O Gnomon
Gnômon é o nome grego do relógio de sol: todas as cidades importantes possuem gnômones ou
quadrantes solares. O gnômon é um instrumento de que os povos antigos se serviam (caldeus, chins, egipcianos) para deduzir as horas do dia, pela
extensão da sombra de um estilete, tendo-se em vista a altura do sol sobre o horizonte. São notáveis os gnômones de Bolonha e o de Paris.
Gnomônica é a arte de construir quadrantes solares ou lunares. Hoje, com o auxílio do
teodolito, instrumento de geodésica e de astronomia, é possível construí-los com absoluta exatidão. No relógio de sol as horas são determinadas por
uma série de pontos ou linhas, que a sombra de um estilete percorre sobre um plano horizontal à proporção que o sol sobe ou declina pelo movimento
de rotação da terra. Para a exatidão das horas no relógio de sol os técnicos modernos servem-se do teodolito.
O relógio de sol aparentemente muito simples mantém relações técnicas com as coordenadas
geográficas, com os solstícios austrais e boreais, e, ainda, com a altura do sol no zênite. Devido a este conjunto de observações o gnômon santista
demorou a ser regulado; apresentava a diferença de 1/4 de hora das 6 para as 18 horas do dia. As observações são feitas durante certo tempo com dias
claros e ensolarados.
O relógio de sol de Santos foi idealização sábia e bela do Dr. Antônio Gomide Ribeiro dos
Santos quando à frente da Administração da cidade [N.E.: de 1º/7/1941 a 31/8/1945].
Entregou a execução da obra ao oficial pedreiro da Prefeitura, sob a orientação técnica do senhor Dr. Dalberto de Moura Ribeiro. O gnômon santista
foi planificado nos jardins do Boqueirão, entre a Pérgola e a estátua de Vicente de Carvalho.
O gnômon foi projetado pelo Dr. Dalberto de Moura Ribeiro, especialista e apaixonado deste
assunto, cujos conhecedores são raros nos dias que decorrem. Os cálculos zenitais foram feitos com teodolito. As diferenças horárias foram
retificadas pelo Dr. Valdomiro Loebb, que marcou a direção da seta, baseado nas coordenadas de Santos, cuja principal é paralela à Avenida Dona Ana
Costa. A primitiva seta de latão puro foi subtraída, consta que recuperada mais tarde; outras colocadas posteriormente foram, também, mutiladas.
O quadrante repousa num canteiro elevado e é de belo efeito. Quatro esferas indicam os
pontos cardeais. A rosa-dos-ventos está representada por 16 raios, sendo os menores representativos dos rumos intermediários e colaterais. Tudo
desenhado em mosaico preto e rosa. O mostrador assenta em granitina branca. N.S.L.O. [N.E.: os pontos cardeais Norte,
Sul, Leste e Oeste] eram indicados por letras verticais apoiadas nas quatro esferas; reparos apressados achataram os
caracteres sobre as esferas, o que lhe tirou a primitiva graça. Era um detalhe estético.
Partindo de uma horizontal norte-sul, aflora uma radiação metálica. Conforme a extensão dos
raios, lemos a hora, a meia hora e os quartos de hora. O gnomon está regulado das 6 para as 18 horas do dia, da direita para a esquerda do
observador.
A primitiva seta tinha formato especial: agora um triângulo escaleno de metal servia de
estilete; essa peça, muito importante para o cálculo gnomônico, também foi mutilada.
As coordenadas da cidade rematam o desenho do mostrador:
Latitude - 23º 56' S
Longitude 3º 10' - RJ.
[N.E.: trata-se da coordenada de longitude relativa à posição da então capital federal, Rio
de Janeiro, que se localiza a 23º 0' Sul 43º 12' Oeste. Santos se situa no meridiano 46º 22' Oeste, em relação ao meridiano de Greenwich]
A restauração deste ornamento se faz necessária, com medidas acauteladoras de futuras
mutilações; um gradil protetor poderia ser estudado.
O relógio de sol é um complemento artístico da remodelação dos jardins a beira-mar. Da época
são também a Estátua do Atleta Náutico Santista, as Esferas Armilares que encimavam as colunas da rampa junto do Padrão Henriquino (não conservadas)
e o balaustrado formando o belo gradeamento que brosla [N.E.: = orna, guarnece] grande
parte da Avenida Almirante Saldanha da Gama. São obras da administração do Prefeito Antônio Gomide Ribeiro dos Santos e que evidenciam a sua imensa
santistidade*.
(*) Neologismo de Mariano Gomes.
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