Pedem outro nome para a foca
Apesar a decisão do alcaide nomeado Antonio Manoel de Carvalho, de decretar o batismo da foca à revelia de popular concurso promovido por este
jornal e pelo Aquário Municipal, inúmeras crianças e mesmo adultos continuam enviando cartas para o concurso Escolha o Nome da Foca, na agora
frustrada esperança de batizarem a mais nova atração do Aquário, uma foca-macho capturada junto ao pier de atracação da Indústria Dow
Química, em Guarujá, e doada ao Aquário Municipal da Ponta da Praia, onde foi colocada em um tanque ao ar livre, junto com um leão-marinho, Macaé,
e também três tartarugas-gigantes.
Inúmeras cartas chegam diariamente à rua do Comércio, 32, onde se localiza a redação
do Cidade de Santos, com sugestões de nomes para o mamífero, apesar de o prefeito municipal ter decretado na segunda-feira à tarde, em
reunião com a imprensa em seu gabinete, que a foca doada à cidade fosse denominada Farofeiro. Na oportunidade, disse ele que "não tem nada
desse troço de concurso. É Farofeiro e acabou. Está decidido e pronto!"
Mas o povo santista não concordou com a decisão de seu burgomestre nomeado, de nomear
a foca à revelia de uma eleição popular, que já contava com a participação não só de santistas, principalmente crianças, mas também de pessoas de
Cubatão, Guarujá e São Paulo. E as novas cartas vêm também de São Vicente e de Cubatão. São elas:
Flipper - "seria um nome ideal por ser um nome de um
personagem de um filme" (Leonardo Laudelino da Silva Filho - Vila Cascatinha - São Vicente);
Pichinguinha - "homenageando e lembrando um grande
pistonista" (Valter da Silva - 11 anos de idade - Vila Nossa Senhora de Fátima - São Vicente);
Guarú - porque "quem pronunciasse, saberia que o mamífero
fora encontrado em Guarujá" (Alex Farah - Cubatão);
Idiamim Dada - "por ser feio e gordo" (Karina Mayr de
Carvalho);
Pó-pó - "um rapaz que trabalhou em meu serviço, por ser
gordo, tinha esse apelido" (Roberto da Silva);
Odorico - "O Bem Amado" (Elsie Elisabeth Swan);
Brasileirinho - "gostaria muito que o foquinha se
chamasse Brasileirinho, pois se veio de tão longe para o nosso país, vamos batizá-lo assim para que se sinta um de nós" (Fátima Chaves);
Zezinho - "o motivo é simples, todas as crianças adoram
bichos que têm nomes de pessoas, e como atração no Aquário, principalmente para elas, seria um bom nome. Quem não irá ao Aquário para ver o foquinho
Zézinho? Até eu" (Nerges Souza Chaves);
Rosemary Pascual, de 18 anos, sugere: Sputnik I
- "nome de um satélite famoso"; Cascão - "a foca adora água e o Cascão - personagem
das revistas em quadrinhos - detesta água (que contraste, não?); a terceira sugestão é Sexta-Feira
- "nome do índio que foi encontrado por Robinson Crusoé!". Já Rosana Pascual, de 11 anos, sugere dois nomes: Pluft
- "porque quando ele cai na água faz pluft"; e Atchin - "porque ele espirra".
Franky de Souza sugere três nomes complicados: Otaridae
- "mamal"; Phocidae - mesmo motivo; e um nome composto,
Mamaliferousbraz - "mamal/braz (Brasil)".
Outro nome, sugerido pelos jornalistas do Cidade de Santos, seria uma homenagem
a Mauro Gilbran Lima, um dos principais personagens da história da captura da foca, hoje divulgada.
A posição do jornal - Por ter o prefeito Antonio Manoel de Carvalho decidido
frustrar o público santista, decretando o fim do concurso para a eleição do nome da foca - resolvendo passar a chamar o mamífero de Farofeiro -,
o Cidade de Santos resolveu ontem cancelar o concurso Escolha o Nome da Foca, que vinha promovendo em conjunto com o Aquário
Municipal. Entretanto, as inúmeras cartas e telefonemas que continuam chegando a esta redação nos incentivam a promover a escolha de um nome
popular, além do oficial escolhido pelo prefeito.
Dessa forma, todos os nomes que chegarem a esta redação até o dia 15 de julho
participarão de um julgamento a ser procedido por especialistas no setor de pesca e zoologia, entre outros membros de uma comissão a ser ainda
organizada. O nome escolhido passará a ser adotado pelo jornal, figurando juntamente com o nome oficial em todas as matérias em que for lembrado o
nome do mamífero.
Mauro Gilran de Lima
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Eólio Carlos, da Dow Química
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A história da captura - Segundo o relato de seus personagens, a história da
foca começou por volta de 14 horas do dia 5 de julho, no mar em frente ao pier de atracação da Indústria Dow Química em Guarujá.
Mauro Gilbran Lima, 21 anos, "bagrinho" da estiva, no porto de Santos, nascido e
morador em Guarujá (Rua Santo Antonio, 17, Conceiçãozinha) está no Hospital Santo Amaro, em Guarujá, onde foi encontrado pela reportagem do
Cidade de Santos - havia sido mordido por uma cobra venenosa, ao capturar a foca, e ainda ficará pelo menos mais uma semana no hospital até
melhorar do ferimento produzido possivelmente por uma jararaca. Os médicos dizem que ele está melhorando, e a perna esquerda já desinchou, embora no
local da picada - logo abaixo do joelho - esteja infeccionando, o que poderá ser causa de uma operação de drenagem.
