Um belo espetáculo do Teatro Radiofônico P. R. B.-4 com Walter Forster e Rosalía Ferraro

Num "tour de force", Elton Santiago conseguiu trazer a esta cidade dois dos mais representativos elementos do rádio-teatro nacional: Walter Forster e Rosalía Ferraro, o romântico par de artistas da Rádio Bandeirante, cujo trabalho é largamente apreciado entre os fãs brasileiros.

Walter Forster e Rosalía Ferraro vieram a Santos especialmente para atuar ao microfone do Rádio Club de Santos, numa gentileza do Sabão Piratininga, que patrocinou o magnífico espetáculo.

Foi irradiada a delicada peça de Walter Forster - Cinco dias de felicidade -, em cujo desempenho esteve o autor, no principal papel masculino, Rosalía Ferraro, como a figura central feminina e Yara de Aguiar, outro grande elemento do rádio bandeirante, que encarnou mais um notável papel de mãe.

Do elenco do Rádio Club de Santos cooperaram Elton Santiago, Horácio Guimarães, Arnaldo Gonçalves, Osvaldo Camargo, José Araújo, Carlos Marcondes, Sílvio Pereira, Valdemar de Melo, Everaldo Porto.

Todos tiveram desempenho brilhante, merecendo os efusivos cumprimentos da numerosa assistência que compareceu aos estúdios da Rua José Caballero.

Após a irradiação, foi realizado o sorteio entre os que acertaram os nomes dos dois artistas da noite, no concurso organizado por Elton Santiago.

Saiu vencedora a menina Magaly Garcez, de um e meio de idade, que recebeu, assim, os quinhentos cruzeiros de prêmio.

"ARNALDO GONÇALVES, O SPEAKER-RADIO-ATOR - Arnaldo Gonçalves que há bastante tempo se destaca como locutor das irradiações de PRB-4, está se firmando também como rádio-ator, em papéis de galã. Com Teixeira Filho, forma Arnaldo Gonçalves uma boa dupla masculina dos espetáculos rádio-teatrais bequatrinos"

"UM NOVO ELEMENTO FEMININO NO ELENCO RÁDIO-TEATRAL DO RÁDIO CLUBE DE SANTOS - Depois que Osvaldo Camargo ficou com a direção do elenco rádio-teatral de PRB-4, foram aparecendo elementos novos, que o conhecido broadcaster pretende elevar à categoria de artistas de rádio. Entre as novas figuras que estão aparecendo, destacamos hoje a de Nelly Alves, uma jovem que esforçadamente vem aparecendo nas novelas e peças de PRB-4. Não podemos dar a Nelly Alves o título ambicionado de rádio-atriz. Ainda lhe faltam qualidades para isso. Mas muitas outras começaram por onde ela está começando e estão hoje em posição prestigiosa perante os fãs. Nelly Alves, se prosseguir com boa vontade, chegará até onde deseja. E os fãs também desejam isso, estamos certos..."

Junho Radiofônico

O mês invernoso arrefeceu os ânimos dos programadores santistas.

Junho radiofônico não atingiu a nossa expectativa, depois do grande movimento de artistas visitantes e de programas inspirados lançados ao ar sem grande propaganda.

Houve um arrefecimento, natural arrefecimento depois de um grande calor. O Rádio Clube anunciou o lançamento de três novos programas e apenas pudemos ouvir um programa extraordinário, que não obteve o êxito esperado, tal foi o ruído empregado na sua auto-propaganda. "A Invasão", como programa de rádio, foi preparada muito rapidamente, e numa ocasião em que nem mesmo os periódicos tinham notícias sobre a situação na frente da Península Normanda. Como seria possível, três dias depois, um programador trazer para o papel e atirar ao microfone um drama vivo, dos momentos angustiosos por que passavam os nossos soldados e os habitantes da região invadida?

Eis porque "A Invasão", da pioneira, deixou muito a desejar.

Para compensar esta falha radiofônica, poucos dias depois anunciava a PRB-4 a vinda de dois elementos (que, na verdade, foram três) de destaque do teatro paulistano, para tomarem parte num espetáculo do seu rádio-teatro sabatino. Foi um espetáculo digno de ser ouvido, embora venha acentuar uma certa fraqueza dos rádio-atores locais, porquanto faz ressaltar o trabalho e o desempenho dos papéis principais, confiados aos ilustres visitantes, passando os nomes em evidência no rádio local para segundo plano. Mesmo assim, constituiu a vinda de Walter Forster, Rosalía Ferraro e Iara de Aguiar, a maior atração do mês bequatrino.

No setor dos "dinâmicos", nada temos que falar. Foi tal o sossego, comparado ao mês anterior, tal o descuido dos programas em evidência, que a própria apresentação de Rádio-Novela, de Páginas Sonoras e outros programas rádio-teatrais sofreu interrupção inesperada.

