Na última hora, a casa foi adaptada para escola
Construção de escola, apenas uma promessa
Estudar é um direito de toda criança. Mas há três anos, para freqüentar
escola, as crianças de Caruara tinham que se deslocar até Guarujá. Conclusão: muitas nem começavam a estudar
e outras tantas desistiam diante das dificuldades, tais como atravessar o Canal de Bertioga sob chuva e frio.
Vai daí que os moradores se uniram e começaram a reivindicar uma escola. A Prefeitura não pôde mais se omitir e
instalou uma turma de 1ª série do 1º grau, em 1981, num imóvel cedido gratuitamente e a título provisório pelo morador Antônio Serrasqueiro. Só
que o provisório durou exatamente dois anos, sem que o prefeito Paulo Gomes Barbosa cumprisse a promessa de construir uma escola na Praça das
Palmeiras.
Por causa dessa promessa não cumprida, este ano as crianças correram novamente o risco de ficar sem escola.
Antônio Serrasqueiro resolveu cobrar aluguel de Cr$ 25 mil mensais pelo uso do seu imóvel e a Prefeitura alegou que não poderia pagar essa
quantia. Sem outra alternativa, o pessoal se mobilizou para solucionar o problema, e gente muito simples puxou dinheiro do bolso para ajudar. Mas,
os acertos com o proprietário do imóvel não ocorreram em tempo hábil. Resultado: às vésperas do início de mais um período letivo, houve um
verdadeiro corre-corre em busca de outro local para a escola.
Mais uma vez, adotou-se uma medida de emergência: os casais Oswaldo e Atenéia e Marilene e Manoel ofereceram uma
casa desocupada. E, para a casa virar escola em apenas uma semana, novos atropelos: Oswaldo Cerquetani entrou com o dinheiro necessário para as
reformas e a Prefeitura forneceu a mão-de-obra.
A mudança da escola da rua principal de Caruara (Alonso Soares) para essa casa gerou muito descontentamento:
para chegar até o novo local, as crianças terão que caminhar cerca de dois quilômetros por uma picada e atravessar uma precária ponte de madeira,
sustentada por dois troncos e prestes a desabar. São mais de 100 menores nessa situação.
Completo esquecimento - Esse caso da construção de uma escola, que nunca passou de promessa, reflete o
abandono a que a população de Caruara está relegada. A Prefeitura faz o mínimo pela comunidade: fornece médico duas vezes por semana e uma
enfermeira, uma vez por semana, para levar as crianças ao dentista.
Até os serviços de conservação de ruas, caminhos e pontes ficam por conta dos moradores. Mas há questões mais
graves, que eles não conseguem solucionar. Por exemplo: quando a maré sobe ou chove muito, um trecho da Avenida Alonso Soares, junto ao Canal de
Bertioga, fica completamente alagado. Quem precisa atravessar para o Guarujá ou vem de lá, não encontra outra alternativa senão mergulhar
na água empoçada. Por esse motivo, a população já ficou sem médico e as crianças sem aula: quem vem de fora não se submete a tanto sacrifício.
Outra grande reclamação do pessoal é que Caruara continua sem água encanada e sem luz elétrica. Ninguém se
conforma com o fato de Caruara fazer parte de uma Cidade do porte de Santos e não dispor dessas melhorias.
Segundo afirmam Joaquim Rodrigues Garcia e José Januário, não adianta abrir poço em
Caruara que só sai água salobra. Resta como alternativa buscar água no Rio Macuco ou na Cachoeira do Caruara. Mas essa história também tem um
porém: a qualidade da água não é muito confiável, porque muita gente de fora costuma fazer trabalhos por aqueles lados e lança animais
sacrificados - alguns de grande porte, como os carneiros - no rio.
A falta de energia elétrica gera outros inconvenientes: não bastasse a impossibilidade de se ter geladeira e
ferro elétrico dentro de casa, os lampiões a querosene e as lamparinas expelem uma fumaça que acaba com a saúde de qualquer um.
Quanto ao transporte, a comunidade se vale das linhas de ônibus que servem Guarujá; só que, para chegar até o
Guarujá, os moradores utilizam lanchas particulares, que funcionam apenas entre 6h30 e 19h30. Para quem não dispõe de barco, a travessia depois
desse horário permanece na dependência de favores.
Elogios? - Apesar de todos os problemas que Caruara vive no seu dia-a-dia, o morador Joaquim Rodrigues
Garcia pede que seja citada a ajuda que o prefeito vem dando ao lugar. Ao mesmo tempo em que diz isso, deixa a entender a intenção de garantir um
elogio para não ver Caruara sofrer alguma vingança, e ficar mais esquecida ainda. É como afirma o ditado popular: "Melhor prevenir, do que
remediar"...
O mato cresce porque a Prefeitura não faz manutenção
Famílias à espera de indenização há nove anos
Proprietários que tiveram suas terras cortadas pela
BR-101 até hoje não receberam indenização do Governo. Pelo menos, é isso que denuncia Odette Athayde Pires dos Santos, cujo pai possuía
terrenos em Caruara.
Segundo conta, em meados de 1963 seu pai comprou um sítio, com área total de 1.575 metros quadrados, sublotes 7,
8, 9, 10, 11 e 12 da chácara 54, loteamento Vila Portuária (Chácara Caruara), no quilômetro 55 da localidade. Lá construiu uma casa de tijolo, com
laje - "única nas redondezas, pois as outras eram de madeira" - e plantou legumes, verduras, cana-de-açúcar, sem contar as goiabeiras, os
cajueiros e outras árvores frutíferas.
"Era o paraíso, com seu ar puro, cachoeiras cristalinas, animais e pássaros e até índios", comenta Odete
Athayde, lembrando que um dia o pai recebeu a notificação de que iria passar a estrada BR-101, de ponta a ponta do
terreno, e a área precisava ser desocupada imediatamente.
"Meu pai construiu às pressas um barracão e colocou todos os nossos utensílios dentro, pois eles não queriam nos
dar um prazo. Foi tudo muito rápido e os tratores começaram a destruir tudo, até os nossos sonhos", enfatiza a mulher, acrescentando que, logo
após a abertura da estrada, em 1974, seu pai faleceu de desgosto. Na época, a questão da indenização já estava nas mãos de um advogado e até hoje,
passados quase nove anos, a família não recebeu nada do Governo Federal, sob alegação de falta de verba.
"Isto está certo? É de direito?" pergunta, inconformada, Odette Athayde Pires dos Santos, afirmando que há
outras famílias na mesma situação. |