Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0076e01.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/16/10 14:19:23
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CANAIS - BIBLIOTECA NM
Inauguração do trabalho do Saneamento - 01


Cique na imagem para voltar ao índice deste livroUma exposição sobre as obras de saneamento projetadas para o município de Santos foi apresentada neste livrete de 92 páginas, impresso na capital paulista pela Typographia Brazil de Rothschild  & Co., e publicado em 1913 pela Comissão de Saneamento de Santos, liderada pelo engenheiro Saturnino de Brito, em meio a uma grande polêmica iniciada em 1910 com a Câmara Municipal de Santos, divulgada pela imprensa santista e paulistana.

O exemplar foi cedido a Novo Milênio para digitalização pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, em maio de 2010. A ortografia portuguesa foi atualizada, nesta transcrição (páginas 5 a 10):

Leva para a página anterior

Inauguração dos Trabalhos

de Saneamento de Santos

Comissão de Saneamento de Santos - 1913

Leva para a página seguinte da série

I - Revista de Engenharia - 10 de maio de 1912 - Saneamento de Santos

governo paulista que findou o mandato em 30 de abril último teve a felicidade de ver encerrado o seu fecundo e brilhante período administrativo com as inaugurações de importantíssimas obras e serviços - que o vertiginoso progresso do Estado exigia reformar ou iniciar, e que felizmente uma situação financeira bem folgada permitiu realizar desassombradamente.

Os trabalhos de saneamento de Santos, agora definitivamente concluídos e inaugurados oficialmente, destacam-se, na lista extensa desses melhoramentos executados nos últimos tempos, como uma das mais brilhantes vitórias dos governos republicanos de S. Paulo, que lhes deram início, prosseguimento e conclusão, e como uma das mais decisivas provas da capacidade técnica e administrativa da Engenharia nacional.

Não vale repetir aqui o muito que já se disse e escreveu sobre o que era Santos ontem, cidade insalubre, marcada nos itinerários pelo estigma das epidemias dizimadoras - e o que é hoje Santos saneada, o que será amanhã a bela cidade marítima com a sua área de contorno pitoresco, toda recortada de grandes avenidas e semeada de jardins; com as suas praias formosas, povoadas de uma multidão de forasteiros em busca da suave brisa do Atlântico; o que são hoje e o que serão amanhã o porto e a city, na atividade assombrosa de um tráfego comercial intenso...

Vale mais considerar e refletir sobre as determinantes do sucesso obtido e avaliar do aproveitamento futuro da verdadeira lição que encerram os nove anos de trabalho da Comissão de Saneamento de Santos.

A vivíssima satisfação que os paulistas manifestam pela realização feliz desse empreendimento não tem suas origens exclusivamente nos interesses regionais por ele beneficiados tão grandemente ou na vaidade bem justificável de despender somas e esforços na consecução de uma obra grandiosa e útil.

Essa satisfação - esse orgulho, se assim o querem os que nos dizem com injustiça excessivamente bairristas - é em grande parte por se ter afirmado em terra paulista, de uma forma decisiva, o valor dos profissionais brasileiros na concepção e execução de planos num dos ramos mais delicados e discutidos da nossa técnica, e também pela criação de um exemplo magnífico às administrações do nosso país de como é possível resolver com os nossos homens os problemas mais complexos da Engenharia, desde que não se lhes negue autonomia de ação e não lhes falte a precisa envergadura de resistência a certas rotinas da máquina burocrática.

Apreciados sob este último ponto de vista, os trabalhos da Comissão de Santos dignificam os que neles tiveram responsabilidades e impressionam fundamente todos aqueles que querem ver o progresso em nossa terra desenvolvido em ordem e com critério, sem as inconsistências de trabalhos apressados, que fazem vista apenas pelas exageradas réclames que os cercam.

