II - Saneamento de Santos
por F. Saturnino Rodrigues de Brito, engenheiro-chefe
Advertência: - Esta notícia foi especialmente desenvolvida para a Revista de
Engenharia, contendo mais informações que a publicada na imprensa diária
I - Introdução
s
trabalhos compreendem:
a) a nova rede de esgotos, cerca de 88 quilômetros de coletores, emissários e sifões; a usina
terminal de elevação e emissão dos despejos; dez estações de distritos providas de bombas elétricas automáticas; o emissário para a descarga no
oceano, a 11,5 quilômetros; uma instalação experimental de depuração pelo processo eletrolítico direto.
b) elementos principais da rede pluvial, compreendendo quatro galerias e cerca de 9½ quilômetros
de canais de drenagem superficial; total 14 quilômetros.
Por várias vezes a imprensa se tem ocupado do saneamento de Santos, dando notícias de serviços
parceladamente inaugurados e apreciando a relevância das obras, no ponto de vista da técnica sanitária e no da sua influência para o desenvolvimento
comercial da cidade, anteriormente apontada como uma das mais insalubres do nosso litoral. O que antes era clamor público, a transbordar em
reclamações nesta mesma imprensa, se transformou em louvor aos governos paulistas que se têm empenhado pelo melhoramento vital, e em reconhecimento
pelos efeitos conseguidos.
Santos é hoje uma cidade salubre; a população de S. Paulo desce, aos milhares de pessoas, todos os
invernos, para fazer a estação balneária nas belíssimas praias que bordam a enseada de Guarujá e a extensa curva da baía que se desenvolve em cerca
de dez quilômetros da Barra a S. Vicente.
Nestes últimos anos, a expansão da cidade tem sido notável e a população, que era de 50.000
habitantes, vai aumentando com a fixação de famílias que não receiam habitar a antiga cidade letal. As casas de construção colonial se vão
reformando e novas construções, elegantes e salubres, se fazem diariamente. A municipalidade vai promovendo vários melhoramentos, dentre os quais a
tração elétrica, que hoje oferece aos estrangeiros, visitantes quase diariamente, um trânsito cômodo para o passeio pelas praias encantadoras. Os
terrenos, com a drenagem pelos canais, se valorizam e os afortunados proprietários viram os seus bens repentinamente aumentados.
A valorização da propriedade e o movimento do progresso se poderiam apreciar pelo imposto de
transmissão, se, infelizmente, o Estado não fosse lesado pelo valor inferior dado às compras; apesar dos esforços da zelosa e honrada Recebedoria de
Rendas, em Santos, não se tem querido apurar estas irregularidades nas transações. Entretanto, a renda, que em 1909 foi apenas de cerca de 245
contos, em 1911 subiu a cerca de 654 contos; diz-se que, se dessem às transações o valor real, a renda seria superior a 1.500 contos.
A Comissão de Saneamento levantou a planta da cidade e projetou a sua expansão por toda a extensa
superfície dos arredores úmidos, hoje dessecados (ver a Planta nº 1, impressa no vol. 1, n. 4 pág. 113 da Revista de
Engenharia).
O levantamento dos polígonos principais foi feito com o critério exposto no livro Saneamento de
Campos, a saber: - emprego da fita de aço Cherstermann, correções do giro e do fechamento poligonal; cálculo das coordenadas do vértice. Na
triangulação para a ponta de Itaipu o ilustre coronel X. Villeroy colaborou com a Comissão, cabendo-lhe parte das observações, bem como a
determinação da declinação do meridiano magnético.
As superfícies compreendidas nos planos de saneamentos são as seguintes:
a) cidade antiga e
arrabaldes, área servida pela nova rede de esgotos sanitários |
273 hectares |
b) área de expansão da
cidade |
1.787 hectares |
Total em superfície plana |
2.060 hectares |
c) vertentes da montanha |
274 hectares |
Área total |
2.334 hectares |
Avenidas largas, para plantio de eucaliptos, cortam diagonalmente as áreas, no novo projeto, sem
que, entretanto, apresentem o inconveniente da monotonia das grandes avenidas largas e retas, porquanto examinadas em detalhe, vê-se que existem
acidentes interceptores na disposição dos tabuleiros e das moitas d'árvores.
Sem pender para o exagero da linha curva, com que alguns arquitetos pretendem reagir contra os
planos reguados a esquadro pelos que fazem geometria à força, o novo plano de Santos está longe de ser considerado uma simples formação de patés
ou xadrez. Os arruamentos seguem, às vezes, a orientação que se poderia chamar "da menor resistência"; onde haja um obstáculo notável, uma
construção valiosa que dificulte e retarde a abertura da rua, se desloca esta, no projeto, ou se quebra a direção retilínea para o seu
encontro com outra rua.
Seria talvez mais belo dar alguma sinuosidade aos canais, com as suas avenidas laterais; mas... o
engenheiro vai fazendo o que pode, e, no tempo em que se elaborou o projeto dos canais, qualquer dificuldade deixaria no papel a execução de um
trabalho tão útil. Hoje, bem, com a nova prática, tão evidente, as opiniões são unânimes e só há um desejo - concluir o que falta! Para chegarmos ao
resultado alcançado, foi muito proveitosa a administração do sr. dr. Padua Salles.
A iniciativa da Comissão de Saneamento não se limitou ao projeto e à locação de muitas ruas; ela
procurou sempre colaborar com a Prefeitura para a melhoria da cidade.
