HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Incêndio no navio Austral, em 1967
José Carlos Rossini (*)
O navio-motor Austral atracou em Santos no dia 27 de dezembro de 1966
procedente do Chile, via Rio da Prata, com carga geral e 3.109 ton. de salitre. Levava a bordo também uma partida de moedas divisionárias cunhadas pela
Casa da Moeda do Chile para o governo da República Oriental do Uruguai e acondicionadas em 950 caixas, que seriam desembarcadas na viagem Sul em
Montevidéu. Depois de descarregar o salitre, o Austral deveria zarpar para o Rio de Janeiro e proceder à descarga de vários gêneros.
Foto: Museu do Porto de Santos
Às 14h28 do dia 2 de janeiro de 1967, uma segunda-feira, irrompeu um incêndio no porão 4 do navio atracado junto
ao Armazém 25. O fogo teve início em uma lingada (N.E.: conjunto de sacos, numa amarração com cordas, que é içado de uma só vez
pelo guindaste) de sacos de salitre do Chile que estava sendo descarregada. Alguns sacos em chamas caíram no interior do porão, alastrando-se a
assim o fogo por toda a carga.
Em poucos minutos, as labaredas atingiram cerca de 30 metros de altura, ultrapassando mesmo a extremidade dos
mastros e paus-de-carga do navio e, como fosse impossível extingui-las, o Austral foi desatracado e rebocado até Conceiçãozinha, na outra margem
do estuário, à altura do Armazém 29. Sucessivas explosões fizeram que as chamas se propagassem, atingindo o porão 5 e a casa das máquinas - situada
anexa ao porão onde o sinistro iniciou-se.
Por determinação da Capitania dos Portos, o canal do estuário foi imediatamente interditado, enquanto que os
rebocadores Saturno, Saboó (da Companhia Docas de Santos - CDS) e Sabre, da Wilson Sons, combatiam o incêndio, lançando também
jatos de água contra a superestrutura do cargueiro - que, devido à alta temperatura, ameaçava desintegrar-se.
Foto: Museu do Porto de Santos
O incêndio só foi totalmente debelado por volta das 6h00 da manhã do dia 3 de janeiro e, devido às explosões
ocorridas à altura da casa das máquinas, quando o fogo lavrava mais intensamente, soltaram-se dezenas de rebites do casco, possibilitando a entrada de
água nos porões. Com isso, o Austral adernou consideravelmente para bombordo.
Na manhã do dia 4 de janeiro, o fogo voltou a arder na altura da casa das máquinas e os bombeiros foram
obrigados a retornar ao navio para combate; no final da tarde do mesmo dia, o adernamento acentuara-se e a popa já estava ao nível da água. Três
tripulantes ficaram feridos na fuga precipitada de todos quando irrompeu o incêndio. A tripulação total era de 45 homens, comandados por Umberto
Cárdenas Hurriaga.
O Austral ficou praticamente destruído, dele restando somente o casco e um monte de ferros retorcidos e
enegrecidos. As origens do incêndio foram atribuídas à combustão espontânea. Inquérito foi aberto em 31/1/1967. As caixas contendo as moedas uruguaias
foram retiradas dias após, felizmente intactas, e o Austral posteriormente desmontado em Santos pela empresa Grieves.
Foto: Museu do Porto de Santos
(*) O pesquisador José Carlos Rossini,
residente em Genebra, na Suíça, é autor do livro Sinistros Marítimos -
Costa do Estado de São Paulo - 1900-1999 (edição do autor, 2000, Santos/SP), do qual foi extraído este relato, entre outras obras do gênero.
As labaredas atingiram mais de 30 metros de altura, e se propagaram por todo o navio,
destruindo-o, e à carga. Rebocadores usaram canhões de água para debelar o fogo
Foto publicada no jornal santista A Tribuna, em 3 de janeiro de 1967
(imagem no acervo do historiador santista Waldir Rueda)
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