Que teria acontecido? Procurando saber o que se passa, tivemos uma auspiciosa promessa para novas surpresas. Dizem os "atlânticos" que o mês de julho trará um bom elemento rádio-ator para o seu cast. Além disso, no momento em que encerrávamos nossa croniqueta, anunciavam o lançamento de um novo programa "A Volta ao Mundo". "Alegria na Praia", tão falado e comentado lançamento de Luís Carlos, também deixaria de ser um mito no próximo mês.

Apenas, o que se notou de "grande novidade" foi a inclusão da PRG-5 na rede Ipiranga, para apresentação de um programa retransmitido, que nada traz para o sabor local dos ouvintes santistas.

Eis o que foi, ao nosso fraco ouvido, junho radiofônico.

Que julho seja mais farto e promissor.

O conhecido galã, que, dia a dia, vem obtendo maior número de admiradores, faz anos justamente no dia em que se festeja o início de Páginas Sonoras, naquela emissora.

Por isso, aproveitando o ensejo, na irradiação desse programa, registrou-se o duplo motivo de satisfação, e José Gomes recebeu de seus colegas e amigos as mais sinceras provas de simpatia.

Laura Ferraz, a cantora que se fez rádio-atriz - O trabalho é a única razão de ser de sua vida - Gosta de ser "mãe" no rádio, mas sabe ser "vamp" como ninguém

Trazemos hoje para esta página a figura festejada de Laura Ferraz, essa esplêndida rádio-atriz que tanto destaque tem no elenco do Rádio Clube de Santos. Quisemos ouvi-la no relato de suas recordações e de suas impressões. E Laura, muito gentil, sempre sorridente e amável, fez-nos a vontade, respondendo a todas as nossas curiosas perguntas.

- Quero, antes de mais nada - vai dizendo a nossa entrevistada - declarar que meu nome exato é Laura Ferraz de Negreiros. E já que quer saber, nasci nesta cidade, aos 6 de fevereiro de 1919. Sinto-me, pois, bastante velha, a tal ponto que os outros perceberam isso e passaram a ver em mim a mãe das peças rádio-teatrais da PRB-4...

Começou como cantora

- Imagine - prossegue Laura - que comecei minha carreira radiofônica como cantora. Cantei um número numa Hora de Novatos e passei, depois de um teste a cantar ao microfone da Rádio Clube de Santos. Tinha prazer em cantar. Minhas valsas e minhas canções significavam muito para mim. Isso foi em 1935, lembro-me bem...

- Mas você também cantou na Rádio Atlântica...

- Também cantei, mas foi depois. Em 1938 passei para a PRG-5 e lá estive até 1940, quando me retirei do rádio, por me encontrar enferma. Pensei que nunca mais voltasse ao rádio.

Moça de trabalho - Laura Ferraz sempre foi moça de trabalho. Desde muito criança começou a lutar pela vida, para auxiliar a mãe e os irmãos. Tinha sete anos quando seu pai faleceu e, pouco tempo depois, começou a trabalhar num consultório médico. Ganhou prática. E hoje, entre uma representação radiofônica e outra, vai aplicando as suas injeçõezinhas, para não perder o hábito...

Sua vida nunca foi folgada. Mas Laura, moça animosa e de muito valor, encara todas as vicissitudes sorrindo, não permitindo que sua alma se deixe abater ante os embates da vida.

Laura gosta de trabalhar. Acha que o trabalho é a única razão de ser de sua vida. E isso não é pouco.

A volta ao rádio - Uma vez restabelecida, integrada no trabalho, Laura sentiu saudades do rádio. Quis voltar. Era, logicamente, um auxílio a mais. Estava fazendo um teste com o maestro Vetró, quando este sugeriu a idéia dela ser aproveitada no rádio-teatro, então dirigido por Querubin Correia.

Este, precisando um elemento para o papel de negrinha da peça Anjo ou demônio, experimentou-a. Fracasso. Laura não dava nada como caipirinha. Então, Querubin quis ouvi-la num papel sério. Deu-lhe, para experiência, o papel de mãe, na mesma peça, e de tal maneira ficou impressionado que, nessa mesma noite, Laura estava diante do microfone, enfrentando pela primeira vez em toda a sua vida um difícil papel, num gênero que lhe era absolutamente estranho...

De cantora de rádio a rádio-atriz

- Daí para cá - diz-nos Laura - deixei de cantar e fiquei definitivamente no rádio-teatro. Estou muito contente assim. Bastante contente. Trabalho com vontade e conto melhorar cada vez mais, para isso contando com a boa vontade de Elton Santiago, meu diretor.

- Que papéis gosta mais de interpretar?

- Acostumei-me nos papéis de mãe. Mas se tenho que fazer uma vamp, como na novela Vingança, não fico contristada. Passo de uma para outra sem grande esforço!

E assim é Laura Ferraz Negreiros. Ativa, modesta, simpática e sobretudo, muito sorridente para com os azares do próprio destino.