Imagem: reprodução da matéria original publicada na quinta-feira, 16 de abril de 1908, na página 4 de
O Estado de São Paulo, pelo jornalista Mario Cardim
Quinta-feira, 16 de abril de 1908 - página 4
AUTOMOBILISMO
REIDE S. PAULO - SANTOS
Decididamente a ousada
iniciativa do conde Lesdain, realizando o dificílimo reide automobilístico Rio-S. Paulo, tem produzido e continuará a produzir benéficos resultados
para o desenvolvimento do esporte do automóvel, entre nós.
Além de terem constituído essas provas esportivas realizadas pelo conde Lesdain
incentivo para que as nossas municipalidades e governos estaduais promovam o melhoramento das estradas de rodagem que cortam o país em todos os
sentidos, têm, também, servido para por em emulação os que aqui cultivam o automobilismo e fazê-los tomar a iniciativa da realização de provas,
concursos, reides etc., que consideravelmente hão de concorrer para maior crescimento desse esporte.
Assim é que depois da chegada aqui do sr. conde Lesdain vários sportsmen desta
capital resolveram realizar o reide S. Paulo-Santos, o que farão hoje, partindo desta capital às cinco horas da manhã com aquele destino em
companhia do conde Lesdain.
Além deste distinto sportsman seguirão mais as seguintes pessoas: dr. Paulo
Prado, dr. Clovis Glicerio, Antonio Prado Júnior, Bento Canavarro, Mario Cardim, do Estado e mais quatro mecânicos.
Os automóveis que tomarão parte nessa prova são os seguintes: Motoblocs,
Sizaire et Naudius e Brasier.
Se os caminhos estiverem em boas condições, os excursionistas pretendem chegar a
Santos ao anoitecer de hoje.
Caso contrário dormirão em barracas para chegarem à cidade depois de amanhã.
O Estado informará aos seus leitores, pelo telégrafo, de todas as peripécias da
interessante excursão.
Fotos: "O REIDE RIO-S. PAULO - O conde Lesdain e sua máquina Brasier, no Parque Antarctica"
Imagens: reprodução da matéria original
publicada na quinta-feira, 16 de abril de 1908, na página 4 de O Estado de São Paulo, pelo jornalista Mario Cardim
Domingo, 19 de abril de 1908 - página 2
AUTOMOBILISMO
REIDE S. PAULO - SANTOS
O nosso meio esportivo,
que ainda há dias registrou o ousado recorde realizado pelo conde Lesdain, com a sua viagem do Rio de Janeiro a S. Paulo, tem a assinalar mais uma
prova automobilística, que intrepidamente levaram a cabo alguns dos nossos mais conhecidos sportsmen.
Conforme nossa notícia de há dias, os srs. drs. Paulo Prado, Clovis Glicerio, Antonio
Prado Junior, coronel Bento Canavarro, Mario Cardim e mais dois auxiliares mecânicos, partiram quinta-feira desta capital em dois automóveis (um
Motobloc e um Sizaire et Naudius) com destino a Santos.
Quem conhece as condições das nossas estradas de rodagem e a natureza dos caminhos que
volteiam a Serra de Santos, pode bem avaliar quanto representara de ousadia a tentativa desses sportsmen e, conseguintemente, quanto lhes
custou, em esforços de toda a ordem, concluir esse tour de force que ficará memorável para a nossa vida esportiva.
Não nos é possível fazermos hoje, por completo, a descrição da travessia realizada
pelos automobilistas. Todavia daremos, a seguir, um resumo dos principais fatos dessa ousada viagem.
Os carros acima mencionados partiram de S. Paulo às 5 horas e meia de quinta-feira,
tomando o rumo de Santos pela Vila Mariana.
Passaram por S. Bernardo às 7 horas e 15 minutos e por Ponte Alta às 7,55, chegando ao
Rio Grande às 9e 40 com estradas mais ou menos ruins.
Daí até o local denominado Carreira a viagem se passou sem ocorrência digna de
nota. Da Carreira, porém, só à custa de uma hora e meia de trabalho, conseguiram safar os automóveis de um enorme atoleiro que foi todo
estivado, chegando a Água Comprida às 12 horas e 45 minutos.
Depois de mais quarenta e cinco minutos de viagem, os excursionistas caíram... na
Sepultura, atoleiro de mais de 80 centímetros de profundidade; felizmente conseguiram todos ressuscitar.. isto é, transpor esse formidável
obstáculo, trabalhando mais de quatro horas para estivar aquele trecho do terreno.
Às 6 horas da noite, enfim, chegaram os dois carros a Sanzalá
(N.E.: Zanzalá), transpondo um terreno alagado de
mais de metro e meio de profundidade.
Foi então necessário procurar uma pousada, e que foi oferecida aos excursionistas por
uns bondosos polacos, residentes a um quilômetro daquele lugar.
Às 5 horas e meia da manhã estavam todos a postos para continuação da viagem.
Apenas 200 metros de caminho foram percorridos, pois no local que o coronel Bento
Canavarro apelidou de Fundão, novos atoleiros e valas foram encontrados, exigindo, para serem transpostos, mais de duas horas de trabalho.
Felizmente, depois, os touristes ganharam um trecho de boa estrada macadamizada,
chegando ao Rio das Pedras às 9 horas e quinze minutos.
Às 11 horas da manhã foi atingido o Alto da Serra, a parte mais perigosa e acidentada
da viagem feita. Para calcular quanto obstáculo foi vencido, basta lembrarmos que só para a remoção de uma pedra os viajantes gastaram mais de três
horas para preparar o terreno convenientemente.
Em suma, às 5 horas e meia da tarde entravam todos em
Cubatão, prosseguindo incontinente para Santos, onde chegaram às 7 horas da noite.
- O conde Lesdain deixou de seguir em companhia dos sportsmen acima mencionados
por não ter podido remontar a sua Brasier, que estava sendo preparada para nova excursão. O dr. Paulo Prado, por necessitar estar em S. Paulo
anteontem, foi obrigado a confiar a condução da sua Sizaire ao chofer, descendo a serra a pé.
REIDE S. PAULO-MOGY
C. R. TIETÊ
(N.E.: Clube de Regatas Tietê)
Estes últimos dias foram os dias dos recordes. Uma outra destemida excursão foi
realizada pelo Rio Tietê na lancha Catita, tripulada pelos srs. João Moreira, Alfredo Carneiro, Carlos Sardinha e o mecânico Remelli.
Imagem: reprodução da matéria original publicada no domingo, 19 de abril de 1908, na página 2 de O
Estado de São Paulo, pelo jornalista Mario Cardim
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