O fim da guerra quente nos trouxe a guerra
fria. Ainda nem tinha esse nome na verdade quando o governo Dutra mostrou que a democratização iniciada em 45 não nos levaria automaticamente
à democracia. A eleição seguinte, reconduzindo Getúlio Vargas ao poder, mostrava também que seu apelo popular continuava intacto. "Bota o
retrato do velhinho, bota no mesmo lugar", vingavam-se as marchinhas do rádio.
No início dos anos 50 o otorrinolaringologista Oscar dos Santos Dias Sobrinho estava na presidência da AMS e com muita colaboração do
cirurgião Marcílio Dias Ferraz , que ocupava o cargo de tesoureiro, comandou a reforma na sede, com uma grande campanha para angariar fundos.
Durante algum tempo as reuniões científicas aconteceram na Santa Casa. Junto ao Jornal A Tribuna, Oscar dos Santos Dias conseguiu um espaço
chamado Vida Médica, escrita inicialmente por Maurício Fang. Em setembro desse ano, era inaugurada a pedra fundamental da Refinaria de
Petróleo de Cubatão, com a presença do presidente da República, Eurico Gaspar Dutra.
Durante a gestão de Edgard Ferraz Navarro, em 1951, a Cidade presenciou um triste acidente, quando quatro crianças morreram num
desabamento de terra no Monte Serrat. Em 8 de novembro a sede foi reaberta com uma reunião festiva e tendo como orador o primeiro presidente,
Samuel Augusto Leão de Moura. Em uma das reuniões científicas Arthur Domingues Pinto apresenta o primeiro caso de coarctação da aorta. A
grande novidade desse período foi a filiação junto à Associação Paulista de Medicina, em 27 de dezembro.
Finalmente em 1952 o porto de Santos começa a ser aparelhado, o que era uma previsão de melhoria econômica para a Cidade. Quem estava
na presidência nesse ano era o cirurgião Marcílio Dias Ferraz, que em diretorias anteriores participava ativamente da AMS. Em sua gestão foram
criados os departamentos de especialidades, o que deu um grande impulso às atividades científicas na sede. Realizou, inclusive, um Simpósio
sobre Coma, com projeções de filmes científicos e colaboração do Colégio Internacional de Cirurgiões.
Em 1953 foi a vez do cirurgião e obstetra Acacio Ribeiro Valim, também escritor. Em agosto instalou o 2o. Congresso Médico Regional da
Associação Paulista de Medicina. Nessa época, Santos era uma cidade getulista até a medula. Não é de estranhar, portanto, que o suicídio de
Getúlio, em 1954, gerasse um amplíssimo sentimento nacionalista e o trabalhismo, com o novo conteúdo destilado pela tragédia do Catete,
explodisse na forma de uma ação político-sindical, que carregava como bandeira a tocante "Carta Testamento". Santos era o palco do Fórum
Sindical de Debates, com 53 sindicatos filiados, a mais poderosa organização dos trabalhadores no país, vanguarda das lutas sociais
brasileiras.
A cidade progredia, crescia embalada por maior liberdade comercial nas atividades portuárias e pela consolidação da cidade como
principal balneário paulista - os prédios art deco e de influências modernistas são um testemunho perene desse período em nossas ruas e
avenidas. Juscelino Kubitscheck pode ter enterrado o país em dívidas, mas exalávamos esperança por todos os poros. Santos tinha um brilho
próprio inconfundível, político e cultural, no final da década de 50 - ah!, o glamour que tinha, então, a esquerda.
Para a AMS fora um período brilhante aquele. A entidade avançara muito, aprofundando seus laços com a comunidade médica e com a
cidade. Participava ativamente do desenvolvimento científico daquela "era de milagres", como não cansava de repetir O Cruzeiro, a grande
revista ilustrada que Marcou aqueles anos tanto quanto a Copa do Mundo quanto a "polegada a mais" de Marta Rocha. Sir Alexander Fleming, a
maior celebridade científica da época, veio receber seu título de sócio-honorário da AMS, das mãos de nosso então presidente, Edmir Boturão,
em 1954.