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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO/mapa
Vila Belmiro, onde o passado ainda resiste (4)

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Publicado em 15/7/1982 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)


Dois hospitais e grandes colégios fazem parte do patrimônio desse bairro, 
mas o orgulho é o Estádio Urbano Caldeira e o Santos

Uma história de glórias, fama e muitos dólares

O trabalho que deu escrever todas aquelas cartas não foi brincadeira. Raimundo Marques, Mário Ferraz de Campos e Argemiro de Souza Júnior levaram semanas e mais semanas para aprontá-las. Mas achavam que valia a pena, pois tratava-se de um convite para fundar um clube.

A receptividade à idéia não poderia ter sido melhor: a 14 de abril de 1912, às 20 horas, o salão do Concórdia - Rua do Rosário, 10 - estava quase lotado. E, quando Raimundo Marques perguntou solenemente o que os senhores presentes achavam de fundarem um clube, ninguém disse nada em contrário. Momentos depois, foi escolhida a primeira diretoria e Sizino Patusca assumiu a presidência. Mas a presidência de qual clube, afinal?

"África Football Club", grita um dos rapazes. Proposta rejeitada. Alguém dá outra sugestão: Associação Esportiva Brasil. Mas esse nome também não agradou. E os presentes igualmente não concordaram com Concórdia Football Club, embora o Concórdia tenha cedido a sede para aquela reunião.

Quando parecia que nunca se chegaria a um acordo, Antônio Araújo Cunha grita lá do fundo: "E por que não chamamos o nosso clube de Santos, de Santos Football Club?" Finalmente houve consenso, e exatamente às 22 horas daquele dia, Raimundo Marques sentenciava: "Meus senhores, acaba de ser fundado o Santos Football Club".

Duas semanas depois, o Santos já tinha seu campo, no Macuco, mas as dimensões não eram oficiais e só servia para treinamentos. As cores também já estavam escolhidas: branco e azul, com um friso amarelo no meio. Mais tarde, o azul e o friso amarelo foram substituídos pelo preto, cor da nobreza.

Pois não é que já no ano seguinte a Liga Paulista de Futebol convida o Santos para participar do Campeonato Paulista, na época disputado apenas por clubes da Capital?

E o time saiu-se muito melhor do que se poderia esperar. Só que, quando faltavam apenas dois jogos para a final do campeonato, o clube pediu licença à liga para se retirar do certame, porque as viagens a São Paulo estavam pondo por água abaixo as finanças. Deixou o campeonato como vice-campeão.

O clube chega à Vila Belmiro, para nunca mais sair - Em 1915, os diretores estavam decididos a adquirir uma área própria e partir para novos empreendimentos. Alguns logo pensaram em comprar o terreno onde está hoje a Beneficência Portuguesa, mas prevaleceu a vontade dos que desejavam a compra de uma área entre aquele mundo de chácaras de japoneses que dominava a Vila Belmiro.

Em dezembro o Santos adquire o tal terreno e a 12 de outubro de 1916 instala-se definitivamente no bairro. Este já foi até chamado de Vila Famosa, tantas as glórias que o Santos carregou para lá.

Já em 1923 uma torcida grande e organizada acompanhava o Santos. Os torcedores iam aos campos com a camisa do clube e vestiam calças com uma perna branca e outra preta. Essa torcida durou até 1932 e não chegou a presenciar a conquista do título de campeão paulista, em 1935.

Por uma questão de justiça, é preciso dizer que esse título começou a ser conquistado nos tempos de Urbano Caldeira, que dá nome ao estádio da Vila Belmiro. Urbano amava o clube de tal jeito que ajudava até mesmo a cuidar do gramado.

Como jogador não era lá essas coisas, tampouco tinha dinheiro para investir no clube. Mas, criou até um mito. Antes de cada partida, ele e os jogadores chegavam na beirada do campo, punham as mãos umas sobre as outras e gritavam: Giba. Era o sinônimo de garra, luta, vitórias.

