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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Clubes
Centro Português de Santos (3)

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Contribuição especial para a cultura santista, o Teatro Júlio Dantas, do Centro Português de Santos, mereceu página especial no próprio site da entidade, com a história de sua construção e das principais apresentações ali encenadas, como é reproduzido a seguir:


Cine-teatro Júlio Dantas, durante uma apresentação do Rancho Folclórico Verde Gaio,
antes de 1979 quando foi alugado para cinema
Foto: Centro Português

Salão Teatro

Com o início das aulas de arte dramática, acentuou-se a paixão pelo teatro, o que levou o Real Centro Português a fundar, a 2 de maio de 1899, a Corporação Cênica que perdurou por mais meio século. Os amadores da Corporação Cênica, os maiores e mais dedicados colaboradores desta cruzada monumental, proporcionaram aos associados e suas famílias verdadeiros espetáculos de arte e cultura.

O movimento teatral no Real Centro Português era de tal relevância que já constava do projeto da sede social, uma sala de espetáculos. O Salão-Teatro foi solenemente inaugurado a 12 de abril de 1908 com um sarau dramático-dançante, que contou com a presença do que de mais representativo havia na colônia portuguesa da época.


Peça teatral encenada no palco da entidade, cerca de 1960
Foto: Centro Português

A trajetória do Corpo Cênico foi marcada principalmente pelo empenho de amadores na luta permanente de manter, no Real Centro Português, a cultura de alto nível que a comunidade merece. É praticando o teatro, principalmente o amador, que se desempenha a mais pura arte teatral, pois nele não há interesses materiais a defender.

Sendo uma das mais antigas do Estado de São Paulo, a Corporação Cênica do Real Centro Português evoluiu ao longo das décadas com a participação de abnegados atores, revelando grandes talentos para a vida artística. Figuras de grande destaque dedicaram quase toda a sua vida, sobressaindo-se os diretores e ensaiadores: Alberto Vieira, Angelo Diléo, António Faraco; os contra-regras: Secundino Gomes e Joaquim António da Fonseca. Deram também sua contribuição ao Corpo Cênico: o tenor Horácio Campos (diretor do teatro infantil), Machado Reis, António Neves (2º ensaiador do Corpo Cênico), Márcio Pinheiro, professora-doutora Clotilde Paul (doutora em História), entre outros.


Peça teatral encenada no palco da entidade, cerca de 1960
Foto: Centro Português

Todo o sucesso alcançado teve como meta a expressão da cultura luso-brasileira. Para tanto, foram encomendadas peças teatrais de Portugal e de seus mais renomados autores, que se conjugavam com os prestigiados autores brasileiros.

Tamanho deslumbramento e enlevo vivia a platéia, quando das apresentações de peças, com encenações magistrais, transportando o público para a época representada, num clima envolvente de arte e cultura, identificando-se com as suas raízes lusitanas. Sentia-se a platéia recompensada ao testemunhar o impecável trabalho da Corporação Cênica.

O Real Centro Português teve o privilégio de encenar a peça Com amor não se brinca, de autoria do estimado e ilustre santista Dr. Epitácio Pessoa, o qual compareceu à estréia da peça, em 12 de março de 1922. Ao terminar o espetáculo, a colossal assistência irrompeu numa estrondosa salva de palmas, sendo neste momento o autor, Dr. Epitácio Pessoa, convidado a adentrar em cena, para ser homenageado pelo amador Lascala, em nome da Corporação Cênica, fazendo-lhe a entrega de uma grande corbeilhe de flores, com artístico cartão de prata e uma caneta de ouro.

Agradecendo, o Dr. Epitácio Pessoa aproveitou o motivo para fazer a entrega das medalhas Ao Mérito (as quais estiveram expostas na ourivesaria Portuguesa) aos amadores: Hermentina Tavares, Domingos Silveira e Alexandre Lascala, que tanto se destacaram na cultura teatral em Santos; e ao esforçado ensaiador: Sr. Alberto Vieira, pelos seus brilhantes sucessos. Após as homenagens, a diretoria do Real Centro Português, associando-se à alegria que em todos reinava, ofereceu ao Dr. Epitácio Pessoa e a todos os amadores um coquetel, sendo trocados, nesse momento, vários brindes. Esta solenidade marcou mais um padrão de glória ao conjunto artístico do Real Centro Português.