Os nossos Relatórios contêm estudos vários de assuntos de interesse municipal, como sejam as
seguintes indicações de medidas legislativas: para garantir a execução da planta, por meio das vielas de progresso, isenção de impostos dos terrenos
a ocupar etc.; - para reformar os processos de desapropriação por utilidade pública; - para a abertura de vielas sanitárias, ruas particulares etc.;
para pôr um termo à prática de favorecer construções defeituosas nos terrenos dos arredores e de dificultar a edificação nas zonas beneficiadas etc.
À medida que as folgas orçamentárias permitiam desenvolver a ação da Comissão, foram sendo
executados também alguns trabalhos de aformoseamento, a par dos de utilidade. Ao sr. dr. Padua Salles se deve o mais seguro apoio neste sentido; os
jardins da praia, o parque da Usina, a Rua Padua Salles com as suas banquetas gramadas, aí estão servindo de exemplo a seguir, a desenvolver.
Como exemplo, agora que tanto se fala em calçamentos, aí estão também as ruas de acesso para as
praias (ao lado dos canais), com as suas fundações em cimento armado, postas à prova em condições desvantajosas, sobre as quais repousa o calçamento
de paralelepípedos de juntas de betume de piche apurado.
Desta indicação prática, relativamente econômica, nos ocupamos nos nossos Relatórios e na Memória
apresentada à Secção de Engenharia Sanitária do Congresso Médico Latino-Americano. Nessa Memória, a questão de calçamento está discutida, nos
limites marcados pelo Regulamento do Congresso: nela indicamos a formação dos perfis transversais com as banquetas gramadas, com as sub-sarjetas
pluviais etc.
Por iniciativa da Comissão, a Prefeitura adotou e vai executando o alargamento da Rua Senador
Feijó. E assim, muitos outros detalhes foram sendo adotados em comunhão de idéias, muito mais proveitosa que a suscetibilidade e a vaidade dos que
se debatem na preocupação do valor pessoal, incomodados com a colaboração dos que a podem e a devam prestar em benefício da cidade.
Nesse ponto de vista, dizemos sempre que devemos colimar evitar o mau e fazer o bom,
ou mesmo o sofrível, porquanto a preocupação de fazer o ótimo geralmente conduz a não se fazer coisa alguma, no temor da crítica, a querer um
trabalho absolutamente impecável.
Façamos o bom e deixemos o ótimo para os críticos que nada fazem ou para os privilegiados na
Humanidade.
Antes de dizer propriamente dos serviços de saneamento, resumindo a sua descrição ao essencial
para se formar uma idéia da importância dos trabalhos, façamos um rápido histórico da questão sanitária no ponto de vista das decisões dos governos
do Estado.
O Governo do Império do Brasil, acudindo às necessidades do tráfego do porto, em 1888 entregou o
cometimento das Docas de Santos à inteligência altamente empreendedora de Candido Gaffrée
e do malogrado Eduardo Guinle, que confiaram o projeto e a execução ao lúcido senso técnico de
Benjamim Weinschenck.
O cais de atracação, constituindo o apoio do grande tráfego, é ao mesmo tempo a cinta saneadora do
litoral, fazendo desaparecer a praia lodosa, onde os depósitos dos esgotos se argamassavam e fermentavam, envenenando os ares.
Mais tarde (1892), o Governo do Estado encampou a defeituosa rede dos esgotos. Em 1898 inovou o
contrato de distribuição d'água potável, a cargo da City of Santos, e a nova adução de água pura e abundante veio concorrer
fortemente, com a progressiva intervenção dos médicos higienistas, para a melhoria sanitária que vem regenerando a cidade.
Vários estudos foram feitos para a resolução do problema dos esgotos, notando-se, como o mais bem
concebido, o do engenheiro Fuertes (norte-americano), que adotou o sistema separador completo, com elevações distritais pelo sistema Shone (ar
comprimido).
Finalmente, o governo Bernardino de Campos, em 1903, resolveu a reforma da rede dos esgotos,
confiando a solução do problema ao distinto sr. dr. José Rebouças, que executou cerca de 2 quilômetros do grande coletor de cimento armado, elemento
principal do seu projeto, pelo qual seria conservada uma parte da rede antiga.
O sistema dotado era o separador parcial, isto é, recebendo uma parcela da contribuição
pluvial. O coletor geral, diâmetro de 1,40 m, seria, porém, insuficiente para receber a contribuição pluvial dos telhados e pátios calçados da
extensa área que se propunha drenar, e, assim, o sistema separador se teria de restringir quase à mesma função de separador completo
que lhe dá o projeto executado, custando aquele muito mais caro.
No ponto de vista do trabalho mecânico, com a alimentação subsidiária tomada nas águas do mar, o
projeto anterior seria também mais oneroso do que a elevação distrital com as reelevações, conforme se provará na descrição definitiva.
Em 1905 o governo Jorge Tibiriçá, sendo secretário da Agricultura o sr. dr. Carlos Botelho,
entregou a direção dos trabalhos ao atual engenheiro-chefe, que neles aplicou os princípios sustentados em publicações feitas anteriormente sobre o
problema de Santos. Adotou o sistema separador completo, com elevações distritais.
Ao mesmo tempo, orçada uma economia de cerca de dez mil contos sobre o projeto anterior,
apresentou um plano geral, compreendendo a nova rede de esgotos, quatro galerias pluviais e os canais de drenagem superficial.
O governo não autorizou a execução integral imediata do plano aprovado, reconhecendo embora a sua
utilidade.
O governo Albuquerque Lins, sendo secretário da Agricultura o sr. dr. Candido Rodrigues, manteve a
execução dos serviços, apesar das grandes dificuldades financeiras de ocasião.
