem mesmo, uma comissão, composta de 6 membros, que o auxiliará no desempenho da
incumbência recebida, tendo posto à disposição da mesma, para os respectivos trabalhos, uma das dependências da Associação Comercial.
A partir de hoje, às 10 horas, foi aberta, na sede da Associação, a inscrição dos que desejam prestar serviços como
guardas civis de Santos, à causa da constitucionalização do país.
VAI INCORPORAR-SE AO TIRO NAVAL - Seguiu, hoje, para Cachoeira, a fim de incorporar-se aos reservistas navais de
Santos, o sr. Elisario Motta, funcionário da Delegacia Regional de Polícia.
MOVIMENTO MARÍTIMO - Ao contrário do que noticiaram os jornais, não entrou vapor algum neste porto.
Segundo as notícias, deveria dar entrada, hoje, no nosso porto, procedente do Rio de Janeiro, um vapor estrangeiro,
que conduziria para Santos os passageiros do Commandante Alcidio que desejam regressar a S. Paulo. Até as 16 horas, porém, a
Polícia Marítima, bem como o comando militar da Praça de Santos não haviam recebido notícia alguma nesse sentido.
É provável que chegue algum vapor procedente do Rio, mas dele só poderão desembarcar passageiros no cais da Cia.
Docas, pois o comando da praça não permitirá desembarque na Bertioga ou em qualquer outro ponto da costa.
VAPOR SAÍDO -Com passe fornecido pela polícia marítima, deixou, hoje, o nosso porto, destinando-se a Rosário, o vapor
inglês Luciston, em lastro.
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