Não menos marcante foi o sucesso das peças do grande teatrólogo português - reconhecido mundialmente - Júlio Dantas, que teve suas obras encenadas no palco do Real Centro Português, destacando-se entre elas: Passos de Vieiras, A Severa, A Ceia dos Cardeais, Outono em Flor e Rosas de Todo Ano.

A última produção do ilustre Dr. Júlio Dantas para o teatro, Outono em Flor, foi levada à cena pela primeira vez no Brasil, em junho de 1949, pela Corporação Cênica do Real Centro Português. Levando a platéia ao delírio, a peça foi representada três vezes em menos de 15 dias, obtendo extraordinário sucesso.


Logo da entidade
imagem: Centro Português

Inúmeros foram os espetáculos da cena teatral vividos no Real Centro Português no decorrer dos anos, sempre com grande euforia e entusiasmo. Os espectadores assíduos lotavam a casa, vivendo momentos de forte emoção. As apresentações eram semanais e sempre aos domingos, as famosas Domingueiras, quando foram encenadas inúmeras peças teatrais dos autores de renome como: o escritor santista Benedito Merlim, Salvador Marques, José Vanderlei, Gastão Fogeiro, Gervásio Lobato, Cláudio de Sousa, Armando Corvelo, Mário Lago, Pedro Block, Máximo Gorki; os portugueses Arnaldo Leite, Campos Monteiro, Bernardo Santareno etc. Após os espetáculos, realizavam-se bailes em que os associados viviam momentos de alegria e descontração.

A trajetória do Real Centro Português mostra-nos momentos de verdadeiro enlevo artístico, pelos quais têm passado as figuras mais representativas das culturas de Portugal e do Brasil, em célebres recitais e Noites de Arte, sempre com a presença das mais altas autoridades da cidade e de figuras mais representativas dos seus diversos setores de atividade.

Nessas Noites de Arte pode-se destacar a presença de orquestras: Orquestra Sinfônica de Santos, Orquestra de Cordas Filarmônica Santista, Quarteto Romântico de Cordas de São Paulo, sessões lítero-musicais; recitais; concertos ao piano; apresentações de operetas, de fados e do saudoso Orfeão Social do Centro Português.

O Salão Teatro, já consagrado pelo público, passou por uma grande reforma que começou em 1951, na gestão do Sr. Amaro Lopes Martins, sendo eleita uma comissão de obras composta por: Amaro Lopes Martins, Dr. Narciso Esteves da Cunha, José Dias de Carvalho, Alberto Loureiro Valente, Cesautino Antunes de Carvalho, João Dias e José Carlos da Silva. A diretoria da época lançou-se numa verdadeira cruzada para angariar fundos. Com isso, contou com a velha estirpe portuguesa, que soube responder às expectativas do corpo associativo que tanto apoiou esta obra.

Desta reforma constava a substituição de todo o vigamento por uma laje de concreto, eliminando-se as colunas que impediam uma perfeita visão, ampliando-se o Salão-Teatro. Foi construído um moderno palco com todos os requisitos necessários para representação de peças teatrais, shows e exibições cinematográficas. Ao fundo do teatro, um balcão com capacidade para 200 pessoas permitiu aos espectadores uma visão completa, dominando todos os seus ângulos com visibilidade total. Também foram construídos camarins modernos e um piso com ligeiro declive para melhor visão dos espetáculos.

Anúncio publicado no jornal santista A Tribuna em 1960

Não só o Salão Teatro se beneficiou com as obras, como também o Salão Camoniano, que recebeu novo soalho e modernos gabinetes sanitários, e o hall de entrada, onde foi construída uma escada bifurcada que - além de permitir fácil acesso ao Teatro - compôs harmoniosamente a arquitetura interna do belo edifício neo-manuelino.