Com efeito, no Saneamento de Santos não se deve apreciar apenas a execução feliz de planos técnicos, magnificamente estabelecidos por uma real autoridade na matéria; é preciso assinalar, também, a segurança e critério da marcha administrativa e econômica que eles tiveram.

Ao contrário do que sucede em muitas das grandes obras que se empreendem no país, a grandeza e as dificuldades do problema a satisfazer não prejudicaram a serenidade com que ele devia ser encaminhado, do papel para o terreno -, por todo esse caminho tortuoso, de contratos e empreitadas, em que o mais simples descuido faz naufragar as maiores competências.

Os relatórios do Saneamento de Santos, tão apreciados e preferidos entre os seus congêneres (em geral limitados a longas bibliografias e quadros incolores) -, esses relatórios mostram nitidamente que ao lado da crítica e da adaptação de princípios puramente técnicos, a Comissão cuidava carinhosamente da parte administrativa e econômica das grandes obras que sanearam Santos.

Essa harmonia em preocupações de natureza tão diversa atesta positivamente a excelência da direção superior da Comissão confiada ao sr. Rodrigues de Brito e explicam o sucesso dos trabalhos melhor que a abundância de recursos e a boa vontade dos governos.

Deve-se, pios, a esse ilustre engenheiro, as mais calorosas felicitações. Ele é, na verdade, como disse o sr. Baeta Neves, "o grande disciplinador e príncipe da engenharia sanitária do país". "Grande disciplinador", pela rigidez de princípios filosóficos elevados, a serviço de uma atividade sem par na prática profissional. "Príncipe da engenharia sanitária brasileira", pela autoridade que os seus conhecimentos e serviços consagraram definitivamente.

A Revista de Engenharia publicará nos números subseqüentes longa e minuciosa descrição dos trabalhos de Saneamento de Santos, acompanhada de grande cópia de gravuras.

Por hoje, limitamo-nos à publicação do discurso proferido pelo engenheiro-chefe da Comissão, sr. F. S. Rodrigues de Brito, na festa inaugural realizada em 23 de abril. Ei-lo:

DISCURSO

proferido pelo engenheiro-chefe

"Exmos. senhores presidente do Estado, secretário da Agricultura, presidente da Câmara e prefeito municipal - Senhores. - Nos poucos minutos pedidos à vossa atenção, não posso fazer uma exposição de acordo com a importância dos trabalhos que a Comissão de Saneamento entrega inaugurados ao governo de S. Paulo, os quais constituem a prova eloqüente do apreço pela salubridade e pelo progresso da cidade de Santos.

"Relembremos, apenas, para melhor apreciar o ato do governo, o que era a cidade de Santos - atraindo os homens empreendedores pelo comércio do seu porto natural, e ao mesmo tempo os afugentando pela letalidade elevada, à qual muitos ousados pagaram o tributo do aniquilamento fatal.

"Relembremos: - de um lado a ânsia que dominava os espíritos mais fortalecidos para a luta; - de outro lado os programas de administrações sucessivas, apontando a necessidade premente de se sanear Santos, mas ficando a questão sem solução prática, por motivos intercorrentes.

"Relembremos sempre: - O Estado progredia, a riqueza se consolidava -, mas no pórtico das grandes transações comerciais, neste vestíbulo de recepção do visitante interessado, era preciso - passar sem se deter...

"Breve, entretanto, as primeiras obras surgem e os efeitos modificadores da situação se fazem sentir de um modo iniludível.

"O cais de atracação, que o governo do país confiou à inteligência altamente empreendedora de Candido Gaffrée e do malogrado Eduardo Guinle, sendo engenheiro-chefe o ilustre Benjamim Weinschenck -, o cais da Companhia Docas de Santos constitui o elemento saneador do litoral.

