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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO/mapa
Jardim Castelo e os dramas das enchentes (3)

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Publicado em 10/2/1983 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)

Primeiro, disseram que seriam construídas moradias populares para os pobres. Pura ilusão: os realmente pobres não tiveram acesso a elas. Sóq uem ganhava pelo menos três salários mínimos (e até cinco) pôde pleitear uma. Depois, apresentou-se um projeto bastante tentador. Grande desilusão: o Conjunto Dale Coutinho se desfaz aos poucos vítima de problemas de construção.


Tudo naquele recanto do Jardim Castelo  lembra abandono: os prédios úmidos e encardidos...

Do sonho inicial...

A maior obra já realizada pela Cohab? Certamente que sim. O Conjunto Habitacional General Dale Coutinho representava nada menos que 47 por cento das unidades habitacionais construídas pela Companhia de Habitação da Baixada Santista (Cohab) desde sua criação, em 1965. Finalmente a empresa realizaria algo de vulto e mostraria que não era uma empresa de habitação apenas no nome.

Parecia até um sonho. O núcleo teria toda a infra-estrutura urbana necessária e proporcionaria moradia para seis mil pessoas. Nem o lazer fora esquecido: haveria locais reservados à instalação de equipamentos públicos de recreação e áreas verdes ao redor de cada prédio.

Mais: cada apartamento teria dois quartos e sala, com tacos de madeira; banheiro, cozinha e área de serviço azulejados até um metro e meio de altura e pisos de placa de vinil. Um projeto bonito e vistoso como ele só. No papel.

Quando a Engeral iniciou os serviços, empregando o até então desconhecido gel-system, não faltou quem dissesse que o conjunto parecia "uma casquinha de nada", um monte de caixas de fósforo empilhadas. E, aos poucos, caiu por terra a idéia de que se tratava de um projeto colossal, para ninguém botar defeito. Críticas, muitas críticas, e morador descontente até hoje.

Projeto inicial fica esquecido e aparecem as primeiras falhas - Alguns problemas já podiam ser antevistos à medida que os prédios se multiplicavam. As placas pré-fabricadas de concreto que formavam as paredes não deixavam dúvidas de que os moradores suportariam um forte calor no verão e um frio intenso no inverno. Mais: a má colocação do reboco do acabamento provocaria rachaduras e infiltrações de água.

Não deu outra. Quem apostou, levou.

Mas, antes que os moradores pudessem ocupar os apartamentos e constatar o previsto, muitas águas rolaram. Irregularidades na situação contratual entre Cohab e Engeral provocaram a paralisação da obra por oito meses, a partir de fevereiro de 1979.

Enquanto os interessados brigavam na Justiça, o canteiro de obras ficou todo abandonado. E nem é preciso dizer que a Construtora Wysling Gomes Ltda., nova contratada, perdeu um tempão para recuperar o malfeito e o deteriorado. Mas as coisas pelo menos caminhavam.

Até que chegou o tão esperado dia da inauguração, 4 de agosto de 1980. Uma festa geral com a presença do ministro do Interior, Mário Andreazza. Foguetório e corre-corre dos políticos. Já se começava a pensar em eleições...

A grandiosidade da festa fez muita gente esquecer que não havia a prometida arborização e o Centro Comunitário ainda estava em fase de acabamento. Além do mais, nem o apartamento-modelo colocado à disposição dos visitantes se encontrava de acordo com o projeto inicial. Faltava acabamento, os pisos eram de cimento e o tanque ficava dentro da cozinha. Mesmo assim, o custo unitário quase chegou a Cr$ 450 mil.

Mas o pior estava por vir: pouco depois da ocupação dos apartamentos, a maior parte dos motores das caixas d'água estourou. Tubulações de esgoto vazando e caixas de gordura entupidas viraram rotina. Começava uma longa jornada de sucessivas reivindicações.


...mal acabados e aparentando fragilidade...

...a uma dura realidade

Onde já se viu água brotar no chão da casa ou escorrer pelas paredes a cada nova chuva?

Pois isso acontece em vários dos 1.200 apartamentos do Conjunto Dale Coutinho, com o agravante de prejudicar as instalações elétricas e pôr em risco a segurança de muita gente.

Depois de muita luta, o pessoal conseguiu que a Cohab desse um jeito nas redes de esgoto. Mas as infiltrações de água pelos batentes das portas e janelas, pelas rachaduras das paredes e pelo próprio chão de cimento continuam gerando constantes reclamações. Marionete Lima, subsíndica do Bloco A-2, arranca uma lasca do batente da porta com um simples tocar de dedo: está podre, se desmancha com a maior facilidade.

Os 75 prédios encardidos devido à umidade, cercados por lama e mato, parecem ter pelo menos uns 10 anos de idade, sem que nunca tenham passado por uma reforma ou pintura nesse período. Há quem os considere uma favela em moldes modernos, criada pelos elementos e organismos que deveriam resolver ou ao menos amenizar os problemas habitacionais do País.

As prometidas áreas verdes nunca foram implantadas e os espaços destinados a elas se transformaram em estacionamentos de veículos. Decerto ninguém imaginou que os futuros moradores do conjunto pudessem ter o seu automóvel. E esse esquecimento deu no que deu.

Se a gente depara com uma ou outra área verde, isso se deve à iniciativa dos próprios moradores. No mais, predomina aquele aspecto geral de abandono, inclusive na área de lazer encravada entre os conjuntos Dale Coutinho e Costa e Silva. Deveria servir aos dois, mas acaba contribuindo para deixar tudo mais triste.

Pelo menos, o Dale Coutinho dispõe de um ginásio de esportes, onde a criançada e a rapaziada se divertem, os idosos disputam suas partidas de dominó e buraco, e a diretoria do centro comunitário promove cursos e outras atividades. Só que se trata de uma área fechada, com guardas e tudo, e utilização sujeita a autorizações e obediência de calendário. Logicamente esse tipo de disciplina se faz necessária, mas para compensar deveriam existir parquinhos de diversões, quadras e campos à disposição. Afinal das contas, a Cohab não prometeu garantir toda a infra-estrutura necessária?

Mas o pior de tudo é que continuam correndo insistentes boatos de que pessoas com renda familiar alta, incluindo engenheiros, teriam adquirido apartamentos no conjunto. Apartamentos que continuam fechados ou estão alugados, porque seus proprietários simplesmente não precisam deles. A Cohab diz que está averiguando esses casos. É bom que a verdade venha a público, com nomes e tudo.


...e mais o canal da Divisa, sujo e cheio de mato

Veja as partes [1] e [2] desta matéria
Veja Bairros/Jardim Castelo/Conjuntos Costa e Silva e Dale Coutinho

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