PARTE II - A imprensa da Barcelona
Brasileira
Capítulo V - (cont.) Imprensa operária em
Santos/1879-1927- Análises:
[26] A Ação Operária - 1925
Sobre este jornal que circulava aos sábados, encontramos a informação
em um único veículo [1],
dizendo que era um órgão "feito por trabalhadores e para trabalhadores" e que "pugnava pela defesa dos interesses da classe operária", mas, como
afirmava, "estava também à disposição de outras categorias profissionais, cujas reivindicações defendia com afinco, sobretudo as de natureza
econômica em face do alto custo de vida".
[27] A
Praça de Santos - 1925
Distante de ser um jornal operário, A Praça de Santos surge
como um boletim de Rafael Correia de Oliveira [2],
sob orientação de Antonio de Araujo Cunha. Circulou por mais de seis anos, prestando à praça informações comerciais e marítimas. Transformou-se em
um jornal em 1926, circulando pela primeira vez em 1º de dezembro, tendo como redator principal Alberto G. de Assunção e redator-secretário A.
Stokler de Araujo.
Com redação na Rua do Rosário nº 91/3, custava 200 réis o número
avulso e 60$000 réis a assinatura anual, 120$000 para o exterior. Era um jornal tablóide e logo sua fundação passaria para a firma Graziano & Cia.
até 23/11/1927, quando passa a ser controlado por Antonio Araujo Cunha e Rafael de Oliveira, chamado "contundente jornalista"
[3].
Processado e condenado várias vezes por opiniões emitidas, nele
trabalhou o jornalista esportivo Esmeraldo Tarquínio de Campos, sobre quem recaiu processo por ter colocado o nome de pulha ao presidente de
um clube de nome Tulha. Além disso, o jornal "empreendeu e orientou vivas campanhas de natureza política"
[4], tendo nele escrito
o dirigente comunista João Freire de Oliveira e o dirigente Astrogildo Ferreira.
Que dá no jornal um impulso à coligação operária e a Freire, dizendo
que "o candidato de um partido, uma vez eleito, estaria sujeito ao controle da organização partidária, só podendo ocupar-se da política impessoal da
mesma na Câmara Municipal" [5].
Acrescentou que o representante operário, sempre em contato direto
com a massa dos trabalhadores, estaria comprometido "a ir aos sindicatos e sociedades de resistência, a fim de debater os assuntos de interesse da
classe em assembléias especialmente convocadas, e se faria presente no cais e em outros locais de trabalho para auscultar os interesses da população
laboriosa" [6].
No que foi refutado pelos anarquistas, que disseram que para a
intervenção operária na política burguesa surtir algum efeito, seria necessário que a ação dos representantes de classe estivesse "de acordo e
subordinada à direção do bloco Operário e Camponês - BOC - e da vanguarda proletária consciente"
[7].
[28] A
Verdade - 1927
Encontramos referência sobre o jornal A Verdade, "órgão
anarquista dos trabalhadores em hotéis e restaurantes de Santos", em 1927, através do livro de Dulles
[8], tendo surgido no
dia 1º de janeiro desse ano. Periódico quinzenal, que se declarava "libertário", foi editado com o objetivo de fazer oposição à chapa comunista na
disputa das eleições do Centro Internacional, que representava a categoria desses trabalhadores, em 7 de fevereiro de 1927.
Nos dias que precederam as eleições, A Verdade informou que
Bernardino M. do Valle, candidato da chapa comunista, "é um êmulo de João Freire de Oliveira, o qual em todas as iniciativas que lhes eram ou são
confiadas têm sido sempre um fracasso", acrescentando que, ao contrário de Bernardino, o jornal não tinha uma linha telefônica de ligação direta com
o RIo de Janeiro, "para se comunicar com aqueles que têm pouco ou nada a ver com a nossa vida associativa"
[9].
Vitoriosa a chapa dos editores de A Verdade,
o jornal aparece com menos assiduidade e se associa à campanha contra a "baixeza moral" e a "cretinice" dos diretores comunistas do Centro
Cosmopolita. Estes havia perdido a confiança por sua "tentativa criminosa" de desviar verbas do patrimônio social, para beneficiar um pasquim em
apuros financeiros, ou seja, A Nação [10]
- que em lugar de instruir, "embrutecia os trabalhadores". "O empréstimo é para eles, ou melhor, para o Partido Comunista"
[11].
Segundo Maran, os trabalhadores em hotéis, bares e restaurantes, em
maioria portugueses e espanhóis, estavam à testa do movimento operário em sua fase mais ativa - entre 1917 e 1920 -, ao lado dos trabalhadores em
construção civil, organizando greves e reunindo trabalhadores deslocados de seus sindicatos
[12].
Notas:
[1]
RODRIGUES, op. cit., p. 125.
[2]
RODRIGUES, Olao. op. cit., p. 125.
[3]
RODRIGUES, Olao. op. cit., p. 126.
[4]
RODRIGUES, Olao. op. cit., p. 126
[5]
A Praça de Santos, 30/1/1928, apud DULLES, op. cit., p. 291.
[6]
A Praça de Santos, 30/1/1928, apud DULLES, op. cit., p. 291.
[7]
O Internacional, 7, 127, 1/2/1928, apud DULLES, op. cit., p. 291.
[8]
DULLES, op. cit., p. 262.
[9]
A Verdade, I, nº 4, 24/2/1927, apud DULLES, op. cit., p. 262. Observa-se a disputa ideológica em curso nessa época entre a centralização
proposta pelo PCB e o "confederacionismo" - a independência de cada entidade anarquista confederada - na luta sindicdal.
[10]
A questão do jornal A Nação está descrita no episódio que analisa o jornal O Solidário, quando o PCB "adquire" o apoio de A Nação.
[11]
A Verdade, I, nº 6, 1º de maio de 1927, apud DULLES, op. cit., p. 262.
[12]
MARAN, op. cit., p. 19. |