Foto cedida pelo pesquisador norte-americano
Allen Morrison, de New York/EUA
Na foto superior , um bonde elétrico no centro da capital cearense, em meados do século
XX. Já a imagem abaixo, da mesma época, mostra o bonde elétrico aberto prefixo 76, na linha do Outeiro, passando ao lado de uma bomba de gasolina.
Foto: autor não identificado
Um volume precioso para se avaliar as
condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte,
editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no
Arquivo Histórico de Cubatão/SP.
A obra é ricamente ilustrada (embora não identificando os autores das imagens),
incluindo esta foto e a citação "O sr. Thomé A. da Motta foi também o proprietário da
empresa de bondes de Fortaleza, do sistema animal, a qual foi fundada por uma sociedade anônima em 1879 e tomada sob sua direção em 1898.
Ultimamente, vendeu esse serviço de bondes a uma companhia inglesa, a qual vai instalar, ainda este ano, o sistema elétrico; mas o sr. Thomé A. da
Motta continuou a ter interesses na empresa, pela posse de debêntures.":
Ceará Tramway, Light and Power Co. - ponto de partida dos bondes
Foto publicada na página 1.043 da obra de 1913
Um viajante inglês registrou a existência de bondes em Fortaleza na década de 1870, mas outras
fontes afirmam que a primeira linha de bondes puxados por cavalos, entre a estação ferroviária e o centro de Fortaleza, foi inaugurada pela
Companhia Ferro-Carril do Ceará (FCC) em 25/4/1880, usando bitola de 1.400 mm a mesma usada pela Trilhos Urbanos na linha de bondes a vapor em
Recife.
A Ferro Carril do Parangaba abriu uma linha para o lado Sul da cidade em 18/10/1894
e a Ferro Carril do Outeiro (FCO) iniciou sua linha no lado Leste de Fortaleza em 24/4/1896. A Ceará Tramway, Light & Power Co., Ltd., registrada em
Londres em 11/12/1911, comprou os sistemas da FCC e da FCO e inaugurou a primeira linha de bondes elétricos da capital cearense em 9/10/1913, agora
com bitola de 1.435 mm. Os britânicos tinham sido decerto desencorajados por suas experiências na Amazônia, e as suas instalações cearenses foram
menos ambiciosas que os empreendimentos em Manaus e Belém.
A linha Parangaba foi fechada em 1918 e não chegou a ser eletrificada. Todos os
veículos elétricos de Fortaleza tinham um padrão, com troles: a United Electric construiu 30 em 1912 e dez em 1924. A linha de bondes de Fortaleza
foi fechada por problemas elétricos em 19/5/1947 - três semanas após o fechamento do sistema de bondes em Belém - e nunca reabriu. Vinte anos
depois, em 25/1/1967, a Companhia de Transportes Coletivos inaugurou duas linhas de trólebus entre o lado Oeste da cidade e o Largo do Carmo. Os
nove veículos Massari, construídos em São Paulo, rodaram até 2/1972.
Imagem: reprodução de O Malho ano XI, nº 522, pág. 46
(Rio de Janeiro, 1912)
Uma curiosa história relacionada com os bondes de Fortaleza é descrita no terceiro volume da
História da Vida Privada no Brasil (organizado em 1998 por Nicolau Sevcenko e Fernando A. Novais para a Companhia das Letras, de São Paulo):
"No
Ceará, (...) cronista chega a sugerir, numa inversão impertinente, a reintrodução dos burros 'para aumentar a velocidade dos bondes da Ceará
Tramways Light', apresentando o protótipo de um estapafúrdio 'sopramento mecânico dos burros'". A imagem acima, de que
trata a citação, é reproduzida de O Malho, publicada em 1912 no Rio de Janeiro (ano XI, nº 522, pág. 46, arquivo do Instituto de Estudos
Brasileiros, S.Paulo/SP).
A viagem pelos trilhos do Brasil continua... |