Era tão grande o interesse ligado a Santos, a que tão bons serviços tem sempre prestado o sr. dr.
Candido Rodrigues, que este, de acordo com o sr. presidente do Estado, autorizou mais algumas obras do plano geral, confiantes ambos na melhoria da
situação financeira.
E esta felizmente não tardou, permitindo ao mesmo governo satisfazer os seus melhores desejos e a
dedicação do novo secretário da Agricultura, o sr. dr. Padua Salles, pelo progresso de Santos.
Deu-se então maior latitude aos trabalhos; - pode-se considerar completo o plano apresentado em
1905, faltando apenas dois canais, previstos para o futuro; - obras novas foram projetadas e estão em execução, como sejam o Hospital de Isolamento,
o Hotel para Imigrantes e os esgotos de S. Vicente.
Estes serviços estão a cargo do engenheiro Miguel Presgrave, que substitui o engenheiro-chefe nas
ausências permitidas pelo Governo de S. Paulo para executar os trabalhos de saneamento de Recife.
Assim resolveu o governo que a Comissão de Saneamento não se extinga, tendo novos trabalhos a seu
cargo.
II - Esgotos sanitários
O sistema adotado é o separador completo ou absoluto, isto é, excluindo a
contribuição das chuvas. Sendo a cidade plana, e com fraca altitude sobre o nível do mar, a área a esgotar, na atualidade e no futuro, foi dividida
em distritos ou bacias distintas, cada uma com a sua estação elevatória. Para a atualidade temos 10 distritos de elevação e um que esgota para usina
terminal (V. Planta Nº 2, Distritos).
Os despejos elevados nos distritos são descarregados em coletores que formam a rede principal por
declive; o distrito n. 1 descarrega para o n. 2; este e o de n. 3 descarregam para o de n.4; este e os outros emitem as suas descargas para o
coletor principal.
Esta rede compreende os seguintes elementos principais:
A) Coletores |
1. Coletor de cimento
armado, diam. 140 |
2.197,00 m |
2. Dito, de concreto, diam.
0,60 x 0,70 |
1.000,00 m |
3. Dito, de concreto, diam.
0,60 |
4.599,00 m |
4. Dito, de concreto, diam.
0,40 |
5.096,00 m |
5. Dito, de greis
(manilhas), sob plataforma de cimento armado, diâmetro 15" |
24,00 m |
6. Ditos, diam. 12" |
4.850,00 m |
7. Ditos, diam. 9" |
12.190,00 m |
8. Ditos, diam. 8" |
27.939,00 m |
9. Ditos, diam. 6" |
8.405,00 m |
10. Trechos de coletores
com tubos de ferro fundido, diâmetro 25 |
4,00 m |
11. Ditos, diam. 12" |
76,00 m |
12. Ditos, diam. 9" |
57,00 m |
13. Ditos, diam. 8" |
23,00 m |
14. Ditos, diam. 6" |
22,00 m |
a) Extensão da rede de coletores |
66.482,00 m |
B)
Emissários, geral e das estações: |
15. Emissário geral, seções
de fº. fº. diam. de 0,70 m |
8.892,60 m |
16. Dito, conduto de
cimento armado |
2.593,00 m |
17. Emissários das
estações, fº fº diam. 12" |
1.399,85 m |
18. Dito, diam. 10" |
967,00 m |
19. Dito, diam. 9" |
348,28 m |
20. Dito, diam. 6" |
678,20 m |
b) Extensão dos emissários |
14.878,93 m |
C) Sifões |
21. Sifão, fº fº e aço,
diam. 12" |
3.065,00 m |
22. Dito, diam. 10" |
840,00 m |
23. Dito, diam. 8" |
1.686,00 m |
24. Dito, diam. 6" |
1.388,00 m |
|
7.979,00 m |
D) Elementos diversos: |
|
25. Poços de inspeção (menhole) |
692 |
26. Tanques flexíveis (flushing
tanks) |
139 |
27. Poços para sifões |
16 |
28. Estações distritais
auto-elétricas, em poços de diam. 3 m 4,50 e 5,00 |
10 |
29. Usina terminal |
1 |
30. Usina eletrógena, de
preenção e oficinas |
1 |
31. Instalação experimental
de depuração eletrolítica direta |
1 |
32. Habitação para o
mecânico |
1 |
33. Extensão de cabos,
subterrâneos, para a distribuição de força |
25.450,00 m |
34. Dito, para sinais |
13.550,00 m |
35. Ponte suspensa vão 180
metros (em construção) |
1 |
Em resumo, a extensão total de canalização é |
a) Coletores |
66.482,00 m |
b) Emissários |
14.878,93 m |
c) Sifões |
6.979,00 m |
Total: |
88.339,93 m |
O coletor principal, diâmetro 1,40 m, profundidade 6 a 7,5 metros, extensão 2.193
metros, declividade 0,0005, foi construído sob a direção do dr. José P. Rebouças, ficando resolvido se aproveitá-lo, apesar de constituir um
elemento em desacordo com o sistema adotado no novo projeto.
Os outros coletores de concreto (Est. 1) têm os
diâmetros de 0,40 m, 0,60 m, 0,60 x 0,70 m; quase todos têm os leitos revestidos por uma calha de greis vidrado, o mesmo material dos tubos. São
consolidados por uma plataforma de cimento armado, incorporada à base, sem acréscimo de espessura. O leito é feito no local, de concreto, ou de
farofa de 1 de cimento e 3 de areia. A abóbada é feita por meio de cordões de argamassa, tipo novo e muito preferível às juntas de encaixe. O
transporte destes blocos, à superfície do terreno sobre as calhas ou leito dos coletores, se faz por meio de carrinhos estudados especialmente para
o caso.