"Data de 1892 a intervenção direta dos governos do Estado; - encampando a rede antiga dos esgotos e mandando proceder a estudos, em várias administrações, para a sua reforma; - inovando o contrato para a distribuição de água potável, pura e abundante, e intervindo na higiene domiciliar, pelo seu corpo de médicos sanitários, atualmente sob a direção superior de Emilio Ribas, no estado de S. Paulo, e de Guilherme Alvaro com agente local em Santos.

"Finalmente, em 1902, o governo Bernardino de Campos resolve executar os serviços dos esgotos, confiando-os à conhecida atividade e inteligência do dr. José Rebouças. Em 1905 o governo Jorge Tibyriçá, por intermédio do dr. Carlos Botelho, secretário da Agricultura, convidou-me para aqui realizar o plano esboçado em várias publicações. A economia orçamentária, comparado o novo projeto com o anterior, era de cerca de dez mil contos de réis. Poderíamos, portanto, executar outras obras sanitárias essenciais, compreendidas no plano geral que submetemos ao governo naquele mesmo ano.

"O plano foi aprovado, mas a execução das obras acessórias ficou restringida, devido à situação financeira do momento.

"Apesar desta situação se ter agravado no começo do governo Albuquerque Lins, este manteve em andamento os trabalhos de saneamento de Santos e o sr. dr. Candido Rodrigues, quando secretário da Agricultura, autorizou algumas obras de galerias pluviais e canais, prestando mais um relevante serviço a Santos. Com a melhoria da situação financeira, o atual governo, nestes dois últimos anos, autorizou a realização completa do plano previsto, mandando construir todas as galerias e canais para a atualidade.

"O interesse criterioso que sempre teve por Santos o sr. Albuquerque Lins, e o nobre entusiasmo do sr. dr. Padua Salles, traduziram-se em empreendimentos notáveis, dilatando a vida da Comissão de Saneamento e a incumbindo de novas obras, como sejam o Hospital de Isolamento, o Hotel de Imigrantes e os esgotos de S. Vicente, que deverá ser transformada em 'cidade jardim'.

"Estas novas obras estão sendo dirigidas por Miguel Presgrave, o distinto colega e amigo que há anos me auxilia e ficou me substituindo nas longas ausências que me permitiu o governo de S. Paulo, para prestar a Recife serviços análogos aos de Santos. Conservei, entretanto, a responsabilidade dos trabalhos que projetei e executamos, para vo-los entregar, hoje, em normal funcionamento, prestando contas ao governo que termina a admirável gestão dos negócios do Estado, e ao governo que a vem retomar, nesta sensata continuidade de administração que tem feito a grandeza de S. Paulo.

"O governo Rodrigues Alves será o governo do administrador prudente que sempre foi e do ousado reformador do Rio de Janeiro, quando assim foi oportuno e necessário agir.

"Eis, senhores, em síntese, o movimento da administração pública do Estado, para chegarmos ao resultado que podeis julgar pelo que está feito e pelo que se está fazendo.

"A descrição sumária dos projetos eu vo-la dou na imprensa. Mas, parece-me que a inspeção dos trabalhos e a satisfação da população de Santos ao recebê-los, serão mais eloqüentes atestados da benemerência do governo, do que a minha linguagem técnica e estas palavras fugazes.

"Para chegarmos a este resultado, a par dos atos do governo e do apoio valioso que havemos tido dos poderes municipais e da generosa população de Santos, devo salientar os elevados merecimentos dos meus dedicados auxiliares e colaboradores (alguns já desligados da Comissão), desde Miguel Presgrave, o meu distinto substituto, até os humildes operários, não menos entusiastas pelos serviços; - a eles, o meu reconhecimento muito sincero.

"Mais algumas palavras.

"Permiti, senhores, que o engenheiro brasileiro, devotado à sua Pátria, sem outra ambição que não seja o servi-la sem desfalecimentos e deixar aos filhos o legado do nome e dos exemplos; - permiti que ele externe uma grande satisfação ao entregar ao governo de S. Paulo o importante aparelhamento dos esgotos de Santos.

