O
bonde abre a viagem.
No banco ninguém,
Estou só, 'stou sem.
Depois sobe um homem,
No banco sentou,
Companheiro vou.
O bonde está cheio,
De novo porém
Não sou mais ninguém.
(Lira Paulistana [1944])
Iquitos,
uma cidade peruana em plena selva amazônica, perto da fronteira com o Brasil, foi visitada em 24 de junho de 1927 pelo escritor brasileiro Mário de
Andrade (1893-1945).
Ele passeou no trem-bonde local e fez esta foto com sua máquina "Codaque" (Kodak), como a
chamava, durante sua "Viagem Etnográfica", por ele descrita como "Viagem pelo Amazonas até o Peru, pelo Madeira até a Bolívia, e pelo Marajó até
dizer chega".
Artista múltiplo, ele procurou em suas fotos o inédito, o close, o humor; experimentando
novas técnicas, buscou o surrealismo na pose e no clima, a geometria do espaço na repetição das linhas, a superposição de imagens de diferentes
fases de um mesmo movimento, explorou os cortes, a subexposição e a superexposição; depois, ao legendar as fotos,
juntou sua veia poética à de fotógrafo-pintor, com rimas, trocadilhos e imagens literárias.
A imagem e o poema foram publicados em "Mário de Andrade, Fotógrafo e Turista Aprendiz",
editado em 1993 pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP), em comemoração ao centenário de nascimento do escritor.
A viagem pelos trilhos do mundo continua... |