Os tipos de poços de inspeção apresentam também característicos novos muito
econômicos pela execução das peças que os compõem e pelo processo de colocá-las (V. Est. 2).
Cada coletor de tubos de greis vidrado tem à cabeceira um tanque fluxível de lavagem
automática (syst. R. de Brito). Temos empregado o tipo de campânula mas recomendamos o tipo crismático (V. Est. 3).
Os coletores secundários são de tubos de greis fabricados em S. Paulo segundo
especificações da Comissão, o que melhorou muito a qualidade deste material. As bolsas são mais folgadas, para receberem o betume com que se formam
as juntas. Este betume foi dosado por experiência da Comissão, compondo-se de piche apurado para 20 kg de areia) e algumas gramas de breu. O seu
emprego exige algumas precauções, no calafetar com a corda, para o betume não ir para dentro dos tubos sob a pressão externa da água do subsolo.
Também é preciso, conforme ensinou a experiência, evitar que o betume desça pelo próprio peso e descubra a parte superior da junta.
Este cuidado nas juntas e nas alvenarias é essencial em Santos, porque o subsolo é
todo de areia fluente, portanto um dos mais difíceis e onerosos para serem trabalhados. Por este motivo, os coletores de greis também repousam sobre
uma estreita base de cimento armado. (Est. 1).
As junções com os ramais das casas são do tipo radial (sist. R. de Brito) (Est.
1, Fig. 6 e Est. 5).
O sistema de construção, com o escoramento por meio de pranchas de aço, deu excelente
resultado, tanto pela economia como pela segurança do serviço.
Vejamos agora as instalações mecânicas.
As estações distritais são formadas por poços cilíndricos de diâmetros 4,3 e 5
metros, profundidade de 4,50 a 5 metros. Algumas são subterrâneas, com um simples tampão para a descida; outras têm sobre os poços um elegante
chalé, bem iluminado e ventilado, com duas latrinas para serviço público e espaço bastante para o guarda.
A experiência que já temos em Santos aconselha adotar exclusivamente esta disposição
nos terrenos úmidos, porquanto, como se sabe, os aparelhos elétricos sofrem com a umidade; além disto, apesar do aparelhamento automático ser o mais
perfeito que se tem executado e apesar da precaução com o sistema de sinais, que descrevemos abaixo, é sempre de vantagem ter, como acréscimo de
garantia, um guarda com instrução prática elementar para intervir, em caso de necessidade, antes que chegue o mecânico prevenido pela transmissão
automática do aviso.
Em Recife adotamos somente as estações em chalé, com maior área e tendo a latrina
pública (quatro ou mais receptáculos e mictórios) em pavilhão anexo; a importância da instalação é também muito maior, porquanto, apesar de maior
área a esgotar, a sua topografia permite reduzir o número das estações.
Vamos descrever sumariamente a interessante aparelhagem mecânica destes grupos de
motobombas elétricos, automáticos, executados por intermédio da casa Trajano de Medeiros & Co., de acordo com o programa que estudamos.
Existem, em algumas cidades americanas (mesmo no Rio de Janeiro), instalações
análogas para casos isolados; nenhuma, ao que sabemos, apresenta, porém, tão grande latitude de aplicação, quanto ao número de elementos reunidos
para um trabalho sistemático e com os aparelhos que aqui grupamos, tomando de cada fabricante aquilo que viria satisfazer o nosso programa.
As nossas estações, instaladas para a atualidade e já funcionando, são em número de
10, sem contar a usina elevatória terminal. As de número 1, 3, 5, 7 e 9 possuem motores de 5 hp; as de número 6 e 8, motores de 7,5 hp; e as de
número 2 e 10, motores de 15 hp; a de número 4, motores de 30 hp; nesta, a mais importante, vamos instalar um terceiro motor de maior força, podendo
trabalhar com energia tomada diretamente da distribuição da City of Santos, como excesso de garantia.
Cada estação tem dois grupos mecânicos, um em serviço normal, outro de reserva. Os
elementos principais são:
a) transformador de 2.200 volts para 220 volts;
b) aparelho Hillariet Hughet (de Paris), para o funcionamento automático;
c) motobombas, eixo vertical tipo Westinghouse;
d) aparelhos da Camewell Co. (New York) para a transmissão automática dos sinais de
funcionamento, de parada e de alarma.
Os dispositivos (b) e (d) são os que merecem menção particular, por serem
especialmente feitos para realizarem o nosso programa.
O poço é dividido em dois compartimentos: em um deles entra o sewage; no
outro, estanque, ficam as bombas, no fundo, e os motores em plataforma superior; nesta mesma plataforma ficam os outros aparelhos.
O nível dos despejos, elevando-se até cerca de um metro de altura do fundo, suspende
os flutuadores; estes estão graduados, um, o de serviço normal, para o curso de cerca de 90 centímetros; o outro, o da reserva ou de
socorro, para o curso de cerca de 1,10. O flutuador de serviço, chegando ao termo superior do seu curso, faz cair a alavanca ou básculo de
contrapeso para a demarragem ou saída do motor.
Se o motor de serviço não funcionar, o nível d'água continuará a subir, com ele o
flutuador de reserva, e dar-se-á a demarragem do outro motor; ao mesmo tempo, automaticamente, se transmite o sinal de alarma à usina terminal.
