Imagem: reprodução das páginas 1 e 7 com a matéria
NAVIO RAUL SOARES
Câmara pede que comissão em Brasília apure torturas
O vereador Marcus De Rosis (PMDB) apresentou requerimento, já aprovado em plenário,
solicitando a investigação. O pedido, que será enviado para Brasília, teve como base série de reportagens do
Diário do Litoral publicada de 21 a 28 de outubro, denominada Democracia à Deriva.
NAVIO RAUL SOARES: DEMOCRACIA À DERIVA
Câmara pede que Comissão da Verdade apure torturas no navio
Requerimento, aprovado em plenário, é de autoria do vereador Marcus De Rosis (PMDB) e
foi baseado em série de reportagens do Diário do Litoral
Francisco Aloise
O vereador Marcus De Rosis (PMDB) apresentou requerimento,
aprovado em plenário, na noite de segunda-feira, pedindo ao Governo Federal para apurar, através da Comissão Nacional da Verdade, as torturas e
violências praticadas contra presos, em sua maioria sindicalistas portuários, no navio-prisão Raul Soares. Ele fundamentou seu pedido na
série de reportagens do Diário do Litoral, publicada de 21 a 28 de outubro, denominada Democracia à Deriva, cujos exemplares foram
anexados ao requerimento enviado a Brasília.
Os fatos ocorreram em 1964, no início da ditadura militar no Brasil. O navio ficou atracado no
Porto de Santos, de abril a novembro daquele ano, e recebeu centenas de presos políticos, que permaneceram em condições degradantes e desumanas.
"Faz 48 anos que o navio-prisão Raul Soares foi embora. Deixou o Porto de Santos, mas em
seu rastro ficou uma democracia à deriva e nossa autonomia naufragou num mar de lágrimas provocadas pela dor das torturas e violência. Durante
longos anos, nós, santistas, não pudemos escolher nossos próprios governantes. Foram décadas de silêncio, de medo e insegurança", mencionou De Rosis.
E justificou: "O Jornal Diário do Litoral resgatou, com fatos novos, em uma série de
reportagens, a história real do navio-prisão Raul Soares, que ficou por seis meses no Porto de Santos, de 24 de abril a 23 de novembro de
1964, época do início da ditadura militar no Brasil, servindo de presídio flutuante para presos políticos, sendo a maioria deles, sindicalistas
portuários. Ainda hoje, o relato dos fatos inseridos nas referidas reportagens, feitas a partir da localização, em Nova Iorque, do médico e
cientista americano Thomas Maack - que foi preso no navio e depois buscou exílio nos Estados Unidos -, chega a nos comover pelas cenas relatadas
sobre as torturas e violências praticadas contra os presos".
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O navio-prisão Raul Soares permaneceu no Porto de Santos por 6 meses, no ano de
1964 |
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O navio Raul Soares serviu de prisão flutuante no Porto de Santos
Foto: reprodução, publicada com a matéria
Confidencial e clandestino - O vereador, em sua justificativa, prossegue mencionando:
"Consta que o navio-prisão Raul Soares pode ter abrigado quase 500 presos sem direito a nada. Ninguém sabe ao certo, até hoje, o número
exato. É que não existia um diário de bordo, como ocorre em todos os navios, ou, se houve, ele até hoje não apareceu, o que nós não acreditamos,
pois como pode um navio, ainda que adaptado para receber presos políticos, permanecer por seis meses no maior porto da América Latina, se mantendo
na clandestinidade. Sem diário de bordo, sem listagens e sem nomes de tripulantes. Ou seja, confidencial e clandestino. A Marinha era a responsável
por sua supervisão".
De Rosis argumentou, ainda em plenário, que "hoje, passados exatos 48 anos da desativação do
navio, ninguém sabe oficialmente os nomes dos presos que lá estiveram. O que se sabe são sobre relatos dos presos e, agora, sobre os novos episódios
revelados pelo jornal Diário do Litoral e narrados pelo médico cientista Thomas Maack, um dos maiores cientistas em pesquisas médicas do
mundo".
E relatou: "Os presos estão desaparecendo aos poucos. Alguns que sobreviveram a essa detenção,
saíram do País. É o caso do médico Thomas Maack que, perseguido após a desativação do navio, fugiu do País, se exilou nos Estados Unidos e hoje é
professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Cornell, de Nova Iorque, que por sinal já confirmou que estará nessa Câmara Municipal, na
próxima quinta-feira, o que será uma honra para todos nós vereadores desta casa. Mas, e os outros presos, onde estão? Depois de quase cinco décadas,
a lembrança sobre esse triste episódio de nossa história vai se apagando na memória. E foi uma época de liberdade restrita que levou Santos,
particularmente, a décadas de estagnação política e econômica".
Após fundamentar seu requerimento, o vereador Marcus De Rosis justificou que o Governo Federal
criou, recentemente, a Comissão Nacional da Verdade, para apurar crimes da ditadura militar. Tivemos em nossa cidade, em 1964, em nosso porto, essa
vergonhosa história. Todas as entidades sindicais foram invadidas e o navio-prisão trazido a Santos para amedrontar os sindicalistas e afrontar a
sociedade.
Congratulações ao DL - Marcus de Rosis aproveitou para pedir também votos de
congratulações ao Diário do Litoral pela série de reportagens que relembrou os fatos, trouxe à tona novos depoimentos e pela entrevista feita
com o médico Thomas Maack, um dos presos políticos daquele navio-prisão. Maack vai ser homenageado pela Câmara, na próxima quinta-feira, e pelo
movimento sindical de Santos, na sexta.
Ele virá a Santos, a convite do Diário do Litoral, que estará completando 14 anos no
próximo dia 12, segunda-feira.
Vereador Marcus De Rosis (PMDB) anexou edições do DL com a série de reportagens ao seu
requerimento a ser enviado ao Governo Federal
Foto: Matheus Tagé/DL, publicada com a matéria
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