Em 11 de maio
de 1933, o dirigível Graf Zeppelin sobrevoou a cidade de Santos, num desvio de rota em que também passou pela capital
paulista, fato registrado pelo jornal Folha da Manhã no dia seguinte, 12/5/1933, com manchete na página 14 (última) e telegramas da Agência
Havas (H.), procedentes do Rio de Janeiro (ortografia atualizada nesta transcrição):
Ao alto, a majestosa aeronave cortando os ares
paulistanos. Em baixo, o Graf Zeppelin sobre o edifício Martinelli, numa fotografia que nos foi cedida pelo Atelier Schonfelder
Imagem: reprodução parcial da Folha da Manhã de
12/5/1933, página 14
Capital paulista recebeu, na manhã linda de ontem, a visita inesperada do Graf Zeppelin
Não podendo baixar logo cedo no Rio, devido à forte cerração que reinava sobre o Campo dos
Affonsos, o possante dirigível alemão fez um passeio até Santos e São Paulo, rumando, depois, para a Guanabara
S. Paulo teve, ontem, um dia alegre.
A cidade inteira voltou suas vistas para o céu azul. Estacaram, no mesmo lugar, todos os veículos.
Suspenderam-se todas as fainas. Tréguas no trabalho. Houve como que um colapso. Vieram para a rua os colegiais, o proletariado das fábricas, as
caixeirinhas das lojas. Desde o menino peralta ao cidadão circunspecto. O garoto e o magistrado. Uma alegria sensacional inundou todos os espíritos
e tomou conta de todos os corações. Dir-se-ia que o povo inteirinho se transformara em criança, que pula e ri, quando ganha um presente novo... E
São Paulo foi, mesmo, por alguns momentos, como o mais feliz dos garotos. Esqueceu a vida prosaica. As atribulações da política. As complicações
financeiras.
As chaminés apitavam estridentes. E um rolo de fumo subia para o ar, em negras espirais. O sol
derramando luz, esbanjando luz.
Não fica ninguém em casa, a não ser os enfermos. Um milhão de pessoas acena com lenços brancos e
sorri. Há quanto tempo S. Paulo não vivia minutos tão contentes... Há gritos e há aclamações. É um corre-corre, daqui para acolá. Da Praça do
Patriarca para o Largo da Sé. Da Sé para a esplanada do Carmo. Daqui para a praça Antonio Prado.
S. Paulo ganhara um presente novo!
- La vai ele! Lá vai ele!...
Cinzento, majestoso, impassível, deslizando no espaço, com uma suavidade inigualável, tão baixinho
que parecia iria se enroscar no Martinelli, ele lá se vai mesmo.
"Zeppelin", L-Z-127.
- Por causa do nevoeiro, ele não pôde descer no Rio de Janeiro, e, por isso, veio visitar S.
Paulo, para fazer hora.
Bendito nevoeiro!
Pena é que o brinquedo tivesse durado tão pouco.
O GRAF ZEPPELIN ERA ESPERADO NO RIO ÀS 7 HORAS
RIO, 11 (H.) - Por não estar concluída a torre de amarração na Ponta do Calabouço, o
Zeppelin devendo aparecer na altura da barra às 7 horas, logo rumará para o Campo dos Affonsos, como acentuamos. E ali em ligeira manobra,
baixando também não tardará em levantar voo retomando sua marcha para Recife, às 8 horas.
VOANDO SOBRE O CAMPO DOS AFFONSOS
RIO, 11 (H.) - O Zeppelin acaba de chegar e, devido à cerração, não pôde aterrar. O
dirigível está voando sobre o Campo dos Affonsos à espera da melhoria do tempo.
DEVIDO AO NEVOEIRO, O DIRIGÍVEL RUMA PARA SANTOS
RIO, 11 (H.) - O dirigível Zeppelin, impossibilitado de descer, devido ao nevoeiro,
seguiu para Santos, à espera que as condições do tempo permitam a sua descida aqui no Rio.
DE VOLTA AO RIO
A grande aeronave aterrou no Campo dos Affonsos às 16 horas - Os passageiros
desembarcados
RIO, 11 (H.) - O Graf Zeppelin de regresso do seu voo a Santos, e S. Paulo, foi
avistado depois às 15 horas e meia, dirigindo-se ao Campo dos Affonsos.