Os motores são indiferentemente de serviço normal ou de ativa; os flutuadores, porém,
têm os seus cursos graduados pelos topadores para serem um de serviço normal, outro de serviço de socorro, correspondente aos níveis prefixados.
Para conjugar qualquer dos motores a qualquer dos flutuadores existe um circuito
elétrico organizado de modo a fazer essa conjugação por meio de simples manobra duma chave tetrapolar dupla.
De acordo com o nosso projeto, tempos, por exemplo, a seguinte freqüência de manobras
para as estações:
|
Estações |
D. 3. |
D. 2. |
D. 1. |
Tempo para encher |
10 min. |
4 min. |
9 min. |
Tempo para esvaziar com a contribuição
afluindo |
21 min. |
8 min. |
18 min. |
Idem, só para o volume contido no poço |
7 min. |
2½ min. |
6 min. |
Vejamos agora o sistema de demarragem.
Os motores de 5 hp são a rotor em curto circuito; a demarragem se faz pelo
básculo que, na sua queda, insere o stator do motor no circuito da rede.
Os motores de força de 15 hp ou mais cavalos necessitam, além da demarragem, a
inserção de resistências no motor; os fabricantes adotaram, apesar da freqüência reduzida de cerca de 150 manobras por dia, um sistema especial de
reostato automático. O princípio deste aparelho é tal que permite uma freqüência de manobras muito superior à prevista para a estação D.2, a qual é
bem mais elevada na estação D.4, onde o trabalho sem o socorro facultativo (e não automático) do terceiro grupo a instalar, seria quase
contínuo nas horas de máximo afluxo de um certo número de fios isolados, que são percorridos por correntes elétricas convenientes.
Todo o sistema de sinais comporta essencialmente:
a) um pequeno grupo motor elétrico-dínamo, que, no nosso caso, serve para transformar
a corrente alternativa a 220 volts, disponível, em corrente contínua a 24 ou 30 volts, necessária para o funcionamento dos sinais;
b) um pequeno quadro de distribuição e regulação da corrente, munido de todos os
acessórios indispensáveis: chaves, medidores, fusíveis etc.;
c) uma bateria de acumuladores de reserva carregada pelo dínamo precedente;
d) um quadro central, contendo todo o engenhosíssimo dispositivo para selecionar e
anunciar os sinais que chegam das várias estações distritais por intermédio do cabo;
e) um cabo contendo fios isolados de cobre em número de 14 (doa quais 13 somente são
necessários), do qual partem várias derivações (uma para cada estação), cada uma formada de um cabo contendo dez fios isolados, dos quais são
necessários somente 7 ou 8 para cada estação, conforme o número de ordem. Dos treze fios do cabo principal, quatro representam as centenas:
100-200-300-400; quatro representam as dezenas: 10-20-30-40; e os cinco representam as unidades 1-2-3-4-5.
f) finalmente, em cada estação, existem, com já vimos, 4 caixas de sinais.
Cada caixa de sinais é capaz de dar dois sinais distintos: se se trata de caixa
ligada a flutuador, dará sucessivamente, segundo a posição do mesmo, as seguintes indicações:
Flutuador de serviço (ou de reserva) acima (disco verm.)
Flutuador de serviço (ou de reserva) abaixo (disco preto)
se se trata de caixa ligada ao tubo de recalque da bomba, dará sucessivamente,
segundo o estado da mesma:
Bomba de serviço (ou de reserva) move (disco vermelho)
Bomba de serviço (ou de reserva) parada (disco preto)
A cada par de discos corresponde um disco móvel, preto e liso, que cobre ou descobre
um dos discos com as indicações acima, conforme o flutuador está em cima ou em baixo (primeiro par), conforme o motor está parado ou em movimento
(segundo par).
Temos pois 8 sinais distintos em cada estação (4 para os 2 motores, e 4 para os 2
flutuadores), o que dá um total de 80 sinais para as 10 estações existentes, que correspondem justamente ao número de combinações que se pode
fazer com os 13 fios acima mencionados (4 centenas, 4 dezenas e 5 unidades), pois 4x4x5=80. Essas são as combinações selecionadas e traduzidas em
sinais aparentes por intermédio do quadro central da Usina Terminal, conforme referimos acima.
Como recurso de esgotamento auxiliar das estações, e do próprio coletor profundo de
1,40 m de diâmetro, adotamos o sistema de esgotamento por sifonagem empregado por Waringe em Norfolk (Virginia, U.S.) e funcionando com pleno êxito
há muitos anos. Introduzimos, entretanto, algumas modificações, como sejam a multiplicação das bocas de aspiração em percursos, as válvulas com
flutuadores nas entradas etc. Um destes sifões tem 2 quilômetros de desenvolvimento e 6 bocas de aspiração em percurso. O ar e os gases são
extraídos por exaustores ligados ao aparelhamento elétrico nas estações.
Claro está que este recurso apenas serve, no ponto de vista da economia, onde a
indique a comparação orçamentária relativa ao custo de primeiro estabelecimento e ao custo do trabalho mecânico, no caso de se adotar estações
elétricas em lugar do sifão.
A Usina Terminal, em um pavilhão circular que prima pelo cuidado no revestimento das
paredes internas, compõe-se de três grupos de motobombas, cada um de 50 hp, e podendo elevar e emitir 120 litros por segundo; os tubos de emissão
destas bombas, e os de mais três futuras, se ligam radialmente a um injetor periférico, em cujo centro sobe o estandpip e do qual parte o
emissário.
