Paquetá atrai interesse de grandes construtoras
Prefeitura, atenta, já iniciou estudos para reerguer o bairro
Na primeira metade do século 20, o Paquetá era uma das áreas nobres de Santos. Hoje
degradado, o bairro tem muitas áreas ociosas que estão na mira de grandes construtoras. Paralelamente, a Prefeitura iniciou estudos cuja finalidade,
segundo o secretário de Planejamento, Bechara Abdalla Pestana Neves, é promover a "renovação urbana" da região. O trabalho resultará numa proposta
de trabalho conjunto com o setor empresarial.
Cemitério com áreas vizinhas: empresas
querem fundir quadras para construir grandes empreendimentos
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria
Mesmo degradado, Paquetá vira novo alvo de grandes construtoras
Executivos analisam áreas do bairro, decadente há décadas,
mas cobram das autoridades a recuperação da infra-estrutura da região
Marcelo Santos
Da Redação
Área
nobre de Santos no começo do século 20, o Paquetá será um dos próximos alvos do mercado imobiliário. Decadente, mas com muitas áreas ociosas, o
bairro já desperta a cobiça de grandes construtores, que desde o ano passado vêm estudando o bairro e partes da vizinha Vila
Nova. O interesse do setor privado encontrou o apoio da Prefeitura de Santos, que prepara uma série de iniciativas para viabilizar o
"renascimento" do Paquetá (veja matéria abaixo).
Pelas degradadas vias do bairro, já passaram executivos, por
exemplo, da Adolpho Lindenberg, construtora paulistana cujas obras na Faria Lima e na Berrini estão entre os endereços comerciais mais caros da
Capital. Há alguns meses, a empresa confirmou seu interesse no Paquetá a A Tribuna, assinalando, contudo, que a localidade só se tornará
viável a partir de uma intervenção do poder público.
Há 100 anos, o Paquetá e a área contígua da Vila Nova eram os
locais mais valorizados da Cidade. Nas décadas seguintes, contudo, seus moradores mais prósperos começaram a migrar na direção das praias. No fim da
década de 1940, restaram apenas as memórias dos áureos tempos e o cemitério homônimo, o mais antigo de Santos. Muito pouco
para compensar a degradação causada pela chegada de cortiços, prostituição, drogas e violência.
Hoje, a região do Paquetá não atende mais às exigências do setor
imobiliário residencial ou comercial. As ruas são estreitas para suportar eventual aumento do tráfego. As quadras também são pequenas para receber
grandes edifícios. Mesmo assim, devido à falta de áreas na Cidade para novos empreendimentos, construtoras estão de olho no velho bairro.
"Há uma procura intensa por terrenos em Santos, mas no caso do
Paquetá é preciso investir na infra-estrutura. As ruas e quadras, por exemplo, são pequenas para receber dois ou três prédios de 20 a 30
pavimentos", comenta o delegado do Conselho Regional dos Corretores Imobiliários (Creci) em Santos, Carlos Ferreira.
O diretor de Incorporação da O'R, braço imobiliário do Grupo
Odebrecht, Marcelo Arduin, procura áreas para desenvolver um grande projeto com hotelaria, cinemas, escritórios e residências. "Área ainda não tem.
A solução é recuperar regiões degradadas", assinala.
O empresário Lourenço Lopes, da Real Consultoria Imobiliária,
também vê o Paquetá como área muito viável, mas alerta que para um bom empreendimento é preciso dispor de áreas de 4 mil a 10 mil m². Para isso,
explica ele, será necessário fundir quadras e ruas e investir em Parcerias Público-Privadas, ou seja, PPPs. Por meio destas, a iniciativa privada
banca projetos de interesse público, sendo recompensada depois com a exploração comercial do empreendimento.
Lopes observa que já há experiências do gênero em áreas urbanas
de vários países, como China, México, Índia e até na Vila Olímpia, em São Paulo. "No Paquetá, será necessário um plano de urbanização, com a
participação de várias empresas. Isso é viável e a Cidade vai precisar dessas intervenções".
