Bonde 141 na linha 16, junto ao Palácio Municipal e
Catedral, pouco antes de 1960
Foto: Coleção A.R.A.R.
Rosario,
300 quilômetros a Noroeste de Buenos Aires, no pampa argentino às margens do Rio Paraná, tem hoje mais de um milhão de habitantes e já se destacou
como o maior porto exportador de cereais do mundo, antes que os problemas de baixa profundidade do rio impedissem o uso de navios de maior porte.
Sua importância econômica determinou que Rosario se tornasse a terceira cidade
argentina a ter serviço de bondes com tração animal, depois de Buenos Aires e da cidade de Paraná. Foi inaugurado em 3/11/1872 com a primeira linha
da Compañia Anonima Tramways del Rosario, entre a Praça General López (atual esquina da Avenida Pellegrini com a rua Laprida) e o porto. No início
do ano seguinte foi construído um ramal até a estação da estrada de ferro Central Argentino e em 1874 foi criada a linha até o então recém-instalado
Colégio Nacional. Em 1882, essa empresa tinha 12 veículos, 30 empregados e 60 cavalos.
Em maio de 1886, foi inaugurada a primeira linha do Tramway Anglo-Argentino, partindo
da estrada de ferro para um circuito que atravessava eo então pequeno conglomerado urbano rosarino. No ano seguinte, entrou em operação o Tramway
ROsarino del Norte, com extensa linha até o então chamado Pueblo Alberdi e pequenas linhas secundárias na área urbana central. Mais de 3,5 milhões
de passageiros/ano eram transportados pelos bondes.
Nos anos seguintes, surgiram o Tramway del Saladillo e a linha da Sociedad Anónima
Compañia de Tramways del Oeste. Em 1890, circulavam 78 veículos, com 1.24 cavalos; um efetivo de 394 empregados cuidava dos serviços em 77 km de
vias, que transportavam cerca de 7 milhões de passageiros/ano. Antes do final do século XIX, novas linhas foram criadas, e registrou-se ainda o fim
da Tramways del Oeste, arrendada pela empresa do Anglo-Argentino, que por sua vez se fundiu com a empresa do Tramway Rosarino del Norte.
Bonde 19 na linha 1, defronte à estação
da Estrada de Ferro Córdoba/Rosario, por volta de 1910
Foto: Coleção A.R.A.R.
Os elétricos - Após as experiências na cidade de La Plata e o início do uso em Buenos Aires
(em 1897), já em 1899 surgiu a primeira proposta para uso de bondes elétricos em Rosário. Mas só em 1905 ocorreu a licitação para a instalação da
primeira rede e a concessão (por 55 anos) foi entregue em 15/9/1905 à Compañía General de Tramways Eléctricos del Rosario (CGTER), que inaugurou o
serviço em 31/10/1906 com a linha número 9 (colocada efetivamente em serviço no dia seguinte).
Outras 14 linhas foram construídas nos anos seguintes, contando com 100 bondes grandes
(de 40 assentos) e 60 bondes pequenos (para 28 passageiros sentados), além de vários reboques. Ao final da Primeira Guerra Mundial (1918), os bondes
elétricos transportaram 22 milhões de passageiros e em 1925 foi superada a marca de 55 milhões de passageiros/ano.
O grande crescimento levou à redução na qualidade dos serviços, sendo insuficientes os
271 bondes (não considerados os reboques), e as autoridades municipais rosarinas decidiram em 1923 liberar o uso de ônibus para o transporte de
passageiros.
Embora a CGTER tenha ampliado o período da concessão em mais dez anos, prometendo
ampliar algumas linhas e construir outras, já no final dessa década a competição ruinosa dos ônibus e os efeitos da recessão mundial colocaram a
empresa em situação cada vez mais deficitária. Em 11/2/1932, chegou a suspender sine die os serviços (na verdade, por 27 dias), levando a
prefeitura a criar uma comissão fiscalizadora, quem em 27 de junho daquele ano propôs a municipalização total dos serviços de transporte rosarinos.
Bonde 279, um dos experimentais
construídos pela EMTR, ainda na fase de testes em 1946
Foto: Coleção A.R.A.R.
Municipalização - Em 16/9/1932 começou a funcionar a Empresa Municipal Mixta de
Transporte del Rosario (EMMTR), com um plano sistemático de recuperação da frota e da infra-estrutura. Por volta de 1935, iniciou um processo de
modernização do serviço, com a construção de uma série de bondes experimentais semelhantes aos europeus mais modernos. Completando várias linhas
iniciadas pela CGTER, atingiu 178 km de vias em serviço.
Em 1944, tendo recomprado todos os títulos dos acionistas particulares, a EMMTR se
transformou em Empresa Municipal de Transporte de Rosario (EMTR), que continuou o processo de modernização, a despeito dos problemas de falta de
peças de reposição motivados pela Segunda Guerra Mundial. Chegou a experimentar a construção (logo descontinuada) de vários bondes mecânicos com
motores a explosão (apelidados "Santa Marta").
Em 1945, foram transportados em Rosario mais de 133 milhões de passageiros, dos quais
110 milhões em bonde, 15 milhões em ônibus, pouco mais de 6 milhões em microônibus e quase 2 milhões em bondes mecânicos. Foram ainda
adquiridos vários bondes usados na cidade de Quilmes, ampliando a frota para 300 bondes no total.
Novas políticas salariais e sociais, aliadas à impossibilidade de adequar as tarifas
aos aumentos nos custos, deterioraram as finanças da EMTR, que começou a precisar de subsídios. No início da década de 1950, a prefeitura transferiu
o serviço para o governo da Província de Santa Fé, criando-se a Empresa de Transporte de Rosario (ETR), desobrigada da construção de novas linhas.
Em 1955, as 25 linhas de bondes cobriam 169 km de vias, transportando 109 milhões de
passageiros, contra 50 milhões transportados por 24 linhas de ônibus (os microônibus haviam sido abandonados em 1953. Nos anos seguintes, novos
bondes de Buenos Aires foram transferidos para Rosario, enquanto os primeiros trólebus surgiram em 1959 em substituição a algumas linhas de bondes.
Final - Em outubro de 1960, conforme a tendência mundial, decidiu-se pela
progressiva eliminação dos bondes e privatização dos serviços (através de cooperativas dos antigos trabalhadores da ETR, usando ônibus obtidos com
custo subsidiado). Conforme deixaram o serviço, os bondes foram sendo desmantelados, e em fins de 1962 só restavam em operação seis linhas de
bondes, encerradas por sua vez em 11 de fevereiro de 1963.
Nessa
data, os bondes 278 e 281, tendo como passageiros as principais autoridades locais, fizeram a última viagem desde o Palácio Municipal de Rosario até
as oficinas da ETR, sendo simbolicamente desligada a energia elétrica do sistema. Dos mais de 300 bondes que chegaram a circular, só se conservou,
de forma bastante precária, a carroceria do veículo 291 (um dos que tinham sido transferidos de Quilmes)...
(Resumo/tradução das informações colocadas na Web pela
A.R.A.R., que também cedeu as fotos)
A viagem pelos trilhos do mundo continua em breve... |