O Rio São Jorge hoje não passa de um canal assoreado
Residencial é bem cotado, sim senhor
São duas vilas São Jorge, uma ao lado da outra, só que
pertencem a municípios diferentes. Uma simples avenida - a Francisco da Costa Pires - serve de divisa, sendo que cada uma de suas pistas está
situada em cidades distintas: o lado santista é recoberto com asfalto e o vicentino com lajotas. Pela lógica, quem anda pelo passeio central
encontra-se em dois municípios ao mesmo tempo.
Tem mais: quem reside na Avenida Francisco da Costa Pires, lado de Santos, contempla à sua frente o município
vizinho, e para quem mora em São Vicente ocorre justo o contrário: abre a porta da frente e dá de cara com a velha terrinha de Braz Cubas. Essas
duas vilas com o mesmo nome, uma pegadinha à outra, nos reservam esse tipo de surpresa.
Mas, por hoje vamos ficar com a Vila São Jorge santista, que, diga-se de passagem, não é um bairro de
corintianos, como se poderia pensar. Na certa o time paulistano tem os seus torcedores por lá, mas o nome do bairro se deve ao Rio São Jorge, que
o banha. (Rio? Que rio? - perguntará alguém. Pois o rio é aquele fiozinho de água encardida, que todos conhecem por Canal de São Jorge e passa bem
no meio da Avenida Eleanor Roosevelt. O rio não merecia isso. São Jorge, tampouco. Mas essa história fica para um outro dia...)
Esse bairro que ocupa uma área de 56,60 hectares quase não resistiu aos estrondos provocados pela Pedreira Santa
Teresa. Mas, depois que ela encerrou suas atividades, há dois anos, após a morte de uma criança atingida por uma pedra que voou, um silêncio e a
tranqüilidade predominam nas ruas quase sem trânsito.
Boas casas não faltam, a Vila conserva um ar de bairro novo e não é difícil encontrar explicação: entre 80 e 85
por cento dos moradores são proprietários e têm interesse em manter os imóveis sempre em ordem.
Para se avaliar a cotação da Vila São Jorge enquanto bairro residencial, basta saber que há uma casa à venda, em
área de marinha, por Cr$ 16 milhões à vista. O aluguel de quarto, sala e cozinha, nos fundos, está por volta de Cr$ 17 mil, Cr$ 20 mil mensais. Os
terrenos não custam menos de Cr$ 3 milhões, isso se tiver algum para vender.
Segundo levantamento feito pela sociedade de melhoramentos, o índice de lotes vagos não chega a três por cento e
os donos com certeza não pretendem se desfazer deles, ao menos por enquanto, já que a tendência é sofrerem uma valorização crescente devido à
escassez de áreas para construção em Santos.
Condução, escolas e bom comércio nesse bairro classe média - A maioria dos moradores compõem o que se
convencionou chamar de classe média baixa, e isso caracteriza a Vila São Jorge como um dos bairros menos carentes da Zona Noroeste. Como diz Anita
de Amori, do Grupo Espírita Trabalho e Amor (Geta), instalado na Rua Gastão Bousquet, 435, os mais carentes foram expulsos à medida que as ruas
ganharam melhorias, como asfalto e galerias de águas pluviais. Nem todos podem arcar com esse tipo de despesa, e não há outro jeito se não partir.
E como em outros bairros classe média baixa, muitas mulheres trabalham fora, para reforçar o orçamento
doméstico. Se não o fazem, muitas vezes é porque não têm creches para deixar os filhos. De todo modo, dão um jeito de ajudar, seja costurando,
vendendo doces ou se ocupando de outras tarefas que não exigem dedicação integral.
De falta de condução a Vila São Jorge não pode reclamar, porque é muito bem servida: há ônibus para todos os
outros bairros de Santos, inclusive Ponta da Praia, que fica bem distante. O único inconveniente é a caminhada até a Avenida Nossa Senhora de
Fátima, obrigatória para quem mora mais retirado, próximo à encosta do Morro da Nova Cintra. E, embora essa avenida concentre boa parte do
comércio, o pessoal pode dispensar o exercício, já que nas ruas internas há açougue, mercearia, bazar, bares e padarias.
Escola também não representa problema, pois tem uma estadual e outra municipal. A EEPSG Neves Prado Monteiro
fica na divisa com São Vicente e mantém classes de pré-escola, 1º e 2º graus, num total de quase dois mil alunos. A EMPG Fernando Costa completa
25 anos de atividades a 27 de outubro e atende atualmente a quase 1.200 alunos, distribuídos entre as oito séries do 1º grau e três classes de
educação especial.
Quanto ao atendimento médico, se não for de urgência tudo bem: às quartas e sextas-feiras, das 14 às 16 horas,
há um médico à disposição, na sociedade de melhoramentos, e ele inclusive recolhe material para a realização de exames. Para se consultar, o
morador não precisa ser sócio da SM e, se der sorte, pode até receber algum remédio grátis, pois a Secretaria de Higiene e Saúde fornece certos
medicamentos.
Na falta de áreas de lazer, brincadeiras na rua
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