Otimista, Ricardo Beschizza, diretor regional do Sindicato da
Indústria da Construção Civil (Sinduscon), acredita que melhorias pontuais em outros pontos do Centro de Santos contribuirão para tornar
irreversível o projeto do "Novo Paquetá". "O Museu Pelé, por exemplo, valorizará o Valongo, que aos poucos será
contagiado pelas melhorias. Essas mudanças não ocorrem da noite para o dia, mas não têm volta", explica Beschizza.
Onde fica
Imagem publicada com a matéria
"Demanda por investimentos tem, mas ainda
falta infra-estrutura" -
Ricardo Beschizza, diretor regional do
Sinduscon, sobre empreendimentos em áreas deterioradas
Imagem publicada com a matéria
Muitos cortiços e imóveis "sem dono"
O diretor regional do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Ricardo
Beschizza, questiona: para onde vão as famílias que hoje vivem nos cortiços do Paquetá?
Segundo o IBGE, são 1.400 moradores só no Paquetá, mas o número pode superar os 10
mil, considerando-se toda a região central. Desse grupo que mora no Paquetá, quase 300 famílias vivem com a ajuda do Bolsa-Família, que beneficia
quem tem renda individual de até R$ 140,00.
Uma das propostas, principalmente dos movimentos de moradia, é recuperar os imóveis
para fins residenciais ou construir prédios populares para dar nova vida à região central. Porém, empresários consultados alertam: se o bairro for
viabilizado, o metro quadrado subirá e o custo impedirá a construção de imóveis para baixa renda.
Além disso, muitas famílias que ali estão têm uma realidade particular. Vivem de
subempregos e preferem os cortiços porque estão próximos às suas fontes de renda na economia informal. Portanto, trata-se de um problema social
difícil de ser resolvido. Em poucas palavras, não basta "remover" essa população.
Beschizza e Lourenço Lopes, da Real Consultoria Imobiliária, também vêem problemas com
a titularidade dos imóveis do Paquetá. Segundo ele, o grande problema do bairro é que não se sabe quem é o dono de muitos casarões do bairro.
Ao longo das décadas, o Paquetá entrou em decadência, os imóveis passaram de herdeiro
para herdeiro e, degradados, muitos foram sublocados.
Aspecto de abandono: rua com casas em
ruínas simboliza degradação
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria
Prefeitura apresentará proposta ao setor privado
Com uma nova vocação econômica no Paquetá, a Prefeitura já faz estudos para reerguer o
bairro, segundo o secretário de Planejamento, Bechara Abdalla Pestana Neves. Cuidadoso, ele teme adiantar um eventual plano urbanístico, mas admite
que apresentará uma proposta de trabalho conjunto com o setor empresarial no segundo semestre de 2011.
Neves descarta para o Paquetá um programa nos moldes do Alegra Centro ou uma extensão
do mesmo. Segundo ele, o Centro se viabilizou pela recuperação histórica com incentivos fiscais, onde imóveis restaurados
abrigaram primeiro os bares noturnos e, em seguida, restaurantes diurnos.
Além disso, o PoupaTempo trouxe 5.500 pessoas/dia para o Centro, que também vive um
momento de aquecimento do comércio. Não voltou a ser como nos bons tempos, afinal boa parte do movimento migrou para os shoppings e os
centros populares de Vicente de Carvalho e São Vicente.
Já o Paquetá, conforme o secretário, passará por uma "renovação urbana". "A tendência
do Paquetá é a renovação urbana com uma integração entre o poder público e a iniciativa privada". Neves evita antecipar suas idéias, temendo
especulação imobiliária. Segundo ele, a legislação municipal já contempla as transformações que serão necessárias.
Neves explica que no momento a secretaria está concluindo os trabalhos dos planos
Diretor e de Mobilidade Urbana (tráfego) e que se dedicará aos projetos de renovação do Paquetá no próximo ano, com divulgação das propostas no
segundo semestre de 2011. |