Charge do cartunista Seri
Falha da Telesp resulta em quebra de privacidade
Problema provocou o vazamento de telefonema, que foi reproduzido por emissoras de
rádio. Assinante agora quer mover ação contra a Telesp
Da Editoria Local
O sigilo nas conversas telefônicas, garantido pela
Constituição Federal, foi quebrado, por falha no sistema da Telesp, sexta-feira à noite, na Rua Marcílio Dias, 40, loja 40. Magali Ozimo da Silva,
de 35 anos (que possui loja nesse endereço), teve sua conversa com o marido, que está em Toronto, no Canadá, transmitida por emissoras de rádio.
Resultado: várias pessoas ouviram o diálogo do casal.
A escuta aconteceu por volta das 19h30, durante o programa radiofônico A Voz do Brasil,
produzido pela Radiobrás e transmitido, obrigatoriamente, pelas emissoras de todo o País. Como o telefone comercial (alugado da Telesp) tinha sido
ligado naquele mesmo dia, ela só ficou sabendo da invasão de privacidade porque quando falava com o marido lhe passou o número do novo aparelho e,
mais tarde, recebeu uma ligação de uma pessoa que ouviu pelo rádio, quando ela deu o número do telefone.
A situação, entende a comerciante, é mais grave a partir do momento em que se trata de um
telefone comum, diferente dos sem fio (que funcionam por onda de rádio, portanto, fácil de captar pelo rádio) e dos celulares.
"Conversamos aproximadamente por dez minutos. Quando desliguei, um rapaz me ligou e disse
que tinha ouvido a conversa na Rádio Jovem Pan FM, prefixo 95,3. Em seguida ligou uma repórter que, por sua vez, havia escutado a minha conversa com
o rapaz. Mais tarde, ligou outro homem dizendo que escutou a conversa na Serra do Mar FM (103,7). E assim foi, sucessivamente, com umas seis
pessoas, até gente do pólo industrial de Cubatão".
De acordo com Magali Silva, todos os ouvintes que telefonaram se
mostraram indignados com o problema. Um deles, segundo ela, gravou parte de uma das conversas e lhe entregou a fita.
Magali: "irresponsabilidade"
Foto: Walter Mello, jornal A Tribuna
Desculpas
- "Fiquei sabendo apenas porque dei o número do telefone. Isso já deve ter ocorrido várias vezes, mas como não foi dito o número, ninguém telefonou
para a vítima para contar".
Ontem pela manhã ela disse ter sido procurada por um técnico e uma advogada da Telesp. "Eles
disseram que isso nunca havia acontecido e pediram desculpas. O problema teria sido causado pelo fato de o fio do telefone estar encostado no fio de
uma emissora de rádio. Como, se a caixa do meu prédio fica de um lado da rua e o da rádio do outro?".
De acordo com Magali, já no dia em que o telefone foi instalado (sexta-feira pela manhã)
algo de anormal estava acontecendo com o aparelho. "As ligações que eu recebia eram muito baixas. Liguei umas quatro vezes para o 103 e o 104,
pedindo conserto, mas não fui atendida. À noite, porém, quando liguei para o meu marido, no Canadá, o som estava perfeito. Só não imaginava que a
conversa fosse ser ouvida pelo rádio".
Agora, o advogado de Magali vai entrar com ação contra a Telesp, por danos morais. "Não
falei nada de mais com o meu marido. Mas, como trabalho com computadores, poderia ter passado informações importantes. E mesmo que só falasse
amenidades, o direito de privacidade deve ser preservado. É muita falta de responsabilidade da Telesp". A direção da Telesp, procurada ontem várias
vezes, não se pronunciou.
Para radialista, caso é "impressionante"
"Impressionante!" Desta forma se expressou o coordenador da Rádio Jovem Pan, Marcelo Petito,
sobre o episódio que envolveu a comerciante Magali Ozimo da Silva. Ele assegura que nos seus 18 anos trabalhando com rádio é o primeiro caso deste
tipo de que tem conhecimento.
Petito explica que no horário em que aconteceu o vazamento da conversa, a
retransmissora regional da programação da Jovem Pan estava desligada para liberar a entrada do sinal do satélite, que passa a programação de São
Paulo. Esse satélite, de acordo com ele, conta com filtros e bloqueadores para evitar que a programação da emissora entre em outras freqüências da
região.
O radialista esclarece ainda que o operador não poderia ter interferido para tentar
interromper a conversa (com a redução do volume), pois o áudio também estava bloqueado. |