HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
A escola de samba do padre Paulo
Começou em 1972, com um grupo de rapazes batucando fora da igreja
Foto: Sérgio Eluf
Há
em Santos uma escola de samba diferente. Não no modo de sambar, nem nos seus alegres objetivos carnavalescos. É que, quando desfila, ela traz sempre à
frente um padre. Um padre, sem fantasia, sem batina, de roupas civis, mas um padre.
Esse padre não é outro senão o conhecido, simpático e bem-humorado Padre Paulo (Horneaux de
Moura e a escola - que ele ajudou a fundar anos atrás - é a Mocidade Independente de Padre Paulo, várias vezes campeã do Carnaval santista.
"Mas, como é que o senhor foi fundar uma escola de samba, Padre Paulo?" E ele nos conta como tudo aconteceu:
"Foi no ano de 1972 e eu havia sido designado para ser o primeiro vigário da recém-fundada Paróquia de São Jorge
Mártir, no Macuco. Num domingo de Páscoa, enquanto eu rezava a missa, um grupo de rapazes batucava do lado de fora da igreja. Usavam latas de banha e de
cera. Acabou a missa e eu, contrariado, fui falar com eles. Perguntei: se vocês gostam tanto de batucar, por que não fazem um bloco para desfilar no
"Dona Dorotéia"? À noite, novamente depois da missa, eles me esperavam do lado de fora da igreja, para me dizer que acabavam de criar o bloco e que
haviam lhe dado meu nome: Bloco Carnavalesco Mocidade Independente de Padre Paulo.
"Protestei - continua padre Paulo -. Mas um deles, carioca, alegou que na sua terra havia a Mocidade
Independente de Padre Miguel. Aí retruquei que Padre Miguel é o nome de uma estação de trem, mas não houve jeito, eles estavam irredutíveis e disseram
que só continuariam com o bloco se o nome fosse aquele.
Padre Paulo Horneaux de Moura
Foto: Sérgio Eluf
"Ora,
como minha intenção era organizar o pessoal jovem do bairro, preferi não criar caso. Anos depois, o bloco virou escola de samba. E eu acabei como sócio
fundador! (é interessante que se saiba que Padre Paulo tem desenvolvido, durante toda sua carreira religiosa, um trabalho bem sucedido com jovens em
geral, organizando núcleos em vários bairros, com o intuito de levar à juventude formação moral e religiosa).
Padre Paulo nos confessa que essa sua participação na escola de samba já lhe rendeu muitas críticas e até sérias
advertências por parte da Cúria Diocesana. "A tudo isso respondo com a tranqüilidade da minha consciência e a certeza de que realizo o que Cristo quer.
Somos levados a cooperar com o povo onde o povo gosta. O brasileiro é muito alegre, brincalhão, e religião, ora essa, não é uma coisa triste!"
As pressões diminuíram depois da visita ao Brasil do Papa João Paulo II. "É que o Papa disse à imprensa
internacional que, se fosse possível, uma das coisas que ele adoraria ver no Brasil era o desfile das escolas de samba".
Foto: Sérgio Eluf
Extraído da publicação Comunidade é onde nos sentimos bem, livrete especial da Mobil Oil do Brasil em
comemoração ao 25º aniversário de sua Usina de Lubrificantes em Santos, 1982. Textos de Sônia Mateu L. de Abreu, fotografias de Sérgio Eluf.
Papel de carta da entidade, fundada em 27/8/1974 e sediada na Rua N, 18, Estuário, em
Santos
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