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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - GREVE! - LIVROS
A Barcelona Brasileira (24)

Clique na imagem para voltar ao índiceEntre 1879 e 1927, Santos foi o centro de um dos três principais movimentos de reforma social no Brasil, tornando-se conhecida como a Barcelona Brasileira, em razão da chegada de grande contingente de imigrantes ibéricos, fortemente politizados, participantes ativos da corrente do anarco-sindicalismo. Santos tinha também uma imprensa engajada nas questões sindicais, com cerca de 120 jornais e revistas. Apesar disso, este período da história santista e brasileira foi muito pouco estudado.

Foi o que levou o jornalista e historiador Paulo Matos a produzir este material (que obteve o primeiro lugar do Concurso Estadual Faria Lima-Cepam/1986, da Secretaria de Estado do Interior de S. Paulo). Ampliado e revisado, para publicação em livro, tem agora sua edição pioneira em Novo Milênio:

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Santos Libertária!

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Imprensa e história da Barcelona Brasileira 1879-1927

PARTE II - A imprensa da Barcelona Brasileira

Capítulo V - (cont.) Imprensa operária em Santos/1879-1927- Análises:

 

[26] A Ação Operária - 1925

Sobre este jornal que circulava aos sábados, encontramos a informação em um único veículo [1], dizendo que era um órgão "feito por trabalhadores e para trabalhadores" e que "pugnava pela defesa dos interesses da classe operária", mas, como afirmava, "estava também à disposição de outras categorias profissionais, cujas reivindicações defendia com afinco, sobretudo as de natureza econômica em face do alto custo de vida".

[27] A Praça de Santos - 1925

Distante de ser um jornal operário, A Praça de Santos surge como um boletim de Rafael Correia de Oliveira [2], sob orientação de Antonio de Araujo Cunha. Circulou por mais de seis anos, prestando à praça informações comerciais e marítimas. Transformou-se em um jornal em 1926, circulando pela primeira vez em 1º de dezembro, tendo como redator principal Alberto G. de Assunção e redator-secretário A. Stokler de Araujo.

Com redação na Rua do Rosário nº 91/3, custava 200 réis o número avulso e 60$000 réis a assinatura anual, 120$000 para o exterior. Era um jornal tablóide e logo sua fundação passaria para a firma Graziano & Cia. até 23/11/1927, quando passa a ser controlado por Antonio Araujo Cunha e Rafael de Oliveira, chamado "contundente jornalista" [3].

Processado e condenado várias vezes por opiniões emitidas, nele trabalhou o jornalista esportivo Esmeraldo Tarquínio de Campos, sobre quem recaiu processo por ter colocado o nome de pulha ao presidente de um clube de nome Tulha. Além disso, o jornal "empreendeu e orientou vivas campanhas de natureza política" [4], tendo nele escrito o dirigente comunista João Freire de Oliveira e o dirigente Astrogildo Ferreira.

Que dá no jornal um impulso à coligação operária e a Freire, dizendo que "o candidato de um partido, uma vez eleito, estaria sujeito ao controle da organização partidária, só podendo ocupar-se da política impessoal da mesma na Câmara Municipal" [5].

Acrescentou que o representante operário, sempre em contato direto com a massa dos trabalhadores, estaria comprometido "a ir aos sindicatos e sociedades de resistência, a fim de debater os assuntos de interesse da classe em assembléias especialmente convocadas, e se faria presente no cais e em outros locais de trabalho para auscultar os interesses da população laboriosa" [6].

No que foi refutado pelos anarquistas, que disseram que para a intervenção operária na política burguesa surtir algum efeito, seria necessário que a ação dos representantes de classe estivesse "de acordo e subordinada à direção do bloco Operário e Camponês - BOC - e da vanguarda proletária consciente" [7].

[28] A Verdade - 1927

Encontramos referência sobre o jornal A Verdade, "órgão anarquista dos trabalhadores em hotéis e restaurantes de Santos", em 1927, através do livro de Dulles [8], tendo surgido no dia 1º de janeiro desse ano. Periódico quinzenal, que se declarava "libertário", foi editado com o objetivo de fazer oposição à chapa comunista na disputa das eleições do Centro Internacional, que representava a categoria desses trabalhadores, em 7 de fevereiro de 1927.

Nos dias que precederam as eleições, A Verdade informou que Bernardino M. do Valle, candidato da chapa comunista, "é um êmulo de João Freire de Oliveira, o qual em todas as iniciativas que lhes eram ou são confiadas têm sido sempre um fracasso", acrescentando que, ao contrário de Bernardino, o jornal não tinha uma linha telefônica de ligação direta com o RIo de Janeiro, "para se comunicar com aqueles que têm pouco ou nada a ver com a nossa vida associativa" [9].

Vitoriosa a chapa dos editores de A Verdade, o jornal aparece com menos assiduidade e se associa à campanha contra a "baixeza moral" e a "cretinice" dos diretores comunistas do Centro Cosmopolita. Estes havia perdido a confiança por sua "tentativa criminosa" de desviar verbas do patrimônio social, para beneficiar um pasquim em apuros financeiros, ou seja, A Nação [10] - que em lugar de instruir, "embrutecia os trabalhadores". "O empréstimo é para eles, ou melhor, para o Partido Comunista" [11].

Segundo Maran, os trabalhadores em hotéis, bares e restaurantes, em maioria portugueses e espanhóis, estavam à testa do movimento operário em sua fase mais ativa - entre 1917 e 1920 -, ao lado dos trabalhadores em construção civil, organizando greves e reunindo trabalhadores deslocados de seus sindicatos [12].


Notas:

[1] RODRIGUES, op. cit., p. 125.

[2] RODRIGUES, Olao. op. cit., p. 125.

[3] RODRIGUES, Olao. op. cit., p. 126.

[4] RODRIGUES, Olao. op. cit., p. 126

[5] A Praça de Santos, 30/1/1928, apud DULLES, op. cit., p. 291.

[6] A Praça de Santos, 30/1/1928, apud DULLES, op. cit., p. 291.

[7] O Internacional, 7, 127,  1/2/1928, apud DULLES, op. cit., p. 291.

[8] DULLES, op. cit., p. 262.

[9] A Verdade, I, nº 4, 24/2/1927, apud DULLES, op. cit., p. 262. Observa-se a disputa ideológica em curso nessa época entre a centralização proposta pelo PCB e o "confederacionismo" - a independência de cada entidade anarquista confederada - na luta sindicdal.

[10] A questão do jornal A Nação está descrita no episódio que analisa o jornal O Solidário, quando o PCB "adquire" o apoio de A Nação.

[11] A Verdade, I, nº 6, 1º de maio de 1927, apud DULLES, op. cit., p. 262.

[12] MARAN, op. cit., p. 19.