O emissário geral é formado por um tubo de 0,70 m de diâmetro (previsto outro ao
lado, para o futuro), que receberá em percurso os esgotos de S. Vicente, atravessará o canal por uma ponte suspensa de 180 metros de vão (em
construção), continuará pela superfície baixa até os cômoros arenosos da Praia Grande; aí segue em canalete coberto, ao centro de uma avenida
(projetada) até junto à praia, onde de novo se emprega o tubo de ferro para costear pela ponta de Itaipu e descarregar no mar. A extensão total é de
cerca de 11 quilômetros.
Antes de resolver pela descarga in natura, à distância, foi projetado e orçado
o processo de depuração pelos tanques sépticos e leitos percoladores; o seu custo seria superior ao da solução adotada. Também se cogitou do
processo de depuração eletrolítica direta (não confundir com o processo Hermite); ficou, porém, resolvido fazer deste interessante processo
uma instalação experimental, porquanto, no caso de êxito, as vantagens serão consideráveis para as nossas cidades e mesmo para o destino dos
despejos de uma parte dos futuros arrabaldes de Santos (lado da Barra). Esta instalação está pronta, mas os seus resultados só podem ser apreciados
depois de se ter maior número de ligações de casas para a nova rede.
Junto da Usina Terminal estão a Usina Eletrógena e as oficinas.
E esta tem apenas um grupo de 250 hp (Delaunay Belleville), porque a sua função é
simplesmente de prevenção, em caso de acidente na fonte fornecedora de energia, que é a grande instalação da Companhia Docas de Santos. A nossa
usina produz a energia no tipo de corrente alternativa, trifásica, 60 ciclos, 2.200 volts.
A Companhia Docas fornece o mesmo tipo de corrente, mas com 6.600 volts, que baixamos
a 2.200 volts; os motores da Usina Terminal, cada um de 50 hp, são também dessa voltagem. A rede de distribuição é subterrânea e se compõe dos
seguintes elementos: - um cabo traz à Usina 6.600 volts; os transformadores baixam a voltagem a 2.200; - três cabos saem da usina, sendo um para as
estações ns. 4 e 6, outro para as estações n. 1, 2, 3, 5, outro para as estações ns. 7, 8, 9, 10. Além destes, temos o cabo de sinais e o de serviço
de iluminação dos edifícios e do parque.
Convém dizer que, embora seja a Companhia Docas de Santos a fonte primária de
fornecimento de energia, a sua tabela diferencial para as tomadas a forfait é de tal modo organizada que se tornou favorável um acordo com a
City, tomando esta da Companhia Docas uma grande cota a preço baixo, barateando os seus serviços, e, assim, convém ceder o excesso a preço mais
baixo do que nos forneceria a Companhia Docas. Pagamos 40 réis por quilowatt-hora, para 50 kw a forfait, atualmente, antes de feitas as
ligações; mais tarde, a base do consumo aumentará e o preço baixará.
Antes de passar a outro assunto, rendamos homenagem ao malogrado engenheiro Paulo
Saboia Bandeira de Mello, que iniciou os serviços de instalações elétricas, por conta da firma citada, com a dedicação extraordinária e a
competência distinta que todos lhe reconheciam. Depois da sua prematura morte, os trabalhos foram continuados com proficiência pelos engenheiros
José Maria Borges, professor da Escola Politécnica de S. Paulo, e Mario Gambara.
As instalações de esgotos nas casas são feitas com um critério ainda não generalizado
entre nós. É este assunto o mais importante, no ponto de vista rigorosamente sanitário, e é o mais desprezado. Consomem-se dezenas de contos de réis
no aformoseamento dos prédios, nas fachadas, nas tapeçarias etc.; mas os mesmos construtores ou os mesmos proprietários, vaidosos e ignorantes (ao
menos em higiene, que deveria ser de instrução rudimentar), discutem 100$000 no custo dos esgotos dos prédios e entregam o serviço, quando
podem, a maus assentadores de tubos e aparelhos.
Seria alongar por demais esta simples notícia dizer o que se está fazendo em Santos e
em Recife. Mais tarde a descrição se fará, em livro, com os desenhos indispensáveis para esclarecerem o assunto.
Bastar-nos-á dizer, por agora, que as plantas dos prédios novos ou a reformar passam
previamente pela Comissão de Saneamento, que arquiva a planta da propriedade (inclusive o terreno), com o projeto dos esgotos; feito o exame do
prédio, no ponto de vista sanitário, a Comissão faz as modificações necessárias e apresenta desenho novo, gratuitamente, caso seja preciso
alterar o proposto pelo proprietário. Os prédios antigos são também levantados em plantas para o projeto e a execução da reforma integral dos
esgotos.
Nestas instalações domiciliares são adotados diversos aparelhos que o
engenheiro-chefe organizou ou modificou para a melhoria ou a economia dos serviços; - estes aparelhos e processos não são privilegiados. Dentre
eles, citamos:
- Peça radial, na saída do prédio, a ligar com a junção radial, no
coletor geral (Est. 5, Pr.);
- Sifões auto-ventilados (v. Revista de Engenharia, v. 1, n. 5, pág.
136);
- Caixa de gordura (o modelo novo está descrito na Revista de Engenharia,
v. 1., n. 5, pág. 136);
- Peças de ligação das latrinas com a canalização de ferro fundido ou de ferro
laminado, com rosca;
- Processo anti-sifônico de ventilação invertida, para as latrinas (N.A.: Está
atualmente aprovado e em vigor).