Em 13 de outubro de 1956, já com as modernas poltronas e uma decoração condigna da sua tradição, o moderno Teatro do Centro Português (uma das mais confortáveis casas teatrais de Santos na época) completamente lotado, recebeu para um ato inaugural a Orquestra Sinfônica de Santos, que realizou um concerto sob a regência do maestro Moacyr M. Serra. Júlio Dantas foi o nome escolhido para a nossa excelente sala de espetáculos, no ano de 1966. Homenageou-se assim, o ilustre teatrólogo português.

Fazem parte da história do Teatro Júlio Dantas os grandes festivais de teatro amador realizados em Santos.

Ao se falar da história do Teatro do Centro Português, devem ser registradas as homenagens a todos que, com paixão, contribuíram para consolidar e elevar o nome do Centro Português dentre as mais destacadas sociedades culturais e recreativas, sem citar nomes de artistas, pois todos merecem a estima e os aplausos pelo seu magnífico trabalho.

O talento destes abnegados artistas contribuiu para o movimento artístico gerado pelos festivais feitos no Centro Português, em conjunto com a Secretaria Municipal de Cultura e outros órgãos de teatro amador, em que a Corporação Cênica alcançou a projeção merecida.


Evento promovido pelo Centro Folclórico Tricanas de Coimbra, nas instalações do clube
Foto enviada a Novo Milênio pelo historiador Waldir Rueda

O Teatro do Centro Português foi testemunha do crescimento da arte que se tornou a mais popular do século: o cinema que juntamente com esta entidade comemora neste ano (N.E.: 1995) o seu centenário. Desde os primórdios, no início do cinema mudo, o Salão Teatro contribuiu para a sua divulgação, realizando em suas dependências festivais de cinema, que marcaram a vida associativa desta Casa.

Neste ano do centenário, reavemos o nosso Teatro que esteve alugado desde 04 de dezembro de 1979 à Empresa Cinematográfica Haway Ltda. e Empresa Cinema de Santos, por mais de 15 anos, dando fim a uma ação judicial iniciada em 1989. O aluguel do teatro que na época foi a solução encontrada para as dificuldades financeiras em que a instituição se encontrava, deu fim a uma era cultural intensa que predominou na vida do Centro Português por longas décadas. O fato gerou uma série de problemas, chegando a decadência quando tornou-se um espaço para exibição de filmes de baixa categoria.

Portanto é motivo de júbilo para a família associada da nossa entidade a posse do Salão Teatro Júlio Dantas, ocorrida judicialmente em 11 de abril de 1994, mas com a entrega das chaves somente em 27 de janeiro de 1995 na presença do então presidente José Duarte de Almeida Alves e do diretor jurídico Dr. José Carlos Otero Quaresma.


Projetores abandonados pelos locatários, encontrados durante a restauração do cine-teatro
Foto: Centro Português

O corpo cênico do Centro Português foi destacado na revista santista A Fita, em sua edição nº 34, de 11 de dezembro de 1913:


"CORPORAÇÃO CÊNICA - No chão, da esquerda para a direita: - José Serra, Alberto Morgado, M. Praça (o Tambalalão), D. C. Silveira (o Pinóia), J. G. Loyo (o Cenas Fortes), Alberto Vieira, Annibal Barreiros (auxiliar do maquinista). Nas cadeiras: - A. Nunes (secretário da corporação), Monteiro Morgado (diretor cênico), senhoritas Maria Ignez, Arminda Serra, Rosalina Fernandes, Brigida Morgado, Alice Serra e sr. Alipio de Carvalho (arquivista). De pé: - Joaquim Moraes Sarmento, José de Jesus (ponto), Irineu Costa, Accacio Leite (o Cabeça de Gato), José Sartini (sócio honorário), F. Paéno (o tenor), A Côrte Real (o Pipa)"

Imagem: reprodução parcial da página de A Fita nº 34, de 11/12/1913.

Legenda original (ortografia atualizada nesta transcrição)

(exemplar no acervo da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio -SHEC)

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