Os sobradinhos pegados uns aos outros aparecem em praticamente todas as vias
Vejam só quanta coisa para se ver e conhecer
Muita gente pode bater o pé e teimar afirmando o contrário,
mas a Escola Cesário Bastos e a garagem da Companhia Santista de Transportes Coletivos (CSTC) não ficam na Vila Matias. Parece absurdo, mas é a
pura verdade.
Essa é mais uma conseqüência da implantação do novo Plano Diretor Físico de Santos e da criação de novos
bairros, em 1968. Esse plano, além de fazer com que a Bacia do Macuco e as Casas Populares do Macuco passassem a ser parte integrante do Estuário,
excluiu da Vila Matias as tradicionais instalações da empresa de transporte e o famoso colégio. Estes, integram o Monte Serrate, bairro diminuto
que compreende o morro e as vias públicas que se alinham ao seu redor, como Andrade das Neves, João Éboli e 13 de Maio. Nesse bolo, entram
a garagem e a escola.
De acordo com a divisão oficial, a Vila Matias tem seus limites dados pelas ruas Joaquim Távora, Xavier Pinheiro
e Manoel Tourinho, avenidas Rangel Pestana e Campos Sales, trechos da Bernardino de Campos e Waldemar Leão, e ainda Rua Cláudio Luís da Costa. E,
pela lógica, apenas o lado ímpar da Rangel Pestana é Vila Matias, ficando de fora, definitivamente, a escola e a garagem.
Porém, por mais que os dados oficiais mostrem e apontem, os populares sempre identificarão aquela área junto ao
morro como sendo Vila Matias. Por isso mesmo, nesta reportagem, garagem e escola estarão incluídas no bairro, com o devido respaldo popular.
Aliás, um outro aspecto deve ser lembrado. Está se falando em garagem para cá, garagem para lá, mas aquelas
instalações do final da Avenida Ana Costa servem apenas como garagem de trólebus, além de ser sede da empresa e abrigar sua oficina. Os ônibus a
diesel (que são a grande maioria) ficam guardados no Jabaquara. Seja lá como for, ainda esta vez prevalece a designação popular: é garagem da CSTC
e pronto!
O Colégio Cesário Bastos, de sua parte, praticamente dispensa apresentações. Vale lembrar, porém, que foi
fundado em 1900, por iniciativa de José Cesário Bastos, jornalista e professor que muito se destacou pelo trabalho em favor da aprendizagem.
Trata-se da primeira escola pública de Santos, e a sede primitiva ficava na Braz Cubas, esquina com 7 de Setembro. O prédio da Praça Narciso de
Andrade levou quase nove anos para ficar pronto: a pedra fundamental foi lançada a 27 de agosto de 1907 e a inauguração só se deu a 24 de abril de
1916.
Racionalismo Cristão nasceu em Santos e seu templo representa uma tradição - Como se não bastassem as
curiosidades, imaginem que aquela tradicional construção toda de tijolinhos, na Avenida Ana Costa, 67, não é simplesmente um templo. É o templo de
uma doutrina que nasceu em Santos.
Para quem não sabe, foi aqui na Cidade que Luís de Matos iniciou, em 1910, a codificação e a explanação de uma
doutrina filosófica-espiritual e científico-cristã, que recebeu o nome de Racionalismo Cristão. Os princípios racionalistas legados por Luís de
Matos espalharam-se por todo o mundo e, em Santos, o centro redentor funciona naquela interessante construção da Avenida Ana Costa.
No aspecto religioso, a Vila Matias não deixa nada a desejar. O templo católico não poderia ser mais pomposo: é
a Paróquia Coração de Maria, que também tem sua história. As obras foram iniciadas a 7 de novembro de 1920, em ato presidido pelo arcebispo de São
Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, que benzeu a pedra fundamental. No dia da inauguração, 7 de dezembro de 1927, saiu uma imponente procissão da
Capela de Santa Cruz, seguindo à frente dom José Maria Parreira Lara, bispo diocesano.
Ainda na Vila Matias, fica a mais famosa e imponente igreja presbiteriana de Santos, a da Praça Belmiro Ribeiro.
Além de bonita, ostenta na fachada uma frase bastante acolhedora: "Casa da oração para todos os povos". Já aquela construção vistosa da Rua
Cláudio Luís da Costa com Avenida Rangel Pestana pertence aos mórmons, que têm ali a sua Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias,
recentemente ampliada.
E se a gente for entrar mesmo em detalhes, não pode deixar de dizer que a Vila Matias possui centros espíritas
ou casas de umbanda, dessas com plaquetinhas simples afixadas na porta ou sem nada que as identifique: funcionam (e quase sempre barulhentamente)
em algum fundo de quintal. Mais: é na sede do Sindicato da Administração nos Serviços Portuários que a Igreja Seicho-No-Iê realiza importantes
reuniões. São religiões e cultos para satisfazer praticamente todos os interesses e necessidades.