O regulamento para estes serviços já foi apresentado ao governo. Nele adotamos uma
tabela pela qual os proprietários podem pagar as despesas de instalações por meio de anuidades em prazo de 3, 5, 7 e 10 anos na razão inversa da
importância do valor locativo; a taxa de juro é de 6% ao ano.
Este processo de cobrança se torna muito favorável aos proprietários pobres e só
assim se pode com êxito adotar as medidas utilíssimas de reforma dos gabinetes antigos, iluminando-os, ventilando-os e revestindo-os
convenientemente.
Ele é justo e deve ser adotado para se alcançar efetivamente o saneamento das
habitações; os governos que não hesitam despender fabulosas quantias na higiene onerosa das desinfecções, dos mosquiticídios etc., nos trabalhos
públicos de saneamento e aformoseamento, - não devem recusar este auxílio de simples adiantamento monetário para a higiene eficiente das
habitações, nas quais vive a família, nascem e crescem os homens do futuro, e se passa, em suma, a parte mais importante da existência.
Melhor é prevenir os males, saneando as suas principais fontes de produção e de
manutenção - as casas -, do que corrigi-los nos efeitos devastadores das endemias e das epidemias.
III - Esgotos pluviais
A Comissão projetou e executou quatro galerias principais que tomam as águas da
montanha (lado Norte e contorno Nordeste do Monte Serrate), e as descarregam diretamente no estuário. É preciso, para a eficácia destas galerias,
que a Prefeitura execute, ou faça executar pelos proprietários, os canaletes ou muros de contorno do sopé da montanha, onde convier, formando
reservatórios de detenção das terras de modo a retirar a grande massa obstruente; estes canaletes ou reservatórios têm o vertedouro de extravasão
para a galeria e, no fundo, um dreno para a mesma, de modo que eles só se enchem e extravasam nas grandes chuvas; finda a chuva, a água detida é
drenada e só fica o sedimento terroso; - não há estagnação.
À Prefeitura compete a execução das outras galerias destinadas a completarem o plano
de esgotamento das superfícies edificadas.
O plano de esgotamento das extensas superfícies de subúrbios, cerca de dois mil
hectares, consiste em uma série de canais que cortam a planície de mar a mar (permitindo o livre curso das marés altas) e se ramificam para o lado
da montanha.
As adufas (penstocks), situadas convenientemente, permitem armazenar água, em
preamar, num trecho de canal, para a descarregar em baixamar noutro trecho, a fim de facilitar a limpeza.
Os canais são revestidos de cimento armado até certa altura e depois de taludes
gramados. As pontes e passadiços são fundados sobre o próprio revestimento, reforçado por meio de nervuras, o que torna muito econômica a
construção.
A espessura do revestimento é normalmente de dez centímetros; transversalmente os
ferros são de oito milímetros de diâmetro, separados de 10 a 15 centímetros; longitudinalmente são de três milímetros de diâmetro, separados de
vinte a vinte e cinco centímetros. A distâncias variáveis, conforme os casos, mas normalmente a dez metros, são colocados drenos-filtros formados de
tijolos perfurados mergulhados em areia grossa e pedrinhas, de modo a evitar que passe a areia fina do subsolo e se formem solapamentos.
A Est. 9 representa o gráfico do regime para um dos
tipos.
O trecho de descarga no mar, avançando em uma praia de areia fina e movediça com o
correr das vagas, foi construído com precauções especiais que tiveram o mais completo êxito.
Nestes trechos, dos lados, estão construídos pequenos parques à inglesa, os quais
deverão se desenvolver por toda a curva da praia; a arborização, nos amplos tapetes de relva, deve ser sempre discreta para de permeio deixar à
vista o gozo do empolgante panorama da baía. Nas inaugurações parciais que se tem feito, a City of Santos ilumina graciosamente estes jardins e o
efeito é dos mais deslumbrantes.
Vê-se que o trabalho da Comissão, antes limitado à simples construção da rede dos
esgotos, se foi desenvolvendo - "saneando e aformoseando". Esta preocupação se revela nas pontes, nas avenidas dos canais, nos edifícios das usinas,
nas latrinas públicas situadas sobre as estações distritais, nos jardins laterais aos canais, no belo parque em frente à Usina.
A extensão total da rede pluvial é, atualmente:
Galerias |
2.363 metros |
Canais |
9.413 metros |
Bueiros e coletores secundários |
2.236 metros |
Total |
14.012 metros |
Obras principais:
Pontes |
28 |
Passadiços |
11 |
Penstocks |
9 |
Os terrenos foram cedidos gratuitamente pelos proprietários, na largura de 25 a 40
metros (conforme a importância dos canais), desde que as sobras valorizadas compensavam a cessão. Entretanto, para resolver uma questão que se
levantou e prevenir futuras, propusemos ao Governo a promulgação da lei de contribuição de melhoria, pela qual o proprietário de terreno
expropriado pagará uma taxa por metro corrente de frente do terreno restante, beneficiado. Vê-se que a lei paulista é mais liberal que a lei suíça,
de plus value, pois que a cessão gratuita isenta o proprietário da contribuição.
Não havendo tempo, em fins de 1910, para se discutir o projeto de lei, o Congresso
incluiu a contribuição como dispositivo orçamentário (N.A.: Atualmente o assunto está regulado na lei nº 1.376 de 31 de dezembro de 1912).
As avenidas laterais aos canais em muitos trechos ficam em cota inferior à dos
terrenos marginais, que antes eram submersos pelas águas das chuvas e hoje são drenados.