É Mauro Gilbran quem conta a primeira parte da história: "Estava tomando um banho na
praia, numa prainha que tem lá junto à Dow Química. Daí eu vi que todo mundo olhava para um negócio no mar, e fomos lá, eu e Tapió, cujo nome
eu não sei direito, me parece que é Quininim. Apareceu uma embarcação de um rapaz, António Henrique de Oliveira, meu conhecido, que emprestou o
barco e fomos lá ver o bicho, que estava no mar. Daí chegamos lá, era uma foca. Pegamos um cabo e começamos a passar no pescoço dela, com cuidado
para não arrebentar o cabo, que ela era muito forte. A foca não queria ir para a água, sempre subia para a terra, a gente tentava puxá-la para a
água pensando que se fosse para a terra poderia vir a morrer, mas ela não queria. Daí trouxemos para a terra e ela ficou ali até o anoitecer."
Gilbran continua o relato: "Apareceu todo mundo e ajudou a pegar. Depois que veio para
a terra passamos um cabo e deixamos a foca amarrada num tronco de árvore. No mesmo dia à base de umas 6 horas, ao anoitecer, a turma se retirou e eu
fiquei lá tomando conta dela. Depois chegaram funcionários do Aquário, de Santos. Foi nessa hora que eu levei a picada, ao escurecer, umas 18 horas.
Foi quando eu subi num barranco para jogar um laço na cabeça da foca, porque ela era muito brava e mordia, não se podia chegar perto dela. A gente
estava segurando ela, cada um de um lado, com um laço, para o bicho não se movimentar. Era eu e o Tapió.
"Quando subi no barranco, não deu nem para ver a cobra, quando eu senti falei para o
funcionário da Prefeitura de Santos, e me colocaram num carro, me trouxeram para o Pronto-Socorro Ana Costa, em Guarujá. Nessa hora eu me senti mal,
a perna começou a inchar, não vi mais nada. Do Pronto-Socorro me trouxeram para o Hospital Santo Amaro, onde estou. Não sabia ainda que tinham
batizado a foca, e não daria o nome de Farofeiro a ela. Achei legal o concurso para escolher o nome, e acho que se fosse eu a escolher
batizaria de Escupira, o Monstro Marinho, porque esse é o nome de um peixe que tem no mar aí fora, os pescadores sempre contam que é muito
bravo, como a foca".
A segunda parte da história é contada pelos funcionários da Dow Química que
participaram da captura: Rogério Maduro da Rocha; Francisco Antonio dos Santos Lima; outro Francisco, da empreiteira Edgar, que trabalha para a Dow;
Ricardo Arias, engenheiro, que telefonou pela primeira vez ao Aquário de Santos; Pedro Luiz Alves, supervisor, que telefonou mais três vezes.
Francisco Antonio conta que "um barqueiro nos avisou - Tem uma foca no mar, indo para
a praia -. Aí fomos lá, no local que chamam de Prainha, e o barqueiro foi embora. Jogamos o laço na hora em que ela veio para a areia, veio o
Rogério, jogou o laço, ela então ficou presa. Fomos eu, o outro Francisco e o Rogério que seguramos o bicho na praia, enquanto os outros
telefonavam. O cara que foi mordido depois pela cobra (Gilbran) chegou junto com o colega barqueiro (Antonio Henrique de Oliveira), remando o barco.
Ele emprestou um cabo, amarramos a nadadeira, e ele ficou segurando o cabo. Amarramos então o cabo no tronco de árvore. O Francisco deu um nó de
porco no laço que prendia a nadadeira e quanto mais ela puxava, ficava mais presa."
Eólio Carlos, operador da Dow Química, conta também que horas depois chegou o pessoal
do Aquário, munido apenas de um picaré - rede grande - e não conseguiram pegar o bicho. No dia seguinte retornaram com um caminhão e três
redes, quando foi amarrado o bicho. Durante o período da captura até o recolhimento, a foca ficou amarrada junto ao paredão. Estava muito feroz, e o
pessoal ajudou inclusive com máquinas para colocá-la na camionete do Aquário. Ele mesmo pegou uma empilhadeira e com ela levantou o estrado onde o
animal fora colocado amarrado, colocando a carga no veículo do Aquário. Eólio Carlos sugere o nome de Chiquinho
para a foca, por terem dois Franciscos participado de sua captura, e condena a atitude adotada pelo prefeito.
Juntamente com os companheiros, lembra que a foca foi doada ao Aquário de Santos, mas
se soubessem que o prefeito iria agir daquela forma, batizando a foca com nome de tal mau-gosto, teriam doado o animal ao Oceanorium de São Vicente,
ou a outra entidade onde fosse bem tratado: "Farofeiro não é nome que condiz com a foca, e são os próprios farofeiros que vão pagar para ver o bicho
no Aquário. Em vez de a Prefeitura agradecer a doação, a ajuda que a Dow Química deu, vem fazer uma coisa dessas. O concurso era muito bom, o
prefeito de Santos não devia ter feito isso".
O administrador do Aquário, Arnaldo de Oliveira, termina a história, dizendo ter ido
ao local recolher a foca, após receber os telefonemas. A foca continua se restabelecendo, se ambientando ao Aquário, já está curada do corte na boca
e começou a comer há alguns dias. |