"Não se trata de uma inauguração de serviços banais. Nesta festa deve-se apreciar também o alcance social do nobre gesto dos governos de S. Paulo, confiando à engenharia nacional, sem hesitações, tão importante questão. Pouco importa a pessoa distinguida; nem mesmo predomina, para a satisfação minha e dos meus companheiros de trabalho, o sentimento de classe: - mais levantadas aspirações vibram nas nossas almas, porque vemos na confiança estimulante dos governos a sintomática e eloqüente afirmação de que estão vencidos o torpor colonial e a dependência passiva da intervenção estranha, sem iniciativas próprias e locais. Gratos aos que nos ensinam o que sabemos, procuramos honrar os mestres de outras terras, fazendo aqui, com as modificações inteligentes para a nossa situação, o que eles fazem nas suas pátrias.

"A engenharia brasileira vem se engrandecendo nesta orientação que tanto elevou a grande República do Norte da América. Melhor que ninguém, os nossos engenheiros fazem a exploração ferroviária das nossas matas cerradas, de topografia ignorada, algo misteriosa; - do que valem na construção dos portos temos um exemplo na Docas de Santos; - os mais eminentes estrangeiros admiram a remodelação heróica de uma parte do Rio de Janeiro e a criteriosa evolução de São Paulo; - finalmente, a nossa engenharia já vem resolvendo os mais importantes problemas da higiotécnica, saneando as nossas cidades, garantindo a vida, poupando dores, estabelecendo o bem-estar, criando, em suma, a atmosfera hígida da felicidade.

"Para este surto brilhante e promissor não basta a competência técnica; é preciso que a alimente o elevado descortino administrativo dos governos. Nesse ponto de vista, sabem todos que os governos de S. Paulo são os que mais honram a nossa gente e o nosso país. Os fatos aí estão atestados pelo progresso do estado; o saneamento de Santos, trabalho de brasileiros, honrado pela festa que lhe faz o governo, honra o próprio governo e o povo paulista.

"Eduquemos os nossos filhos na gratidão pelo que nos vem do passado e pelo que nos fazem os bons governos. Crianças santistas, entre as quais um filho meu, sede gratas às administrações que tão grandes serviços prestam à cidade; depositai os votos puríssimos nas almas dignas dos que, no governo atual, representam o Passado e preparam o Futuro - o sr. dr. Albuquerque Lins presidente do Estado e o sr. Padua Salles, secretário da Agricultura, o grande amigo de Santos.

"Vou concluir.

"O futuro será certamente próspero e brilhante para a cidade fundada por Braz Cubas e na qual nasceu e repousa José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca, o maior dos brasileiros.

"Pois bem, senhores, a gratidão contemporânea deve ser o desenvolvimento da gratidão pelos beneméritos do Passado.

"O vulto do fundador da cidade já está firme, de pé, a dominar uma das praças da velha urbe, graças aos esforços do venerando coronel Almeida Moraes. É preciso que também o vulto do fundador da nação brasileira, nascido nesta terra, domine a bela baía de Santos, cogitando deixar a cidade, sair mar em fora,  para 'realizar na idade madura o sonho da mocidade' da própria nação, esse sonho de liberdade que fez vibrar as almas de Tiradentes e outros patriotas. Mais feliz que os mártires, ele fundou e organizou esta Grande Pátria, cujo pavilhão, com as cores da esperança e da opulência, se desfralda tendo inscrito o lema da ORDEM E PROGRESSO, e o Cruzeiro do Sul como símbolo do amor e da fraternidade entre as estrelas que representam os Estados, fulgurando com brilho intenso SÃO PAULO.

"Saudemos, senhores, o governo do Estado, nas pessoas dos exmos. presidente do Estado e secretário da Agricultura; o futuro governo; os poderes municipais - fazendo votos pelo progresso da cidade de Santos, saneada".

Imagem incluída na obra da Comissão de Saneamento de Santos (página 5)