IV - Custo dos trabalhos
Antes de dar as parcelas das despesas, diremos que os trabalhos têm sido executados
por administração, salvo no começo, em que foram parcialmente adjudicados; ficou provada à evidência a desvantagem do processo. Esta experiência,
contrária à opinião do engenheiro-chefe, atrasou grandemente a marcha dos trabalhos e encareceu o custo em mais de 20%.
O orçamento inicial dos serviços de esgotos e canais montava a cerca de onze mil
contos, proximamente metade para cada um das redes. Não estavam incluídas as diversas obras, e algumas das incluídas foram tomadas por orçamentos
aproximados, por falta de dados, e isto está declarado. De memória citamos como não incuídos:
- Coletor de alvenaria, Norte da Rua C. Nébias (foram orçados coletores de tubo de
greis);
- Grande edifício da Usina eletrógena, máquinas e oficinas;
- Edifício da Comissão Sanitária;
- Trabalhos preliminares para o tratamento séptico, depois abandonados. Instalação
experimental eletrolítica;
- Diferença entre a transmissão elétrica aérea e a subterrânea;
- Grande transporte de terras para o saneamento dos baixios;
- Arborização de avenidas e reparos de alguns trechos, inclusive calçamentos;
- Maior número de pontes e passadiços;
- Os três jardins dos canais e o parque da Usina;
- A ponte suspensa de 180 metros de vão (em execução).
A escrituração do Tesouro, sob o título de Saneamento de Santos, vem somando
tudo: as despesas, em mais de três mil contos, da administração dr. Rebouças; a subvenção fixa de 90 contos anuais à City of Santos para o serviço
de água potável; a cota de 180 contos anuais para o custeio da rede antiga e, provavelmente, o custo das novas obras do Hospital de Isolamento,
Hotel dos Imigrantes etc.
Apuradas estas verbas estranhas aos serviços orçados, conservando, porém, aquelas
relativas a serviços não orçados mas inerentes à execução dos esgotos sanitários e pluviais, temos o seguinte quadro do custo efetivo dos projetos
Brito.
Quadro do custo efetivo dos serviços
Projeto R. de Brito (1905-1911) |
1 |
Estudos e serviços diversos |
194:855$042 |
2 |
Administração geral (esta verba, no valor de Rs. 898:181$968, está
distribuída 2/3 para esgotos sanitários e 1/3 para esgotos pluviais) |
distribuída |
3 |
Instalações |
448:665$459 |
4 |
Esgotos sanitários, emissários, ponte suspensa |
5.497:194$912 |
5 |
Esgotos pluviais, galerias e canais |
3.131:642$766 |
6 |
Usina eletrógena, oficinas, instalações e cabos |
624:639$410 |
7 |
Instalação experimental e despesas com os trabalhos abandonados para
o tratamento séptico e percolador |
94:457$137 |
8 |
Instalações domiciliares |
207:872$607 |
9 |
Móveis e utensílios |
9:672$411 |
10 |
Veículos e animais |
29:788$505 |
11 |
Instrumentos de Engenharia |
5:930$422 |
12 |
Desapropriações |
28:765$660 |
13 |
Estoque |
317:969$199 |
Total |
10.591:453$550 |
A parcela n. 1 não deve ser tomada integralmente, porque contém o ônus dos estudos
feitos antes do início dos trabalhos, levantamento da planta, locação de ruas e, de qualquer modo, não estava no orçamento do que se projetou
construir.
Da parcela n. 3 tomamos apenas 40% como despesa, porquanto o material existente
continua a ter valor, assim depreciado, para outros serviços.
A parcela n. 7 não representa serviço orçado, e sim acessórios e eventual. Das
parcelas ns. 9, 10 e 11 tomaremos apenas 30% como despesa orçada.
A parcela n. 13 é integralmente deduzida, porque representa o material em estoque,
para outros serviços.
Portanto, o custo efetivo, a comparar com o orçamento, consta das seguintes verbas:
1 |
Estudos |
50:000$000 |
2 |
Administração geral (incluída nos números 4 e 5) |
distribuída |
3 |
Instalações 40% |
179:466$184 |
4 |
Esgotos sanitários e emissários |
5.497:194$912 |
5 |
Esgotos pluviais, canais |
3.131:642$766 |
6 |
Usina eletrógena, oficinas, instalações e cabos |
624:639$410 |
7 |
Instalação experimental etc. |
não incluído |
8 |
Instalações domiciliares |
207:872$607 |
9 |
Móveis e utensílios 30% |
2:901$729 |
10 |
Veículos e animais 30% |
8:936$552 |
11 |
Instrumentos de Engenharia 30% |
1:779$127 |
12 |
Desapropriações (faltam as pagas diretamente pelo Tesouro) |
28:765$600 |
Custo efetivo até 31 dezembro 1911: |
9.683:198$947 |
Dos serviços orçados ainda se terá de executar muitas instalações domiciliares, parte
do canal n.1, e outras obras; mas, por outro lado, estão incluídas no custo obras não orçadas e mais valiosas, conforme acima ficou dito.
Comparando este resultado com o orçamento inicial de cerca de 11.000:000$000,
atendendo à demora na execução (devido à empreitada com que se começou o serviço, à situação financeira anterior e às autorizações parciais), o
resultado deste serviço é bastante eloqüente para provar que as nossas cidades podem se sanear com trabalhos bem executados e econômicos.
É preciso não esquecer também as dificuldades
extraordinárias dos serviços em Santos, tanto por falta de declividade do terreno, como pela natureza fluente do subsolo.
F. R. Rodrigues de Brito
Imagem publicada na obra da Comissão de
Saneamento de Santos (página 29) |