Às 16,06 horas, a aeronave alemã aterrissava em boas condições, operando-se então a descida dos
seguintes passageiros que nela viajaram: o cônsul alemão em Santos, sr. Uebele; o diretor do Banco Germânico, sr. Schmitt Guetermann e senhora; Karl
Michaellis, de J. Jurgens, o engenheiro Karl Spiess, Alberto Dodero, Julio Coelho, Walter Hillefeld, de Hermann Stoltz e Cia., e Gustav Adolph
Wachsmuth.
Às 17,00 horas, o Graf Zeppelin alçou novamente voo, de regresso para a Europa. Durante
meia hora ainda evoluiu sobre a cidade, para, afinal, tomar rumo do Norte.
O DELEGADO DO BRASIL À CONFERÊNCIA DE DIREITO PRIVADO EM ROMA VIAJA NO
ZEPPELIN PARA A EUROPA
RIO, 11 (H.) - O sr. Trajano de Medeiros do Passo esteve ontem em visita de despedida ao
sr. Afranio de Mello Franco, ministro das Relações Exteriores, em virtude de ter de partir hoje pelo Graf Zeppelin, para Roma, onde vai como
delegado do Brasil à 3ª Conferência de Direito Privado Aéreo, a reunir-se naquela capital a 16 do corrente.
No mesmo dia 12 de maio de 1933, o jornal O Estado de São Paulo
publicava, em sua página 3: (ortografia atualizada nesta transcrição):
Imagem: reprodução parcial da pág. 3 de O Estado de São
Paulo de 12/5/1933, no Acervo Estadão
NOTÍCIAS DIVERSAS
A visita do Graf Zeppelin
São Paulo recebeu ontem uma visita tão agradável como inesperada, do Graf Zeppelin.
Devemo-la ao intenso nevoeiro que, à hora da chegada do navio aéreo ao Rio de Janeiro, cobria a Guanabara e o Campo dos Affonsos, onde ele devia
pousar, depois de tão longa travessia. O gigantesco pássaro prateado, na iminência de esperar algumas horas, até que o sol adelgaçasse o
acolchoamento de brumas, resolveu adiantar-se um pouco e o fez dando um passeio assim de uns 600 quilômetros. Percorreu de um voo a costa azul e
ouro, pairou sobre a colmeia comercial de Santos e, depois, transpôs a serra e veio até São Paulo.
Foi uma deliciosa surpresa para a nossa população. A cidade que, àquela hora, estava toda entregue
à sua atividade, abandonou tudo e foi para a rua, a apreciar a aérea nave. Ela, dócil à direção, apesar do vento, recortou com seu voo o mapa da
cidade, às vezes tão baixo que parecia ir de encontro aos arranha-céus.
Depois de haver apreciado o esplêndido panorama subjacente, tomou o rumo do Rio de Janeiro e se
perdeu de novo no mistério azulado da distância. Mais tarde, soube-se que o Zeppelin, depois desse para ele pequeno passeio suplementar,
pousara no Campo dos Affonsos, às 17 horas e 30 minutos.
Em Santos
Sobre a sua passagem por Santos, fala-nos a correspondência de nossa sucursal naquela cidade:
SANTOS, 11 - O Graf Zeppelin proporcionou hoje, à população local, um agradável
espetáculo, surgindo de surpresa, do lado do mar, sobre o céu santense que, por sua vez, vestia um azul uniforme, emprestando assim grande realce à
majestosa aeronave.
O barulho dos possantes motores atraiu, de pronto, a atenção de todos, e as ruas e praças se
encheram de povo, que, entusiasmado, acompanhou a marcha serena do transatlântico aéreo, que navegava a pequena altura, rumo da serra do mar, em
direção a essa capital. Eram 11 horas e 13 minutos.
Após um intervalo de 50 minutos, o Graf Zeppelin voltou a voar sobre esta cidade,
contornando-a em seguras manobras, que, como da primeira vez, causaram grande entusiasmo.
Aproando em seguida para o Norte, o Graf Zeppelin navegou em linha reta até desaparecer no
horizonte.
Sendo a primeira vez que à nossa cidade é dado observar tão magnífico espetáculo, é fácil calcular
a satisfação de que ficou possuída a população santense, externada em todas as palestras. Foi o assunto do dia, a viagem inesperada do Graf
Zeppelin.
No Rio
A viagem do Graf Zeppelin
RIO, 11 ("Estado") - O Graf Zeppelin, que deveria descer esta manhã no Campo dos
Affonsos, no que foi impedido pelas más condições do tempo, tendo seguido em direção a Santos e a essa capital, voltou ao Campo dos Affonsos, onde
chegou às 17 horas. Meia hora depois, partiu para Recife, após ter recebido os passageiros que a ele se destinavam. |