Existem chalés bem conservados na Rua São Paulo
Há de tudo um pouco, desde fábricas e sindicatos até o Teatro Municipal - E por falar em interesses e
necessidades, pode-se dizer que a Vila Matias tem de tudo um pouco. É lá que ficam os tradicionais Centro de Saúde Martins Fontes e o Instituto
Adolfo Lutz, bem como duas entidades que conseguiram firmar um bom nome em Santos: o Sesc e o Senac.
Fábricas há várias: a de sardinhas Alcyon, a de bolachas A Leoneza, a de cerveja Caracu (em outros tempos também
da cerveja Braz Cubas), e a de refrigerantes Antárctica, sem contar a chamada Açucareira Pérola, que sempre espalha um cheiro forte de açúcar em
boa parte do bairro.
Entre as unidades de ensino, há a já citada Escola Cesário Bastos e outras igualmente conhecidas, como a Escola
Docas e o Colégio Anglo-Americano. O Colégio Tarquínio Silva, que por muitos anos funcionou na Avenida Rangel Pestana, esquina com Júlio
Conceição, agora foi transferido para a Avenida Ana Costa, 193. No antigo prédio azul e branco, a Associação Educacional do Litoral Paulista (Aelis)
- mantenedora do colégio - concentrou os seus cinco cursos superiores.
E como esquecer o desaparecido Liceu Coelho Neto? Por muitos e muitos anos foi dirigido pelo mestre Silva, até
hoje reconhecido como uma pessoa notável. O Liceu virou coisa do passado e deu lugar a uma escola técnica de comércio. A fama continua a mesma de
outros tempos.
Sindicatos existem aos montes, entre eles o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção, o
Sindicato dos Empregados na Administração dos Serviços Portuários e o Sindicato dos Metalúrgicos. Este tem um enorme auditório e em muitas
oportunidades fez as vezes de "teatro municipal", no tempo em que Santos não possuía o seu.
Mais: justo a Vila Matias foi escolhida para abrigar o Teatro Municipal Braz Cubas, que é parte integrante do
Centro de Cultura. Sobre isso, é bom que se diga que todos costumam chamar aquela edificação com estrutura mista de concreto armado e protendido
da Avenida Francisco Manoel simplesmente de "teatro municipal". Na verdade, ali funcionam não só o teatro como a Biblioteca Municipal Alberto
Souza, o Arquivo Histórico Municipal e o Museu Didacta, uma pinacoteca que inclui reproduções de obras de arte de todo o mundo.
Outro detalhe: o Centro de Cultura é sede do Departamento de Cultura da Secretaria da Educação e Cultura,
unidade responsável pela promoção de diversas atividades culturais, como exposições de artes visuais, apresentações do Coral Lírico André de Moura
e do Quarteto de Cordas Martins Fontes.
Muitas construções datam do começo do século XX, como a que abriga o Armazém Paraná
Um clube campeão e outros dois que promovem bailes com música ao vivo
- Em termos de Carnaval, a Vila Matias não poderia ficar para trás. Não que em seus limites exista alguma grande escola de samba, com torcida e
tudo. Mas o bairro é sede do Oswaldo Cruz Atlético Clube, que nasceu em 1946 e este ano conquistou, pela quarta vez consecutiva, o título de
campeão no desfile Dona Dorotéia, Vamos Furar Aquela Onda?
Certamente não dá para se desprezar a agremiação, embora exista na Vila um clube muito mais famoso: trata-se do
EC Senador Feijó, fundado a 1º de agosto de 1925. No passado, brilhou muito com suas equipes de tênis de mesa, futebol infantil e ciclismo e,
graças a elas, ostenta troféus de tudo quanto é tipo e tamanho. A parte esportiva só ficou meio de lado ultimamente porque a diretoria resolveu
conter um pouco as despesas para adquirir a sede própria da Rua Silva Jardim.
E o Senador Feijó se projetou muito por promover todas as semanas, há 20 anos, os famosos bailes da Sociedade
Humanitária. Bailes não só com música ao vivo, mas animados por uma orquestra, a de Mário Folganes. Ao som dos acordes que enchem todo o ambiente,
os casais não se cansam de dançar. Animação maior só mesmo no Recanto do Saraiva, onde também se dança com música ao vivo. Para quem gosta do
gênero, é coisa para ninguém botar defeito.
Seu Jacó, ao lado da máquina registradora que tem pelo menos uns 50 anos
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