Pelo que se diz até hoje, o título de campeão paulista poderia ter saído muito antes, não fossem as gavetas. Os mais velhos testemunham que, durante todo esse tempo, o Santos foi roubado por juízes. Como se não bastasse, parece que alguns de seus craques tinham o hábito nada salutar de se venderem. Certa vez disseram que o Hélvio e o Ivan foram tirados da equipe porque aceitaram suborno às vésperas da partida. O Modesto Roma foi alertado e não deixou por menos: impediu os dois de jogar.

Jogadores como Araken, Ciro, Junqueirinha, Mário Pereira e outros brilharam na primeira conquista. Mas, o Santos esperaria 20 anos para conquistar um novo título de campeão paulista.

Em 1948, o Santos iniciou a construção do Estádio Urbano Caldeira, que só ficou parcialmente pronto em 1955. Na época tinha capacidade para 15 mil pessoas e só depois de pronto, em 1959, passou a ter capacidade máxima para 33 mil pessoas.

Um crioulo magrinho chega à Vila e marca o início de uma nova era - Quem simplesmente olhava aquele crioulo magrinho não punha muita fé. Chegou à Vila Belmiro, em 1956, vindo de Bauru. A princípio o chamavam de Gasolina, depois de Pelé. Quando ele entrou no time principal o Santos já era uma equipe respeitada. A partir de seu aparecimento, a equipe conquistou tantas glórias e tantos títulos, que a torcida até se mostrava saturada de tantas alegrias. A melhor fase durou até 1969.

Mas sabem que o Santos quase perdeu Pelé? Pelo menos é o que conta o jornalista De Vaney em seu livro, A Verdade sobre Pelé. A diretoria estava decidida a trocá-lo por Getúlio,um bom lateral direito do Jabaquara. O garoto vinha jogando mal e acabou perdendo um pênalti contra o próprio Jabaquara, quando o jogo estava empatado por 2 a 2 e o Santos precisava de uma vitória para ser campeão juvenil. Só não foi trocado porque o Jabaquara não aceitou. Quem poderia imaginar que aquele seria o Pelé dos mil gols, tricampeão do mundo, assunto de bate-papo em tudo quanto é país?

Excursões, dólares, taças e troféus de todas as partes do mundo não faltaram ao Santos em seus 68 anos de existência. Talvez nenhum clube possua troféus tão valiosos, bastando citar a bola e a caravela de ouro. Três deles o clube conserva guardados em cofres de bancos, tal o valor. Olhando-se todos aqueles troféus, dá para se saber exatamente porque a Vila Belmiro é o bairro mais famoso do mundo.

Além de Pelé, outros jogadores ficaram na história como verdadeiros monstros sagrados. Quem não se lembra dos lances do ponta-esquerda Pepe, dono de chute fortíssimo e ótima pontaria?

Mas nem sempre o que é bom dura para sempre e aos poucos a geração de craques como Dorval, Coutinho, Zito, Mengálvio, Pepe e muitos outros foi se acabando. Não houve preocupação com com renovação e, quando o grande ídolo Pelé deixou de jogar pelo clube, em 1974, o Santos tornou-se um time comum.

Os torcedores, é evidente, não aceitam essa idéia do time comum, porque afinal o Santos conseguiu superar uma das piores fases de sua história e até conquistou um título, em 1978, sem Pelé. Os líderes da Sangue Santista, Baleia, Tubarões e outras torcidas uniformizadas estão nas ruas, nos campos e já não pensam tanto em Pelé. Põem fé nos "meninos da Vila", apesar de as vitórias estarem um tanto difíceis nos últimos tempos. Esperam a hora da farra e de poder dizer: "Isso, meu velho, é o Santos".

Veja as partes [1], [2] e [3] desta matéria
Veja Bairros/Vila Belmiro

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