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Só boa figura quer fazer a Portuguesa
No campo de Ulrico Mursa, onde há pouco tempo a torcida
reuniu-se para uma festa delirante, o assunto agora é trabalhar. A festa foi para comemorar a volta à Especial, depois de uma decisão quase bélica
contra o Ponte, em Campinas: o futebol do quadro praiano foi mais forte do que o desespero pontepretano e a guerra de sua gente. Aquele quadro
vitorioso tinha alguns especialistas que foram embora. Alguns ficaram, outros vieram.
Eis a jovem Santista-67, sua força e suas ambições. O comandante
desse resoluto regimento é o técnico Oto Vieira.
Índio, um garoto que "Papa" descobriu,
tem um futuro certo: titular da Santista
Sentado
à margem do campo, Manuel da Silva Fernandes fala dos velhos tempos e dos tempos de agora. O diretor do Futebol foi novamente convocado, era
necessário para reorganizar a retaguarda. Com seu bonezinho azul-pálido que lhe dá ar juvenil, sapatilhas da mesma cor, Maneco diz que comanda as
coisas sem segredo:
"Trato os jogadores como filhos, este clube é minha segunda casa. Depois que a Portuguesa
voltou à Especial, resolvi sair, tinha feito minha parte. Mas não deixaram, até fiquei contente, não conseguia esquecer esta vida".
Maneco defende as vendas de Adelson, Zico, Neiva e Rossi:
"O Adelson me pediu para sair, tinha boa oferta do América. É um bom moço, fez muito
pelo time, tinha o direito de tratar da vida". Continua: "Combateram muito a venda do nosso meio-campo Neiva-Rossi. Eu acho que a transferência não
prejudicou os interesses do clube: conseguimos um excelente jogador, o Santo, além de bom dinheiro. Até o campeonato teremos outra dupla afiada na
armação".
Maneco tenta esconder o jogo, mas acaba admitindo o interesse pelo palmeirense Júlio
Amaral:
"Com ele, a gente resolveria o problema. O diabo é que o professor Sandoli não quer ceder. Eu mesmo sou contrário à aquisição de jogadores por
empréstimo e parece que o Júlio só pode vir nessa condição. Em todo o caso, vamos ver".
Para que o time alcance o ponto ideal - acha Maneco - é preciso conseguir com urgência
dois jogadores para o apoio e um atacante que não tenha medo de entrar na área. "Esses três - diz o diretor - junto com os outros, resolverão
qualquer parada".
Portuguesa santista nasceu na barbearia
"Vamos fundar um clube de futebol para representar a colônia aqui em Santos?"
perguntou o português Lino do Carmo a alguns conterrâneos, reunidos naquela tarde num salão de barbeiro, o "salão do Alexandre", na
Rua Dr. Manuel Carvalhal, hoje Joaquim Távora.
E não aconteceu outra coisa: imitando um grupo de jornaleiros descendentes de
espanhóis, que havia fundado o Espanha (hoje Jabaquara) e seus compatriotas do Rio de Janeiro, que tinham o Vasco da Gama, os portugueses de Santos,
no dia 20 de novembro de 1917, criaram a Associação Atlética Portuguesa. O nome deveria ser FC Portugal, era a vontade de um dos fundadores, Manuel
Ribeiro, contra a de todos. No entanto, falaram mais alto Lino do Carmo, Antonio Peixoto e Albino Marques e acabaram vencendo a parada.
Quatorze, os primeiros - Quatorze homens fundaram a Portuguesa. Depois, subiu a
50 o número de pessoas que reivindicavam a primazia. Mas, na primeira reunião, no "salão do Alexandre", estavam somente Bento Ribeiro, Antonio
Peixoto, Avelino de Carvalho, José de Mello, Albino Marques, Serafim de Almeida, Maximiano Campos, Manoel Ribeiro, Manoel Tavares, Casimiro Leitão,
Abel Rabelo, Luís Fernandes, Antonio Almeida e Alexandre Coelho (N.E.: o dono da barbearia).
Na mesma semana, estava formada a primeira diretoria: Lino do Carmo, presidente; José
Melo, vice-presidente; Bento Ribeiro, tesoureiro; Albino Marques, 2º tesoureiro, Manoel Ribeiro, 1º secretário e Antonio Peixoto, 2º secretário.
Jubileu de Ouro - Este é o ano do Jubileu de Ouro da Portuguesa santista. Como
integrante da Divisão Especial, seus diretores não se esquecem a queda de 1954 para a Primeira Divisão e a volta, no ano seguinte. Outro
rebaixamento em 1961, ano em que o Santos foi campeão. Novamente na Especial em 1964, após dramática partida em Campinas, frente à Ponte Preta.
Todos também se lembram das excursões pela África e Europa: mais vitórias que
derrotas. Um grande feito - 15 vitórias consecutivas em gramados da África - é o maior orgulho da Portuguesa santista.
Dois jogos históricos - Duas partidas da Portuguesa entraram para sua história.
A primeira, contra o Vasco da Gama em São Januário, quando estreou em partidas interestaduais. O Vasco era um time forte, formado por Valdemar; Lino
e Italia; Brilhante, Nesi e Badu; Pascoal, Rainha, Claudionor, Teles e Santana. A Portuguesa entrou em campo certa de perder com Xisto; Alberto
Augusto e Álvaro; Abelha, Felisberto e Costa, Bradino, Cruz, Gonzales, Otávio e Arnaldo.
Ninguém acreditava no marcador, depois que o juiz deu o jogo por terminado: 5 a 3,
para a pequena lusa.
A outra partida é recente. O adversário desta vez não foi o Vasco, mas a Ponte Preta
de Campinas. Ao vencedor estava reservado o reingresso na Divisão Especial do futebol paulista. Houve muita disputa. A "Macaca" não podia perder, o
jogo era em Campinas. Mas, aos 6 minutos do segundo tempo, o ponta-de-lança Samarone recebeu de calcanhar do ponteiro-esquerdo Baba e acabou com a
festa antecipada da Ponte Preta. Esse gol transformou a fisionomia da torcida, muitos brigaram, mas o marcador ficou no um a zero até o fim, para a
Portuguesa santista começar vida nova na Divisão Especial.
Imagem extraída de anúncio publicado na mesma edição nº 1 do jornal Cidade de Santos
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