SANTUÁRIO DO MONTE SERRAT PODE SER TOMBADO - O bispo diocesano de Santos, dom Jacyr
Francisco Braido, pediu ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o tombamento do Santuário de Nossa Senhora do Monte Serrat.
A medida, se concretizada, abrirá caminho para que a Diocese obtenha recursos junto à União para restaurar a capela, onde fica a imagem da padroeira
da Cidade
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria
Domingo, 7 de Maio de 2006, 09:10
MONTE SERRAT
Diocese pede tombamento do santuário
Objetivo é receber dinheiro da União para restaurar a capela
Da Reportagem
O Santuário de Nossa Senhora do Monte Serrat pode ser
tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A medida, se concretizada, abrirá caminho para que a Diocese de Santos
obtenha recursos do Governo Federal para restaurar a capela, onde fica a imagem da padroeira da Santos.
O pedido de preservação foi feito pelo bispo diocesano de Santos, dom Jacyr Francisco
Braido, e entregue ao Iphan no final de março, pelo arquiteto Jaime Calixto e pela deputada federal Mariângela Duarte (PT). O presidente do órgão,
Luiz Fernando de Almeida, está analisando a solicitação. Não há prazo para resposta.
A igreja já é tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa).
Mas a importância histórica, arquitetônica e religiosa do santuário extrapola os limites municipais.
"Essa igreja é um marco do estilo colonial na Cidade", justifica Calixto, que ajudou
nas restaurações da Igreja Matriz, em São Vicente, e do Convento de Itanhaém. O arquiteto Fernando Gregório também participa dos estudos.
Capela é um dos prédios mais antigos do Brasil e teria ficado pronta entre 1599 e
1615.
Foi construída à base de pedras e cal
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria
Simplicidade - A principal característica da capela é a simplicidade.
Inaugurada no início do século 17, quando Santos era povoada basicamente por colonos portugueses e espanhóis, ela foi construída à base de pedras e
cal.
A fachada é lisa, sem adornos, e possui apenas duas janelas e um óculo. À direita, uma
torre com sinos. Dentro, destaque para o pequeno coro e o púlpito, de onde os padres conversavam com os fiéis, após as missas rezadas em latim.
"Muita coisa mudou desde que ela foi construída", afirma Calixto, apontando para o
chão em granilito, originalmente feito em madeira, e para as paredes, hoje, azulejadas. "Essa descaracterização é normal. Ao longo dos tempos, a
comunidade foi reformando a igreja e as características originais foram se perdendo. Nossa intenção é, aos poucos, recuperar essas características".
O dinheiro para a restauração pode vir do Governo Federal, caso o Iphan reconheça a
importância histórica e cultural do santuário. O arquiteto acredita que as obras não exigirão valores tão elevados, até pelas pequenas dimensões da
capela.
O padre José Myalil Paul, responsável pelo santuário do Monte Serrat, está otimista.
"É um dos prédios mais antigos do País, que ficou pronto entre 1599 e 1614, não se sabe com exatidão. Só por isso, já é justo que seja tombado. É
parte da história do Brasil". Da construção, teria participado um importante engenheiro italiano, o florentino Baccio de Filicaia.
Calixto, o arquiteto, destaca ainda a importância religiosa do santuário. A devoção a
Nossa Senhora do Monte Serrat, declarada padroeira de Santos em 1954, tem origens espanholas.
Calixto: capela é um marco do estilo colonial em Santos
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria
Montanha - Em Barcelona, há uma montanha homônima, geograficamente semelhante
ao morro santista. Registros históricos indicam que uma imagem de Nossa Senhora teria sido escondida lá, em uma caverna, durante o século 6.
Milhares de anos depois, ela foi encontrada, e o papa Leão XIII declarou a santa Montserrat padroeira da Catalunha.
A fé na padroeira teria sido introduzida em Santos pelo então governador dom Francisco
de Souza, espanhol e devoto da santa. Com o tempo, a devoção cresceu.
Em 1614, tropas holandesas invadiram a então Vila de Santos. A população se refugiou
no Monte Serrat, um ponto estratégico, com visão panorâmica. Quando os holandeses se aproximaram do morro, houve um deslizamento de pedras e terras,
que soterrou as tropas. Os fiéis atribuíram o fato a um milagre de Nossa Senhora.
"Estamos encaminhando uma série de documentos históricos ao Iphan para tentar agilizar
o processo de tombamento", disse Calixto, ciente de que a espera pode ser longa. No Iphan, ainda tramitam processos iniciados em 1937.
É questão de fé. |