Foto: Retalhos da Velha São Paulo, de
Geraldo Sesso Junior
Nas fotos acima e abaixo, bondes com tração animal que circularam na capital paulista de 1872 a
1907. A imagem superior é de um bonde da Companhia Viação Paulista em 1900.
Já a foto-postal abaixo mostra o bonde da Empreza de Bonds de Sant'Anna (EBSA), na
primeira década do século XX. Segundo o Museu do Transporte Público Gaetano Ferola, este foi o primeiro bonde da Linha de Santo Amaro, que operou o
trecho entre a estação São Joaquim e Vila Mariana, funcionando em caráter provisório de 25/01 até 13/12/1885, quando da chegada das locomotivas a
vapor.
Foto: autor não identificado
O primeiro sistema regular de transportes na cidade começou em 21/8/1865 com o serviço de
aluguel de carros e tílburis no Largo da Sé. Os primeiros bondes trafegaram em 12/10/1872, com tração animal. O serviço de bondes elétricos, cuja
inauguração é vista na foto abaixo, ocorreu em 7/5/1900, com a linha São Bento/Barra Funda.
Foto: autor não identificado
A quarta imagem é de um bonde elétrico trafegando no Largo de São Bento na primeira
década do século XX:
Foto: autor não identificado
Abaixo, bonde elétrico aberto no Largo de São Bento, na capital paulista, por volta de
1930, circulando na linha de São Caetano (criada em 1902 e extinta em 1942):
Foto cedida pelo pesquisador norte-americano
Allen Morrison, de New York/EUA
Foto: autor não identificado
Acima, o bonde Ypiranga, com cortinas, pertencente à S.Paulo Trams Light & Power (SPTL&P).
Foto: autor não identificado
A foto acima mostra um bonde aberto trafegando pelo Largo do Tesouro, na capital paulista.
Foto: autor não identificado
Na imagem acima, o Viaduto do Chá (em cartão postal circulado por volta de 1920), ainda
em estrutura de ferro e com piso de madeira, mas já tendo o Vale do Anhangabaú totalmente urbanizado.
Abaixo, artigo publicado na primeira página do suplemento dominical do antigo jornal paulistano
Folha da Manhã, em 22 de janeiro de 1933 (ortografia atualizada nesta transcrição):
Imagem: reprodução da matéria original
Os bondes de burros
A
mocidade de hoje, habituada a viajar nos incômodos, mas rápidos "camarões" da Light, nos ônibus e nos automóveis – e, às vezes, em aeroplanos
– não sabe como viajavam os nossos pais, dentro desta cidade maravilhosa.
Até vinte e poucos anos atrás, São Paulo não conhecia
outro meio de transporte senão este que a nossa gravura representa: o bonde puxado a burros. Havia, é verdade, os carros de praça, os til
buris, as caleças, os landôs… Estes, todavia, eram uma espécie de transportes de luxo, que existiam apenas para os momentos solenes.
Principalmente as caleças e os landôs, que só entravam em serviço em dias de casamentos, enterros e batizados ou, então, para servir às
famílias nobres da Paulicéia de ontem.
O transporte popular, porém, era constituído pelos
"bondes de burro", almanjarras matracolejantes que cortavam a Paulicéia em vários sentidos, alarmando o silêncio da cidade com seu ruído
isolado e característico. Porque nas ruas, com efeito, afora um ou outro transeunte e um ou outro carro, não se via outra coisa senão o
bondinho matraqueante.
O ponto central dos bondes, onde se achavam os
escritórios da Companhia, era no Largo do Rosário – atual Praça Antonio Prado, que, aliás, era muito menor do que é hoje. Dali partiam várias
linhas que se dirigiam para diversos pontos da cidade, fazendo, como era natural, percursos pequenos.
Uma linha ia para o Belenzinho, outra para a Vila
Buarque, outras, ainda, para a Barra Funda, para a Rua Aurora, para a da Liberdade. Os desta linha iam até a Rua São Joaquim, onde havia uma
estação de trem para Sto. Amaro. Havia ainda uma linha para o Lavapés.
Esses percursos não eram feitos de um só fôlego. Havia,
em vários pontos do trajeto, lugares de parada obrigatória, chamados "mudas". Ali, o bondinho descansava da caminhada e trocavam-se os burros
da viagem por burros descansados que ficavam à espera, atrelados e resignados. Substituídas as alimárias, lá seguia o veículo, até o fim do
trajeto, onde também havia "mudas". Em várias linhas essas "mudas" se localizavam em dois ou três pontos do trajeto, conforme a distância a
percorrer, como acontecia com a que ia até o "marco da meia légua" – nas alturas do Instituto Disciplinar.
A concorrência não era muita. Não havia as
super-lotações que se observam hoje por aí, porque os paulistas não tinham muito o que fazer na rua. Ninguém tinha pressa – e nem podia tê-la,
porque o bondinho não corria mais do que permitiam as pernas heróicas das alimárias que, embora chicoteadas pelo "motorneiro", não saíam
daquele trotezinho sossegado que durava uma hora para ir do centro ao Belenzinho.
Contudo, aquilo era agradável. Pagava-se cem réis por
seção e tinha-se o direito de dormir, sossegadamente, durante o trajeto.
Essas coisas sucediam em época não muito remota. Pessoas
relativamente moças ainda se lembram desses bondinhos ronceiros, com seus burros heróicos e seus cocheiros de apito na boca, rodando com
alarde dentro da cidade silenciosa que, vinte e poucos anos depois, seria esta metrópole dinâmica e tumultuária, barulhenta e nervosa que,
como as cidades lendárias, acordou subitamente de um sonho milenar para assombrar o mundo com a sua mocidade e com a sua beleza.
Imagem: reprodução parcial da matéria
original |
Foto: autor não identificado
Nesta última imagem, acima, o Viaduto do Chá, em cartão postal de aproximadamente 1920, ainda
em estrutura de ferro e com piso de madeira, mas já tendo o Vale do Anhangabaú totalmente urbanizado.
A viagem pelos trilhos da capital paulista continua... |