HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
GREVE!
Greve em 1980 (5)
No sábado, 22 de março de 1980, duas
palavras definiam a manchete do jornal santista A Tribuna:
Greve acabou
Vitória ficou dividida
Lágrimas e um minuto de silêncio foram os últimos atos que encerraram, ontem à noite, a
greve no Porto de Santos. O movimento foi esvaziado por três dos quatro sindicatos envolvidos, e os operários portuários, que se mantinham dispostos
a enfrentar todas as conseqüências, só desistiram após dramático apelo feito pelo presidente da classe, Nélson Batista, enquanto se constatava a
ausência de Arlindo Borges Pereira, o comandante da greve, e de outros dirigentes da Federação e da Confederação dos Portuários.
A luta foi por aumento geral de Cr$ 3.300,00, mas os sindicatos só conseguiram a
incorporação direta de Cr$ 1.062,47, que se eleva a cerca de Cr$ 1.700,00, se considerados os reflexos nos adicionais que caracterizam a atividade.
Os portuários elogiaram particularmente o empenho demonstrado pelo capitão dos Portos, Antônio Eduardo César de Andrade.
Por intermédio do seu superintendente-geral em Santos, José Menezes Berenguer, a CDS tentou
recuar ontem das negociações restabelecidas na quinta-feira, alegando que seguiria a determinação do TRT, e não aceitava a contra-proposta que os
trabalhadores teriam de fazer até o meio-dia. O capitão dos Portos intercedeu veementemente, inclusive com o apoio do ministro do Trabalho, e a CDS
foi obrigada a receber a contraproposta elaborada pelos líderes sindicais. A empresa queria, inclusive, baixar para Cr$ 15 milhões o montante a ser
distribuído aos funcionários, e prefixado no dia do acordo em pouco mais de Cr$ 21 milhões. Mas teve, também, de manter a cifra original.
Precariamente, as operações no Porto de Santos foram reiniciadas ontem cedo, com pessoal
contratado em caráter de emergência pela Companhia Docas. O trabalho, entretanto - restrito a poucos navios - revela baixo índice de produtividade,
pois os novos elementos não se encontravam habilitados para as tarefas do cais. Não houve qualquer incidente na faixa portuária, que permaneceu
guardada por fuzileiros navais e outras forças de segurança, inclusive da polícia civil. Segundo informações da Superintendência de Tráfego da CDS,
32 navios estão atracados, enquanto 27 continuam ao largo, à espera de vaga. Diversas embarcações são aguardadas neste fim de semana, o que deve
provocar congestionamento, até que os serviços fiquem normalizados.
Café poderá ser embarcado com rapidez
Os exportadores de Santos têm um esquema para embarque de café, que poderá normalizar as
operações no prazo de duas semanas, logo que termine a greve do porto. O IBC alugaria um armazém da Docas na faixa do cais, para receber o produto
destinado a navios não atracados, mas programados, em operação simultânea aos embarques normais nas embarcações atracadas. Desde que depositado no
referido armazém, o café seria considerado embarcado. Com franca disponibilidade do produto, os embarques teriam ritmo ininterrupto. O presidente do
IBC ouviu a sugestão e deu sua aprovação inicial.
Nélson Batista (com as mãos no rosto) pediu o fim do movimento de forma dramática...
Foto publicada no jornal santista A Tribuna em 22/3/1980
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Títulos do noticiário de 22 de março de 1980, em A Tribuna:
"Apelo dramático
encerra a greve" ("Pelo amor de Deus, voltem ao trabalho. Nossos amigos correram e vamos tirar o nosso time de campo", foi o apelo feito às 21h50 do dia
21 por Nélson Batista, presidente do Sindicato dos Operários nos Serviços Portuários. Ele se referia à atitude evasiva dos guindasteiros, condutores de
veículos e empregados na Administração dos Serviços Portuários, e à decisão dos fiéis de armazéns e dos encarregados de navios, pela volta ao trabalho.
Assim, a proposta aprovada foi quase a mesma recusada até então sistematicamente pelos quatro sindicatos em greve).
"Uma atuação
decisiva" (a interferência do capitão dos Portos foi decisiva para que continuassem as negociações entre os portuários e a CDS, que tentou recuar em
suas propostas e ficar com a decisão do Tribunal Regional do Trabalho, mais favorável à empresa, sendo contida pela ação do comandante Cezar de
Andrade).
"300 são
contratados" (a CDS iniciou a contratação de portuários, encontrando forte demanda pelos empregos oferecidos).
"Preocupação no
PDS" (o prefeito e os vereadores do Partido Democrático Social acusaram o prejuízo causado pela greve ao prestígio do partido do governo, antes mesmo
que seu diretório municipal começasse a funcionar em Santos).
"Atenção do
exterior" (correspondentes de jornais estrangeiros intensificaram seus contatos com a redação de A Tribuna, buscando informações sobre a greve).
"Diversas
entidades apoiaram o movimento" (estudantes, políticos, sindicatos, religiosos, entre outros, manifestaram seu apoio à greve).
"Café no Santa
Cruz" (doqueiros recém-contratados iniciaram seu trabalho junto a esse navio, apesar de sua inexperiência nas lides do cais).
"Os vagões da
Refesa" (empresa ferroviária realizou no dia 21 nova operação, transportando 11 vagões com sal, do Valongo até o terminal salineiro do Armazém 23, junto
com dez vagões vazios. O percurso demorou cerca de três horas, pois foi necessário remover vários vagões que se encontravam parados nos trilhos).
...e os operários portuários atenderam,
para em seguida manterem um minuto de silêncio pelo desfecho da greve
Publicada no jornal santista A Tribuna em 22/3/1980
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