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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Raul Soares - DL
O navio-prisão (5-M)

Clique na imagem para voltar ao índice desta sérieUma das páginas negras da história santista

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Série de matérias publicadas no jornal santista Diário do Litoral, relembrando a história do navio-prisão e provocando para que o tema seja debatido na Comissão da Verdade instituída neste ano para a apuração dos fatos relativos ao regime militar implantado no Brasil a partir de 1964. Esta matéria foi publicada na edição de quarta-feira, 7 de novembro de 2012 (ano XIII, edição 4.778), nas páginas 1 e 7:

Imagem: reprodução das páginas 1 e 7 com a matéria

NAVIO RAUL SOARES
Câmara pede que comissão em Brasília apure torturas

O vereador Marcus De Rosis (PMDB) apresentou requerimento, já aprovado em plenário, solicitando a investigação. O pedido, que será enviado para Brasília, teve como base série de reportagens do Diário do Litoral publicada de 21 a 28 de outubro, denominada Democracia à Deriva.

NAVIO RAUL SOARES: DEMOCRACIA À DERIVA
Câmara pede que Comissão da Verdade apure torturas no navio

Requerimento, aprovado em plenário, é de autoria do vereador Marcus De Rosis (PMDB) e foi baseado em série de reportagens do Diário do Litoral

Francisco Aloise

O vereador Marcus De Rosis (PMDB) apresentou requerimento, aprovado em plenário, na noite de segunda-feira, pedindo ao Governo Federal para apurar, através da Comissão Nacional da Verdade, as torturas e violências praticadas contra presos, em sua maioria sindicalistas portuários, no navio-prisão Raul Soares. Ele fundamentou seu pedido na série de reportagens do Diário do Litoral, publicada de 21 a 28 de outubro, denominada Democracia à Deriva, cujos exemplares foram anexados ao requerimento enviado a Brasília.

Os fatos ocorreram em 1964, no início da ditadura militar no Brasil. O navio ficou atracado no Porto de Santos, de abril a novembro daquele ano, e recebeu centenas de presos políticos, que permaneceram em condições degradantes e desumanas.

"Faz 48 anos que o navio-prisão Raul Soares foi embora. Deixou o Porto de Santos, mas em seu rastro ficou uma democracia à deriva e nossa autonomia naufragou num mar de lágrimas provocadas pela dor das torturas e violência. Durante longos anos, nós, santistas, não pudemos escolher nossos próprios governantes. Foram décadas de silêncio, de medo e insegurança", mencionou De Rosis.

E justificou: "O Jornal Diário do Litoral resgatou, com fatos novos, em uma série de reportagens, a história real do navio-prisão Raul Soares, que ficou por seis meses no Porto de Santos, de 24 de abril a 23 de novembro de 1964, época do início da ditadura militar no Brasil, servindo de presídio flutuante para presos políticos, sendo a maioria deles, sindicalistas portuários. Ainda hoje, o relato dos fatos inseridos nas referidas reportagens, feitas a partir da localização, em Nova Iorque, do médico e cientista americano Thomas Maack - que foi preso no navio e depois buscou exílio nos Estados Unidos -, chega a nos comover pelas cenas relatadas sobre as torturas e violências praticadas contra os presos".

 

O navio-prisão Raul Soares permaneceu no Porto de Santos por 6 meses, no ano de 1964

 


O navio Raul Soares serviu de prisão flutuante no Porto de Santos
Foto: reprodução, publicada com a matéria

Confidencial e clandestino - O vereador, em sua justificativa, prossegue mencionando: "Consta que o navio-prisão Raul Soares pode ter abrigado quase 500 presos sem direito a nada. Ninguém sabe ao certo, até hoje, o número exato. É que não existia um diário de bordo, como ocorre em todos os navios, ou, se houve, ele até hoje não apareceu, o que nós não acreditamos, pois como pode um navio, ainda que adaptado para receber presos políticos, permanecer por seis meses no maior porto da América Latina, se mantendo na clandestinidade. Sem diário de bordo, sem listagens e sem nomes de tripulantes. Ou seja, confidencial e clandestino. A Marinha era a responsável por sua supervisão".

De Rosis argumentou, ainda em plenário, que "hoje, passados exatos 48 anos da desativação do navio, ninguém sabe oficialmente os nomes dos presos que lá estiveram. O que se sabe são sobre relatos dos presos e, agora, sobre os novos episódios revelados pelo jornal Diário do Litoral e narrados pelo médico cientista Thomas Maack, um dos maiores cientistas em pesquisas médicas do mundo".

E relatou: "Os presos estão desaparecendo aos poucos. Alguns que sobreviveram a essa detenção, saíram do País. É o caso do médico Thomas Maack que, perseguido após a desativação do navio, fugiu do País, se exilou nos Estados Unidos e hoje é professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Cornell, de Nova Iorque, que por sinal já confirmou que estará nessa Câmara Municipal, na próxima quinta-feira, o que será uma honra para todos nós vereadores desta casa. Mas, e os outros presos, onde estão? Depois de quase cinco décadas, a lembrança sobre esse triste episódio de nossa história vai se apagando na memória. E foi uma época de liberdade restrita que levou Santos, particularmente, a décadas de estagnação política e econômica".

Após fundamentar seu requerimento, o vereador Marcus De Rosis justificou que o Governo Federal criou, recentemente, a Comissão Nacional da Verdade, para apurar crimes da ditadura militar. Tivemos em nossa cidade, em 1964, em nosso porto, essa vergonhosa história. Todas as entidades sindicais foram invadidas e o navio-prisão trazido a Santos para amedrontar os sindicalistas e afrontar a sociedade.

Congratulações ao DL - Marcus de Rosis aproveitou para pedir também votos de congratulações ao Diário do Litoral pela série de reportagens que relembrou os fatos, trouxe à tona novos depoimentos e pela entrevista feita com o médico Thomas Maack, um dos presos políticos daquele navio-prisão. Maack vai ser homenageado pela Câmara, na próxima quinta-feira, e pelo movimento sindical de Santos, na sexta.

Ele virá a Santos, a convite do Diário do Litoral, que estará completando 14 anos no próximo dia 12, segunda-feira.


Vereador Marcus De Rosis (PMDB) anexou edições do DL com a série de reportagens ao seu requerimento a ser enviado ao Governo Federal
Foto: Matheus Tagé/DL, publicada com a matéria

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